O Hurdia victoria foi descrito pela primeira vez em 1912, quando suas características lembravam as de um crustáceo, Mas agora, pesquisadores revelaram que a aparência de um crustáceo, digamos de um camarão gigante, é apenas parte de um outro animal, complexo e notável. Um animal que certamente tem importante história para contar sobre a origem do maior grupo de animais vivos, os artrópodes.
O Hurdia victoria, que viveu há cerca de 505 milhões de anos nos mares da América do Norte, foi reconstruído com base em pedaços de fósseis recolhidos ao longo de um século no sítio arqueológico de Burgess Shale, na British Columbia, no Canadá – um local protegido pela ONU como patrimônio da humanidade.
Os pesquisadores Allison Daley e Graham Budd da faculdade de Ciências da Terra (Earth Sciences) de Uppsala, na Suécia, junto com colegas do Canadá e da Grã-Bretanha descreveram a história deste exemplar único, que foi uma dos grandes quebra-cabeças da ciência. Agora, reconstruído, o Hurdia Victoria mostra que tinha um corpo formado por vários segmentos e uma espécie de “carapuça” sobre a cabeça. Usava dezenas de dentes e um par de garras. Com estas características deve ter sido um formidável predador, em seu tempo.
A primeira referência a este fóssil que o descrevia de maneira que se assemelhava aos crustáceos é de 1912. Aliás, é oportuno que esta nova descoberta venha praticamente às vésperas do aniversário de cem anos de sua descoberta. Naquela época pensou-se que suas partes comporiam o corpo de um crustáceo gigante. Isto porque outras partes deste animal haviam sido classificadas como outros animais independentes, tais como águas-marinhas, pepinos do mar e outros artrópodes. Por isso, levou-se muito tempo para colocar todas as peças do Hurdia victoria nos seus respectivos lugares.
Mas, com a coleta feita por expedições na década de 90, descobriu-se mais espécimes mais completos e centenas de peças isoladas que levaram às primeiras conclusões de que o Hurdia victoria era muito mais do que parecia ser.
A nova descrição mostra que o Hurdia Victoria está realmente relacionado aos Anomalocaris: um corpo segmentado, com uma cabeça que ostenta um par de garras espinhosos e uma estrutura mandibular circular com muitos dentes. No entanto, ele difere de Anomalocaris por ter uma grande carapaça, tripartida projetada a partir da frente de sua cabeça.
Os Hurdia e os Anomalocaris são ambos antigos membros de uma linhagem evolutiva que se desenvolveu nos artrópodes, o grande grupo que contém os modernos insetos, crustáceos, aranhas e centopéias. Esta reconstituição finalmente revela detalhes sobre as origens de importantes características que definem os artrópodes modernos, tais como as suas estruturas cabeça e membros.
“Esta estrutura é diferente de tudo o que já se conhecia sobre outros fósseis ou antrópodes vivos”, afirma a pesquisadora Allison Daley, que analisa estes fósseis há três anos como parte de sua tese de doutorado.
Texto baseado no artigo: Allison Daley, Graham Budd, Jean-Bernard Caron, Gregory Edgecombe e Desmond Collins, “The Burgess Shale anomalocaridid Hurdia and and its significance for early euarthropod evolution”, Science, 20 de março de 2009, e reproduzido no SCIENTIFIC BLOGGING.