Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, Carnaval 2009, Foto: AFP
Homenagem à escola vencedora do Carnaval carioca de 2009.
SALGUEIRO
Leonor Posada
Olho-te, morro, apaixonadamente,
docemente,
como quem olha, em noite luminosa,
a cena de Belém.
Em tuas grimpas o sol crava seus raios,
e os desmaios
da tarde, no poente, arroxeada,
são a coros que te sangra a fronte.
Sobem teus flancos
mil caminhos tortuosos, e barrancos
debruçam-se a olhar para a cidade.
Teus casebres misérrimos parecem,
de longe, feios, entre os arvoredos,
um ponto de saudade.
Pela manhã, desce ligeiramente,
a tua gente
em busca do seu pão, do seu trabalho;
ao passo que o malandro, mal dormido,
no chão batido,
inda cheio de sono,
a fome engana batucando um samba…
Olho-te, morro, apaixonadamente,
docemente,
como quem olha, em noite luminosa,
a cena de Belém.
A cidade é berço do Messias,
e para tua gente tem um nome
sem significação:
— Civilização
Em: Poetas cariocas em quatrocentos anos, ed. Frederico Trotta, Rio de Janeiro, Editora Vecchi: 1965
Leonor Posada, (Cantagalo, RJ 1893 – Rio de Janeiro, 1960) Poeta, teatróloga, professora.
Obras:
Plumas e espinhos, poesia, 1926
Leituras cívicas, didático, 1943
Guia de redação, didático, 1953
Serenidade, poesia, 1954
Os primeiros passos na redação, 1956