O morcego, soneto de Da Costa e Silva

30 09 2012

Morcego, ilustração sem autoria da década de 1920.

O morcego

Da Costa e Silva

Como uma borboleta escura e desconforme,

Suspenso pelos pés com o instintivo emprego

Das garras que o sustém, o mórbido morcego,

Tonto de sono e luz, durante o dia dorme.

Dorme durante o dia; e à noite, ei-lo, conforme

É costume, senhor do pávido sossego,

Abrindo o membranoso e elástico refego

Das asas que-lhe dão um todo demiforme.

Rasgando, em largo voo, a treva ampla e uniforme,

O noturno avejão guincha em desassossego,

A pupila incendida a arder na noite enorme.

E é de ver-se, depois, em lânguido aconchego,

As asas a abanar sobre o animal que dorme,

O sanguinário egoísmo em forma de morcego.

Em: Poesias Completas, Da Costa e Silva, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985 [edição do centenário]

Antônio Francisco da Costa e Silva ( Brasil, [PI] 1885 — [RJ] 1950) poeta, jornalista.  Advogado, cursou a  Faculdade do Direito do Recife. Trabalho no Ministério da Fazenda.

Obras:

Sangue (1908),

 Elegia dos Olhos, s/d

Poema da Natureza, s/d

Clepsidra, s/d

 Zodíaco (1917),

 Verhaeren (1917),

Pandora (1919),

Verônica (1927),

Alhambra (1925-1933), obra póstuma inacabada,

 Antologia (coleção de poemas publicada em vida – 1934),

Poesias Completas (1950) (1975) (1985), coletânea póstuma.





Palavras para lembrar — Angela Carter

29 09 2012

Sem título, s/d

Ned Bittinger (EUA, 1951)

óleo sobre tela

Ned Bittinger

“Ler um livro é como se você o reescrevesse.   Você traz para o romance, qualquer um que leia, toda sua experiência de vida.  Você traz a sua história e o lê nos seus termos”.

Angela Carter

Salvar





E a noite roda, de Alexandra Lucas Coelho

29 09 2012

Rua de Jerusalem, s/d

Noel Harry Leaver (Inglaterra, 1889-1951)

aquarela e lápis sobre cartão, 38  x 27 cm

Coleção Particular

No fim de semana passado a escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho me fez companhia através de seu romance E a noite roda (Tinta da China:2012).  Ele foi a distração que me deixou em casa, por mais tempo do que deveria, para chegar ao fim desse romance de prosa deliciosa.  Cheguei a marcar pequenas passagens encantadoras dessa narrativa bem ritmada que se farta do uso de elipses e contrastes para descrever de maneira sutil e precisa o encanto dos momentos fugazes.

E a noite roda é um romance à moda antiga: trata-se do retrato de um relacionamento amoroso de início ao fim.  Sabemos desde sua primeira página que a história não terá um desfecho feliz.  Mesmo assim vamos em frente. O objetivo é entender a jornalista catalã especializada no Oriente Médio, protagonista do mal fadado romance, que desvenda para o leitor sua vida pessoal e profissional simultaneamente, sem cair em pieguismos amorosos.

Alexandra Lucas Coelho logo de início consegue imprimir no leitor a sensação de perigo e eletricidade que jornalistas sentem ao cobrir eventos em áreas de iminente conflito.  Suas descrições sucintas das passagens pelos pontos de inspeção policial complementadas pelas descrições das belas paisagens do Oriente Médio são tão bem interligadas, que o cotidiano próximo à Porta de Damasco consegue ser simultaneamente poético e cruel.  Por duas vezes vivi em lugares no mundo em que pressões políticas colocavam nossas vidas diárias em alerta permanente.   E a descrição feita por Alexandra Lucas Coelho da vida em Israel e Gaza me lembrou com bastante acuidade muitas das experiências que tive no exterior.  Por aí, esse primeiro romance da jornalista portuguesa me fascinou de imediato  e me levou à nostalgia dos tempos em que descobri, por experiência, que o simples viver – acordar, beber água, comer e dormir —  é um ato de sobrevivência que não está garantido a centenas de milhares, milhões mesmo, de pessoas no mundo.  É difícil explicar as razões dessa nostalgia, mas há algo de viver  à beira do abismo, vizinha do perigo, que embriaga e  dá a sensação de estarmos vivos.  VIVOS!  Alertas!  Viver com os cinco sentidos estimulados, com a necessidade de sobreviver exarcebada  é viciante, porque a adrenalina se faz presente  e transforma a nossa percepção do mundo ao redor.  Para mim, experiências semelhantes me trouxeram a  certeza de que preciso de pouco para viver bem.  Viver à beira do abismo leva muitos ao romance imediato, à paixão intensa e fugidia.  É o que acontece com os dois jornalistas envolvidos nesse romance.

Alexandra Lucas Coelho

Este é um romance leve, o retrato de uma paixão.  Há dois únicos personagens de importância, os outros são apenas pano de fundo.  No início temos mais detalhes da vida profissional dos jornalistas, da maneira como a profissão é exercida, da política envolvida nas cochias da morte de Yasser Arafat.  Mas a partir do momento em que o romance se desenvolve, tornando-se mais intenso, perdemos o contato que havíamos estabelecido com as vidas profissionais dos protagonistas.  Passamos  simplesmente a acompanhar  o caso amoroso.  É aí que o ritmo da leitura se desacelera.  Meu gosto teria sido pela continuidade do retrato das experiências profissionais e amorosas, mas isso não acontece.  Ao final temos um romance bem escrito, com passagens de beleza incontestável.  Recomendo sua leitura: ligeira e deliciosa.





Quantos Dias — poesia tradicional brasileira

28 09 2012

Reunião de bonecas, ilustração B. Midderigh Bokhorst, 1930.

Quantos dias

Trinta dias tem setembro,

mais abril, junho e novembro

fevereiro, vinte oito tem;

nos bissextos, mais um lhe deem,

e os outros, que sete são,

trinta e um todos terão.

Em: O mundo da criança: poemas e rimas, Rio de Janeiro, Delta:  sem data





Imagem de leitura — René Magritte

28 09 2012

Homem com jornal, 1928

René Magritte (Bélgica, 1898-1967)

óleo sobre tela, 116 x 81 cm

Tate Gallery, Londres

René Magritte nasceu em Lessines, na Bélgica em 1898.  Estudou na Academia Real de Belas Artes em Bruxelas, com Constant Montald, mas sua carreira como pintor só se firma na década de 20 do século passado. Foi um dos maiores expoentes do movimento surrealista na pintura, mas não se dedicou ao automatismo como maneira de expressão.  Concentrou-se, por outro lado, na arte da exposição dos paradigmas ilógicos com que vivemos diariamente.  No movimento surrealista é o artista que mais se caracteriza pelo raciocínio e pelo conhecimento da literatura de sua  época;  sua influência fez-se sentir principalmente a partir da década de 1970 em diante.  Faleceu em Bruxelas em 1967.





Pedro Bandeira sobre Monteiro Lobato nas escolas!

27 09 2012





Os relógios, poema de Décio Valente

26 09 2012

Ilustração Kaili.

Os relógios

Décio Valente

Sempre andando,

sem parar um segundo,

vão eles,

em monótono tique-taque,

levando o Tempo

nos finos braços,

que se enlaçam

em contínuos abraços

e marcam,

minuto a minuto,

a pontualidade

das horas tristes e alegres,

que passam…

Em: Cantiga Simples: poesias, Décio Valente, São Paulo:1971





Todo cuidado é pouco, texto de leitura escolar

25 09 2012

Guarda de trânsito, ilustração de Helen Prickett.

Todo cuidado é pouco

A vida no meu bairro começa cedo. Mas desponta o sol no horizonte, tem início o movimento. As ruas se enchem de pessoas e veículos. Primeiro, surgem os ônibus levando os operários para as fábricas e construções. Depois aparecem os carrinhos de sanduíches, oferecendo café da manhã para quem está com pressa.  Aparecem logo também as motocicletas dos entregadores e as bicicletas de quem trabalha mais perto.  Mais tarde, vêm os caminhões carregados de mercadorias e os automóveis conduzindo passageiros para o centro da cidade.

Às sete horas, quando saio para a escola, o movimento é intenso.  Sigo então pela calçada, evitando esbarrar nos outros. Quando preciso mudar de calçada, olho para os lados e, se não vem nenhum veículo, atravesso a rua com cautela. Faço isso porque tenho lido, nos jornais, notícias de desastres com meninos imprudentes, apanhados pelos automóveis.

Não quero ficar aleijado para toda vida, como Zezé, meu vizinho, que desobedeceu a ordem do guarda-civil e foi atropelado por um caminhão.

Para subir e descer do ônibus, espero que ele pare completamente.  Não gosto de apanhar o ônibus andando.  Não desejo voltar para casa num carro do Pronto Socorro. Por isso quando ando pela cidade, nunca esqueço das palavras do papai:

— Na rua, meu filho, todo cuidado é pouco!

TEXTO EDITADO E ADAPTADO

De: Leituras Infantis, Theobaldo Miranda Santos, 2º livro, para escolas primárias do Brasil, 14ª edição, Rio de Janeiro, Agir: 1962.





Palavras para lembrar — B. F. Skinner

25 09 2012

Menina lendo

Anne Bozellec (França, 1942)

Desenho

“Não deveríamos ensinar os grandes livros; deveríamos ensinar o amor à leitura”. 


B. F. Skinner





Uma saudação à Primavera!

24 09 2012

A primavera, 1965

René Magritte (Bélgica, 1898-1967)

Óleo sobre tela, 46 x 55 cm

Christie’s Auction House