James Carroll Beckwith (EUA, 1864-1917)
óleo sobre tela
Jarro com frutas: maçãs e pêssegos, 1954
Arcangelo Ianelli (Brasil, 1922-2009)
óleo sobre tela, 70 x 60 cm
Retrato de Júlia, filha do Imperador Romano Tito, 2ª metade do século I
Entalhe, água-marinha assinada Evodos
Moldura Carolíngea, século IX, rodeada por nove safiras e seis pérolas
Bibliothèque Nationale, Cabinet des Medailles, Paris, França.
Brinquedos velhos, em trapos,
sem importância, parecem…
mas guardam nos seus farrapos
lembranças que não se esquecem,…
(Marina Bruna)
Cao Quantang (China, 1957)
Aquarela e guache sobre papel
Reli neste fim de ano o livro Balzac e a costureirinha chinesa de Dai Sijie. Estou envolvida no projeto Eu também leio e uma das minhas funções é selecionar textos que adolescentes ou jovens adultos possam achar interessantes, fora das escolhas óbvias desse nicho de mercado. Minha memória não anda tão má assim, este é um livro de que muitos jovens adultos poderão gostar.
Trata-se de dois rapazes de dezessete anos, citadinos, com famílias exercendo profissões liberais, que se encontram numa aldeia montanhosa, distante de tudo, ao serem mandados pelo regime de Mao Tse Tung para trabalhos forçados, participando, contra a vontade, do sistema de re-educação conhecido como ‘Revolução Cultural’ da década de 1960 na China.
São rapazes comuns. Trazem com eles um conhecimento rudimentar da cultura ocidental. A esta altura tudo ocidental é proibido pela ditadura chinesa. Um deles toca violino, não muito bem. Outro tem grande habilidade de contar histórias. São essas pequenas habilidades, mal-ajambradas, e referências com o mundo ocidental, que os levam a aventuras em meio a um povo brutalizado pelo trabalho árduo e muita pobreza. Nesse meio tempo os jovens conhecem a bela costureirinha da aldeia, assim como outro rapaz, filho de gente importante, que como eles faz o trabalho forçado de re-educação. Mas este tem um segredo: acesso a livros de literatura ocidental, que trouxe escondido.
Muitas peripécias levam os rapazes a ter acesso a uma pequena obra Balzac: Úrsula Mirouët. Atraídos pela bela jovem costureira, eles se dispõem a recontar a história do romance que havia sido traduzido para o chinês, mas era obra proibida durante o governo de Mao. O efeito da literatura ocidental, principalmente francesa é sentido quase imediatamente. Mais tarde outros livros são lidos que semeiam a procura da felicidade e um sentido de liberdade na jovem costureira.
A literatura como redentora não chega a ser um tema fora do comum. Leitores e escritores estão cientes desse poder e com frequência gostam de reparti-lo, como acontece com os personagens dessa obra. Tudo indica que tem muitas passagens da própria vida do autor que, além de escritor, é diretor de cinema. A importância da literatura francesa é uma reflexão da própria vida do autor, que nascido na China, reside na França desde 1984. Balzac e a costureirinha chinesa é leitura rápida, sem grande expectativa literária. Agradável e pequeno, o livro serve para lembrar o poder da palavra escrita, e o poder de se conhecer outros mundos, vidas e personagens através dos livros. Já faz mais do que muita coisa publicada por aí.