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Nathaniel Guimarães (Brasil, contemporâneo)
aquarela, 23 x 30cm
Museu Ado Malagoli, Porto Alegre
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Nathaniel Guimarães (Brasil, contemporâneo)
aquarela, 23 x 30cm
Museu Ado Malagoli, Porto Alegre
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Antonio Vidal Rolland (Espanha, 1889-1970)
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Elie Wiesel
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Anita Malfatti (Brasil, 1889-1964)
óleo sobre tela, 39 x 49 cm
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Bernardino Lopes
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Homens e moças, crianças,
Todos vêm fora, ao terreiro.
Um deles, chamando às danças,
Põe-se a rufar no pandeiro…
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Principia a cantarola…
Um camponês de unha adunca
Ponteia alegre a viola.
Faz um luar como nunca!
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Salta um rapaz no fadinho;
Uma mulher, de corpinho,
Vem requebrando de lá;
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E a meninada bizarra
Faz uma grande algazarra
Brincando de tempo-será*.
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* O negrito é do texto original.
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Em: Cromos, Bernardino Lopes, 1881
Abaixo a brincadeira tempo-será.–
Tempo será — brincadeira de pique. As crianças escolhem um pegador. Ele e as outras crianças então recitam o seguinte:
Pegador — Tempo será.
Crianças — De cericecó.
P — Laranja da China.
C — Pimenta em pó.
P — Pinto que pia?
C — Pi-pi-ri-pi.
P — Galo que canta.
C — Cocorocó
P — Quem é o durão?
C — Só eu só.
P — Olha que lhe pego.
C — Não é capaz.
P — Olha que lhe pego.
C — Se for capaz…
Todos fogem do pegador. O primeiro que for pego será o pegador seguinte.
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Mig Quinet (Bélgica, 1906-2001)
óleo sobre tela, 29 x 42 cm
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Mig Quinet — Nasceu em Ransart em junho de 1906. Cursou a Academia de Belas Artes de Bruxelas. Trabalhou no serviço cultural do Palais des Beaux-Arts, em Bruxelas de 1928 a 1931. Reuniu-se depois ao grupo fauvista de Brabant. Interessada em avant-garde, fez a sua primeira exposição individual em 1938. Foi uma dos fundadores da Jeune Peinture Belge (1945-1948), ela aparece em quase todos os eventos e defende ao lado de Anne Bonnet, a presença das mulheres na arte deste grupo de inovadores. Defende firmemente também a agressão cromática e simplificação das formas. No início da década de 1950, sua pintura passa para uma abstração geométrica (1949-1957) e depois lírica (1957-1963) com um frescor cheio de espontaneidade e uma paleta de cores brilhantes. Voltou mais tarde à arte figurativa. Mig Quinet é considerada uma das mais originais coloristas da arte belga. Faleceu em Watermael-Boitsfort em Maio de 2001 .
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Hoje, chamamos os anos preenchendo os séculos VIII e IX de Renascença Carolíngia. É o período da primeira unificação europeia depois do Império Romano, sob a tutela de Carlos Magno anos 768-814 e sob o reinado de seu sucessor, rei Luís, o Pio, 814-840. Para poder unificar uma área tão grande, Carlos Magno dedicou-se à estandardização do ensino do latim, língua corrente, numa época em que as próprias língua latinas se formavam e a cada geração mais se distinguiam entre si e se distanciavam umas das outras. Era um problema: estudiosos de um lado do império não conseguiam se comunicar com outros do outro lado. A língua comum era o latim, como havia sido no tempo dos romanos, 400 anos antes, mas o latim estava agora tomando as características dos dialetos locais. Até mesmo os padres, responsáveis e mantenedores nessa época de todo o conhecimento na Europa ocidental, já não estavam mais fluentes no latim padrão. Usavam as bíblias no latim vulgar que já mostrava o perfil, ainda que seminal, das novas línguas latinas.
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Havia outro problema: falta de escribas qualificados que pudessem fazer cópias confiáveis dos livros clássicos do pensamento latino. Além disso, era muito pequeno número de pessoas alfabetizadas que pudessem ser treinadas como escribas. Foi assim que surgiu a Carta do Pensamento Moderno, em 787. Que ainda mostra algumas das características do ensino encontrado no século XX, mil e quatrocentos anos mais tarde. Dentre os esforços culturais de Carlos Magno estavam a padronização dos currículos e da língua latina. Foram feitas também as primeiras cartilhas em latim, quando as letras minúsculas próximas das que usamos hoje foram utilizadas.
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Saint Énogat, meus filhos, 1922
Lucien Jonas (França, 1880-1947)
óleo sobre tela, 60 x 81cm
Museu dos anos 30, Paris
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Christine Comyn (Bélgica, 1957)
Aquarela sobre papel
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Em 2008 quando terminei a leitura de A Trégua de Mário Benedetti sabia que havia lido um romance que me afetara profundamente. Mas não tinha imaginado que de quando em quando, me lembraria dessa obra pequenina e potente do escritor uruguaio. Hoje, passados seis anos, sua presença ainda se faz sentir. Sábado, quando saí do cinema depois de ver o filme indiano The Lunchbox, quase imediatamente me lembrei dos pequeninos capítulos, quase parágrafos únicos, verdadeiras pedras preciosas de sutileza, que compõem A Trégua, fazendo do romance a joia rara que me encantou.
Há inúmeros paralelos entre o filme indiano e o romance uruguaio. Ambos são brilhantes. São sutis nas emoções que revelam. E tratam de ritos de passagem. Em geral usamos esse termo para descrever a literatura centrada em um adolescente que por uma determinada aventura se torna adulto, como no livro de J. D. Salinger, O apanhador no campo de centeio. Mas aqui trata-se de homens adultos à beira da aposentadoria, que por motivos diversos se encontram em situações semelhantes, capazes, talvez, de reencontrar o gosto pela vida. Em ambas as obras, mesmo que por diferentes meios, a sutileza dos sentimentos é tocante.
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Em meio a pilhas de papéis nas mesas dos escritórios, vivendo em um estado quase mecânico, em total solidão, os personagens principais do livro e do filme passam pela vida quase desapercebidos, resignados, incapazes de reivindicar uma existência melhor. Competentes, mas com suas vidas sem brilho. E eis que por uma pequena intervenção do destino um raio de luz passa por uma porta entreaberta trazendo a possibilidade de outra vida. Talvez. A narrativa em ambos os casos é por meio de elipses, no texto são as entradas no diário de Martín Santomé; no filme são os recados deixados por Irrfan Khan no papel de Saajan Fernandez. Irmãos na delicadeza dos sentimentos, na sutileza da narrativa essas duas obras primas dificilmente são esquecidas.
No filme a extraordinária interpretação de Irrfan Khan, que preenche o seu papel com uma simples mudança no olhar precisa ser ressaltada. E a beleza de Nimrat Kaur, um boa atriz com certeza, não pode ser ignorada. Um belíssimo filme, poesia em imagens. Se tiver a oportunidade, não perca.