Dia das Mães está chegando!
3 05 2024Comentários : Leave a Comment »
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Resenha, “Não é um rio” de Selva Almada
29 04 2024Josien
Arjan van Gent (Holanda 1970)
óleo sobre tela, 50 x 65 cm
Meu grupo de leitura Ao Pé da Letra, já havia escolhido Não é um rio, de Selva Almada, com tradução de Samuel Titan, Jr, como leitura para o mês de abril, antes mesmo do livro ter sido anunciado como finalista do prêmio Booker Internacional deste ano. Há, além disso, a curiosidade deste livro estar competindo com o livro Torto Arado do escritor brasileiro Itamar Vieira Júnior, também finalista para o mesmo prêmio. O grupo leu o livro brasileiro em fevereiro de 2021. Ainda brincamos, no nosso encontro de sábado, que mais uma vez estamos diante de uma competição Brasil x Argentina, já que a autora é natural da Argentina. Mas dessa vez a rixa não é no futebol.
Todos do grupo gostaram do livro. Ainda que alguns sentissem a necessidade de mais conteúdo de alguns personagens, mais complexidade na trama. O livro é pequeno, há aproximadas cem páginas de texto, e características de alguns personagens poderiam ser aprofundadas, fazendo o texto mais rico, mais tridimensional. Há personagens fortes e herméticos. As personagens mulheres parecem tão enigmáticas quanto o olhar masculino as julga.
Confesso que gostei do livro como está. Sem necessidade de aprofundamento dos personagens. Gosto de textos curtos, impactantes, que marcam pela elipse, por tudo que não dizem. É uma maneira de engajar o leitor que dá de si ao preencher as lacunas, ao entender o que foi sugerido. Selva Almada tem uma maneira de escrever lacônica. Não há uma palavra extra, nenhuma palavra extra para ênfase. A narrativa mistura passado e presente, e por isso requer atenção. Há muitos personagens. Há os personagens humanos e há pelo menos dois personagens não humanos: a floresta tropical, e o rio. Há um tantinho de realismo mágico, na dose certa. Para mim, fiz algumas notas para manter cada personagem no seu lugar, com sua história, algo raro em texto tão curto. Mas talvez isso tenha sido porque não li o livro de uma só vez, ainda que ele possa ser lido em duas horas.
Selva Almada
Mas há uma característica dessa narrativa que me cativou e a colocou à frente de muitos livros; Esta é uma história que mostra a violência de pessoas comuns. Exibe o desprezo de muitos pela vida. A vida é algo barato. Dispensável, Todos morremos e sofremos. E revela o lugar deprimente das mulheres nesse enclave a que somos apresentados. É o retrato da bestialidade humana, das atrocidades cometidas no cotidiano de um grupo que se reserva um mínimo civilizatório. Apesar disso, a narrativa é tão precisa, tão pontual e hábil que aceitamos tudo sem espanto, sem choque. Nesse aspecto, Selva Almada se mostra uma mestre, sem igual. Não me surpreende que hoje seja conhecida como uma das grandes escritoras argentinas. Recomendo a leitura.
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Minutos de sabedoria: Marguerite Yourcenar
25 04 2024No café
Monica Castanys (Espanha, 1973)
óleo sobre tela
“Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana.”
Marguerite Yourcenar
Marguerite Yourcenar (1903-1987)
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Trova dos pirilampos
23 04 2024Vagalumes na noite, ilustração anônima.
É Deus que à noite dispersa
o bando dos pirilampos,
taquigrafando a conversa
que há entre as flores, nos campos.
(Balthazar de Godoy Moreira)
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O vaivém, Lindolfo Gomes
22 04 2024
O vaivém
Lindolfo Gomes
Era um dia um velho chamado Zusa, que trabalhava pelo ofício de carapina. A sua oficina era um brinco, sempre muito asseada, a ferramenta muito limpa, tudo nos seus lugares.
Mas a mania do velho era batizar cada ferramenta com um nome apropriado. O martelo chamava-se toc-toc, o formão, rompe-ferro, o serrote, vaivém.
Quando um carapina do lugar precisava de uma, corria logo à oficina do Zusa, a pedir-lhe de empréstimo.
Mas, tantas lhe fizeram, demorando a entrega ou ficando com as ferramentas algumas vezes, que o velho resolveu parar com os empréstimos.
Certo dia foi à oficina um menino, de mando dopai, e disse:
— Papai manda-lhe muitas lembranças e também pedir-lhe emprestado o vaivém.
Mestre Zusa pôs as cangalhas no nariz e respondeu:
— Menino, volta e diz a teu pai que se vaivém fosse e viesse, vaivém ia, mas como vaivém vai e não vem, vaivém não vai.
Em: Contos Populares Brasileiros, São Paulo, Melhoramentos: 1965, p. 36
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Trova das lembranças
18 04 2024Ilustração, Blanche Fisher Wright
São, com os ventos passantes,
plantadas como sementes.
Lembranças são diamantes,
eternas em nossas mentes!
(Rita Bernardete Sampaio Velosa)
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Outono: Elizabeth George Speare
17 04 2024Paisagem com homem e arado, 1889
Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)
óleo sobre tela, 33 x 41 cm
Hermitage, Rússia
“Depois dos dias grandiosos de setembro, o sol de outubro encheu o mundo com calor ameno… A árvore de bordo frente à entrada queimava como uma gigantesca tocha vermelha. Os carvalhos ao longo da estrada brilhavam em amarelo e bronze. Os campos se estendiam como um tapete de joias, esmeralda e topázio e granada. Para qualquer lado que ela fosse a cor gritava e cantava à sua volta… Em outubro qualquer evento inesperado é possível.”
Elizabeth George Speare, The Witch of Blackbird Pond — tradução deste trecho: Ladyce West
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“After the keen still days of September, the October sun filled the world with mellow warmth…The maple tree in front of the doorstep burned like a gigantic red torch. The oaks along the roadway glowed yellow and bronze. The fields stretched like a carpet of jewels, emerald and topaz and garnet. Everywhere she walked the color shouted and sang around her…In October any wonderful unexpected thing might be possible.”
― Elizabeth George Speare, The Witch of Blackbird Pond
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Veja que boa recomendação!
16 04 2024
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Sobre advogados…
13 04 2024Escritório de advogados, 1545
Marinus van Reymerswaele (Flandres, 1490-1546)
óleo sobre madeira, 102 x 124 cm
“Quantas coisas aprendi no exercício da minha função! Vi um pai morrer num celeiro, sem um tostão, abandonado por duas filhas a quem havia doado quarenta mil libras de renda! Vi testamentos serem queimados; vi mães despojarem seus filhos, maridos roubarem suas mulheres, mulheres matarem seus maridos valendo-se do amor que lhes inspiravam para torná-los loucos ou imbecis, a fim de viver em paz com um amante. Vi mulheres darem ao filho de um primeiro leito gotas que acarretariam sua morte, a fim de enriquecer o filho do amor. Não posso lhe contar tudo o que vi, porque vi crimes contra os quais a Justiça é impotente. Enfim, todos os horrores que os romancistas creem inventar ficam sempre aquém da verdade. O senhor vai conhecer todas essas belas coisas, deixo-as ao senhor; quanto a mim, vou viver no campo com minha mulher, Paris me horroriza.“
(Trecho, que se refere à novela de Honoré de Balzac, titulada Coronel Chabert)
Em: Os enamoramentos, Javier Marías, Rio de Janeiro, Cia das Letras: 2012
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