Vamos melhorar? …

11 03 2024
Ilustração: As joias da Castariore, Hergé.

 

 

 

Vou com alguma frequência a concertos de jazz e música clássica.  Ocasionalmente vou a um espetáculo de dança.  Mas minha observação serve para qualquer tipo de performance.  Tenho notado que pessoas entusiasmadas com o desempenho de alguma artista, cantora, pianista, violinista, dançarina, equilibrista, contorcionista, grita, ao final do programa: BRAVA!

Não, não, não, não e não.  Temos que gritar BRAVO!, independente do sexo da pessoa atuando de maneira tão espetacular.  Por que?

Porque a palavra BRAVO, nesta ocasião, é uma interjeição.  Interjeição é uma palavra que diz tudo o que precisa sem necessidade de mudar nada.  Ela já é um coringa, entra ali na frase, para ser usada sem variações.  E vem acompanhada de um guardião: ponto de exclamação!

A palavra BRAVA, existe.  Sim, existe.  Mas tem um significado muito diferente.  Ela é a forma feminina do adjetivo BRAVO.  Este tem diversos significados: selvagem, indomável (como a gente vê nas placas, cachorro bravo, por exemplo), feroz, furioso, enfezado, agressivo.  Ou pode ser: corajoso, valente, destemido.   É uma palavra polivalente, porque ainda significa: honrado, ilustre, como no nosso hino: “Brava gente brasileira!”.  Nestes sentidos essa palavra pode ser usada no feminino. 

Mas como interjeição de aplauso, ela fica mesmo na forma masculina.  Não porque seja sexista.  Mas porque as interjeições são INVARIÁVEIS.  Aqui abaixo uma tabelinha que retirei do site http://www.português. com. br

Façam bom uso!





Cuidado, quebra!

15 02 2024

Taça com pedestal, primeiro terço do século XV

Vidro soprado, esmaltado e dourado

Museu de Artes Decorativas, Paris

 

 

Essa taça com pé de vidro transparente soprado, que seria o novo cristal, feito na ilha de Murano no início do século XVI, tem decoração em esmalte policromado e ouro.  Trata-se do brasão de um dos papas da família Medici, mas não podemos precisar se pertenceu a Leão X (papa de 1513-1521) ou Clemente VII (papa de 1523-1534).

 

Pela decoração, esse objeto se aproxima de um grupo que engloba umas vinte peças, principalmente de pratos, pratos em pedestal e jarros que se encontram em coleções públicas e particulares famosas (Louvre, Museu Britânico, Museu Metropolitan) Não eram destinados ao uso alimentar, mas provavelmente destinados à decoração de bufês em banquetes de prestígio.  Este serviço, hoje espalhado pelo mundo, demonstra o aalto grau de respeito e reconhecimento desde aquela época, ao talento e às descobertas dos vidreiros venezianos.

 

Traduzido do portal do Museu de Artes Decorativas, por mim.

 

 





Curiosidade literária

27 03 2023

.

A escritora inglesa Enid Blyton (1897-1968), falecida há mais de cinquenta anos, continua conhecidíssima no mundo inteiro por suas obras para crianças e adolescentes. Seus livros, continuamente reimpressos, são lembrados por adultos até hoje. Lembranças das aventuras das gêmeas no colégio Santa Clara, o grupo dos cinco detetives, a sociedade secreta dos sete amigos, todos são personagens queridos e firmemente enraizados na memória de milhares de adultos. Enquanto para as gerações mais recentes, Enid Blyton seria conhecida pelas séries televisivas dos anos 90 ao início do século XXI de Nodi [Noddy], o menino de madeira que vivia numa casinha em Toyland. Sua proeminência no mundo infanto-juvenil não é exagero: seus livros estão entre os mais vendidos do mundo, mais de 600 milhões de cópias desde a década de 1930. A escritora conta com oitocentas obras. Por causa disso foi acusada de usar escritores profissionais para produzir tanto. Negou veementemente e nunca foi confirmado o uso de ghost-writers.

É surpreendente, portanto, descobrir que a autora não gostava de crianças. Era conhecida pelos gritos constantes com os filhos reclamando do barulho que faziam. Vizinhos relataram a preferência da escritora por uma das filhas, favorecendo-a sempre que possível. Imogen, outra filha, relata em suas memórias que ela e a irmã eram levadas e obrigadas a permanecer em um aposento da casa, com a porta aberta, de tal maneira que pudessem ver a mãe e seus convidados, crianças, fãs e leitoras, recepcionadas pela escritora.





A borboleta azul, poesia infantil de Cleonice Rainho

27 02 2023

 

 

A borboleta azul

 

Cleonice Rainho

 

Nosso jardim é uma festa

de borboletas:

pequenas e grandes,

listradas,

amarelas e pretas

e uma pintadinha

que é uma graça.

 

Mas a azul, azulzinha,

a preferida,

é como se fosse

minha filhinha:

vi-a nascer da lagarta,

virou crisálida,

depois borboleta.

 

Quando voou

pela primeira vez

bati palmas: Vivô!!!

 

Voa e volta leve,

azul, azulzinha

e pousa num cacho

de rosas brancas

sua casinha.

 

Às vezes se ajeita,

mansinha,

tomando a forma

de um coração.

 

Seu corpo sedoso,

macio,

parece vestido

com pano do céu.





Fábula, Cleómenes Campos

31 08 2021
Autoria desta ilustração, desconhecida.

 

 

Fábula

 

Cleómenes Campos

 

 

No começo do mundo,

quando tudo falava, um Monte, certo dia,

interrogou a um Vale, a quem mal conhecia:

— “Quem é mais alto de nós dois?”

 

O Vale respondeu-lhe. admirado, depois:

“Eu só te sei dizer que é o mais profundo…”

 

 

Em: Poesia Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva: 1967, Coleção Henriqueta, p. 113.

 





Tijuco (Diamantina) visita de Auguste Saint-Hilaire, 1817

13 08 2020

 

 

 

Wilde Lacerda,Paisagem de Diamantina – ost,1972 - 46 x 55Paisagem de Diamantina,  1972

Wilde Lacerda (Brasil, 1929 – 1996)

óleo sobre tela,  46 x 55 cm

 

“Antes mesmo de chegar a essa bonita aldeia o viajante fica bem impressionado, vendo os caminhos que a ela vão ter. Até uma certa distância os caminhos tinham sido reparados (escrito em 1817) pelos cuidados do Intendente e por meio de auxílios particulares.  Ainda não tinha visto tão belos em nenhuma parte da Província.

……….

As ruas de Tijuco são bem largas, muito limpas, mas muito mal calçadas; quase todas são em rampa; o que é consequência do modo em que a aldeia foi colocada. As casas construídas umas em barro e madeira, outras com adobes, são cobertas de telhas brancas por fora e geralmente bem cuidadas. A cercadura das portas e das janelas é pintada de diferentes cores, segundo o gosto dos proprietários e, em muitas casas, as janelas têm vidraças. As rótulas, que tornam tão tristes as casas de Vila Rica, são muito raras em Tijuco, e os telhados aqui não fazem abas tão grandes para fora das paredes. Quando fiz minhas visitas de despedida, tive ocasião de entrar nas principais casas de Tijuco e elas me parecem de extrema limpeza.  As paredes das peças onde fui recebido estavam caiadas, os lambris e os rodapés pintados à imitação de mármore.  Quanto aos móveis, eram sempre em pequeno número, sendo em geral também cobertos de couro cru, cadeiras de grande espaldar, bancos e mesas.

Os jardins são muito numerosos e cada casa tem, por assim dizer, o seu. Neles veem-se laranjeiras, bananeiras, pessegueiros, jabuticabeiras, algumas figueiras, um pequeno número de pinheiros e alguns marmeleiros. Cultivam-se também couves, alfaces, chicória, batata, algumas ervas medicinais e flores entre as quais o cravo é a espécie favorita. Os jardins de Tijuco pareceram-me geralmente melhor cuidados que os que havia visto em outros lugares ;  entretanto eles são dispostos sem ordem e sem simetria. De qualquer modo resultam perspectivas muito agradáveis desta mistura de casas e jardins dispostos irregularmente sobre um plano inclinado. De várias casas veem-se não somente as que ficam mais abaixo,  mas ainda o fundo do vale e os outeiros que se elevam em face da vila; e não se poderá descrever bem o efeito encantador que produz na paisagem o contraste da verdura tão fresca dos jardins com a cor dos telhados das casas e mais ainda com as tintas pardacentas e austeras do vale e das montanhas circundantes.”

 

Em: As lavras de diamantes (Diamantina e arredores- 1817),  texto de Auguste Saint-Hilaire,  incluído no livro O ouro e a montanha: Minas Gerais, seleção, introdução e notas de Ernani Silva Bruno, Organização de Diaulas Riedel, São Paulo, Cultrix: 1959, pp-39-40.

 

NOTA: Auguste Saint-Hilaire (França, 1779 – 1853) botânico, naturalista e viajou pelo Brasil entre os anos de 1816 – 1822.

 





Trova do sábio

30 06 2020

 

 

800-sargent3619framed3Richard Sargent (1911-1978)Ilustração de Richard Sargent (1911-1978)

 

 

Sábio nenhum há completo

Neste mundo, assim entendo:

Por mais que seja correto,

O sábio morre aprendendo…

 

(Sabino de Campos)

 

 





A rã e o touro, Olavo Bilac

25 06 2020

 

 

illustrations_couleur_fables_de_la_Fontaine_par_Vimar_-_la_grenouille_qui_veut_se_faire_aussi_grosse_que_le_boeufIlustração de Auguste Vimar (1851-1916)

 

 

A rã e o touro
Fábula de Esopo

 

Olavo Bilac

 

Pastava um touro enorme e forte, à beira d’água.

Vendo-o tão grande, a rã, cheia de inveja e mágoa,

Disse: “Por que razão hei de ser tão pequena,

Que os outros animais só faça nojo e pena?

Vamos! quero ser grande! Incharei tanto, tanto,

Que imensa, causarei às outras rãs espanto!”

Pôs-se a comer e a inchar. E inchava, inchava, inchava!…

Mas em vão! Tanto inchou que num tremendo estouro

Rebentou e morreu, sem ficar  como um touro.

 

Essa tola ambição da rã que quer ser forte

Muitos homens conduz ao desespero e à morte.

Gente pobre, invejando a gente que é mais rica,

Quer como ela gastar, e inda mais pobre fica:

— Gasta tudo que tem, o que não tem consome,

E, por querer ter mais, vem a morrer de fome.

 

Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, pp 127-8

 





Esmerado: Estojo de marfim, século XIII

22 06 2020

 

 

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Estojo com placas de marfim encaixadas, e fechamento em cobre banhado a ouro.

Original do Sul Espanha

Século XIII

Comprimento: 7,7 cm Largura: 16,2 cm Altura: 11,7 cm

Victoria & Albert Museum, Londres

 

Estojos e caixas de marfim continuaram a ser fabricadas até depois final do domínio do califado de Umayyad.  Diferentes técnicas eram usadas na construção e ornamentação desses objetos.  Este exemplo é feito por grossas folhas de marfim, e não de um bloco sólido. Acabamento em cobre com banho de ouro é elaborado e constitui sua única decoração.

 

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Eu e a árvore, poesia infantil de Martins d’Alvarez

11 05 2020

 

 

meninos na arvore

 

Eu e a árvore

 

Martins d’Alvarez

 

Quando nasci, papaizinho

plantou, em nosso quintal,

uma arvorezinha esguia,

para ver qual de nós duas

cresceria mais depressa,

qual mais alta ficaria.

 

Mamãe cuidava de mim

e papai cuidava da árvore,

toda noite e todo dia.

Mas, enquanto eu engordava,

crescendo para todo lado,

a arvorezinha subia…

 

Hoje, já estamos crescidas.

Ela bate no telhado…

Eu só alcanço a janela;

mas por vingança, eu me trepo

nos galhos, até ficar

muito mais alta que ela.

 

Em: O mundo da criança: poemas e rimas: , vol. I, Rio de Janeiro, Delta: 1975, p. 99