Poema — Fernando Pessoa — para crianças

24 10 2008

 

Parati: lembrança do passado, 1958

Armando Viana (RJ 1897- RJ 1992)

óleo sobre tela, Coleção Particular

 

POEMA

Ó sino de minha aldeia,

Dolente na tarde calma,

Cada tua badalada

Soa dentro de minha alma.

 

E é tão lento o teu soar,

Tão como triste da vida,

Que já a primeira pancada

Tem o som de repetida.

 

Por mais que tanjas perto,

Quando passo sempre errante,

És para mim como um sonho,

Soas-me na alma distante.

 

A cada pancada tua,

Vibrante no céu aberto,

Sinto mais longe o passado,

Sinto saudade de perto.

 

 

Fernando Pessoa

 

Vocabulário: 

 

dolente – triste

me tanjas – me toques

errante – sem destino

 

 

Em:

Poemas para a infância: antologia escolar, Henriqueta Lisboa, Edições de Ouro:s/d, Rio de Janeiro

 

 

Fernando Antônio Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.





José Mindlin em entrevista fala sobre livros no Brasil

24 10 2008

 

 

No Jornal do Comércio de hoje (24/10/2008) José Mindlin o bibliófilo brasileiro, que decidiu doar sua vasta biblioteca de 45.000 volumes, para a Universidade de São Paulo, fala um pouco mais de sua paixão pela democratização do acesso ao livro no Brasil.  Entrevistado por Marcone Formiga para a Revista Brasília em Dia, o imortal brasileiro defende primeiro que tudo a abertura de mais bibliotecas públicas no país inteiro e lembra que elas deveriam funcionar à noite e em fins de semana.  Aqui está uma fração da entrevista:

 

MF: O senhor contou, no início da entrevista, que desde cedo devorava livros.  Hoje, com a internet, existe a possibilidade de a literatura perder a importância?

 

JM: Eu tenho através de netos e alguns bisnetos, contato com a infância e a mocidade, constatando muito interesse por leitura, também.  Não só pelo desenvolvimento tecnológico.  Agora, tem que existir um exemplo em casa de leitura, para estimular as crianças.  Não há regras para isso.

 

MF: Muita gente alega que não tem tempo para a literatura…

 

JM: Quem afirma não ter tempo, na realidade não procurou ler.  É muito mais fácil não ler e afirmar que não teve tempo.  Mas essas pessoas não sabem o que estão perdendo, porque a leitura é uma fonte de prazer permanente.

 

MF: O livro no Brasil é muito caro.  Isso é um fator desestimulante?

 

JM: Ele é caro, custa muito dinheiro para uma grande maioria da população.  É caro para produzir e para distribuir.  Não existe exploração de um  modo geral na questão da venda de livros.  Agora, a solução seria abrir mais bibliotecas públicas, porque ler não devia depender de possuir um livro.  Nos Estados Unidos, um país altamente desenvolvido, as bibliotecas são em grande quantidade e uma biblioteca particular não é regra.  Uma boa biblioteca particular é exceção, em qualquer cidadezinha há uma boa biblioteca pública.  Nós estamos longe disso, mas eu acho que é esse o objetivo, que tem que ser procurado alcançar.  

 

MF: O governo poderia ter a iniciativa de incentivar a leitura, reduzindo impostos das editoras, das gráficas?

 

JM: A impressão dos livros tem uma série de sanções.  Eu não conheço isso em detalhes, mas acho que há um incentivo.  Agora o grande incentivo é a formação de bibliotecas com bons bibliotecários que orientem os leitores, que mostrem o que há de interessante nos livros.  Tudo é uma questão de formação de um hábito que preencha a biblioteca que, aliás, deveria existir também de modo generalizado nas escolas.  

 

 

[Este é um trecho da entrevista publicada hoje no Jornal do Comércio, versão impressa.]

 





Sirva algo quente para causar uma boa impressão!

24 10 2008

Ilustração: Maurício de Sousa

 

Hoje pela manhã o programa de rádio ALL THINGS CIONSIDERED, da National Public Radio em Washington DC teve um segmento muito interessante sobre a diferença na percepção que temos,  de pessoas que acabamos de encontrar, quando temos em nossa mão um copo de conteúdo quente ou de conteúdo frio.  Quero dizer, você está tomando uma xícara de chá quente.  Tem esta xícara na mão.  De repente você é apresentado a alguém.  A sua tendência será de achar que esta pessoa, que você acaba de encontrar é uma pessoa amável, simpática, generosa.  Enquanto que se você tivesse nas mãos um copo de açaí gelado, sua tendência seria de achar o novo conhecido frio, antipático.

Este estudo conduzido pela Universidade de Yale foi cuidadosamente controlado.  Voluntários – estudantes – não sabiam quando o estudo começaria.  A conclusão depois de muitos testes foi que depois de segurar alguma coisa quente, mesmo que por segundos, o nosso julgamento de uma pessoa até então desconhecida é muito mais positivo, do que se segurarmos alguma coisa gelada.  

Há indicadores de que algumas emoções começam primeiro no corpo humano e só mais tarde são registradas pelo cérebro.   O estudo, feito por Lawrence Williams, professor na Universidade de Colorado, foi estudado Poe ele durante sua monografia, quando doutorando da Universidade de Yale; e foi publicado nesta semana na revista SCIENCE.  Andreas Meyer-Lindberg, diretor do Instituto Central para Saúde Mental da Alemanha, corrobora com estas descobertas, lembrando que alguns cientistas acreditam que tanto o medo quanto a felicidade são emoções que começam primeiro como uma reação física, que manda uma mensagem para o cérebro  nos permitindo sentir a emoção.

Para o artigo inteiro e para o áudio do programa, clique AQUI.