Os Periquitos
Osório Dutra
No leque verde dos coqueiros
Que ornam a margem dos caminhos,
Os periquitos galhofeiros
Zombam dos outros passarinhos.
Numa algazarra delirante,
Batendo as asas irisadas,
Cantam a terra e o céu distante,
Glorificando as alvoradas.
Porque se julguem muito ricos
Donos do espaço e das alturas,
Fogem dos pobres tico-ticos,
Trocando afetos e ternuras.
Unidos contra aos caçadores,
Andam ariscos e assustados:
Temem os ventos destruidores
E a poeira azul dos descampados.
São tão alegres, tão ruidosos,
Que a gente ao vê-los avalia
Que sejam todos venturosos,
Brincando ao sol de cada dia.
Não param nunca os mais tranqüilos.
Pulam, febris, de galho em galho.
Com que prazer, para segui-los,
Deixo de lado o meu trabalho!
Passam a vida saltitando
E é cada qual mais tagarela.
Onde vai um, lá vai o bando,
Cortando o azul na tarde bela.
Ordena um deles a partida
Em busca de outros horizontes.
Depois é a volta… E que corrida
Vertiginosa sobre os montes!
E quando, à noite, escuto os gritos
De mil insetos bandoleiros,
Dormem, sonhando, os periquitos
No leque aberto dos coqueiros.
Osório Hermogênio Dutra, Vassouras, Estado do Rio, (1889 -1968). Diplomata brasileiro e poeta.
Obras:
O país do deuses (crônicas sobre o Japão)
Terra Bendita, 1923 (poesia)
Castelos de Marfim e Céu Tropical (poesia), 1930
Inquietação, 1933 (poesia)
Dentro da noite Azul, 1934
Silêncio doce silêncio, 1936 (poesia)
O gênio poético de Martins Fontes, 1938
Mundo sem alma, 1943
Terra da gente, 1944 (poesia)
Emoção, 1945
Tempo perdido, 1946
Elas e nós, 1955, (poesia)
Vocabulário para uso escolar:
Ornar = decorar, enfeitar
Galhofeiro = brincalhão
Irisada = furta-cor
Venturoso = feliz
Bandoleiros = errante, sem paradeiro