Ilustração de Lívia
Casa Amarela
Em dias distantes,
Alegres, ruidosos,
Vivi nessa casa
Tão belos instantes!
Oh! Lembro-me bem
Da casa amarela,
Bem longa e comprida,
Em forma de trem.
E a gente, criança,
Correndo e gritando.
Um mundo de sonhos
Ficou na lembrança…
O som das risadas,
Dos choros também.
As flores colhidas,
Em fartas braçadas,
Deixaram perfumes
Gravados em mim.
Guardei borboletas,
Guardei vagalumes:
Lembranças queridas
Que eu trouxe de lá.
— Retalhos de sonhos,
Pedaços de vidas!
Mamãe nos chamando,
Com voz muito aflita.
As suas palavras
Estou escutando:
— “Olá, criançada,
É hora da missa!”
— “É hora da escola!”
E a gente apressada,
Saía correndo,
Ouvindo o barulho
Do bonde que vinha
Nos trilhos, gemendo.
E agora, a saudade,
Em forma de um eco,
Vem, massa e distante,
Contar-me a verdade:
A casa amarela
Mudou de cor.
Perdeu seu encanto,
Não é mais aquela!
Mas dentro de mim,
A minha saudade
Em tom de balada
Cantando ficou:
— “A benção, mamãe!
A benção, papai
É tarde eu já vou!”
Ai doce saudade
Da casa amarela!
Adeus, criançada!
É tarde… eu já vou!…
Marília Mendes Fairbanks Maciel ( Matão, SP 1924 – 2012), poeta, romancista, contista e artista plástica.
Obras:
Oferenda, 1962 – poesia
Momento sem tempo, 1970 — poesia
Tempo de saudade, 1971 — poesia
Janela Acesa, 1972, — poesia
O que o conto não conta, 1975 — contos
A semente, 1977 — romance