Um passeio pelos jardins do Palácio do Catete

30 03 2010
Jardim do Palácio do Catete,  Rio de Janeiro.  Foto: Ladyce West

Neste verão que não acaba, em que fritamos todos os dias os nossos corpos a 38º C,  tenho procurado andar na areia da praia só no fim das tardes, e nos fins de semana visitar alguns dos belos jardins do Rio de Janeiro, a cata de  sombra, frescor, natureza e equilíbrio mental.   No sábado passado passei uma hora e pouco à sombra das árvores nos jardins do Palácio do Catete, antiga residência presidencial quando no século XX esta cidade ainda era a capital do Brasil.

Há uma característica desse jardim que sempre me intrigou e que dessa vez procurei saber o porquê.  Fato que salta aos olhos de quem quer que visite o local é a estranha distribuição de terra em relação à casa.  Os jardins são imensos.  Mas a casa fica não no centro dos jardins como seria de se esperar, mas no canto, dando de frente para a Rua do Catete.  Nem sei quantas vezes esse jardim é maior do que a área coberta por essa residência neo-clássica, construída entre 1858 e 1866, trabalho do arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt, mas tem lago, tem gruta, tem esculturas e árvores gigantescas, e parece fora do comum que a casa ficasse assim num cantinho com as janelas paralelas à calçada.

Coreto, nos jardins do Palácio do Catete.  Foto:  Ladyce West

Finalmente descobri a razão:  a casa fora construída originalmente para residência na corte dos Barões de Nova Friburgo.  E a Baronesa havia exigido que este local fosse diferente de suas duas outras residências, a do Cantagalo e a de Nova Friburgo ambas as construções em centro de terreno.  A Baronesa de Nova Friburgo queria sentir o calor humano, a movimentação da corte, as carruagens passando, os vendedores cantando suas ofertas, seus pregões individualizados, quando chegasse à janela da residência citadina.  Daí o uso do cantinho esquerdo do terreno de esquina entre as ruas do Catete e a rua Silveira Martins [agradeço ao leitor Pedro Henrique pela correção do nome desta rua, que hoje, 29/9/2013 modifiquei no texto].  Os fundos da casa, dão para os jardins que se prolongam até  a Praia do Flamengo.  

Oceania, escultura em ferro fundido de Mathurin Moreau [França, 1822-1912], 1876.  Foto:  Ladyce West

Espalhadas pelos deliciosos recantos do jardim há uma série de esculturas em ferro fundido, de Mathurin Moreau (1822-1912), afamado escultor francês do século XIX, representando os continentes.  [Só uma dessas esculturas tem identificação numa tabuletinha próxima.  É a escultura cuja foto coloquei acima].  Ela representa a Oceania: um menino, abraça um pequeno canguru.  Infelizmente, a identificação dessas esculturas, está — como quase tudo que é patrimônio cultural no Rio de Janeiro —  deixada ao léu. É uma vergonha que o patrimônio cultural que temos a nosso alcance não exerça nenhuma fascinação sobre aqueles encarregados de preservar o nosso legado cultural (seria muito, pergunto, se um empregado do museu fizesse as mesmas tabuletinhas para cada uma das esculturas do palácio?  E se roubassem, fizesse de novo?  O custo é próximo a ZERO).   Mesmo nos jardins do Palácio do Catete, um museu carioca, temos o descuido de não identificar as peças, como se elas de nada valessem.  É uma pena.  Não pude, por causa do grande contraste entre a luz do sol e a sombra, nesse sábado, fotografar razoavelmente bem nenhuma das outras esculturas.  Uma delas na verdade, está longe, na frente de uma ilhota do lago, e terei que levar uma outra lente para isso.  Mas prometo aos leitores desse blogue que voltarei ao Palácio do Catete para registrar esses tetéias.  Sim porque essas esculturas são de um tamanho pequeno, certamente feitas para uso em jardins particulares  de importância.   Não há tampouco qualquer cartão postal com a foto das mesmas que se possa comprar e levar para casa como uma lembrança da arte encontrada no museu.  Vergonhoso.  Temos que melhorar isso antes de nos candidatarmos a eventos como Olimpíadas e Copa do Mundo,  porque esses eventos trazem pessoas que além dos esportes gostariam de conhecer a base cultural da cidade.  Garanto, que não há muitas cidades no mundo que têm o patrimônio artístico nacional e estrangeiro, em lugares públicos ou privados, que nós temos.

Os seis continentes, ferro fundido, Museu d’Orsay, Paris.

Mathurin Moreau foi um grande escultor francês do século XIX.  E nada melhor, para aqueles que gostariam de se dedicar às artes no Brasil e à escultura, que visitar essas pequenas representações dos continentes.  Mathurin Moreau criou outra escultura representando a Oceania, mais conhecida,  para a série de trabalhos representando  os  continentes.  A série foi organizada em 1878, e  seis dos mais importantes escultores franceses do final do século XIX  foram convidados a fazer uma escultura que representasse um continente:   América do Sul , por Aimé Millet (1819-1891); Ásia por  Alexandre Falguière (1831-1900); Oceania por  Mathurin Moreau (1822-1912);  Europa  por Alexandre Schoenewerk (1820-1855); América do Norte por  Ernest-Eugene Hiolle (1834-1886) e  África por Eugène Delaplanche (1831-1891).  Esse grupo permaneceu  no mesmo  local, Palácio Trocadéro, desde 1878 até a Segunda Guerra Mundial, quando em 1935 foi  transportado para Nantes.  Lá esteve  por cinquenta anos, até 1985, ano em que ” os seis continentes” retornaram a Paris, encontrando um lar na esplanada do Museu d’ Orsay. 

Oceania, 1878, Mathurin Moreau (França, 1822-1912), ferro fundido, Museu d’Orsay, Paris

Achei por bem postar, a título de curiosidade, uma foto da representação do mesmo continente, na versão de 1878, ou seja na versão de Mathurin Moreau para a Exposição Universal.  As que se encontram no Palácio do Catete são de 1876, ou seja, de 2 anos antes das  esculturas encontradas no Museu d’ Orsay.  Teriam sido elas um exercício do artista para o projeto mais monumental?  O que tanto a peça do Palácio do Catete quanto a encontrada no Museu d’Orsay têm em comum é o toque do exotismo, com a presença com canguru em ambas.  Detalhes exóticos seriam quase de obrigatoriedade nessas representações – afinal estamos falando dos últimos 25 anos do século XIX —  onde o exotismo foi explorado em todos os meios.  Mas as diferenças entre as duas mostram que suas funções foram determinantes na escolha da representação.  Enquanto a escultura feita para a Exposição Universal se mostra grandiosa, maior que a vida, as esculturas encontradas nos jardins do Catete, todas com meninos com animnais,  são mimosas e delicadas, no mesmo material (ferro fundido), mas definitivamente peças feitas para jardins menores, para o prazer do colecionador particular.

 

 Patos, Palácio do Catete, Rio de Janeiro.  Foto:  Ladyce West

Em outra ocasião dedicarei algumas palavras sobre o prédio, suas pinturas e decoração.   Sei que os jardins foram reformados sob a direção do engenheiro Paulo Villon,  em 1896,  quando a propriedade foi eletrificada para abrigar a Presidência da República, que até então usava o Palácio do Itamaraty.  Acredito que essas estátuas de Mathurin Moreau possam ter sido adquiridas na época para pontuar a reforma.    Há nesse jardim também um belíssimo chafariz, — que sábado passado não tinha água .  Esse chafariz, certamente entrou para o Palácio do Catete na reforma de 1896, pois era o chafariz do Largo do Valdetaro, que foi removido do local onde havia sido colocado em 1854 para este jardim em 1896.

Jardim do Palácio do Catete, Rio de Janeiro.  Foto:  Ladyce West

O charme do jardim desse palácio está certamente no romantismo de final de século tão bem retratado na combinação das palmeiras imperiais com árvores frutíferas;  nos lagos bucólicos com patinhos a nadar, e na construção da pequena e romântica gruta, além é claro, do delicado coreto.  É sem dúvida um dos lugares mais prazerosos do Rio de Janeiro.  E,  já que hoje circunda o Museu da República – porque com a mudança da capital para Brasília esse palácio passou a ser o Museu da República — nada mais natural que o tratemos bem e que muito mais atenção seja dada às informações do local.  Vamos esperar que a secretaria de turismo do estado abra os olhos e nos gratifique com um material digno sobre o que estamos vendo.    A falta de informações é um desrespeito com o visitante brasileiro, porque lhe rouba a educação de seu patrimônio cultural, lhe rouba o aprendizado de seu passado; é também um desrespeito com o visitante estrangeiro que procurou nos conhecer melhor, ver  quem somos e de onde viemos.   Dizem os psicólogos que o desleixo, que o desrespeito consigo próprio, é sinal de baixa auto-estima.  Não é isso o que merecemos no Brasil, e não é isso o que eu gostaria de passar para as gerações futuras.

Árvores centenárias do Palácio do Catete.  Foto:  Ladyce West




A cara do Rio, 115 visões do Rio de Janeiro em uma única exposição

25 03 2010

Vista de uma das salas da exposição  A CARA DO RIO  no Centro Cultural dos Correios.  Foto:  Ladyce West

Uma divertida exposição das artes plásticas cariocas: A CARA DO RIO, 2010,  está instalada no Centro Cultural dos Correios, no centro da cidade.   Esta é a 6ª edição dessa exposição que comemora anualmente o aniversário do Rio de Janeiro, juntando trabalhos dos mais diversos artistas visuais, sob um único tema:  a cidade do Rio de Janeiro.    São 115 artistas selecionados na curadoria de Marcelo Frazão.  A exposição que abriu no dia 27 de fevereiro vai até o dia 11 de abril, e se você ainda não foi lá, faça planos, para se encantar, rir, sorrir e se emocionar com as pinturas, esculturas, fotografias expostas.

É difícil escolher dentre tantas obras algumas para ilustrar bem essa postagem.  Mas aqui ficam:

PELA IRREVERÊNCIA:

Redentora, 2010  — DETALHE

Solange Palatnik ( Brasil, Rio de Janeiro, 1944)

Acrílica sobre tela

70 x 200 cm

PELA POESIA:

Vôo da Paz, 2010

Ruth Kac  ( Brasil, Rio de Janeiro, 1945)

Resina

33 x 35 x 47 cm  e 30 x 19 x 33 cm

PELA ALEGRIA:

Praia de Copacabana, 2010

Lúcia de Lima ( Brasil, Rio de Janeiro, 1947)

Acrílica sobre tela

20 x 80 cm

PELA VIBRANTE ENERGIA:

Rio 40 graus, [tetrádico], 2010

Paulo Maurício ( Brasil, Petrópolis,  1960)

Acrílica sobre tela

200 x 200 cm

PELA ALUSÃO HISTÓRICA:

Casario, 2010

Eleny Victoria Eksterman ( Brasil, Riio de Janeiro, 1957)

Giclée em Canvas Hahnemühle

120 x 100 cm

Mas a verdade é que são muito os trabalhos que fascinam, encantam e se fixam nas nossas retinas deslumbradas…  Vale a pena checar esta exposição.   

SERVIÇO:

Centro Cultural Correios
Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro
Corredor Cultural
20010-976 – Rio de Janeiro – RJ
Telefone: 0XX 21 2253-1580
Fax: 0XX 21 2253-1545
E-mail: centroculturalrj@correios.com.br

Funcionamento:

O Centro Cultural Correios recebe visitantes de terça-feira a domingo, das 12 às 19h
Entrada franca.





Na Espanha, Festival de presépios de areia

10 12 2009

Foto: Luis Suarez

—-

Milhares de turistas visitam os presépios de areia, na praia de Las Canteras em Las Palmas na Espanha nesse mes de dezembro. A exposição que reúne trabalhos de sete artistas de cinco países: Karen Fralich (Canadá), Peter Busch (Dinamarca), Fergus Mulvany (Irlanda), Vladimir Kuraev e Alexey Dyakov (Rússia), e Andrei Vazhnyskyv e Iryna Kalyuzhna (Ucrânia).   As esculturas em areia incluem cenas do Antigo e  do Novo Testamento.  Cerca de 180.000 pessoas visitaram a área que ocupa uma área de 600 m². Os artistas responsáveis pelas obras são do Canadá, EUA, Holanda, Irlanda e Rússia.

Foto: Luis Suarez

——

Este é o quarto ano seguido que o Comitê de Turismo da Prefeitura das Grandes Canárias reúne alguns dos mais conhecidos e laureados escultures em areia do mundo para representarem cenas religiosas de preferência relacionadas ao Natal.  Presépios, ou como os espanhóis chamam “belenes” têm uma grande tradição nesse país ibérico.





Antiga civilização européia, ao longo do Danúbio, em exposição em Nova York.

7 12 2009

 

Foto: Marius Amarie

 

Escultura de mulher em terracota, 4.050 a 3900 a.C.

Local:  Cucuteni, Drăguşeni

Museu do Condado de Botoşani

 

Antes da glória de Grécia e Roma, e até mesmo antes das primeiras cidades da Mesopotâmia ou dos templos ao longo do Nilo, havia no vale do Baixo Danúbio e ao pé das montanhas dos Bálcãs um povo à frente de seu tempo na arte, tecnologia e no comércio de longa distância.

—-

Foto: Marius Amarie

 

Vasilhame bi-cônico em terracota,  3700-3500 a.C.

Local: Cucuteni, Şipeniţ

Museu Nacional de História Romênia, Bucareste

———

Por 1.500 anos, começando antes de 5.000 A.C., eles cultivaram e construíram cidades bastante grandes, algumas com até duas mil residências.  Esse povo dominava a fundição de cobre em larga escala que era a nova tecnologia da época. Em seus túmulos foram encontrados uma gama impressionante de adereços de cabeça e colares e, em um cemitério, uma grande e, a mais antiga, coleção de artefatos de ouro do mundo.

Foto: Marius Amarie

 

Bracelete em espiral em cobre, 4.500 a 3.900 a.C.

Local: Cucuteni, Ariuşd

Museu de História do Condado de Braşov 

——-

Os desenhos marcantes de sua cerâmica revelam o refinamento da linguagem visual da cultura. Até descobertas recentes, os artefatos mais intrigantes eram figuras onipresentes de “deusas” de terracota, originalmente interpretadas como evidência do poder espiritual e político das mulheres da sociedade.

Photo: Marius Amarie

 

Modelo arquitetônnico em terracota com sete estatuetas, 3700-3500 a.C.

Local: Piatra Neamţ

Complexo de Museus do Condado de Neamţ 

——

—-

Segundo arqueólogos e historiadores, a nova pesquisa ampliou a compreensão dessa cultura há muito tempo ignorada, e que parece ter se aproximado do limiar do status de “civilização”. A escrita ainda não havia sido inventada e ninguém sabe como o povo se chamava. Para alguns acadêmicos, o povo e a região são simplesmente a Velha Europa.

Foto: Rumyana Kostadinova Ivanova

 

Figuras zoomórficas em ouro, 4.400 a 4.200 a.C.

Local: Varna

Museu Regional de História de Varna

 

——

A cultura pouco conhecida está sendo resgatada da obscuridade em uma exposição, “O Mundo Perdido da Velha Europa: o vale do Danúbio, 5.000-3.500 A.C.“, que foi inaugurada no mês passado no Instituto para o Estudo do Mundo Antigo da Universidade de Nova York. Mais de 250 artefatos de museus da Bulgária, Moldávia e Romênia estão expostos pela primeira vez nos Estados Unidos. A mostra fica aberta até 25 de abril.

Foto: Marius Amarie

 

Escultura de Mulher em terracota, 5.000 a 4.600 a.C.

Local:  Hamangia, Baïa

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

——-

——-

Em seu auge, em torno de 4500 a.C., disse David W. Anthony, curador convidado da exposição, a Velha Europa estava entre os lugares mais sofisticados e tecnologicamente avançados do mundo e desenvolveu muitos sinais políticos, tecnológicos e ideológicos de civilização.

Foto: Jurie Foca and Valery Hembaruc

 

Três braceletes de cobre em espiral,  4.500 a 4.300 a.C.

Local: Suvorovo-Novodanilovka, Giurgiuleşti

Museu Nacional de História e Arqueologia de Moldova.

—–

—-

Anthony é professor de antropologia da Hartwick College, em Oneonta, no estado de Nova York, e autor do livro The Horse, the Wheel, and Language: How Bronze-Age Riders from the Eurasian Steppes Shaped the Modern World; [ O cavalo, a roda e a linguagem: como os cavaleiros da era do bronze das estepes eurasianas moldaram o mundo moderno]. Historiadores sugerem que a chegada de povos das estepes ao sudeste da Europa pode ter contribuído para o colapso da cultura da Velha Europa por volta de 3500 a.C.

Foto: Marius Amarie

——–

Vasilhame esférico com tampa em terracota, 4.200 a 4050 a.C. 

Local: Cucuteni, Scânteia

Complexo do Museu Nacional de Moldova

—-

—-

Na pré-abertura da exposição, Roger S. Bagnall, diretor do instituto, confessou que até agora muitos arqueólogos não haviam ouvido falar dessas culturas da Velha Europa. Admirando a cerâmica colorida, Bagnall, especialista em arqueologia egípcia, comentou que na época os egípcios com certeza não faziam cerâmica assim

Foto: Rumyana Kostadinova Ivanova

————

Cetro em ouro com 9 elementos, 4.400 a 4.200 a.C.

Local: Varna

Museu de História Regional de Varna

——

——

O catálogo da mostra, publicado pela Princeton University Press, é o primeiro compêndio em inglês da pesquisa sobre as descobertas da Velha Europa. O livro, editado por Anthony, com Jennifer Y. Chi, diretora-associada para exposições, inclui ensaios de especialistas da Grã-Bretanha, França, Alemanha, Estados Unidos e dos países onde a cultura existiu.

Foto: Marius Amarie

——–

Duas estatuetas em terracota, 5.000 a 4.600 a.C.

Local: Hamangia, Cernavodă

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

—–

—–

Chi disse que a exposição reflete o interesse do instituto em estudar as relações entre as culturas conhecidas e ainda não apreciadas com deveriam ser.

Foto: Marius Amarie

 

Aplique antropomórfico em ouro, 4.000 a 3.500 a.C.

Local: Bodrogkeresztúr, Moigrad

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste.  

—–

—–

Embora escavações ao longo do último século tenham descoberto vestígios de antigos assentamentos e estátuas de deusas, foi apenas em 1972, quando arqueólogos locais descobriram um grande cemitério do quinto milênio a.C. em Varna, Bulgária, que eles começaram a suspeitar que aquelas não eram pessoas pobres vivendo em sociedades igualitárias não estruturadas. Mesmo então, isolados pela Guerra Fria com a Cortina de Ferro, os búlgaros e romenos foram incapazes de transmitir seu conhecimento ao Ocidente.

Foto: Elena-Roxana Munteanu

——

Grupo de 21 estatuetas e 13 cadeiras em terracota, 4.900 a 4.759 a.C.

Local: Cucuteni, Poduri-Dealul Ghindaru

Complexo de Museus do Condado de Neamţ Piatra Neamţ

——

——

A história que agora surge é que agricultores pioneiros após aproximadamente 6200 a.C. se mudaram para o norte em direção à Velha Europa, vindos da Grécia e da Macedônia e levando trigo, sementes de cevada e sua criação de gado e ovelhas. Eles estabeleceram colônias ao longo do Mar Negro e nas planícies e colinas do rio, que evoluíram em culturas relacionadas, mas um tanto distintas, descobriram os arqueólogos. Os assentamentos mantinham contato próximo através de redes de comércio de cobre e ouro e também compartilhavam padrões de cerâmica.

Foto: Marius Amarie

 

Vasilha antropomórfica, em terracota, 5.550 a 5.000 a.C.

Local:Vădastra, Vădastra

Museum Nacional de História da Romênia, Bucareste

—–

—–

A concha Spondylus do Mar Egeu era um item especial de comércio. Talvez as conchas, usadas em pingentes e pulseiras, fossem símbolos de seus ancestrais egeus. Outros acadêmicos veem essas aquisições de longa distância como motivadas em parte pela ideologia de que os produtos não eram bens no sentido moderno, mas sim “valores”, símbolos de status e reconhecimento.

Foto: Jurie Foca e Valery Hembaruc

—–

Colar (35 conchas e 26 contas), 4.500-4.300 a.C.

Material: Conchas (Cardium edule, Mactra carolina)

Local: Suvorovo-Novodanilovka, Giurgiuleşti

Museu Nacional de Arqueologia e História de Moldova, Chişinău

—–

—–

Notando a difusão dessas conchas naquela época, Michel Louis Seferiades, antropólogo do Centro Nacional para Pesquisa Científica, na França, suspeita “que os objetos eram parte de um círculo de mistérios, um conjunto de crenças e mitos“.

Foto: Marius Amarie

———–

Vasilha antropomórfica em terracota, 4.600 a 3.900 a.C.

Local: Gumelniţa, Sultana

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

——-

De qualquer forma, Seferiades escreveu no catálogo da exposição que a predominância das conchas sugere que a cultura possuía ligações com “uma rede de rotas de acesso e elaborados sistemas sociais de trocas – incluindo o escambo, a troca de presentes e a reciprocidade“.

Foto: Marius Amarie

—-

Machado de cobre,  3.700 a 3.500 a.C.

Local: Cucuteni, Bogdăneşti

Complexo Nacional de Museus de Moldova

——

—-

Ao longo de uma ampla área que hoje é a Bulgária e a Romênia, o povo se assentou em vilarejos de casas de um ou múltiplos recintos, comprimidas dentro de fortificações. As casas, algumas com dois pisos, tinham suportes de madeira, paredes rebocadas com barro e chão de terra batida. Por alguma razão, as pessoas gostavam de fazer modelos de barro de residências com múltiplos pisos, exemplos dos quais estão em exposição.

Foto: Marius Amarie

—–

Modelo arquitetônico em terracota, 4.600 a 3.900 a.C.

Local:  Gumelniţa, Căscioarele

Museu nacional de História da Romênia, Bucareste

——-

—–

Algumas cidades do povo cucuteni, uma cultura posterior e aparentemente robusta no norte da Velha Europa, cresceram ao longo de mais de 320 hectares, o que os arqueólogos consideram maior do que qualquer assentamento humano da época. Mas as escavações ainda precisam encontrar evidências definitivas de palácios, templos ou grandes edifícios cívicos. Os arqueólogos concluíram que os rituais religiosos pareciam ser praticados nos lares, onde artefatos de culto foram encontrados.

Foto: Marius Amarie

——-

Anfora em terracota, 3700 a 3.500 a.C.

Local: Cucuteni, Poduri-Dealul Ghindaru

Complexo de Museus do Condado de Neamţ

——

——

A cerâmica caseira decorada em estilos diversos e complexos sugere a prática de refeições ritualísticas nas residências. Travessas enormes em prateleiras eram típicas da “apresentação socializante do alimento” da cultura, Chi disse.

Foto: Marius Amarie

Vasilha antropomórfica em terracota, 5.300 a 5.000 a.C.

Local: Banat, Parţa

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

——

——

À primeira vista, a falta de uma arquitetura de elite levou os acadêmicos a presumir que a Velha Europa possuía pouca ou nenhuma estrutura hierárquica de poder. Isso foi descartado pelos túmulos do cemitério de Varna. Nas duas décadas seguintes a 1972, os arqueólogos encontraram 310 túmulos datados de aproximadamente 4500 a.C.. Anthony disse que isso foi “a melhor prova da existência de uma posição social e política superior claramente distinta“.

Vladimir Slavchev, curador do Museu Regional de História de Varna, disse que “a riqueza e variedade dos presentes nos túmulos de Varna foi uma surpresa“, mesmo para o arqueólogo búlgaro Ivan Ivanov, que liderou as descobertas. “Varna é o cemitério mais antigo já encontrado em que humanos foram enterrados com ornamentos de ouro“, Slavchev disse.

Mais de três mil peças de ouro foram encontradas em 62 túmulos, junto de armas e instrumentos de cobre, ornamentos, colares e pulseiras das apreciadas conchas do Egeu. “A concentração de objetos de prestígio importados em uma distinta minoria de túmulos sugere que posições superiores institucionalizadas existiam”, observam os curadores da exposição em um painel que acompanha o ouro de Varna.

Foto: Marius Amarie

Martelo-arma na forma de cabeça de cavalo, pedra, 4.000 a.C.

Cultura Indo-Européia

Local: Casimcea

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

 

Contudo, é intrigante que a elite não parecesse usufruir de uma vida privada de excessos. “As pessoas que quando vivas vestiam trajes de ouro para eventos públicos“, Anthony escreveu, “voltavam para casas bastante comuns“.

O cobre, não o ouro, pode ter sido a principal fonte do sucesso econômico da Velha Europa, afirma Anthony. Como a fundição do cobre foi desenvolvida por volta de 5400 a.C., as culturas da Velha Europa exploraram os minérios da Bulgária e do que hoje é a Sérvia e aprenderam a técnica de alto aquecimento para extrair cobre metálico puro.

Foto: Marius Amarie

——-

Figura antropomórfica em  ouro, 4.000 a 3.500 a.C.

Local: Bodrogkeresztúr Culture, Moigrad

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

—–

——-

O cobre fundido, usado em machados, lâminas de faca e em pulseiras, se tornou uma exportação valiosa. As peças de cobre da Velha Europa foram encontradas em túmulos ao longo do Rio Volga, 1,9 mil km a leste da Bulgária. Os arqueólogos recuperaram mais de cinco toneladas de peças de locais da Velha Europa.

Uma galeria inteira é dedicada às estatuetas, as mais familiares e provocantes peças dos tesouros da cultura. Elas foram encontradas em praticamente toda cultura da Velha Europa em vários contextos: em túmulos, santuários e outros prováveis “espaços religiosos”.

Uma das mais conhecidas é a figura em argila de um homem sentado, com os ombros curvados e as mãos no rosto em aparente contemplação. Chamada de “Pensador”, essa peça e outra figura feminina comparável foram encontradas em um cemitério da cultura hamangia, na Romênia. Será que eles estavam pensativos ou de luto?

Muitas das figuras representam mulheres em uma abstração estilizada, com corpos truncados ou alongados, de seios fartos e quadris largos. A sexualidade explícita dessas figuras convida interpretações relacionadas à fertilidade terrena e humana.

Um grupo notável de 21 figuras femininas, sentadas em um círculo, foi encontrado no local de um vilarejo anterior aos cucutenis no nordeste da Romênia. “Não é difícil imaginar“, disse Douglass W. Bailey da Universidade Estadual de São Francisco, o povo da Velha Europa “arrumando as figuras sentadas em um ou vários grupos de atividades em miniatura, talvez com figuras menores aos seus pés ou até mesmo no colo das figuras sentadas maiores“.

Outros imaginam as figuras como o “Conselho das Deusas”. Em seus influentes livros de três décadas atrás, Marija Gimbutas, antropóloga da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ofereceu a hipótese de que essa e outras das chamadas figuras de Vênus eram representantes de divindades em cultos a uma Deusa Mãe que predominavam na Europa pré-histórica.

Embora a teoria de Gimbutas ainda tenha seguidores ardorosos, muitos acadêmicos se conformam com explicações mais conservadoras e não-divinas. O poder dos objetos, afirma Bailey, não estava em qualquer referência específica ao divino, mas em “um entendimento compartilhado de identidade de grupo“.

Foto: Marius Amarie

——–

Braceletes de conchas, 5.000 a 4.600 a.C.

Local: Hamangia, Cernavodă

Museu Nacional de Arqueologia e História da Romênia, Bucareste

 

Como Bailey escreveu no catálogo da exposição, as figuras talvez devessem ser definidas apenas em termos de sua aparência real: retratos representativos em miniatura da forma humana. Assim, “presumo (como é justificado por nosso conhecimento da evolução humana) que a habilidade de fazer, usar e entender objetos simbólicos como tais estatuetas é uma habilidade compartilhada por todos os humanos modernos e, portanto, uma capacidade que conecta você, eu, o homem, a mulher e a criança do Neolítico e os pintores paleolíticos das cavernas“.

Ou então o “Pensador”, por exemplo, é a imagem de você, de mim, dos arqueólogos e historiadores confrontados e perplexos por uma cultura “perdida” no sudeste da Europa que viveu de maneira intensa muito antes de uma palavra ser escrita ou da roda ser girada.

Texto de John Noble Wilford

Amy Traduções com algumas modificações minhas.

Fotos do portal do  The New York Times.

Fonte: Portal Terra





Poetas no museu: Ladyce West

6 09 2009

Bez Batti, FLORAÇÂOFloração

João Bez Batti (RS, Brasil, contemporâneo)

 

 

 

Presença Invisível                

 

 

                                      Ao contemplar a obra  de João Bez Batti

                                      no Instituto Moreira Sales, RJ,  Novembro de 2006

 

 

 

Senti a presença invisível

De mãos grossas, calejadas,

Que acariciaram a pedra, 

O basalto negro

Ou vermelho,

Ou até mesmo o mármore.

 

Constatei mesmerizada

Que trouxeram à superfície

A essência;

Que libertaram, a Michelangelo,

A forma presa no seixo,

O orgânico escondido,

Inerte,

Meio-solto,

Quase-aprisionado.

 

Mãos que revelaram os escravos encapsulados,

Seres encarcerados no mesozóico,

Como se, conhecendo o desastre de Pompéia

Depois do escarro fulminante do Vesúvio,

Soubessem encontrar:

O cactos florescente, o cágado,

A abóbora moranga.  

Caracóis.

E bólidos petrificados.

 

Estas mãos, que brincam

Sedutoramente

Com o poder divino,

Conhecem o conteúdo,

A alma invisível da pedra.

Descobrem o cascalho gaúcho,

Chocam os grandes ovos de rio,

E parem os seres cativos nas  pedras,

Como Eva o tinha sido na costela de Adão.

 

E o que surpreende: estas mãos,

Que revelam o coração do basalto

Regurgitado  pela Terra,

Lixado pelas águas,

Rolado, burilado e aveludado pelo tempo,

São humanas.

Mãos peãs.

Agraciadas pela arte da divinação,

Que brincando de Deus,

Mostram o divino em todos nós.

 

 

© Ladyce West, 2006, Rio de Janeiro





O Aleijadinho, artigo da Revista Kósmos de 1904

1 06 2009

Aleijadinho-Anjo do Getsêmani, Santuário do Bom Jesus de Matosinhos

Anjo do Getsêmani,

Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho ( Brasil, 1730-1814)

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos  — Congonhas do Campo, MG

 

Transcrição do artigo de Gustavo Penna, para a Revista Kósmos,  Agosto de 1904, número 8. 

 

NOTA:  O artigo original não contém nenhuma ilustração. 

 

 

O Aleijadinho

        Se neste país, donde o patriotismo parece desertar, se erguesse um dia o panthéon destinado, destinado a glorificar na morte aqueles que em vida enobreceram a nossa terra, o cenotáfio  de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, iria ocupar neste templo augusto, um lugar de honra, igual ao de Miguel Ângelo no Panthéon de Itália, em Florença.

        O escultor mineiro, morto há noventa anos, tinha a misantropia ríspida de Beethoven, o temperamento assomado de Leonardo Da Vinci.  Poderia dizer-se que aquelas mãos deformadas e engrunhidas pela doença, tendo alguns dedos cortados  a golpes de formão em momento de desespero indômito, de dores crudelíssimas, haviam tomado aos poucos forma agressiva de garra de leão.

        “Era pardo escuro,”  relata Rodrigo Bretas,  no Correio Oficial de Minas, em 1858.  “Tinha a voz forte, a fala arrebatada, o gênio agastado; a estatura era baixa, o corpo cheio e mal configurado, o rosto e a cabeça redondos, e esta volumosa, o cabelo preto e anelado, o da barba cerrado e basto, a testa larga, o nariz regular, beiços grossos, orelhas grandes, o pescoço curto.

        Sabia ler e escrever e não consta que houvesse frequentado alguma outra aula  além da de primeiras letras, embora alguem julgue provavel que tenha frequentado a de latim.

        De 1777 começaram as moléstias a atacá-lo fortemente.  Pretendem uns que ele sofrera o mal epidêmico que, sob o nome de Zamparina, pouco antes havia grassado nessa província , e cujos resquícios, quando o doente não sucumbia, eram quase infalíveis deformidades e paralisias, que nele se havia complicado o humor gálico com o escorbútico.

        O certo é que Antônio Francisco perdeu todos os dedos dos pés, do que resultou não poder andar senão de joelhos; os das mãos atrofiaram-se e curvaram, e mesmo chegaram a cair, restando-lhe somente, e ainda quase sem movimento, os polegares e os índices. 

        As fortíssimas dores que de contínuo sofria nos dedos e a acrimônia de seu humor colérico o levaram por vezes ao excesso de cortá-los ele próprio, servindo-se do formão com que trabalhava!

        As pálpebras inflamaram-se e permanecendo neste estado, ofereciam à vista sua parte interior, perdeu quase todos os dentes, a boca entortou-se, como sucede frequentemente ao estuporado, o queixo e o lábio inferior abateram-se um pouco; assim o olhar do infeliz adquiriu uma expressão sinistra e de ferocidade, que chegava mesmo a assustar que, quer que o encarasse inopinadamente.

        Esta circunstância e a tortura da boca o tornavam de um aspecto asqueroso e medonho.

      

Aleijadinho, Profeta Oséias

Profeta Oséias

Antônio Francisco Lisboa, O Aleijadinho ( Brasil, 1730-1814)

Santuário do Bom Jesus de Matosinhos  — Congonhas do Campo, MG

 

        Para o Aleijadinho, o louvor era tomado como ironia ou escárneo.  A fito de esquivar-se à vista de todos, ia de madrugada para o serviço, a cavalo, trajando um amplo capote com que ocultava o semblante, e somente regressava à casa depois de noite fechada.

        Ainda mesmo quando trabalhava no interior das igrejas, costumava ocultar-se dentro de um toldo.  Se algum curioso, — fosse obscuro popular, ou um genreal como D. Bernardo de Lorena, muito alto e poderoso governador, — ia vê-lo trabalhar, acompanhando por uns instantes o esculpir de uma estátua, que emergia lentamente de um bloco de pedra, o escopro do Aleijadinho, fazia esfarinhar violentamente tamanha chuva de lascas, que o importuno não se demorava, saraivado por aquela chuva de pedriscos e de pó.

        E foi na solidão e no mesto silêncio das sacristias dos nossos templos, profusamente recamadas de ouro como as igrejas do oriente, naquela atmosfera impregnada de misticismo, que o escultor mineiro fazia surgirem da pedra bruta as notáveis concepções do seu gênio, ora a estátua que seria de outro mérito se fosse talhada no mármore de Carrara, ora esses lavores finos, as folhagens, os rendilhados e as laçarias que se podem chamar a ourivesaria de granito.

        O Aleijadinho viveu numa época e num meio inteiramente hostil à arte, quando o governo português havia proibido o uso do cinzel, “para se não dilapidarem os quintos de Sua Majestade.”  Nenhum dos elementos de educãção artística, de desenvolvimento do gosto, de ilustração, vulgarizados depois pela imprensa, pela fotografia, pela gravura e pela modelagem existia.  Apenas algumas estampas de detestável impressão e de risível ingenuidade, intercaladas nos alfarrábios contando a vida e os milagres do santo.

  Continue lendo »





Aleijadinho no Museu do Forte de Copacabana

1 06 2009

aleijadinho banner

 

       Felizmente consegui um tempinho para dar uma passada pela exposição de trabalhos de Aleijadinho no Museu do Forte de Copacabana: uma exposição muito melhor do que eu esperava, e por isso corro a sugerir a quem possa ir, que o faça.   A exposição inclui diversas obras pequenas de Antônio Francisco Lisboa,  mas verdadeiras obras-primas.  Um exemplo entre muitos é a imagem de São Francisco de Gusmão, que reproduzo abaixo.

 

domingos

Foto do catálogo da exposição: São Domingos de Gusmão.

 

São Domingos de Gusmão, 1781-1790

Antônio Francisco Lisboa (Brasil, 1730-1814)

Madeira policromada, 17 cm de altura

 

Talvez porque algumas das peças estejam em condições de inusitada conservação, como a peça acima, guardando ainda toda a beleza da pintura e da ornamentação a ouro,  esta exposição  brinca com a nossa imaginação e prima por trazer mais do que as obras do nosso grande escultor, mas a sensação de uma época inteira, mostrando a importância da religiosidade no Brasil setecentista. 

Ao som de música religiosa numa tonalidade bastante atraente ( alta o suficiente para ser apreciada, baixa o suficiente para não atrapalhar), a exposição começa numa sala do primeiro andar com diversas pinturas de mestres do Barroco brasileiro assim como santos, um antar, bancos de capela, e mais…

dom 3

 Aspecto da sala no primeiro andar, antes da exposição propriamente dita.

Depois de uma pequena caminhada, onde podemos apreciar a beleza do cenário carioca, olhando-se do Forte para a praia de Copacabana, chegamos ao segundo andar.  Aí sim, a totalidade da força do trabalho de Antônio Francisco Lisboa, nos invade.   Cada peça extremamente bem iluminada e ao alcance de até mesmo dos mais míopes olhos, tem seu lugar de destaque.  A grande maioria é de pequenos santos, pertencendo a altares particulares,  onde o drapeado dos mantos, o encaracolado dos cabelos, a posição dos pés pode ser facilmente apreciada.  Não são obras monumentais, assim podemos estabelecer um relacionamento íntimo com cada qual.    

 

Dom1

Santa Bárbara, 1791-1812

Antônio Francisco Lisboa (Brasil,  1730-1814)

Cedro, sem policromia, 68 cm de altura.

 

A exposição é completada por reproduções de documentos do Arquivo Público Mineiro, onde podemos ver a assinatura do mestre escultor;  com anedotas da vida diária e algumas interessantes comparações entre ele e Michelangelo; documentos, um belíssimo catálogo com um preço mais do que amigo. 

Em suma, perderá um boa oportunidade para se enriquecer, quem por qualquer motivo faltar à esta exposição.  Vá!  Não perca!

Serviço:

Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana 

 Av Atlântica,  Posto 6,

 Copacabana Rio de Janeiro-RJ Brasil CEP 22070-020

Tel: +55 21 2521-1032

Exposição: “O Aleijadinho e a Religiosidade Brasileira” — até 14 de junho de 2009.

Curador: José Marcelo Galvão de Souza Lima

Quando: 15/05 a 14/06/09 (terça a domingo)

Horário: 10 às 20h

Entrada

Ingressos: R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia)

– Meia entrada: estudantes com carteira e maiores de 60 anos;

– Isentos: maiores de 65 anos, crianças até 10 anos, portadores de necessidades especiais e grupos escolares agendados.





Revolução artística na Casa Branca? Deixe-me rir!!!

26 05 2009

arte moderna e donald

Pato Donald e Margarida,  ilustração de Walt Disney.

 

Na postagem anterior, com a tradução do artigo publicado pelo Wall Street Journal podemos testemunhar um traço marcante da cultura americana que é com freqüência ignorado no Brasil: o grande conservadorismo naquele país.

 

Sempre me choca a demonstração de brasileiros, principalmente jovens, que acreditam que o radicalismo encontrado nas palavras de músicas populares; que a revolução da forma, das cores e dos materiais nas artes plásticas; que a tendência de revolta contra o passado, é predominante nos EUA.  Há a expectativa de que todos ajam dessa maneira radical, que todos estejam cientes dos modismos, das radicalizações.  Das drogas aos palavrões.  Esta visão que temos da cultura americana é muito míope e bastante limitada a pequenos grupos nos grandes centros do país. Nova York (8.274.527 h.), Los Angeles (3.834.340 h.), Chicago (2.836.658 h.), Houston (2.208.180 h.) e Filadélfia (1.449.634 h.), as cinco mais populosas cidades, juntas não chegam a representar nem 7% da população do país de aproximadamente 306.000.000 de habitantes em 2008.  E todo o radicalismo cultural nestes centros populacionais não chega a envolver nem 20% desta população urbana.  Nossa visão, muito baseada nas imagens de Hollywood, corriqueiramente se engana ao ver hábitos representados no telão, como hábitos de um país inteiro. 

 

alien-tattoo-whole-body- cool optical illusions

 

Lembrei-me desta imagem que leva o título: Alien,  da página: cool optical illusions. 

 

O que esquecemos, porque a nossa tendência no Brasil é oposta, é que os EUA são um país de pequenas cidades.  Miami, a Meca de tantos brasileiros, o lugar chamado a Capital da América Latina, não chega a contar com meio milhão de pessoas, sua população em 2007 era de 409.719 e é a 43ª cidade americana em termos de população.  Não vou falar aqui de violência urbana, principalmente porque não gostaria de dar a impressão de que estou achando desculpas para a violência que encontramos nos grandes centros do Brasil. Mas, com franqueza, é mais fácil manter uma cidade de meio milhão de habitantes, como Miami, sem violência do que São Paulo ou Rio de Janeiro. Culturalmente, no entanto, pequenas cidades não se prestam a grandes radicalismos, porque nelas é mais fácil a sociedade exercer sua influência; é mais fácil para os que não querem se adaptar à cultura dominante de serem empurrados muito a contragosto para o ostracismo social local. 

 small town, example, Marietta, Ohio

Volto então ao radicalismo nas artes plásticas atribuído ao casal Obama na Casa Branca.  É risível!  Grande parte dos “radicais” abstratos que eles escolheram para decorar a residência enquanto moram na Casa Branca, são grandes nomes da arte mundial, cujos trabalhos (pinturas, esculturas) já se encontram em dezenas de museus através do mundo, como exemplos sim de uma revolução cultural, mas de meados do século passado.  Na verdade, é difícil imaginar hoje em dia, que ainda possamos considerar os trabalhos de Jasper Johns, de Rauschenberg, de Nicolas de Staël e certamente de Joseph Albers, como radicais.  Eles são os acadêmicos do século XX.  Francamente, eles já estavam nos currículos de História da Arte – por natureza um dos cursos de formação mais conservadores do mundo – quando eu entrava para pós-graduação.   Grande parte dos “revolucionários”, dos “extremistas” escolhidos pelo casal Obama para a Casa Branca, já morreu e já têm seguidores de segunda e terceira geração!  O auê causado pela escolha de abstratos chega à Casa Branca com 100 anos de atraso!  Vamos lembrar que Kasimir Malevich, — líder do Suprematismo, e um dos primeiros pintores a trabalhar com o puro abstracionismo, já pintava um quadrado negro sobre um quadrado branco em 1915!   O que os Obama estão fazendo, radical até pode vir a ser, é fazer a Casa Branca, finalmente aceitar um século inteiro de mudanças nas artes plásticas.  A meu ver, um pouco tarde, para todos os efeitos. 

 

Quadrado Negro, 1915

Quadrado Negro, 1915

Kasimir Malevich ( Rússia, 1878-1935)

Óleo sobre tela, 53,5 x 53, 5 cm

Museu Hermitage, São Petersburgo

Rússia





Novos quadros na Casa Branca dos Obama

25 05 2009

quadros, pregar

Peninha, ilustração de Walt Disney.

 

Os Obamas mandaram novas ondas de choque pelo mundo da arte mundial depois de colocarem um pedido de empréstimo a museus, galerias e colecionadores particulares, mostrando que gostariam, para a Casa Branca,  de arte moderna produzida por artistas negros, asiáticos, hispânicos e por mulheres.  Dando uma guinada radical da arte do século XIX  que domina as paredes da Casa Branca como pintura de gênero, paisagens bucólicas e muitos retratos, o casal Obama está incluindo, entre outras, obras de arte abstrata.

 

As escolhas do presidente do EUA podem afetar os valores de mercado das obras e dos artistas escolhidos para decorarem a Casa Branca.  Curadores de museus e colecionadores decidiram rapidamente oferecer obras para inclusão no local.

As escolhas que fizerem terão inevitavelmente algumas implicações políticas.  E poderão servir como uma ferramenta para impulsionar a mensagem de uma administração mais inclusiva do que as anteriores.   O presidente Clinton recebeu elogios após ter selecionado Simmie Knox, um americano negro, artista do estado de  Alabama, para pintar seus retratos oficiais.   Enquanto que a administração do presidente Bush ganhou aprovação quando adquiriu Os construtores, uma pintura do artista negro americano Jacob Lawrence, recebeu também algumas críticas porque este quadro retrata homens negros fazendo trabalho servil.

 

jacob_lawrence, (1947) tempera sobre madeira, 50 cm x 60 cm

Os Construtores

Jacob Lawrence (EUA 1947)

Têmpera sobre madeira

50 x 60 cm

Coleção da Casa Branca, Washington DC

 

Na semana passada, sete novas obras, de empréstimo vieram do Hirshhorn Museum and Sculptural Garden em Washington DC.  Elas foram transportadas e instaladas na Casa Branca, na parte da residência particular da família.  Entre elas estão “Sky Light” e “Watusi (Hard Edge),” um par de pinturas abstratas em azul e amarelo pela pouco conhecida pintora negra americana Alma Thomas, aclamada por suas pinturas pós-guerra de formas geométricas e cores alegres.

 

alma thomas, skylight

Skylight, 1973

Alma Thomas (EUA 1891- 1978)

Acrílica sobre tela,  50 x 60 cm

Hishhorn Museum & Sculpture Garden,

Em empréstimo à Casa Branca, Washington DC

 

A National Gallery of Art, em Washington DC,  emprestou à família, pelo menos, cinco obras este ano, incluindo os “números, de 0 a 9“, uma escultura em relevo de Jasper Johns, “Berkeley No. 52,” em grande escala, a espalhafatosa pintura de Richard Diebenkorn, e um quadro vermelho-sangue Edward Ruscha, em que na tela estão escritas as  palavras, “eu acho que talvez eu vá …“, montagem que parece própria para um presidente conhecido por longos momentos contemplação.  A escultura de Jasper Johns foi instalada na ala  residencial da Casa Branca,  no dia da inauguração,  junto com outras obras de arte moderna de Robert Rauschenberg e Louise Nevelson, que também foram emprestadas para a Casa Branca pela National Gallery of Art.

 

Jasper Johns, 0 through 9, embossed lead relief, 30 x 23,5 inches

De 0 a 9, 1961

Jasper Johns (EUA 1930 – )

Relevo em chumbo

National Gallery, Washington DC

Em empréstimo à Casa Branca

 

Depois que George W. Bush trouxe para a Casa Branca o artista de El Paso, Texas,  Tom Lea’s “Rio Grande” — uma visão de um cacto foto-realista de encontro a nuvens cinzentas, e colocou-a na Oval Office, o preço das pinturas deste artista subiu cerca de 300%, diz Adair Margo, dono de uma galeria em El Paso que representa o trabalho de Lea. [Lea faleceu em 2001, o que também ajudou a aumentar o valor do seu trabalho].

 

tom lea, rio grande, 1954, ost

Rio Grande, 1954

Tom Lea,  (1907-2001)

Óleo sobre tela, 56 x 80 cm

Esteve em empréstimo no Oval Office

da Casa Branca no governo de G. W. Bush.

 

O interesse do casal Obama por arte moderna vem de longa data, de muito antes da mudança que fizeram para Washington.  A casa da família em Hyde Park tinha arte moderna e  fotografias em preto-e-branco, é o que afirmam vários amigos de Chicago.  Vale a pena lembrar, também, que  em um de seus primeiros encontros,  Obama levou Michelle para uma visita ao Art Institute de Chicago.

 

O porta-voz da Casa Branca diz que o casal Obama aprecia desfrutar todo tipos de arte, mas que deseja “complementar a coleção permanente” e “dar nova voz” aos modernos artistas americanos de todas as raças e origens.

 

As mudanças na arte da Casa Branca acompanham o desejo da administração do presidente  Obama  para o aumento do orçamento para as artes. Obama incluiu $ 50 milhões de dólares em seu pacote de estímulo econômico para a National Endowment for the Arts e na segunda-feira Michelle Obama falou sobre a reabertura da ala do Metropolitan Museum, dedicada à arte americana.

 

ed ruscha

Eu acho… talvez eu vá, 1983

Ed [Edward] Ruscha  (EUA 1937 – )

Óleo sobre tela, 138 x 160 cm

National Gallery, Washington DC

Em empréstimo à Casa Branca

 

Michelle  e Barack Obama começaram a pensar na arte que colocariam na Casa Branca pouco depois da eleição em novembro, explica curador de arte William Allman. Michael Smith, um decorador baseado em Los Angeles, contratado pelo casal Obama para redecorar seus cômodos particulares trabalhou com o Sr. Allman, com a secretária social da Casa Branca Desirée Rogers e outros da equipe de transição para determinar quais obras fariam o casal se sentir em casa, em Washington.

 

O casal fez uma lista de cerca de 40 artistas e pediu por escrito numa carta ao Museu Hishhorn  por potenciais empréstimos, de acordo com Kerry Brougher, diretor adjunto do museu e curador-chefe.  Uma das imposições dos Obama foi que quaisquer empréstimos deveriam vir das obras armazenadas da coleção do museu e em hipótese alguma seus pedidos deveriam depenar as paredes de exposição da instituição.  

 

A coleção permanente da Casa Branca é um excelente documento da força artística da América dos séculos XVIII e XIX”, diz  Michael Smith. “As peças de arte selecionadas para empréstimo servem de ligação entre esse legado histórico e as diversas vozes de artistas do século 20 e 21.”

 

Na semana passada, Michelle e Barack Obama decidiram tomar emprestado “Nice“, um quadro abstrato de 1954 do pintor francês de origem russa, Nicolas de Staël, de retângulos vermelho, preto e verde-musgo; um par de pinturas de quadrados do pintor alemão Josef Albers, da famosa série “Homenagem ao Quadrado” em tons de ouro, vermelho e lavanda, e também “Dançarina colocando meia” e “Primeira Bailarina”, dois bronzes decorativos do escultor e pintor francês, Edgar Degas.  O museu também enviou um trabalho sobre a segregação racial do artista de Nova York  Glenn Ligon: “Black Like Me”, [Negro como eu]  entre outros que o casal ainda pondera, de acordo com um porta-voz Casa Branca.

 

Nicolas de Stael, Nice, 1954

Nice, 1954

Nicolas de Staël (França 1914- 1955 )

Óleo sobre tela,

Hishhorn Museum & Sculpture Garden,

Em empréstimo à Casa Branca

 

Obras existentes no Oval Office incluem a paisagem de 1895 de Thomas Moran «Três Tetons‘ e a escultura ‘Bronco Buster” (1903) de Frederic Remington.   O presidente pode pendurar o que ele quiser na residência e nos escritórios, incluindo o  Oval Office, mas a arte colocada em salas públicas, como a Sala Verde, por exemplo, deve ser primeiro aprovada pelo curador da Casa Branca e  pelo Comitê para a Preservação da Casa Branca , um conselho consultivo sobre qual a primeira-dama atua como presidente honorário.

 

“Todas as obras destinadas à coleção permanente da Casa Branca muitas vezes, passam por rigoroso e longo controle antes de a Casa Branca aceitá-los como brindes ou, por vezes, comprá-los usando doações privadas”, diz o Sr. Allman, que atuou como curador-chefe, uma posição permanente na Casa Branca, onde ele atua desde 1976.

 

Adições à coleção permanente deve ter, pelo menos, 25 anos.  A Casa Branca não aceita normalmente peças de artistas vivos para a sua recolha, porque sua inclusão poderia impactar no valor de mercado do artista escolhido para a coleção permanente. um valor de mercado. O resultado é que não há muitas opções de arte moderna na coleção, disse Allman.

 

Não somos uma galeria de arte”, Allman continua, “não somos um museu.  As pessoas vêm para a Casa Branca, uma vez na vida e já têm uma certa percepção de que eles verão”.

 

No momento, das 450 e poucas peças da coleção permanente só  cinco obras são de artistas negros: os retratos Clinton, por Knox; “Os Construtores” por Lawrence; “Dunas ao por do sol em Atlantic City” de Henry Ossawa Tanner, que está no Quarto Verde e foi comprado durante o governo Clinton e “A Fazenda Desembarque“, uma tranqüila paisagem pintada em 1892 pelo artista, de Rhode Island, Edward Bannister, adquirido com doações em 2006.

 

A Casa Branca também pode temporariamente selecionar obras de museus, galerias e de colecionadores para decorar quer a residência particular, quer os cômodos públicos. Os presidentes devolvem os empréstimos no final do seu governo.

 

albers

Homenagem ao quadrado, 1964

Joseph Albers (Alemanha 1888- 1976 )

Óleo sobre tela,

Em empréstimo à Casa Branca

 

Muitos dos mesmos colecionadores abastados que ajudaram Obama a financiar sua campanha presidencial estão agora oferecendo obras de arte.  ET Williams, um colecionador de Nova York  de arte americana de artistas negros, que já trabalhou no conselho de museus, incluindo o Museu de Arte Moderna de Nova York, está entre os candidatos à doadores.

 

No início deste mês, Williams, um banqueiro aposentado e investidor imobiliário, examinando a coleção que mantém em  seu apartamento em Manhattan analisou esta verdadeira jóia de sua coleção, um retrato de um homem com chapéu de Lois Mailou Jones.  A pintura está avaliada em $ 150.000, 00 dólares, mas ele disse que ficaria feliz se pudesse doá-lo para a coleção permanente da Casa Branca.  Ele também confirmou que o presidente pode “pegar emprestado tudo o de que gosta” de sua coleção, que inclui obras de Romare Bearden e Hale Woodruff.

 

Williams diz  que apesar de um empréstimo ou uma doação para a Casa Branca poder vir a  aumentar o perfil de sua coleção, a oferta que faz é motivada por um desejo de apoiar o presidente.  Um porta-voz Casa Branca confirmou que qualquer doação em potencial para a coleção permanente deve ser considerada através do curador do escritório.

 

Os colecionadores de arte negra americana imediatamente ficaram a postos  quando a notícia se espalhou de que o casal Obama procurava por arte para empréstimo, diz Bridgette McCullough Alexander, curadora de arte e que foi conselheira para o ensino médio com a primeira-dama.   Ela diz que alguns de seus clientes colecionadores manifestaram interesse em emprestar obras para a Casa Branca.

 

Para os colecionadores, foi como se os Obama tivessem pedido que lhes enchessem a geladeira. Como na mercearia, a lista de artistas só cresceu “, diz ela.

 

richard Diebenkorn Berkeley n 52, 1955, ost

Berkeley no. 52, 1955

Richard Diebenkorn (EUA 1922- 1993)

Óleo sobre tela,

Propriedade do espólio de Richard Diebenkorn

Em empréstimo à Casa Branca

 

A Casa Branca é, já, há muito tempo, uma verdadeira porta giratória de preferências artísticas. Dolley Madison salvou o célebre retrato de George Washington feito por  Gilbert Stuart. Jacqueline Kennedy ficou conhecida por elevar o perfil da arte na Casa Branca quando mandou tirar dos armazéns que guardam as obras da casa, oito pinturas de Cézanne que fazem parte da coleção permanente.

 

As últimas administrações têm tentado preencher as lacunas na coleção permanente de arte americana. Hillary Clinton teve sucesso em convencer o comitê  de Preservação da Casa Branca para aceitar o trabalho abstrato de 1931 de Georgia O’Keeffe  “Bear Mountain Lake, Taos.” Os críticos insistiam em dizer que o quadro  não se enquadrava na elegância da Sala Verde, característica do século XIX.   

 

 

bear lake, new mexico, georgia O keeffe (1887-1986) 1930, acervo casa branca

Bear Mountain Lake, NM,  1931

Geórgia O’ Keeffee ( EUA 1887-1986)

Acervo da Casa Branca, Washington DC

 

Laura Bush  também conseguiu convencer a comissão de preservação a aceitar um Andrew Wyeth, uma pintura doada pelo artista, numa rara exceção à proibição de obras de artistas vivos. “Graças a Deus que o aceitaram porque logo depois que Wyeth morreu e a Casa Branca nunca teria sido capaz de comprá-lo,” lembrou o historiador da arte William Kloss, que tem servido na comissão de preservação desde 1990.   

 

Em 2007, o Fundo de Aquisições para a Casa Branca, uma organização sem fins lucrativos que financia aquisições  de arte aprovadas pelo comitê de preservação, pagou US $ 2,5 milhões por um  Jacob Lawrence da cor de ferrugem colagem de trabalhadores no local de um edifício.  Pagou quatro vezes a sua elevada estimativa e  ultrapassando em muito os $ 968.000, 00 preço recorde para o artista em leilão na época, lembrou Eric Widing, chefe do departamento de pintura americana da Christie’s.  A compra pode ter dado um impulso ao mercado Lawrence, pois na primavera seguinte, um colecionador pagou $ 881.000, 00  para Christie’s  por um outro Lawrence,– o terceiro mais alto preço pago por uma de suas obras.

 

A aquisição de 1995 do quadro de Henry Ossawa Tanner,  Cena de praia em Atlantic City teve o efeito inverso.  A Casa Branca comprou o trabalho direto da sobrinha neta do artista por US $ 100.000,00 um preço bem inferior a $ 1 milhão de dólares, pedido por semelhantes quadros de Tanner.  O modesto preço da compra foi altamente comentado e divulgado.  Imediatamente o preço de quadros de Tanner desabaram no mercado, atestam vários marchands.  

 

hENRY OSSAWA TANNER, aTLANTIC CITY, 1885,OST, 73 X 137 CM

Cena de praia em Atlantic City, 1885

Henry Ossawa Tanner (EUA 1855- 1937)

Óleo sobre tela, 73 x 137 cm

Acervo permanente da Casa Branca

 

 

Laura Bush pendurou um trabalho moderno de Helen Frankenthaler na residência particular e pleiteou a aquisição de um Lawrence, enquanto G.W. Bush cobria as paredes de seu escritório com pelo menos seis paisagens do Texas.

 

Bush gostava de coisas que lhe lembrassem o Texas e disse que queria no Oval Office olhar como uma pessoa otimista que trabalha lá “, explicou Anita McBride, ex-chefe de equipe da Sra. Bush. Ela lembrou também que todos os quadros emprestados ao presidente anterior, já foram devolvidos.

 

Poucas semanas depois da posse Obama causou um auê, quando  removeu do Oval Office um busto de bronze de Winston Churchill, emprestado pela Embaixada Britânica e o substituiu por um busto de Martin Luther King Jr. do escultor Charles Alston, emprestado pela National Portrait Gallery em Washington DC.

 

No próximo mês, o casal Obama decidirá sobre o empréstimo de quatro obras do artista negro americano William H. Johnson, incluindo o seu ” A Lenda de Booker T. Washington“, um óleo sobre madeira compensada representando um ex-escravo no ato de educar um grupo de estudantes negros.  O quadro pertence ao Museu de Arte Americana do Smithsonian.   Nesse meio tempo, o Art Institute of Chicago planeja enviar aproximadamente 10 obras para a família Obama  considerar, entre elas, peças do artista americano negro Beauford Delaney e um trabalho expressionista abstrato de  Franz Kline.

 

Steve Stuart, um historiador amador que vem estudando a Casa Branca por três décadas, acha que os Obama não necessitam se vincular demais às tradições.  “Você não deveria ter de olhar para a cara da Sra. Hoover sobre sua cama por quatro anos, se não o quisesse”, disse ele.

 

 

Artigo: THE WALL STREET JOURNAL

Autores: Amy Chozick e Kelly Crow

Tradução liberal ( isto quer dizer, não ao pé da letra) de Ladyce West





Descoberta: estátuas do reinado Cushe no Sudão, 300 AC

17 12 2008

cartum4

REUTERS/René-Pierre Dissaux/Section Française de la Direction des Antiquités du Soudan/Handout

Três estátuas em pedra datadas do período Meroe (450 a.C. e 300 d.C.) foram descobertas nos sítios arqueológicos do Sudão, na África.  As esculturas, que contêm inscrições da antiga escrita meroítica, são as mais completas já encontradas.  Até hoje só se encontrara fragmentos de peças desta época.  Todas as esculturas encontradas são de um carneiro que sabemos representava o deus Amun, considerado rei dos deuses egípcios e força criadora da vida.  A curiosidade sobre as estátuas descobertas desta vez é que todas têm inscrições muito antigas e difíceis de interpretar.

 

Meroe (ou Meroé) é o nome de uma antiga cidade na margem leste do rio Nilo, na Núbia.  Ficava na região do vale do rio Nilo que hoje é é ocupada pelo Egipto e pelo Sudão, aproximadamnete a  300 km NE de Cartum.  No século VII antes de Cristo, Cartum fora a capital do reino de Cushe por mais de mil anos, ( entre o século VII a.C. e o século IV da nossa era) sabendo-se ser uma das primeiras civilizações do vale do rio Nilo. Neste período os núbios  desenvolveram uma escrita própria, chamada pelos estudiosos de “escrita meroítica”. É a mais antiga língua escrita do Saara meridional.

 

cartum2

A importância das estátuas que foram descobertas há três semanas em el-Hassa, próximo às pirâmides de Meroe, é que suas inscrições estão gravadas numa língua mais antiga do que todas as inscrições que se conhece do Meroe.  Isto as torna de  difícil interpretação.  Mas demonstra uma maior coplexidade e antiguidade da língua, da qual sabemos muito pouco.  “É uma importante descoberta”, afirmou o pesquisador Vincent Rondot à BBC.   

 

Estas estátuas  ainda mostram pela primeira vez uma dedicação real com escrita completa.  Meroe, lembrou o arqueólogo Rondot: é uma das últimas línguas da antiguidade que ainda não entendemos completamente.  Nós conseguimos ler.  Não temos problemas pronunciando as letras, mas não conseguimos ainda entendê-la por completo.  Entendemos algumas palavras longas e os nomes das pessoas mencionadas.  No momento os especialistas estão se valendo de fragmentos encontrados anteriormente para poderem decifrar as novas legendas encontradas.

cartum

REUTERS/René-Pierre Dissaux/Section Française de la Direction des Antiquités du Soudan/Handout

 

Estas escavações são financiadas pelo ministério de relações exteriores da França, e feitas pela seção Francesa do Departamento de Antiguidades do Sudão.   E estão também trazendo à tona informações sobre um rei muito mal conhecido — Amanakharequerem — e que é mencionado nas inscrições das estátuas dos cordeiros.

 

Antes destas descobertas, nós tínhamos só quatro documentos que mencionavam seu nome.  Não sabemos nem  onde ele foi enterrado.   Agora estamos começando a compreender sua importância no reino. – disse Rondot.

 

 

O Sudão tem mais pirâmides do que o Egito.  Mas pouca gente visita estas ruínas arqueológicas por causa dos conflitos internos no país que ocupam seus habitantes há quase 46 anos.   Esses conflitos armados internos fazem qualquer trabalho tanto arqueológico como de turismo, extremamente difícil.