Mãe, poesia infantil de Sérgio Caparelli

28 09 2015

 

 

760718-family circus,“– Como é que você só leu uma página do seu livro, mamãe?”  —  Cartoon, Bil Keane.

 

 

Mãe

 

Sérgio Caparelli

 

De patins, de bicicleta,

de carro, moto, avião

nas asas da borboleta

e nos olhos do gavião

de barco, de velocípedes

a cavalo num trovão

nas cores do arco-íris

no rugido de um leão

na graça de um golfinho

e no germinar do grão

teu nome eu trago, mãe,

na palma da minha mão.

 

 

Em: Poesia fora da estante, Vera Aguiar, Simone Assumpção e  Sissa Jacoby, 13ª edição, Porto Alegre, Projeto: 2007, p.106





Jacques Le Goff: um adeus sentido

3 04 2014

540px-Roi_de_France_Louis_IX_en_mer_vers_TunisSão Luís rumo à Tunísia, em sua segunda cruzada, depois de 1332, antes de 1350.

Mahiet, Mestre do Missal de Cambrai

Cambrai, Bibliothèque municipale ms. no. 224

Há pessoas que nos influenciam apesar de nunca as termos visto ou encontrado.  Devo muito a Jacques Le Goff, o grande historiador que faleceu dia 1º aos noventa anos, em seu país de origem, França. Não, ele não sabia da minha existência. Nunca trocamos uma palavra em carta, email, telefone. Ao que eu saiba não temos amigos em comum. Mas seus livros fizeram parte da minha vida, uma grande parte da minha vida.

Não fui uma criança prodígio. Não descobri em tenra idade aquela habilidade que outros dissessem, “vá estudar história da arte …  Você tem sensibilidade nata para o assunto“. Pelo contrário, cheguei aqui por caminhos tortos, becos sem saída, pela constante reinvenção e redirecionamento dos meus objetivos. Quem hoje examinasse os meus boletins dos anos de adolescência descobriria que minhas notas em história não eram boas.  Ninguém poderia imaginar que este seria o caminho a ser traçado no futuro.  Não.  O oposto parecia apontar no horizonte.  Pensei seriamente em fazer medicina, isso depois de pensar em ser astrônoma e engenheira naval.  O curso de letras que foi a entrada para as ciências humanas, não havia sido minha primeira escolha. E a história da arte aconteceu de surpresa, caminho conduzido em parte por uma excelente professora de literatura, na Universidade Federal Fluminense, que ao ensinar Balzac trouxe para a sala de aula imagens de quadros franceses da época. Ideias trocadas, informações sobre pintores e descobri que havia a tal história da arte.  Que influência bons professores exercem sobre seus alunos!

785px-Boethius_initial_consolation_philosophyInicial iluminada, Boécio ensinando a seus alunos, 1325

Manuscrito: Consolação da filosofia, Itália (?)

MS Hunter 374 (V.1.11), Glasgow University Library

Há mais de uma maneira de se ensinar. Minha paixão pela história só se acendeu, através de dois grandes historiadores cujos livros, lidos paulatinamente, parágrafo a parágrafo, incendiaram minha imaginação e me acompanharam desde então a qualquer hora, em qualquer momento: Arnold J. Toynbee e Jacques Le Goff.  Toynbee já havia morrido quando fui apresentada ao seu trabalho. Um bom escritor vive para sempre através de seus leitores, e sua prosa era de fácil entendimento. Apaixonante sua visão da imensa continuidade da história, para não falar de sua erudição.  Jacques Le Goff foi o outro historiador que marcou a minha formação principalmente aquela formação pós-universitária, quando temos a liberdade de ir atrás dos pequenos detalhes que nos deixam curiosos, sem a preocupação de preencher um currículo ou uma determinada etapa da vida.  Jacques Le Goff foi aquele historiador de quem eu esperava as novas publicações com ansiedade. Foi ele quem fez a história europeia pós-império romano viva para mim. Concentrando-se no homem comum ele coloriu o mundo pré-renascentista de tal maneira e com tanta precisão que podemos nele ver as raízes de muito das nossas vidas diárias hoje.  Não sou medievalista.  Minha porção de especialização formal é a era moderna europeia: 1860-1945. Pelo menos foi assim que deixei os bancos universitários.  Mas a cada nova contribuição de Le Goff e de todos aqueles que ele formou mais me virei para a Europa medieval, esses grandes e sedutores séculos. Séculos que parecem cantos de sereia nos levando a profundezas enigmáticas. Mesmerizantes.  É portanto com muito pesar que recebo a noticia de que não poderemos mais contar com suas brilhantes publicações.  Registro então o vazio que sinto pelo que não virá, e o agradecimento pela riqueza do que ele nos deu.

 





O valor dos professores

12 01 2012

Na sala de aula, 1888

Karen Elizabeth Tornoe (Dinamarca, 1847-2933)

óleo sobre tela, 72 x 59 cm

Coleção Particular

O jornal americano The New York Times, na página de editoriais de hoje, tem um artigo muito interessante de Nicholas D. Kristoff, chamado The Value of Teachers [ O valor dos porfessores] sobre o valor  econômico dos professores na vida dos futuros adultos.  Traduzo livremente os primeiros parágrafos  para ponderação.  Acredito que não seja necessário elaborar a respeito.  As conseqüências dos primeiros parágrafos desse texto são lógicas, mas vale a pena seguir o pensamento do autor.

“Imagine que o seu filho acabou de entrar na 4ª série e cai numa turma com uma excelente professora.  A professora, no entanto,  decide se afastar da escola.  O que você deveria fazer?

 A resposta certa é: Entrar em Pânico!

Bem, não exatamente, mas um estudo de grande porte sobre o assunto mostra a diferença que faz um ótimo professor na vida futura de uma pessoa.   Ter um bom professor na 4ª série faz um aluno ter 1,25% mais chance de entrar para a universidade e 1,25% menos chance de engravidar na adolescência a pesquisa sugere.  Cada um desses alunos se tornará um adulto ganhando uma média de R$3.750,00 – ou mais ou menos uma renda de R$ 1.260.000,00 por uma turma média – tudo isso atribuível ao bom professor lá no passado, na 4ª série.  Isso mesmo: Um excelente professor vale centenas de milhares de dólares, por ano de estudantes, só pela renda extra que esses alunos irão ganhar no futuro.

O estudo, feito por economistas das universidades de Harvard e Columbia, concluiu que se um excelente professor está deixando a sala de aula, os pais deveriam angariar fundos, passar o chapéu, vender bolinhos, na esperança de como um grupo oferecer ao professor o equivalente a R$180.000,00 de prêmio para ficar por um ano a mais.  Claro, isso não seria possível,  – mas as suas crianças lucrariam muito mais que esta soma, no futuro de suas vidas.

Por outros lado, o efeito de um professor ruim  é  como se o aluno tivesse faltado 40%  do ano letivo.  Como não deixamos que isso aconteça, não se entende que se permita que maus professores continuem na sala de aula.  Na verdade, o estudo mostra, que os pais deveriam pagar R$180.000 para que esse mau professor se aposentasse (assumindo-se, é claro, que o substituto fosse de qualidade média) porque um professor fraco retira o potencial de crescimento do aluno.”





Um momento ahah! — srta. Hempel descobre alguns limites profissionais.

27 12 2011

Ilustração, Ben Kimberly Prins ( EUA 1902 – 1980)


Voltando ao livro  O aprendizado da srta. Beatrice Hempel, de Sarah Shun-lien Bynum [Rocco:2011], saliento a passagem abaixo que demonstra claramente a primeira centelha de uma conscientização de estagnação na profissão da srta, Hempel, da repetição infinita das matérias, entra ano, sai ano; a mesmice, o tédio.  Uma situação que acontece com todos nós em diferentes momentos.

” Antes de ler a minha cena — disse Audrey –, posso contar uma piada?

A srta. Hempel disse que sim.

— Foi meu pai quem me contou.  É uma piada boba, mas eu queria contar.  Para começar, ele disse: “Por que é importante aprender a história americana?”  Vocês se lembram?  Do trabalho que fizemos?  E então ele disse: “Quem não se lembrar do passado está condenado a repetir” — Audrey fez uma pausa tímida — “a sétima série!”

A turma riu.  E a srta. Hempel também.

— Até agora essa é a melhor razão! — declarou a srta. Hempel. — Quem quer repetir a sétima série?

Foi então que lhe ocorreu que ela estava repetindo a sétima série, na verdade pela quarta vez; e ainda estaria repetindo a sétima série, quando Audrey, Kirsten e Travis estivessem no mundo lá fora, fazendo coisas.  Um ano após o outro, os colonos de Jamestown se queixariam dos mosquitos, as caixas de chá tombariam no porto, os legalistas seriam cobertos com alcatrão e penas, e exibidos em desfile pelas ruas tortas.  Todos os meses de novembro, a guerra seria vencida.  Todos os outubros, as colônias se rebelariam.  Todos os setembros a srta. Hempel se voltaria para o quadro, apanharia o giz e escreveria: Primeiro Trabalho.





Quadrinha infantil para o Professor

2 10 2011

Chico Bento e a professora.  Ilustração Maurício de Sousa.

A vida do professor

Pode servir de lição

Para aqueles que não sabem

O que é dedicação.

(Walter Nieble de Freitas)





O filho de Sto Antônio, poema de Fagundes Varela

11 06 2011

Santo Antônio, 2009

Gustavo Rosa (Brasil, 1946 – 2013)

Gravura, 80 x 65cm

O filho de Stº Antônio

(canção de um devoto)

……….Fagundes Varela

Bem sei, criança estouvada

Que por artes do demônio,

Furtaste, a noite passada,

O filho de Santo Antônio!

E sem medo, sem piedade,

Cheia de um ímpio alvoroço,

O mimo do pobre  frade

Correste a esconder no poço!

Arrepende-te.  Chiquinha,

Vida minha,

Minha linda tentação!

A divindade perdoa,

Terna e boa,

Os erros do coração.

Ah! que fizeste, insensata?

Demo gentil, que fizeste?

Por causa de um’alma ingrata

Tu’alma pura perdeste!

Tira depressa a criança

Do frio asilo onde está,

Tem nos santos esperança,

Que teu amor voltará.

Ainda é tempo, Chiquinha,

Rola minha,

Minha rosada ilusão!

A divindade perdoa,

Terna e boa,

Os erros do coração.

Acende uma vela benta

Junto ao santo que ofendeste,

Lançando a mão violenta

Contra o pirralho celeste.

Leva-lhe linda toalha

Cheia de finos bordados,

Talvez a oferta lhe valha

O olvido dos teus pecados.

Não te demores, Chiquinha,

Trigueirinha,

Que tens por cetro a paixão!

A divindade perdoa,

Terna e boa,

Os erros do coração.

E quando alcançado houveres

A remissão, minha vida,

Mais formosa entre as mulheres,

Vem, mimosa arrependida,

Vem que o santo receoso

De novo furto, quiçá,

Velará por teu repouso,

Nosso amor protegerá…

Não percas tempo Chiquinha!

Glória minha!

Minha dourada visão!…

A divindade perdoa,

Terna e boa,

Os erros do coração.

Luís Nicolau Fagundes Varella, (RJ 1841 – RJ 1871) ou Fagundes Varela, poeta brasileiro e um dos patronos na Academia Brasileira de Letras.

Obras:

  • Noturnas – 1861
  • Vozes da América – 1864
  • Pendão Auri-verde – poemas patrióticos, acerca da Questão Christie.
  • Cantos e Fantasias – 1865
  • Cantos Meridionais – 1869
  • Cantos do Ermo e da Cidade – 1869
  • Anchieta ou O Evangelho nas Selvas – 1875 (publicação póstuma)
  • Diário de Lázaro – 1880




Minha profissão: Mathias José dos Santos Neto, professor de história

23 05 2011

Mathias José dos Santos Neto

 

Esta é a nona entrevista da série: Minha Profissão.  Veja na coluna ao lado, a série de links para cada uma das entrevistas anteriores.

 

Perfil

Sou um jovem professor de História tentando, através do magistério, contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e humana, apesar dos obstáculos e das dificuldades que se apresentam nessa caminhada.

Que tipo de trabalho você faz?

Sou professor de História do município de Duque de Caxias (com alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental) e pelo Estado, lotado em Nova Iguaçu (com alunos do Ensino Médio).

Você trabalha no campo de sua formação profissional ou trabalha numa área diferente daquela para qual estudou?

Tenho Bacharelado e Licenciatura em História pela UFRJ e trabalho como professor há 7 anos.

Para o trabalho que você faz agora, o que poderia ter sido diferente no seu curso de formação?

Acredito que eu poderia ter tido um pouco mais de ênfase na área de Psicologia da Educação e suas consequências práticas em sala de aula. Mas, no Magistério, o maior aprendizado é sempre em sala de aula, na relação com o aluno.

 Mathias com algumas alunas.

O que você faz para continuar a se atualizar?

Busco me manter informado com leituras específicas da área de Educação, buscando conhecer a refletir sobre as novas tendências educacionais e pedagógicas. Também cursei uma Especialização em História da África pela UERJ, e cursei pós-graduação “latu sensu” em História do Brasil pós-1930 pela UFF. Acredito que o professor, ainda que com todas as dificuldades, tem obrigação de sempre tentar manter-se atualizado na sua área.

Você precisa usar alguma língua estrangeira frequentemente?

Somente em algumas leituras mais específicas (artigos estrangeiros, etc.), principalmente em inglês.

Que conselho daria a um adolescente que precisa decidir que carreira escolher?

Que escolha com o coração e a razão. Busque a profissão que mais tenha ligação com sua maneira de pensar. Analise as condições da profissão no mercado, não só no campo financeiro, mas que ofereça desafios e ao mesmo tempo, satisfação de poder realizar algo em que acredita e se identifica.

Você tem um lugar na internet que gostaria de mostrar para os nossos leitores? Um blog, twitter?

Ainda não. Mas penso sim em criar um blog onde se discutam temas como Educação, Política, História, Cidadania, etc. Por enquanto, falta tempo.

Mathias com colegas de trabalho.





Tombo, poesia infantil de Maria Dinorah

8 09 2010
Pato Donald leva um tombo, ilustração Walt Disney.

Tombo

                                             Maria Dinorah

 

A rua ri

de meu tombo.

Henrique

ri que se rola.

João se rola de rir.

Levanto

meio sem jeito

e rio

riso sem graça,

enquanto,

de tanto riso

se sacode toda a praça!

Em: Poesia fora da estante, Ed. Vera Aguiar e Simone Assumpção, Porto Alegre, Projeto: 2007

 

 

 

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Maria Dinorah Luz do Prado (Porto Alegre, 1925 — Porto Alegre, 2007) professora e escritora de livros infanto-juvenis.  Escreveu aproximadamente cem títulos.

Algumas obras:

Alvorecer

Boi Boá

Bom-dia, Maria

A caranguejola do Zeca e outras estórias

O Cata-vento

Chapéu de vento

O coelho Dim-dim

Coração de papel

A coragem de crescer

Coragem de sonhar

O desafio da liberdade

Dobrando o silêncio

Dom Gato

Ensinando com poesia

A Fábrica das gaiolas

Felpudo e olhogrande

Festa no Parcão

A flauta do silêncio

A flautinha do Pirulin

O galo superdotado

A gaitinha do sseu Zé

Os gêmeos

Geometria de sombra

Giroflê giroflá

Guardados de afeto: repensando a alfabetização

Histórias de fadas e prendas

Hora nua

Iara Aruana

A lagoa encantada

O livro infantil e a formação do leitor

O livro na sala de aula

O macaco preguiçoso e outras estórias

Mata-tira-tirarei

A medida do sorriso

Menino na avenida

Meu verde mar azul

O ontem do amanhã

Um pai para Vinícius

Panela no fogo, barriga vazia

Piá também conta causo

Pinto verde e outras estórias

Pitangas e vaga-lumes

O poema da flor

Poesia Sapeca

Pra falar de amor

Quando explodem as estrelas

Que falta que ela nos faz

A Semente Mágica

Seu Zé

Simplesmente Maria

Solidão e mel

Tem que dar certo

O Território da infância

Três voltas de ciranda

Uma e una

O ursinho azul

Ver de ver

Verso e reverso: poemas de Natal

Vinte pontos de uma vez

O vôo do pássaro e  outras histórias





Quer melhorar o desempenho do seu filho? Mande-o para a horta

1 09 2010

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Uma pesquisa desenvolvida pela Royal Horticultural Society com o apoio da National Foundation for Educational Research (NFER) indica que crianças que tem contato com hortas nas escolas alcançam um melhor desempenho acadêmico, físico e social em comparação com alunos que não ter acesso a esses ambientes.

Segundo o estudo, essas crianças ainda apresentam maior facilidade durante a alfabetização e se tornam mais preparadas para os desafios da vida adulta. Para chegar ao resultado, o grupo entrevistou mais de 1,3 mil professores de 10 escolas diferentes. “O objetivo primordial da pesquisa é traçar o perfil das hortas como um recurso natural, sustentável e que tem a capacidade de ofertar benefícios curricular, social e emocional aos alunos“, diz o texto introdutório do estudo.

Entre os resultados mais significativos citados pelo artigo estão: maior conhecimento e compreensão científica; literacia e numeracia reforçadas, incluindo a utilização de um vocabulário mais amplo e maior habilidades orais; aumento da sensibilização sobre as estações do ano e da compreensão do processo de produção de alimentos; aumento da confiança, da resiliência e da auto-estima; desenvolvimento de habilidades físicas, incluindo habilidades motoras de alta complexidade; desenvolvimento de senso de responsabilidade; desenvolvimento de uma atitude positiva sobre escolhas alimentares saudáveis; desenvolvimento de comportamento positivo; melhorias no bem-estar emocional.

A pesquisa indica ainda que os benefícios das hortas não se limitaram aos alunos. Professores, assistentes, reitores e demais membros da comunidade escolar também sentiram mudanças positivas após a implantação dos espaços.

Fonte: Terra





O vagalume, poesia, uso escolar, de Fagundes Varela

27 06 2010

Vagalumes, ilustração de Paige Keiser.

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O Vagalume

(Cantiga)

Fagundes Varela

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Quem és tu, pobre vivente,

Que vagas triste e sozinho,

Que tens os raios da estrela,

E as asas do passarinho?

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A noite é negra;  raivosos

Os ventos correm do sul;

Não temes que eles te apaguem

A tua lanterna azul?

Quando tu passas, o lago

De estranhos fogos esplende,

Dobra-se a clícia amorosa,

E a fronte mimosa pende.

As folhas brilham, lustrosas,

Como espelhos de esmeralda;

Fulge o iris nas torrentes

Da serrania na fralda.

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O grilo salta das sarças;

Piam aves nos palmares;

Começa o baile dos silfos

No seio dos nenufares.

A tribo das mariposas,

Das mariposas azuis,

Segue teus giros no espaço,

Mimosa gota de luz!

São elas flores sem  haste;

Tu és estrela sem céu;

Procuram elas as chamas;

Tu amas da sombra o véu!

Quem és tu, pobre vivente,

Que vagueias tão sozinho,

Que tens os raios da estrela,

E as asas do passarinho?

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Vocabulário:

Clícia — inseto de duas asas

Sarça — matagal

Silfo — gênio das florestas ( mitologia celta)

Nenúfar — planta aquática

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Fagundes Varela

Luís Nicolau Fagundes Varella, (RJ 1841 – RJ 1871) ou Fagundes Varela, poeta brasileiro e um dos patronos na Academia Brasileira de Letras.

Obras:

  • Noturnas – 1861
  • Vozes da América – 1864
  • Pendão Auri-verde – poemas patrióticos, acerca da Questão Christie.
  • Cantos e Fantasias – 1865
  • Cantos Meridionais – 1869
  • Cantos do Ermo e da Cidade – 1869
  • Anchieta ou O Evangelho nas Selvas – 1875 (publicação póstuma)
  • Diário de Lázaro – 1880