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Casas Cubo, Projeto do arquiteto Piet Blom (Holanda 1934-1999), desenhado em 1978, construção: 1984
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Meu sobrinho foi no ano passado à Holanda representando sua escola e o Brasil numa competição escolar de ciências, mais precisamente de robótica. Voltou encantado com muito do que viu, mas falou especificamente das Casas Cubo, em Roterdam. Eu, nunca fui a Roterdam, mas já ouvi falar e muito do movimento Estruturalista na arquitetura que por sinal não é uma coisa nova. As Casas Cubo são um dos muitos exemplos desse movimento na arquitetura e no urbanismo que surgiu na década de 1960 como uma reação ao que se considerou projetos sem vida e impessoais nas tendências de pós-guerra [Segunda Guerra Mundial] dos que vieram a ser chamados de racionalistas formais: Mies van der Rohe, Groupios e Le Corbusier, os maiores expoentes desse movimento.
Projeto do arquiteto Piet Blom (Holanda, 1934-1999) as Casas Cubo são hoje um dos cartões postais de Rotterdam. O projeto de 1978 só foi construído em 1984, como parte de um plano de renovação da cidade.
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Piet Blom, Casbá, projeto de 1969.
As Casas Cubo parecem ser a evolução natural do trabalho de Piet Blom que já havia projetado em 1965 e construído em 1969, uma série de casas em palafitas, uma combinação de unidades de alojamento espaçosos com projetos variados de hotelaria, varejo e apartamentos estúdio; com pequenos estacionamentos, além de parques infantis a que deu o nome de Casbá, lembrando o emaranhado de vielas em volta da praça da Medina dos centros das cidades de colonização árabe no norte da África que têm suas ruas principais cobertas. O Casbá tem um ambiente acolhedor, com cores quentes sobre os telhados e janelas. No meio do complexo há uma praça aberta, decorada como um lugar de encontro com bancos e árvores. Um dos objetivos de Piet Blom nesse projeto era justamente manter o movimento de pedestres ao nível do chão, livre com casas de diversas alturas de telhados sustentadas por palafitas, conceito reminiscente das pilastras usadas por Le Corbusier. O que ficou do projeto Casbá foram as habitações em pilastras que serão sua assinatura em dois de seus projetos, as dezoito casas em colunas em Helmond e as Casas Cubo em Roterdam.
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Piet Blom, casas cubo em Helmoond, primeiro projeto desse tipo.
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O complexo habitacional de Helmond foi o primeiro das Casas Cubo a ser construído, tendo em seu centro, formado por quatro cubos, um teatro, Teatro Speelhuis, que seria o centro de atividades culturais do projeto, infelizmente destruído em um incêndio em 2011. O conceito original dessas casas foi uma evolução da Casbá: viver sob um teto urbano, ou seja, a vida comunitária de desenrolando aos pés do nível habitacional. Pelo menos era isso que Piet Blom advogava. Espaço comum urbano conseguido através de uma variante das casas em palafitas. Ele usou uma coluna, para fazer o que chamou de “floresta urbana”: cada Casa Cubo seria a abstração de uma árvore com o tronco como coluna de suporte e a copa como espaço de habitação. Com a repetição desses modelos teríamos então uma floresta ou um bosque urbano onde a vida diária se passaria à sua sombra. Para conseguir o efeito ‘copa” Piet Blom virou o cubo de habitação em 45 graus, e colocou uma coluna de sustentação hexagonal. Dezoito Casas Cubo foram construídas em Helmond, em 1974 e 1977.
O projeto urbano em Helmond era para ter sido parte da reurbanização da antiga Rue de la Loi. Mas a administração local considerou o projeto muito alternativo e que não se adequava às necessidades do centro de Helmond. Como prêmio de consolação pelo projeto Piet Blom foi convidado a localizar seu projeto no bairro Grande Driene, um bairro novo, nos arredores da cidade. Piet Blom desenvolveu cinco diferentes tipos de habitação. A menor unidade de um único apartamento até uma unidade bem maior como um estúdio para mais de um artista. As unidades maiores têm um terraço espaçoso e dois a quatro quartos. A densidade habitacional alcançada no projeto com esta concepção de casas sobre colunas foi quatro vezes maior do que a conseguida numa área residencial normal. Para um país como a Holanda, cortado por canais, onde a terra para construção tem um valor descomunal, essa economia de espaço é essencial.
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Vista aérea das Casas Cubo em Roterdam.
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A cidade de Roterdam pediu a Piet Blom o projeto de um complexo habitacional que pudesse ser construído acima de uma ponte para pedestres. O resultado foi exatamente as Casas Cubo, cada qual representando uma árvore, resultando numa floresta urbana. As trinta e oito Casas Cubo de Roterdam estão localizadas na Rua Overblaak, ao lado da estação Blaak do metrô. Elas continuam o mesmo conceito desenvolvido em Helmond, mas usam diferentes materiais de construção.
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Casas Cubo de Roterdam, projeto de Piet Blom, vistas debaixo, do nivel praça comunitária.
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As casas se “equilibram” num pedestal hexagonal. Em algumas dessas casa a coluna hexagonal tem uma área para guardados e uma escada dando acesso à habitação propriamente dita, mas em outras, essas colunas têm pequenas lojas. Cada Casa Cubo tem três andares: a entrada à rés do chão; o primeiro andar, que tem um a planta triangular, é onde se encontram a sala de estar e a cozinha – aberta, à americana como se diz no Brasil. Nesse andar as janelas abrem para o andar de baixo, inclinadas para a área comum. No segundo andar estão os dois quartos e um banheiro e o andar cima,que também tem um planta triangular, é usado como uma área extra, quarto de hóspedes, sala ou até como jardim. É aí que essas habitações têm uma ótima vista com janelas na parte piramidal da construção. Todas as janelas e paredes foram construídas num ângulo de 54,7 graus. Cada apartamento tem aproximadamente 100 m², mas só um quarto desse espaço – 25m² pode ser efetivamente usado por causa dos ângulos das paredes e dos tetos.
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Vista de outro ângulo das Casas Cubo de Roterdam.
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Em 2008 parte do complexo de Casas Cubo de Roterdam foi comprado, algumas paredes derrubadas e um hostel oferecendo 243 camas foi instalado no local.
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Foto do interior da Casa Cubo de Roterdam.