Flores e frutos,1999
Helena Cury (Brasil, contemporânea)
óleo sobre tela, 50 x 60 cm
Flores e frutos,1999
Helena Cury (Brasil, contemporânea)
óleo sobre tela, 50 x 60 cm
Jovem em oração lendo o Livro de Horas, 1520
Ambrosius Benson ( Itália, 1495 – Flandres, 1550)
óleo sobre madeira, 21 x 13 cm
Museu do Louvre, Paris
Uma das consequências inesperadas do IV Concílio de Latrão, também chamado de O grande Concílio, em 1215, sob liderança do papa Inocêncio III, foi o nascimento da leitura silenciosa, individual.
Neste concílio, o maior concílio ecumênico da Idade Média, a Igreja decidiu que as confissões de pecados seriam mandatórias para o povo, para as massas. E que todo cristão que tivesse atingido a idade de discrição (primeira comunhão) deveria, pelo menos uma vez ao ano, confessar seus pecados ao padre de sua paróquia. (cânone 21, conhecido como Omnis utriusque sexus).
Até então a catequese tinha base no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. Seguia-se os passos da Igreja nos seus primórdios em que fiéis passavam seus bens para a causa cristã e dividiam tudo entre eles. Com esse espírito houve maior adesão de leigos à Igreja e, entre outros hábitos, a leitura da Bíblia era comunitária. O sistema feudal muito colaborou para a manutenção de atitudes comunitárias.
A Igreja sempre considerou importante manter domínio sobre a interpretação dos Evangelhos, portanto, não foi sem controvérsia, que aceitou os hábitos comunitários, baseados nos primórdios do desenvolvimento cristão. O concílio de 1215, tentou colocar um fim nisso, trazendo, entre outras modificações, a leitura para o âmbito individual. Enquanto a confissão individual foi uma tentativa da Igreja de se aproximar do povo, conhecer as verdadeiras preocupações do indivíduo, na intimidade do confessionário pessoal, íntimo e velado.
Com esta decisão o conceito de moralidade na Europa passou de externo, comunitário, onde todos eram responsáveis por todos; para ser pessoal, ou seja, moralidade dependente do caráter, do juízo pessoal e não mais dependente do julgamento da comunidade. O nascimento da responsabilidade individual, que dois séculos depois fomentou o humanismo da Renascença, no século XIII deu espaço a hábitos solitários, como a leitura individual.
Mais tarde, esse individualismo na leitura, foi auxiliado com a invenção dos tipos móveis de Gutenberg que permitiu a publicação de livros com custo muito menor.
Mesmo assim, a leitura, silenciosa, individual, crescendo no íntimo do leitor, só passou a ser comum em meados do século XVIII. Até então, a leitura pública era comum.
Nossa Senhora Aparecida, 2004
Yara Tupynambá (Brasil, 1932)
óleo sobre tela, 70 x 50 cm
“Combray, de longe, por dez léguas ao redor, vista do trem, quando chegávamos na semana anterior à Páscoa, não era mais que uma igreja que resumia a cidade, representava-a, falava dela e por ela às distâncias, e, quando nos aproximávamos, mantinha aconchegados em torno de sua grande capa sombria, em pleno campo, contra o vento, como uma pastora às suas ovelhas, os lombos lanosos e cinzentos das casas reunidas que um resto de muralhas da Idade Média cingia aqui e ali num traço tão perfeitamente circular como uma cidadezinha num quadro de primitivos. Para morar, Combray era um pouco triste, como eram tristes as suas ruas, cujas casas, edificadas com as pedras escuras da região, precedidas de degraus exteriores e com seus telhados de beirais salientes que faziam sombra, eram tão escuras que, mal começava a declinar o dia, já era preciso erguer as cortinas nas “salas”; ruas de graves nomes de santos (vários dos quais se ligavam à história dos primeiros senhores de Combray), rua de Santo Hilário, rua de S. Tiago, onde ficava a casa de minha tia, rua de Santa Hildegarda, para onde davam as grades, e a rua do Espírito Santo, para onde se abria o portãozinho lateral de seu jardim; e essas ruas de Combray existem num local tão recôndito da minha memória, pintado a cores tão diferentes das que agora revestem para mim o mundo,que na verdade me parecem todas, bem como a igreja que as dominava na praça, ainda mais irreais que as projeções da lanterna mágica; e em certos momentos me parece que poder atravessar ainda a rua de Santo Hilário, poder alugar um quarto na rua do Pássaro — a velha hospedaria do Pássaro Ferido, de cujos suspiros saiam um cheiro de cozinha, que intermitente e cálido, ainda sobe por momentos em minha lembrança — seria entrar em contato com o Além de um modo mais maravilhosamente sobrenatural do que se me fosse dado conhecer a Golo e a conversar com Genoveva de Brabante.”
Em: Em busca do tempo perdido, No Caminho de Swann, volume I, Marcel Proust, tradução de Mário Quintana, Rio de Janeiro, Editora Globo: 1981, 7ª edição, página 48
Procissão
Geraldo de Castro (Brasil, 1914 – 1992)
óleo sobre tela, 90 x 90 cm
Senhor sou pó e voltarei ao pó
Aumenta a minha pobre Fé
Nesta Quarta Feira de Cinzas
Nesta Quarta Feira de Cinzas
Não se esqueça que…
Tu és pó e ao pó vais voltar.
Isabel Morais Ribeiro Fonseca
A travessia de Caronte, 1919
José Banlliure y Gil (Espanha, 1855-1937)
Óleo sobre tela , 176 x 103 cm
Museu de Belas Artes de Valencia, Espanha
“Ainda persiste o hábito nas pequenas cidades do interior de colocar moedas nos olhos dos defuntos sob o pretexto de manter suas pálpebras cerradas.
O costume foi herdado dos portugueses, nos tempos coloniais, e mudou com o correr dos anos. Primitivamente se colocava um pão e uma moeda debaixo da cabeça do morto.
O pão era para mostrar que não morrera de fome. O dinheiro para entregar a São Pedro, a fim de que abrisse as portas do céu.
Os portugueses não tiraram essa superstição do nada. Veio dos gregos que acreditavam em um rio subterrâneo, separando o mundo dos vivos do mundo do além. Um cão de três cabeças, Cérbero, guardava a porta do reino da morte.
Os gregos punham moedas na boca do defunto e um bolo nas suas mãos. As moedas serviam para pagar Caronte, o barqueiro que fazia a travessia do rio. O bolo era para acalmar a fúria de Cérbero.
Como a corrupção é tão antiga quanto o homem, as famílias mais ricas enchiam a boca do finado de moedas, na suposição de que Caronte o faria passar antes dos demais defuntos.
Com o correr dos tempos, a religião dos gregos, povoada de deuses e deusas muito humanos, foi cedendo lugar a outras crenças. Mas as superstições ficaram, com algumas modificações no ritual e profunda transformação nas justificativas.”
Em: Notas curiosas da espécie humana, Jayme Copstein, Porto Alegre, Editora AGE:2002, p.108
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São Sebastião do Rio de Janeiro, 1997
Glauco Rodrigues (Brasil, 1929-2004)
Serigrafia, 35 x 50cm
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Hoje é feriado no Rio de Janeiro, pois é o dia do santo padroeiro da cidade: Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Nada melhor do que esta gravura de Glauco Rodrigues em que o santo aparece no primeiro plano com a baía de Guanabara e o Pão de Açúcar ao fundo, para lembrar a data.
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Adoração dos pastores, c. 1535
Il Bronzino, [Agnolo Bronzino], (Itália, 1503-1572)
óleo sobre madeira, 77 x 65cm
Museu de Belas Artes de Budapeste
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Arcebispo Fulton J. Sheen
tradução de Marta de Mesquita Câmara
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Os Pastores representavam, ali, no Presépio, todas as almas simples que nada entendem das intrigas políticas do mundo, das suas artes, das suas ciências, das suas literaturas. Nem um só dentre eles todos era capaz de recitar um só verso de Virgílio, cujos poemas eram conhecidos de toda a gente na vastidão do Império Romano. Aos campos, onde pastoreavam as suas ovelhas, jamais chegara o mais pequeno eco dos escândalos da voluptuosa corte do rei Herodes ou das lições do sábio Gamaliel. E por seu lado a opinião pública, desconhecia até a própria existência desses humildes e rudes pastores, que para ela seriam ainda menos que grãos de pó, sem a mínima importância para o progresso dos povos e das nações.
E, todavia, esses humildes e simples pastores sabiam duas coisas importantíssimas: que havia no Céu um Deus e que havia na Terra as suas ovelhas. Nada mais precisavam aquelas almas simples de saber, e naquela noite em que os Céus se iluminaram só para eles so esplendor dos anjos, foram eles que lhes ouviram o anúncio de que havia nascido de pais pobres, num pobre estábulo, à beira do pobre povoado de belém, aquele que deveria salvar os homens.
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Em: A Estrela dos Reis Magos, Malba Tahan, São Paulo, Saraiva: s/d
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Eis como o escritor católico, Sr. Ângelo Antônio Dallegrave, descreve a cena memorável:
“Melchior, venerável por sua velhice, ofereceu o ouro, reconhecendo Jesus como seu único Soberano e Senhor; Gaspar que segundo a tradição era o mais jovem, apresentou ao Menino incenso, porque viu na criança o Verbo Eterno que se fez homem e habitou entre nós; Baltasar ofertou-lhe mirra, porque, reconhecendo no Divino Infante, o Eterno, sabia igualmente, que Jesus viera ao Mundo, se fizera homem, nosso irmão pela carne, menos no pecado, para por nós morrer.”
Em torno da figuras tradicionais dos Reis Magos e dos presentes por eles oferecidos ao Menino, tecem os escritores cristãos as mais incríveis fantasias. Vamos transcrever pequeno trecho do historiador, Sr. Hermes Vieira:
“Representando a cultura máxima do tempo dos Reis Magos, ao presentearem Jesus, deram uma grande lição à Humanidade. Baltasar, que era preto, e viera da África, ofereceu-lhe a mirra que simbolizava a Mortificação; Gaspar, que tinha os olhos longos e a barba fina como um cavalheiro da Arábia, doou-lhe o incenso, que significava a Oração; e Melchior, que era velho e já possuía uma longa barba cor de neve, deu-lhe o Ouro, traduzindo com este gesto o desprendimento das coisas da Terra.”
Outra referência ao simbolismo das três dádivas encontramos no livro Os Quatro Evangelhos, do eminente pregador Padre Lincoln Ramos. Eis o que nos ensina esse sacerdote:
“Entregaram os Magus a Jesus o que mais precioso haviam trazido de sua pátria sem se impressionarem com a pobreza do lugar e das pessoas. Atribui-se belo simbolismo às três dádivas: pelo ouro homenagearam Jesus como Rei; pelo incenso e pela mirra, reconheceram-no como deus e como homem. O incenso se oferece a Deus nos altares; com a mirra — resina aromática — eram embalsamados os cadáveres e purificadas as mortalhas que os envolviam.”
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Em: A Estrela dos Reis Magos, Malba Tahan, São Paulo, Saraiva: s/d