Um dos menores dinossauros que se conhece!

18 12 2009
Foto: AP

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Há dois meses nos Estados |Unidos, o Instituto Dinossauro do Museu de História Natural de Los Angeles, colocou em exposição uma réplica de um dos menores dinossauros que se conhece no mundo.   Chamado de  haagarorum Fruitadens, este dinossauro apesar de pequenino, não parece ser muito simpático.  Ele foi descoberto na América do Norte, há aproximadamnete trinta anos atrás, mas só foi identificado recentemente.  Agora uma réplica de seu corpo foi feita e exposta ao público no museu.

Tudo indica que ele pesava menos de 900 gramas e tinha mais ou menos uns  10 centímetros de altura.  Da cabeça à pontinha da cauda, o haagarorum Fruitadens  deveria medir um pouco mais que 60 centímetros.

O diretor do Instituto Dinossauro, Luis Chiappe, apresenta o pequeno animal.

Foto: AP

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FONTE:  Portal Terra





O peru de Natal, um conto de Mário de Andrade

13 12 2009

Ceia de Natal, 1904/1905

Carl Larsson ( Suécia, 1853-1919)

Aquarela

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O PERU DE NATAL
 

                                                                                             Mário de Andrade

 
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O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conseqüências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, de uma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.

Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava que não podia mais pra afastar aquela memória obstruente do morto, que parecia ter sistematizado pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa em cada almoço, em cada gesto mínimo da família. Uma vez que eu sugerira à mamãe a idéia dela ir ver uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas. Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre gostara apenas regularmente de meu pai, mais por instinto de filho que por espontaneidade de amor, me via a ponto de aborrecer o bom do morto.

Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim, espontaneamente, a idéia de fazer uma das minhas chamadas “loucuras”. Essa fora aliás, e desde muito cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio, em que arranjava regularmente uma reprovação todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma detestável de tia; e principalmente desde as lições que dei ou recebi, não sei, de uma criada de parentes: eu consegui no reformatório do lar e na vasta parentagem, a fama conciliatória de “louco”. “É doido, coitado!” falavam. Meus pais falavam com certa tristeza condescendente, o resto da parentagem buscando exemplo para os filhos e provavelmente com aquele prazer dos que se convencem de alguma superioridade. Não tinham doidos entre os filhos. Pois foi o que me salvou, essa fama. Fiz tudo o que a vida me apresentou e o meu ser exigia para se realizar com integridade. E me deixaram fazer tudo, porque eu era doido, coitado. Resultou disso uma existência sem complexos, de que não posso me queixar um nada.

Era costume sempre, na família, a ceia de Natal. Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas, figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturrados de amêndoas e nozes (quanto discutimos os três manos por causa dos quebra-nozes…), empanturrados de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra cama. Foi lembrando isso que arrebentei com uma das minhas “loucuras”:

— Bom, no Natal, quero comer peru.

Houve um desses espantos que ninguém não imagina. Logo minha tia solteirona e santa, que morava conosco, advertiu que não podíamos convidar ninguém por causa do luto.

— Mas quem falou de convidar ninguém! essa mania… Quando é que a gente já comeu peru em nossa vida! Peru aqui em casa é prato de festa, vem toda essa parentada do diabo…

— Meu filho, não fale assim…

— Pois falo, pronto!

E descarreguei minha gelada indiferença pela nossa parentagem infinita, diz-que vinda de bandeirantes, que bem me importa! Era mesmo o momento pra desenvolver minha teoria de doido, coitado, não perdi a ocasião. Me deu de sopetão uma ternura imensa por mamãe e titia, minhas duas mães, três com minha irmã, as três mães que sempre me divinizaram a vida. Era sempre aquilo: vinha aniversário de alguém e só então faziam peru naquela casa. Peru era prato de festa: uma imundície de parentes já preparados pela tradição, invadiam a casa por causa do peru, das empadinhas e dos doces. Minhas três mães, três dias antes já não sabiam da vida senão trabalhar, trabalhar no preparo de doces e frios finíssimos de bem feitos, a parentagem devorava tudo e ainda levava embrulhinhos pros que não tinham podido vir. As minhas três mães mal podiam de exaustas. Do peru, só no enterro dos ossos, no dia seguinte, é que mamãe com titia ainda provavam num naco de perna, vago, escuro, perdido no arroz alvo. E isso mesmo era mamãe quem servia, catava tudo pro velho e pros filhos. Na verdade ninguém sabia de fato o que era peru em nossa casa, peru resto de festa. Não, não se convidava ninguém, era um peru pra nós, cinco pessoas. E havia de ser com duas farofas, a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com bastante manteiga. Queria o papo recheado só com a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixa preta, nozes e um cálice de xerez, como aprendera na casa da Rose, muito minha companheira. Está claro que omiti onde aprendera a receita, mas todos desconfiaram. E ficaram logo naquele ar de incenso assoprado, se não seria tentação do Dianho aproveitar receita tão gostosa. E cerveja bem gelada, eu garantia quase gritando. É certo que com meus “gostos”, já bastante afinados fora do lar, pensei primeiro num vinho bom, completamente francês. Mas a ternura por mamãe venceu o doido, mamãe adorava cerveja.

— É louco mesmo!…

Quando acabei meus projetos, notei bem, todos estavam felicíssimos, num desejo danado de fazer aquela loucura em que eu estourara. Bem que sabiam, era loucura sim, mas todos se faziam imaginar que eu sozinho é que estava desejando muito aquilo e havia jeito fácil de empurrarem pra cima de mim a… culpa de seus desejos enormes. Sorriam se entreolhando, tímidos como pombas desgarradas, até que minha irmã resolveu o consentimento geral:

— É louco mesmo!…

Comprou-se o peru, fez-se o peru, etc. E depois de uma Missa do Galo bem mal rezada, se deu o nosso mais maravilhoso Natal. Fora engraçado: assim que me lembrara de que finalmente ia fazer mamãe comer peru, não fizera outra coisa aqueles dias que pensar nela, sentir ternura por ela, amar minha velhinha adorada. E meus manos também, estavam no mesmo ritmo violento de amor, todos dominados pela felicidade nova que o peru vinha imprimindo na família. De modo que, ainda disfarçando as coisas, deixei muito sossegado que mamãe cortasse todo o peito do peru. Um momento aliás, ela parou, feito fatias um dos lados do peito da ave, não resistindo àquelas leis de economia que sempre a tinham entorpecido numa quase pobreza sem razão.

— Não senhora, corte inteiro! Só eu como tudo isso!

Era mentira. O amor familiar estava por tal forma incandescente em mim, que até era capaz de comer pouco, só pra que os outros quatro comessem demais. E o diapasão dos outros era o mesmo. Aquele peru comido a sós, redescobria em cada um o que a quotidianidade abafara por completo, amor, paixão de mãe, paixão de filhos. Deus me perdoe mas estou pensando em Jesus… Naquela casa de burgueses bem modestos, estava se realizando um milagre digno do Natal de um Deus. O peito do peru ficou inteiramente reduzido a fatias amplas.

— Eu que sirvo!

“É louco, mesmo” pois por que havia de servir, se sempre mamãe servira naquela casa! Entre risos, os grandes pratos cheios foram passados pra mim e principiei uma distribuição heróica, enquanto mandava meu mano servir a cerveja. Tomei conta logo de um pedaço admirável da “casca”, cheio de gordura e pus no prato. E depois vastas fatias brancas. A voz severizada de mamãe cortou o espaço angustiado com que todos aspiravam pela sua parte no peru:

— Se lembre de seus manos, Juca!

Quando que ela havia de imaginar, a pobre! que aquele era o prato dela, da Mãe, da minha amiga maltratada, que sabia da Rose, que sabia meus crimes, a que eu só lembrava de comunicar o que fazia sofrer! O prato ficou sublime.

— Mamãe, este é o da senhora! Não! não passe não!

Foi quando ela não pode mais com tanta comoção e principiou chorando. Minha tia também, logo percebendo que o novo prato sublime seria o dela, entrou no refrão das lágrimas. E minha irmã, que jamais viu lágrima sem abrir a torneirinha também, se esparramou no choro. Então principiei dizendo muitos desaforos pra não chorar também, tinha dezenove anos… Diabo de família besta que via peru e chorava! coisas assim. Todos se esforçavam por sorrir, mas agora é que a alegria se tornara impossível. É que o pranto evocara por associação a imagem indesejável de meu pai morto. Meu pai, com sua figura cinzenta, vinha pra sempre estragar nosso Natal, fiquei danado.

Bom, principiou-se a comer em silêncio, lutuosos, e o peru estava perfeito. A carne mansa, de um tecido muito tênue boiava fagueira entre os sabores das farofas e do presunto, de vez em quando ferida, inquietada e redesejada, pela intervenção mais violenta da ameixa preta e o estorvo petulante dos pedacinhos de noz. Mas papai sentado ali, gigantesco, incompleto, uma censura, uma chaga, uma incapacidade. E o peru, estava tão gostoso, mamãe por fim sabendo que peru era manjar mesmo digno do Jesusinho nascido.

Principiou uma luta baixa entre o peru e o vulto de papai. Imaginei que gabar o peru era fortalecê-lo na luta, e, está claro, eu tomara decididamente o partido do peru. Mas os defuntos têm meios visguentos, muito hipócritas de vencer: nem bem gabei o peru que a imagem de papai cresceu vitoriosa, insuportavelmente obstruidora.

— Só falta seu pai…

Eu nem comia, nem podia mais gostar daquele peru perfeito, tanto que me interessava aquela luta entre os dois mortos. Cheguei a odiar papai. E nem sei que inspiração genial, de repente me tornou hipócrita e político. Naquele instante que hoje me parece decisivo da nossa família, tomei aparentemente o partido de meu pai. Fingi, triste:

— É mesmo… Mas papai, que queria tanto bem a gente, que morreu de tanto trabalhar pra nós, papai lá no céu há de estar contente… (hesitei, mas resolvi não mencionar mais o peru) contente de ver nós todos reunidos em família.

E todos principiaram muito calmos, falando de papai. A imagem dele foi diminuindo, diminuindo e virou uma estrelinha brilhante do céu. Agora todos comiam o peru com sensualidade, porque papai fora muito bom, sempre se sacrificara tanto por nós, fora um santo que “vocês, meus filhos, nunca poderão pagar o que devem a seu pai”, um santo. Papai virara santo, uma contemplação agradável, uma inestorvável estrelinha do céu. Não prejudicava mais ninguém, puro objeto de contemplação suave. O único morto ali era o peru, dominador, completamente vitorioso.

Minha mãe, minha tia, nós, todos alagados de felicidade. Ia escrever «felicidade gustativa», mas não era só isso não. Era uma felicidade maiúscula, um amor de todos, um esquecimento de outros parentescos distraidores do grande amor familiar. E foi, sei que foi aquele primeiro peru comido no recesso da família, o início de um amor novo, reacomodado, mais completo, mais rico e inventivo, mais complacente e cuidadoso de si. Nasceu de então uma felicidade familiar pra nós que, não sou exclusivista, alguns a terão assim grande, porém mais intensa que a nossa me é impossível conceber.

Mamãe comeu tanto peru que um momento imaginei, aquilo podia lhe fazer mal. Mas logo pensei: ah, que faça! mesmo que ela morra, mas pelo menos que uma vez na vida coma peru de verdade!

A tamanha falta de egoísmo me transportara o nosso infinito amor… Depois vieram umas uvas leves e uns doces, que lá na minha terra levam o nome de “bem-casados”. Mas nem mesmo este nome perigoso se associou à lembrança de meu pai, que o peru já convertera em dignidade, em coisa certa, em culto puro de contemplação.

Levantamos. Eram quase duas horas, todos alegres, bambeados por duas garrafas de cerveja. Todos iam deitar, dormir ou mexer na cama, pouco importa, porque é bom uma insônia feliz. O diabo é que a Rose, católica antes de ser Rose, prometera me esperar com uma champanha. Pra poder sair, menti, falei que ia a uma festa de amigo, beijei mamãe e pisquei pra ela, modo de contar onde é que ia e fazê-la sofrer seu bocado. As outras duas mulheres beijei sem piscar. E agora, Rose!…

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Em: Noite de Natal: coletânea reunindo histórias de Natal, editado por Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito.  Saraiva, SP: 1950

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Mário de Andrade, 1927

Lasar Segall, (Russia 1891, Brasil 1957)

óleo sobre tela

 

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Mário Raul de Morais Andrade (SP, 1893-1945) poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo, professor universitário e ensaísta, considerado unanimidade nacional e reconhecido por críticos como o mais importante intelectual brasileiro do século XX. Liderou o movimento modernista no Brasil e teve grande impacto na renovação literária e artística do país, participando ativamente da Semana de Arte Moderna de 22, além de se envolver (de 1934 a 37) com a cultura nacional trabalhando como diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.

Obras:

Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, 1917

Paulicéia Desvairada, 1922

A Escrava que Não É Isaura, 1925

Losango Cáqui, 1926

Primeiro Andar, 1926

A Clã do Jabuti, 1927

Amar, Verbo Intransitivo, 1927

Ensaios Sobra a Música Brasileira, 1928

Macunaíma, 1928

Compêndio Da História Da Música, 1929 (Reescrito como Pequena História da Música Brasileira, 1942)

Modinhas Imperiais, 1930

Remate de Males, 1930

Música, Doce Música, 1933

Belasarte, 1934

O Aleijadinho de Álvares De Azevedo, 1935

Lasar Segall, 1935

Música do Brasil, 1941

Poesias, 1941

O Movimento Modernista, 1942

O Baile das Quatro Artes, 1943

Os Filhos da Candinha, 1943

Aspectos da Literatura Brasileira 1943

O Empalhador de Passarinhos, 1944

Lira Paulistana, 1945

O Carro da Miséria, 1947

Contos Novos, 1947

O Banquete, 1978

Dicionário Musical Brasileiro, 1989

Será o Benedito!, 1992





Novo dinossauro, Tawa hallae

12 12 2009

Uma nova espécie de dinossauro foi encontrada no estado de Novo México, Estados Unidos da América.   Os fósseis revelaram que os dinossauros carnívoros habitavam o planeta há 230 milhões de anos.   O estudo agora publicado na revista «Science» vem também apoiar a hipótese de que os estes antigos senhores da Terra apareceram originalmente no território que hoje ocupa a América do Sul e que pouco depois se dispersaram pelo resto do mundo, que na época era um só continente, a Pangeia.
A  imagem acima mostra a reprodução de um novo dinossauro, chamado “Tawa hallae”, que viveu no período triásico.
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Sterling Nesbitt, investigador da Universidade do Texas, liderou a equipe que estudou o esqueleto praticamente completo deste dinossauro que media 70 centímetros de altura e dois metros de comprimento, do focinho à cauda.

A descoberta desta espécie, batizada como Tawa hallae (em homenagem aos indígenas sul-americanos Hopi que chamam Tawa ao seu deus do Sol) preenche uma lacuna de ligação entre o grupo de grandes carnívoros do período Jurássico, os terópodos Tiranossauro rex e o velociraptor, e os seus ancestrais, como o herrerassauro.

As duas espécies – o Tawa e o herrerassauro – compartilham muitos traços, especialmente em relação à morfologia da cintura. No entanto, o Tawa tem características dos terópodos que não existem no herrerassauro, como bolsas de ar localizadas ao longo da espinha dorsal.  Quando a espécie evoluiu para os neoterópodes do período Jurássico, foram mantidas algumas características comuns a todas as espécies, como as grandes mandíbulas, dentes de carnívoros e alguns traços pélvicos.

Os fósseis, encontrados em 2004 na zona de Ghost Ranch, oferecem também pistas de como estes animais se dispersaram pelo planeta.   Há mais de 200 milhões de anos, no período Triásico, os dinossauros viviam no supercontinente Pangeia que mais tarde se fragmentou para dar origem aos continentes tais como hoje são conhecidos.

Os investigadores acreditam que os grandes grupos dos primeiros dinossauros puderam passar para a parte da Pangeia, que se tornou a América do Norte, no fim do período Triásico. Por alguma razão, apenas os carnívoros se adaptaram ao clima norte-americano.

Artigo: A Complete Skeleton of a Late Triassic Saurischian and the Early Evolution of Dinosaurs

 FONTE:  CIÊNCIA HOJE, PORTUGAL





Lapinha, poema de Natal de Wilson W. Rodrigues

10 12 2009

LAPINHA

 

                                                                          Wilson W. Rodrigues

Cristo fugiu do presépio,

veio em meu sonho dormir.

Eu quis cantar de alegria

mas, contentei-me em sorrir.

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Se cantasse, acordaria

e talvez Cristo chorasse.

Era tão belo dormindo,

dei um beijo em sua face.

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Nessa noite de Natal

Deus veio me visitar.

Estava triste, sozinho,

minha festa era sonhar.

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Ai!  Sonho!  Presepe d’alma!

Ai!  Cristo – visita santa!

Dorme, meu Cristo menino,

minha tristeza  acalanta…

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Em:  Bahia Flor: poemas, de Wilson W Rodrigues, Rio de Janeiro, Editora Publicitan: 1948

 

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Wilson Woodrow Rodrigues — poeta, folclorista, jornalista, professor e técnico de educação.  Nasceu em 6 de julho de 1916, na cidade de São Salvador, Bahia.  Filho do Cel. Julio Rodrigues de Sousa e de D. Josina Parente Rodrigues, família do Recôncavo Baiano.  Desde menino revelou vocação para a poesia, tendo publicado as suas primeiras composições em periódicos escolares.  Seu primeiro livro publicado teve as bençãos antecipadas do poeta Jorge de Lima.

Obras: 

 A caveirinha do preá,  Arca ed.: s/d, Rio de Janeiro

Desnovelando, Arca ed., s/d, Rio de Janeiro

O galo da campina, Arca ed,: s/d, Rio de Janeiro

O pintainho, Arca ed.: s/d, Rio de Janeiro

Por que a onça ficou pintada, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

A rãzinha, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

Três potes, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

O bicho-folha, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

A carapuça vermelha, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

Bahia flor, 1948 (poesias)

Folclore Coreográfico do Brasil, 1953

Contos, s/d

Contos do Rei-sol, s/d

Contos dos caminhos, s/d

Pai João, 1952

Sombra de Deus

Pai João, 1952

Lendas do Brasil





Estudando a população dos pássaros por seus cantos

9 12 2009

 

Ilustração Milo Winter, década de 1930.

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Como qualquer observador de pássaros poderia dizer, na floresta, ouvir o canto das aves é mais fácil do que avistá-las. Agora, dois cientistas desenvolveram um sistema para estimar a densidade das populações de pássaros ao gravar suas canções com um conjunto de microfones.

O método oferece uma alternativa à forma mais comum de estimar as densidades populacionais de pássaros: o ouvido humano. Ouvintes humanos são empregados com frequência em estudos sobre pássaros, mas o trabalho deles fica bem aquém da perfeição, diz Murray Efford, da Universidade de Otago, em Dunedin, Nova Zelândia. Um problema especial, segundo ele, é que “não somos muito bons em estimar a que distância está a origem de um som“.

Efford e Deanna Dawson, do Serviço de Levantamento Geológico dos Estados Unidos (USGS), em Laurel, Maryland, desenvolveram um método que envolve o uso de múltiplos microfones espalhados pela mata. Ao gravar os pássaros em diversos lugares simultaneamente, os pesquisadores podem estimar a “impressão acústica” deixada por cada pássaro – ou seja, a área em torno dele na qual seu canto pode ser ouvido.

A dimensão dessa impressão acústica depende de parâmetros como o barulho dos pássaros e as propriedades acústicas da floresta. Assim, Efford e Dawson precisam tentar diferentes valores para esses parâmetros até que encontrem uma boa comparação com os dados registrados pelos microfones. Ao final do processo, os pesquisadores se tornam capazes de estimar a densidade da presença de pássaros sem que seja necessário determinar a localização dos pássaros ou conhecer a extensão da floresta.

Os cientistas experimentaram esse método com um pássaro conhecido como mariquita-de-coroa-ruiva (Seiurus aurocapilla), que vive no Refúgio de Pesquisa de Patuxent, perto de Laurel, Maryland. Apenas as mariquitas macho cantam, e a técnica permitiu estimar sua densidade em cerca de um pássaro macho a cada cinco hectares.

As constatações parecem confirmar estimativas computadas com base na captura de filhotes de pássaros por meio de redes. Além disso, os pesquisadores descobriram que a nova técnica oferecia mais precisão do que o método de captura com redes. O trabalho deles foi publicado na versão online da revista Journal of Applied Ecology.

Efford e Dawson afirmam que o método poderia ser usado para estimar as densidades de outros animais difíceis de localizar visualmente, entre os quais baleias e golfinhos. Len Thomas, um especialista em estatísticas ecológicas da Universidade St. Andrews, na Escócia, por exemplo, já está empregando método semelhante como parte de um esforço para monitorar as baleias minke (Balaenoptera acutorostrata) por meio dos sons que elas produzem.

Ilustração Maurício de Sousa.

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O número de baleias dessa espécie avistadas no Pacífico é muito baixo, mas os machos da espécie produzem um som grave e muito característico que poderia ser capturado por hidrofones e possibilitaria determinar sua impressão acústica, como acontece com os pássaros.

No entanto, Thomas afirma que o método desenvolvido por Efford e Dawson só permite contemplar parte do quadro para as populações de baleias minke. O método estima apenas a densidade de sons, não de animais, e no caso das baleias a incerteza quanto à porcentagem de machos que emitem sons e quanto à frequência com que o fazem torna difícil extrapolar desses registros uma estimativa para a densidade populacional.

Efford acrescenta que a nova técnica funcionará melhor no caso de animais que produzem sons repetitivos e em volume constante. Isso significa que ela deve ser especialmente útil para estimar as densidades populacionais de outras espécies de pássaros. “Muitos pássaros repetem o mesmo canto vezes sem conta, de forma persistente e monótona“, ele disse.

A monotonia parece ter incomodado Efford, que teve de ouvir o cântico das mariquitas repetidamente para o estudo. “É um chamado especialmente insistente e irritante“, ele admite.

TEXTO: Emma Marris, para revista Nature.

Tradução: Paulo Migliacci ME

Fonte: Portal Terra





Antiga civilização européia, ao longo do Danúbio, em exposição em Nova York.

7 12 2009

 

Foto: Marius Amarie

 

Escultura de mulher em terracota, 4.050 a 3900 a.C.

Local:  Cucuteni, Drăguşeni

Museu do Condado de Botoşani

 

Antes da glória de Grécia e Roma, e até mesmo antes das primeiras cidades da Mesopotâmia ou dos templos ao longo do Nilo, havia no vale do Baixo Danúbio e ao pé das montanhas dos Bálcãs um povo à frente de seu tempo na arte, tecnologia e no comércio de longa distância.

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Foto: Marius Amarie

 

Vasilhame bi-cônico em terracota,  3700-3500 a.C.

Local: Cucuteni, Şipeniţ

Museu Nacional de História Romênia, Bucareste

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Por 1.500 anos, começando antes de 5.000 A.C., eles cultivaram e construíram cidades bastante grandes, algumas com até duas mil residências.  Esse povo dominava a fundição de cobre em larga escala que era a nova tecnologia da época. Em seus túmulos foram encontrados uma gama impressionante de adereços de cabeça e colares e, em um cemitério, uma grande e, a mais antiga, coleção de artefatos de ouro do mundo.

Foto: Marius Amarie

 

Bracelete em espiral em cobre, 4.500 a 3.900 a.C.

Local: Cucuteni, Ariuşd

Museu de História do Condado de Braşov 

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Os desenhos marcantes de sua cerâmica revelam o refinamento da linguagem visual da cultura. Até descobertas recentes, os artefatos mais intrigantes eram figuras onipresentes de “deusas” de terracota, originalmente interpretadas como evidência do poder espiritual e político das mulheres da sociedade.

Photo: Marius Amarie

 

Modelo arquitetônnico em terracota com sete estatuetas, 3700-3500 a.C.

Local: Piatra Neamţ

Complexo de Museus do Condado de Neamţ 

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Segundo arqueólogos e historiadores, a nova pesquisa ampliou a compreensão dessa cultura há muito tempo ignorada, e que parece ter se aproximado do limiar do status de “civilização”. A escrita ainda não havia sido inventada e ninguém sabe como o povo se chamava. Para alguns acadêmicos, o povo e a região são simplesmente a Velha Europa.

Foto: Rumyana Kostadinova Ivanova

 

Figuras zoomórficas em ouro, 4.400 a 4.200 a.C.

Local: Varna

Museu Regional de História de Varna

 

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A cultura pouco conhecida está sendo resgatada da obscuridade em uma exposição, “O Mundo Perdido da Velha Europa: o vale do Danúbio, 5.000-3.500 A.C.“, que foi inaugurada no mês passado no Instituto para o Estudo do Mundo Antigo da Universidade de Nova York. Mais de 250 artefatos de museus da Bulgária, Moldávia e Romênia estão expostos pela primeira vez nos Estados Unidos. A mostra fica aberta até 25 de abril.

Foto: Marius Amarie

 

Escultura de Mulher em terracota, 5.000 a 4.600 a.C.

Local:  Hamangia, Baïa

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

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Em seu auge, em torno de 4500 a.C., disse David W. Anthony, curador convidado da exposição, a Velha Europa estava entre os lugares mais sofisticados e tecnologicamente avançados do mundo e desenvolveu muitos sinais políticos, tecnológicos e ideológicos de civilização.

Foto: Jurie Foca and Valery Hembaruc

 

Três braceletes de cobre em espiral,  4.500 a 4.300 a.C.

Local: Suvorovo-Novodanilovka, Giurgiuleşti

Museu Nacional de História e Arqueologia de Moldova.

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Anthony é professor de antropologia da Hartwick College, em Oneonta, no estado de Nova York, e autor do livro The Horse, the Wheel, and Language: How Bronze-Age Riders from the Eurasian Steppes Shaped the Modern World; [ O cavalo, a roda e a linguagem: como os cavaleiros da era do bronze das estepes eurasianas moldaram o mundo moderno]. Historiadores sugerem que a chegada de povos das estepes ao sudeste da Europa pode ter contribuído para o colapso da cultura da Velha Europa por volta de 3500 a.C.

Foto: Marius Amarie

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Vasilhame esférico com tampa em terracota, 4.200 a 4050 a.C. 

Local: Cucuteni, Scânteia

Complexo do Museu Nacional de Moldova

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Na pré-abertura da exposição, Roger S. Bagnall, diretor do instituto, confessou que até agora muitos arqueólogos não haviam ouvido falar dessas culturas da Velha Europa. Admirando a cerâmica colorida, Bagnall, especialista em arqueologia egípcia, comentou que na época os egípcios com certeza não faziam cerâmica assim

Foto: Rumyana Kostadinova Ivanova

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Cetro em ouro com 9 elementos, 4.400 a 4.200 a.C.

Local: Varna

Museu de História Regional de Varna

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O catálogo da mostra, publicado pela Princeton University Press, é o primeiro compêndio em inglês da pesquisa sobre as descobertas da Velha Europa. O livro, editado por Anthony, com Jennifer Y. Chi, diretora-associada para exposições, inclui ensaios de especialistas da Grã-Bretanha, França, Alemanha, Estados Unidos e dos países onde a cultura existiu.

Foto: Marius Amarie

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Duas estatuetas em terracota, 5.000 a 4.600 a.C.

Local: Hamangia, Cernavodă

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

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Chi disse que a exposição reflete o interesse do instituto em estudar as relações entre as culturas conhecidas e ainda não apreciadas com deveriam ser.

Foto: Marius Amarie

 

Aplique antropomórfico em ouro, 4.000 a 3.500 a.C.

Local: Bodrogkeresztúr, Moigrad

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste.  

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Embora escavações ao longo do último século tenham descoberto vestígios de antigos assentamentos e estátuas de deusas, foi apenas em 1972, quando arqueólogos locais descobriram um grande cemitério do quinto milênio a.C. em Varna, Bulgária, que eles começaram a suspeitar que aquelas não eram pessoas pobres vivendo em sociedades igualitárias não estruturadas. Mesmo então, isolados pela Guerra Fria com a Cortina de Ferro, os búlgaros e romenos foram incapazes de transmitir seu conhecimento ao Ocidente.

Foto: Elena-Roxana Munteanu

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Grupo de 21 estatuetas e 13 cadeiras em terracota, 4.900 a 4.759 a.C.

Local: Cucuteni, Poduri-Dealul Ghindaru

Complexo de Museus do Condado de Neamţ Piatra Neamţ

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A história que agora surge é que agricultores pioneiros após aproximadamente 6200 a.C. se mudaram para o norte em direção à Velha Europa, vindos da Grécia e da Macedônia e levando trigo, sementes de cevada e sua criação de gado e ovelhas. Eles estabeleceram colônias ao longo do Mar Negro e nas planícies e colinas do rio, que evoluíram em culturas relacionadas, mas um tanto distintas, descobriram os arqueólogos. Os assentamentos mantinham contato próximo através de redes de comércio de cobre e ouro e também compartilhavam padrões de cerâmica.

Foto: Marius Amarie

 

Vasilha antropomórfica, em terracota, 5.550 a 5.000 a.C.

Local:Vădastra, Vădastra

Museum Nacional de História da Romênia, Bucareste

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A concha Spondylus do Mar Egeu era um item especial de comércio. Talvez as conchas, usadas em pingentes e pulseiras, fossem símbolos de seus ancestrais egeus. Outros acadêmicos veem essas aquisições de longa distância como motivadas em parte pela ideologia de que os produtos não eram bens no sentido moderno, mas sim “valores”, símbolos de status e reconhecimento.

Foto: Jurie Foca e Valery Hembaruc

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Colar (35 conchas e 26 contas), 4.500-4.300 a.C.

Material: Conchas (Cardium edule, Mactra carolina)

Local: Suvorovo-Novodanilovka, Giurgiuleşti

Museu Nacional de Arqueologia e História de Moldova, Chişinău

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Notando a difusão dessas conchas naquela época, Michel Louis Seferiades, antropólogo do Centro Nacional para Pesquisa Científica, na França, suspeita “que os objetos eram parte de um círculo de mistérios, um conjunto de crenças e mitos“.

Foto: Marius Amarie

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Vasilha antropomórfica em terracota, 4.600 a 3.900 a.C.

Local: Gumelniţa, Sultana

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

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De qualquer forma, Seferiades escreveu no catálogo da exposição que a predominância das conchas sugere que a cultura possuía ligações com “uma rede de rotas de acesso e elaborados sistemas sociais de trocas – incluindo o escambo, a troca de presentes e a reciprocidade“.

Foto: Marius Amarie

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Machado de cobre,  3.700 a 3.500 a.C.

Local: Cucuteni, Bogdăneşti

Complexo Nacional de Museus de Moldova

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Ao longo de uma ampla área que hoje é a Bulgária e a Romênia, o povo se assentou em vilarejos de casas de um ou múltiplos recintos, comprimidas dentro de fortificações. As casas, algumas com dois pisos, tinham suportes de madeira, paredes rebocadas com barro e chão de terra batida. Por alguma razão, as pessoas gostavam de fazer modelos de barro de residências com múltiplos pisos, exemplos dos quais estão em exposição.

Foto: Marius Amarie

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Modelo arquitetônico em terracota, 4.600 a 3.900 a.C.

Local:  Gumelniţa, Căscioarele

Museu nacional de História da Romênia, Bucareste

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Algumas cidades do povo cucuteni, uma cultura posterior e aparentemente robusta no norte da Velha Europa, cresceram ao longo de mais de 320 hectares, o que os arqueólogos consideram maior do que qualquer assentamento humano da época. Mas as escavações ainda precisam encontrar evidências definitivas de palácios, templos ou grandes edifícios cívicos. Os arqueólogos concluíram que os rituais religiosos pareciam ser praticados nos lares, onde artefatos de culto foram encontrados.

Foto: Marius Amarie

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Anfora em terracota, 3700 a 3.500 a.C.

Local: Cucuteni, Poduri-Dealul Ghindaru

Complexo de Museus do Condado de Neamţ

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A cerâmica caseira decorada em estilos diversos e complexos sugere a prática de refeições ritualísticas nas residências. Travessas enormes em prateleiras eram típicas da “apresentação socializante do alimento” da cultura, Chi disse.

Foto: Marius Amarie

Vasilha antropomórfica em terracota, 5.300 a 5.000 a.C.

Local: Banat, Parţa

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

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À primeira vista, a falta de uma arquitetura de elite levou os acadêmicos a presumir que a Velha Europa possuía pouca ou nenhuma estrutura hierárquica de poder. Isso foi descartado pelos túmulos do cemitério de Varna. Nas duas décadas seguintes a 1972, os arqueólogos encontraram 310 túmulos datados de aproximadamente 4500 a.C.. Anthony disse que isso foi “a melhor prova da existência de uma posição social e política superior claramente distinta“.

Vladimir Slavchev, curador do Museu Regional de História de Varna, disse que “a riqueza e variedade dos presentes nos túmulos de Varna foi uma surpresa“, mesmo para o arqueólogo búlgaro Ivan Ivanov, que liderou as descobertas. “Varna é o cemitério mais antigo já encontrado em que humanos foram enterrados com ornamentos de ouro“, Slavchev disse.

Mais de três mil peças de ouro foram encontradas em 62 túmulos, junto de armas e instrumentos de cobre, ornamentos, colares e pulseiras das apreciadas conchas do Egeu. “A concentração de objetos de prestígio importados em uma distinta minoria de túmulos sugere que posições superiores institucionalizadas existiam”, observam os curadores da exposição em um painel que acompanha o ouro de Varna.

Foto: Marius Amarie

Martelo-arma na forma de cabeça de cavalo, pedra, 4.000 a.C.

Cultura Indo-Européia

Local: Casimcea

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

 

Contudo, é intrigante que a elite não parecesse usufruir de uma vida privada de excessos. “As pessoas que quando vivas vestiam trajes de ouro para eventos públicos“, Anthony escreveu, “voltavam para casas bastante comuns“.

O cobre, não o ouro, pode ter sido a principal fonte do sucesso econômico da Velha Europa, afirma Anthony. Como a fundição do cobre foi desenvolvida por volta de 5400 a.C., as culturas da Velha Europa exploraram os minérios da Bulgária e do que hoje é a Sérvia e aprenderam a técnica de alto aquecimento para extrair cobre metálico puro.

Foto: Marius Amarie

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Figura antropomórfica em  ouro, 4.000 a 3.500 a.C.

Local: Bodrogkeresztúr Culture, Moigrad

Museu Nacional de História da Romênia, Bucareste

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O cobre fundido, usado em machados, lâminas de faca e em pulseiras, se tornou uma exportação valiosa. As peças de cobre da Velha Europa foram encontradas em túmulos ao longo do Rio Volga, 1,9 mil km a leste da Bulgária. Os arqueólogos recuperaram mais de cinco toneladas de peças de locais da Velha Europa.

Uma galeria inteira é dedicada às estatuetas, as mais familiares e provocantes peças dos tesouros da cultura. Elas foram encontradas em praticamente toda cultura da Velha Europa em vários contextos: em túmulos, santuários e outros prováveis “espaços religiosos”.

Uma das mais conhecidas é a figura em argila de um homem sentado, com os ombros curvados e as mãos no rosto em aparente contemplação. Chamada de “Pensador”, essa peça e outra figura feminina comparável foram encontradas em um cemitério da cultura hamangia, na Romênia. Será que eles estavam pensativos ou de luto?

Muitas das figuras representam mulheres em uma abstração estilizada, com corpos truncados ou alongados, de seios fartos e quadris largos. A sexualidade explícita dessas figuras convida interpretações relacionadas à fertilidade terrena e humana.

Um grupo notável de 21 figuras femininas, sentadas em um círculo, foi encontrado no local de um vilarejo anterior aos cucutenis no nordeste da Romênia. “Não é difícil imaginar“, disse Douglass W. Bailey da Universidade Estadual de São Francisco, o povo da Velha Europa “arrumando as figuras sentadas em um ou vários grupos de atividades em miniatura, talvez com figuras menores aos seus pés ou até mesmo no colo das figuras sentadas maiores“.

Outros imaginam as figuras como o “Conselho das Deusas”. Em seus influentes livros de três décadas atrás, Marija Gimbutas, antropóloga da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ofereceu a hipótese de que essa e outras das chamadas figuras de Vênus eram representantes de divindades em cultos a uma Deusa Mãe que predominavam na Europa pré-histórica.

Embora a teoria de Gimbutas ainda tenha seguidores ardorosos, muitos acadêmicos se conformam com explicações mais conservadoras e não-divinas. O poder dos objetos, afirma Bailey, não estava em qualquer referência específica ao divino, mas em “um entendimento compartilhado de identidade de grupo“.

Foto: Marius Amarie

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Braceletes de conchas, 5.000 a 4.600 a.C.

Local: Hamangia, Cernavodă

Museu Nacional de Arqueologia e História da Romênia, Bucareste

 

Como Bailey escreveu no catálogo da exposição, as figuras talvez devessem ser definidas apenas em termos de sua aparência real: retratos representativos em miniatura da forma humana. Assim, “presumo (como é justificado por nosso conhecimento da evolução humana) que a habilidade de fazer, usar e entender objetos simbólicos como tais estatuetas é uma habilidade compartilhada por todos os humanos modernos e, portanto, uma capacidade que conecta você, eu, o homem, a mulher e a criança do Neolítico e os pintores paleolíticos das cavernas“.

Ou então o “Pensador”, por exemplo, é a imagem de você, de mim, dos arqueólogos e historiadores confrontados e perplexos por uma cultura “perdida” no sudeste da Europa que viveu de maneira intensa muito antes de uma palavra ser escrita ou da roda ser girada.

Texto de John Noble Wilford

Amy Traduções com algumas modificações minhas.

Fotos do portal do  The New York Times.

Fonte: Portal Terra





O comercial de O Boticário no Natal: um desrespeito com o consumidor brasileiro

30 11 2009

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Fiquei bastante surpresa ao assistir ao comercial da cadeia O Boticário na televisão brasileira. Com o vídeo acima, belíssimo com certeza, o consumidor brasileiro, normal, que não tem qualquer obrigação de saber uma outra língua, e muito menos exclusivamente a língua inglesa, é submetido a um comercial totalmente em inglês.

Este é um comportamento que além de arrogante, manifesta total descaso com a nossa cultura. O que foi que aconteceu?

Não temos bons compositores? — Nossa música em geral não cativa o público? Por isso recorremos a uma canção protestante, um gospel americano, produzido por Harry Dixon Loes (1895-1965) nos anos 20?

Não temos letristas ou poetas? — As letras de nossas músicas são muito herméticas? Por isso recorremos a um poema numa outra língua, porque hermético por hermético… ficamos com o inglês…

Não temos agências de propaganda capazes? O encantamento natalino só pode ser entendido com um toque de hemisfério norte?  Com um ar de EUA?

Ou será que este anúncio é um ato de segregação social?  Só os inciados são dignos de serem nossos clientes? O dinheiro de quem não entende inglês não interessa?

Esta é mais uma forma de se mostrar a mentalidade do complexo de subdesenvolvido. 

Será que nos EUA um anúncio em alemão iria ser mostrado em cadeia nacional com esperanças de venda?  Ou será que na França as cadeias televisivas mostrariam um comercial em sueco com esperanças de atingirem a grande população do país?

Pode até ser uma medida de economia.  Já que é uma companhia internacional, eles fizeram um anúncio para o mundo inteiro.  E por que, então, não o fizeram em português ( afinal é uma companhia brasileira) e com legendas para cada país em que estão representados?  Será porque esses outros povos não responderiam a um anúncio em língua estrangeira?

De quem foi a infeliz idéia de desmoralizar a nossa cultura a esse ponto?

Neste Natal não comprarei presentes de O Boticário. 

E tem mais, vou falar com todos que conheço para fazerem o mesmo. 




Nhá Carola, poesia Ricardo Gonçalves para uso escolar

24 11 2009

Daniel Penna ( SP, 1951) Fundo%20Quintal, osmFundo de quintal, 2009

Daniel Penna ( Brasil, 1951)

óleo sobre tela/ sobre madeira

18 cm x 24 cm

www.pennart.com.br

 

 

Nhá Carola

                                                            A .D. Olga

                                                          Ricardo Gonçalves

Arrepanhando o vestido

De chita azul, nhá Carola,

Põe feijão na caçarola

Para o almoço do marido.

Dorme um cachorro estendido

À porta da casinhola;

Gritam galinhas de Angola

No terreiro bem varrido.

Enquanto chia a panela,

A moça vai à janela,

A ver se o marido vem.

Mas entra logo zangada

Porque na volta da estrada

Não aparece ninguém.

Em: Poesia Brasileira para a Infância,  Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito,  São Paulo, Saraiva:1968

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ricardo gonçalves

 

Ricardo Mendes Gonçalves  (SP, SP 1893 – SP, SP 1916) pseudônimos: Ricardo Gonçalves, Bruno de Cadiz, D. Ricardito.  Poeta, tradutor, jornalista, diplomado em Direito (1908), político, membro grupo Minarete.  Trabalhou para diversos jornais entre eles o Comércio de São Paulo e Estadinho. Foi também repórter do jornal O Correio Paulistano.

Obras:

 Ipês, 1922





Poesia infantil de Afonso Schmidt: Alegria de menina que gosta de leite de cabra

12 11 2009

# 16 Cheng Minsheng  Pastorinha de CabrasPastorinha de cabras

Cheng Minsheng ( QinDu, China, 1943)

Aquarela, tinta, sobre papel.

25 cm x 25 cm

Coleção particular.

Alegria de menina que gosta de leite de cabra

                                                  Afonso Schmidt

Quando acorda a corruíra do pessegueiro,

eu acordo também;

é a hora dourada em que passa o cabreiro

com suas cabrinhas tão bonitinhas…

São cerca de quarenta mas, contando bem,

talvez não passem de trinta…

A pintada, aquela que vai correndo na frente

e que não tem medo de gente

é a que leva o guizo alegre que tilinta.

As outras vão correndo atrás,

vão pulando,

vão chifrando,

vão berrando

                    bé, bé, bé…

Eu pego no copo e vou para o portão

chamar o cabreiro:

— Seu cabreiro, me tire este copo de leite,

mas quero daquela cabrinha malhada

que leva na boca uma folha dourada.

E o cabreiro chama a cabrinha:

                    bit, bit, bit…

Põe-se a tirar o leite:

puxa que puxa,

espicha que espicha,

escorrupicha…

Mamãe , que me espia sob o pé de brincos-de-princesa,

me fala:

— Menina que gosta de leite de cabra vira cabrita!

(mas isso é bobagem, ninguém acredita).

Depois o cabreiro e suas cabrinhas vão

pelas ruas do bairro, encharcadas de sol.

Em: Poesia Brasileira para a Infância,  Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito,  São Paulo, Saraiva:1968.

 afonso schmidt

Afonso Schmidt (Cubatão, SP 1890 – SP, SP 1964) poeta, romancista, contista, biógrafo, jornalista.  Como jornalista trabalhou para  A Voz do Povo, em 1920, no Rio de Janeiro.  Para Folha da Noite,  Diário de Santos e A Tribuna, em Santos. Em São Paulo trabalhou na Folha da Noite e O Estado de S.Paulo.  Neste último trabalhou de 1924 até 1963.  Recebeu o prêmio da  revista O Cruzeiro em 1950 pelo romance Menino Felipe.   A União Brasileira de Escritores lhe premiou com o Juca Pato – Intelectual do Ano em 1963.  Foi sócio fundador do Sindicato dos Jornalistas do Estado de S. Paulo, membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Obras: 

A Árvore das lágrimas – 1942  

A Datilógrafa    

A Marcha -1941  

A Nova conflagração -1931  

A Primeira viagem – 1947  

A Revolução brasileira – 1930  

A Sombra de Júlio Frank – 1936  

A Vida de Paulo Eiró – 1940  

Ao relento -1922  

As Levianas    

Aventuras de Indalécio    

Bom tempo -1956  

Brutalidade  – 1922  

Carantonhas – 1952  

Carne para canhão – 1934  

Colônia Cecília – 1942  

Curiango – 1935  

Evangelho dos livres -1919  

Garoa – 1931  

Janelas abertas – 1911  

Lembrança    

Lírios roxos – 1904  

Lua nova    

Lusitânia – 1918  

Menino Felipe -1950  

Miniaturas – 1905  

Mirita e o ladrão – 1960  

Mistérios de São Paulo – 1955  

Mocidade – 1921  

O Assalto – 1945  

O Canudo – 1963  

O Desconhecido    

O Dragão e as virgens – 1926  

O Enigma de João Ramalho – 1963  

O Passarinho verde    

O Que era proibido dizer – 1932  

O Reino do céu – 1942  

O Tesouro de Cananéia – 1942  

Os Boêmios    

Os Impunes – 1923  

Os Impunes – 1924  

Os Melhores contos de Afonso Schmidt – 1946  

Pirapora -1934  

Poesia – 1945  

Poesias -1933  

Retrato de Valentina – 1948   

Saltimbancos – 1950  

São Paulo dos meus amores -1954  

Somos todos irmãos – 1949  

Tempos das águas – 1962  

Zamir    

Zanzalás – 1938





Valsa da Vassoura, Dilan Camargo, poesia infantil

31 10 2009

bruxa com gato

Valsa da vassoura

Dilan Camargo

Senhora Dona Vassoura

Elegante Dama Loura

ao vê-la assim tão linda

minha tristeza se finda.

 

Vamos dançar uma valsa?

Pra poder acompanhá-la

este jovem se descalça

com medo de pisá-la.

 

Deixe enlaçar, dançarina

a sua cintura fina.

Deixe tomar, bem sensíveis

os seus braços invisíveis.

 

Ao soar a melodia

surpresa todos verão:

rodopia, rodopia

um belo par no salão.

 

Em: Poesia fora da estante, coord. Vera Aguiar, Simone Assumpção e Sissa Jacoby, Porto Alegre, Editora Projeto:2007

Dilan Deibal D’ Ornellas Camargo — ( Itaqui, RS, 1948) advogado, professor, escritor, poeta, teatrólogo e letrista.

Obra:

Em mãos, poesia, 1976

Na mesma Voz,  poesia, 1981

Sopro nos Poros,  poesia, 1985

O Embrulho do Getúlio, poesia infantil, 1989

Rebanho de Pedras, poesia, 1990

O Vampiro Argemiro, poesia

Eu pessoa, pessoa eu, poesia, 1997

Poesia e Cidade, poesia, 1997

Bamboletras, poesia, 1998

O tempo começa no coração, poesia, 1999

A Fala de Adão, poesia, 2000

Antologia do Sul – Poetas Contemporâneos do RS, poesia, 2001

A Galera Tagarela, poesia, 2003
 
Coletânea da Poesia Gaúcha do RS, poesia, 2005
 
Balaio de Idéias, poesia,  2007
 
BrinCRiar, poesia infantil, 2007
 
A Casa da Suplicação, teatro
 
A Oitava Praga, teatro