Pastorinha de cabras
Cheng Minsheng ( QinDu, China, 1943)
Aquarela, tinta, sobre papel.
25 cm x 25 cm
Coleção particular.
Alegria de menina que gosta de leite de cabra
Afonso Schmidt
Quando acorda a corruíra do pessegueiro,
eu acordo também;
é a hora dourada em que passa o cabreiro
com suas cabrinhas tão bonitinhas…
São cerca de quarenta mas, contando bem,
talvez não passem de trinta…
A pintada, aquela que vai correndo na frente
e que não tem medo de gente
é a que leva o guizo alegre que tilinta.
As outras vão correndo atrás,
vão pulando,
vão chifrando,
vão berrando
bé, bé, bé…
Eu pego no copo e vou para o portão
chamar o cabreiro:
— Seu cabreiro, me tire este copo de leite,
mas quero daquela cabrinha malhada
que leva na boca uma folha dourada.
E o cabreiro chama a cabrinha:
bit, bit, bit…
Põe-se a tirar o leite:
puxa que puxa,
espicha que espicha,
escorrupicha…
Mamãe , que me espia sob o pé de brincos-de-princesa,
me fala:
— Menina que gosta de leite de cabra vira cabrita!
(mas isso é bobagem, ninguém acredita).
Depois o cabreiro e suas cabrinhas vão
pelas ruas do bairro, encharcadas de sol.
Em: Poesia Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito, São Paulo, Saraiva:1968.
Afonso Schmidt (Cubatão, SP 1890 – SP, SP 1964) poeta, romancista, contista, biógrafo, jornalista. Como jornalista trabalhou para A Voz do Povo, em 1920, no Rio de Janeiro. Para Folha da Noite, Diário de Santos e A Tribuna, em Santos. Em São Paulo trabalhou na Folha da Noite e O Estado de S.Paulo. Neste último trabalhou de 1924 até 1963. Recebeu o prêmio da revista O Cruzeiro em 1950 pelo romance Menino Felipe. A União Brasileira de Escritores lhe premiou com o Juca Pato – Intelectual do Ano em 1963. Foi sócio fundador do Sindicato dos Jornalistas do Estado de S. Paulo, membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Obras:
A Árvore das lágrimas – 1942
A Datilógrafa
A Marcha -1941
A Nova conflagração -1931
A Primeira viagem – 1947
A Revolução brasileira – 1930
A Sombra de Júlio Frank – 1936
A Vida de Paulo Eiró – 1940
Ao relento -1922
As Levianas
Aventuras de Indalécio
Bom tempo -1956
Brutalidade – 1922
Carantonhas – 1952
Carne para canhão – 1934
Colônia Cecília – 1942
Curiango – 1935
Evangelho dos livres -1919
Garoa – 1931
Janelas abertas – 1911
Lembrança
Lírios roxos – 1904
Lua nova
Lusitânia – 1918
Menino Felipe -1950
Miniaturas – 1905
Mirita e o ladrão – 1960
Mistérios de São Paulo – 1955
Mocidade – 1921
O Assalto – 1945
O Canudo – 1963
O Desconhecido
O Dragão e as virgens – 1926
O Enigma de João Ramalho – 1963
O Passarinho verde
O Que era proibido dizer – 1932
O Reino do céu – 1942
O Tesouro de Cananéia – 1942
Os Boêmios
Os Impunes – 1923
Os Impunes – 1924
Os Melhores contos de Afonso Schmidt – 1946
Pirapora -1934
Poesia – 1945
Poesias -1933
Retrato de Valentina – 1948
Saltimbancos – 1950
São Paulo dos meus amores -1954
Somos todos irmãos – 1949
Tempos das águas – 1962
Zamir
Zanzalás – 1938