“O caçador de borboletas” poema de Álvaro Magalhães

2 08 2016

 

 

Armen VahramyanCaçadora de borboletas

Armen Vahramyan (Armênia, 1968)

www.vahramyan.com

 

 

 

O Caçador de borboletas

 

Álvaro Magalhães

 

 

Sorridente, ao nascer do dia,

ele sai de casa com sua rede.

Vai caçar borboletas, mas fica preso

à frescura do rio que lhe mata a sede

ou ao encanto das flores do prado.

Vê tanta beleza à sua volta

que esquece a rede em qualquer lado

e antes de caçar já foi caçado.

 

À noite regressa à casa cansado

e estranhamente feliz

porque sua caixa está vazia,

mas diz sempre, suspirando:

Que grande caçada, que belo dia!

 

Antes de entrar limpa as botas

num tapete de compridos pelos

e sacode, distraído,

as muitas borboletas de mil cores

que lhe pousaram nos ombros, nos cabelos.

 

 

Em:O Reino Perdido,  Alvaro Magalhães, Porto, ASA: 2000

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Os caquis, poema de Sônia Carneiro Leão

9 02 2013

Jean Xanthakos, Caquis e uvas, osm, 9x12

Caquis e uvas, s/d

Jean Xanthakos (Brasil, 1936 (?))

óleo sobre madeira

Os caquis

Ah! Os caquis,

esses tomates inflados.

Os caquis,

esses pneus assanhados,

risonhos, safados,

que nos convidam a morder

sua carne aguada, açucarada.

Os caquis,

vítimas da nossa voracidade.

Os caquis,

que se abrem à primeira dentada,

docemente, docilmente,

feito fêmea dominada.

Ah! Os caquis já vão-se embora.

Despeço-me deles agora.

Mas não faz mal,

estou satisfeita,

esperando a próxima colheita.

Em: Respostas ao criador das frutas, Sônia Carneiro Leão, Recife, Editora da autora: 2010

Sônia Carneiro Leão nasceu no Rio de Janeiro, mas reside em Recife.  Psicanalista, escritora, poetisa, contista  e tradutora.





O trenzinho, poesia infantil de João de Deus Souto Filho

8 03 2012

Trenzinho, ilustração de Dean Bryant.

O trenzinho  

João de Deus Souto Filho

O trenzinho piui
Apita aqui e ali
Levando gente
Levando carga
Levando graça
Pro meio da praça


O trenzinho piui
Apita aqui
E apita ali
Piui, piui,
Piuipiriripipi!!!

Em: Jornal de Poesia

João de Deus Souto Filho, Geólogo e educador. Nasceu em 1957 na cidade de Carolina, MA.  É formado em Geologia pela Universidade Federal da Bahia, pós-graduado em Geo-Engenharia de Reservatórios de Petróleo pela UNICAMP (1994), Formado em Letras (Licenciatura) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1999). Desenvolve trabalho sobre a importância da formação de uma consciência de preservação dos recursos hídricos.

Obras infantis:

O quintal do Seu Nicolau, 1992

O aprendiz de jardineiro, teatro, 1992

O passeio da Cinderela, teatro, 1992

Brincadeira de palavras, inédito

Na ponta da pena, inédito.





O arco-íris, poesia infantil de Christina Rossetti, trad. & adapt. Helena Pinto Vieira

15 09 2011

Ilustração, autor desconhecido.

O arco-íris

Christina Rossetti

Navegam botes nos rios,

navios andam no mar,

mas que é mais belo que as nuvens

que se transformam no ar?

Vejo pontes sobre os rios,

belas esteiras de aço;

mas que ponte mais bonita

você conhece, no espaço?

Sete cores reunidas

formando bonito véu,

um arco misterioso

que serve de ponte ao céu.

É uma estrada colorida

que aparece, de repente,

levando, da terra ao céu,

tudo que nossa alma sente!…

Tradução e adaptação de Helena Pinto Vieira

Em:  O mundo da crianças, poemas e rimas, Rio de Janeiro, Editora Delta: 1975, volume 1, p. 156





Lágrima de preta — poesia juvenil de Antônio Gedeão

16 08 2011

Negra com paisagem ao fundo, 1935

Genesco Murta ( Brasil, MG 1885 —  MG, 1967)

óleo sobre tela sobre eucatex, 58 x 48 cm

Coleção Particular

Lágrima de preta

                        Antônio Gedeão

Encontrei uma preta

que estava a chorar,

pedi-lhe uma lágrima

para a analisar.

Recolhi a lágrima

com todo cuidado

num tubo de ensaio

bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,

do outro e de frente:

tinha um ar de gota

muito transparente.

Mandei vir os ácidos,

as bases e os sais,

as drogas usadas

em casos que tais.

Ensaiei a frio,

experimentei ao lume,

de todas as vezes

deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,

nem vestígios de ódio.

Água (quase tudo)

e cloreto de sódio.

Rômulo Vasco da Gama de Carvalho , rambém conhecido pelos pseudônimos : Antônio Gedeão ou por Rômulo de Carvalho. (Portugal,  1906-1997)  Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa.  Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições.  Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo

Obras poéticas:

Movimento perpétuo, 1956

Teatro do Mundo, 1958

Máquina de Fogo, 1961

Poema para Galileu 1964

Linhas de Força, 1967

Poemas Póstumos, 1983

Novos Poemas Póstumos, 1990





O ninho do beija-flor, poesia infantil de Walter Nieble de Freitas

20 10 2010

O ninho do beija-flor

                            Walter Nieble de Freitas

No verde mar das ramagens

Da trepadeira florida,

Certo dia eu descobri

Preciosa jóia escondida.

Era um ninho e três ovinhos

De mimoso beija-flor

Linda conchinha com pérolas

Feita com arte e primor.

Na modéstia desse lar,

Construído com afeto,

 Eu senti como era grande

O pequenino arquiteto!

Coisas assim,tão singelas,

Têm a magia, o condão

De mostrar toda a grandeza

Da Divina Criação.

Em: Barquinhos de papel: poesias infantis, de Walter Nieble de Freitas, São Paulo, Editora Difusora Cultural: 1961.

Walter Nieble de Freitas ( Itapetininga, SP)  Poeta e educador, foi diretor do Grupo Escolar da cidade de São Paulo.

Obras:

Barquinhos de papel, poesia, 1963

Mil quadrinhas escolares, poesia, 1966

Desfile de modas na Bicholândia, 1988

Simplicidade, poesia, s/d

Chico Vagabundo e outras histórias, 1990





A volta do mercado, poema de Carlos Chiacchio

3 01 2010

mercado flutuante2

A volta do mercado

                                  Carlos Chiacchio

Desce a canoa de fio

Pela corrente do rio.

Vem arisca, vem frecheira,

Carregada até a beira.

Fruta, ou peixe, da vazante

Ouve-se o búzio distante.

E o povo corre ao mercado.

Na praia, o remo cravado,

Começa a voz das barganhas.

E, logo, em pilha as piranhas.

Vivos, saltando, ao punhados,

Curimatans e dourados.

Matrinchans, madins, a rodo.

Pocomons, frescos, do lodo.

Numa algazarra de festa

Joga-se n’água o que resta.

Volta a canoa de fio

Contra a corrente do rio.

Volta leve, vai suave,

Peneirando como uma ave.

É uma diaba a canoa…

Pulando de popa a proa.

Em: Poesia Brasileira para a Infância,  Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito,  São Paulo, Saraiva:1968, pp 8-9

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 Carlos Chiacchio

Carlos Chiacchio ( Januária, MG, 4 de julho de 1884 – Salvador, BA, 1947)  jornalista, orador, poeta, cronista, crítico literário, membro do IGH-BA, Academia de Letras da Bahia. Nasceu na antiga cidade de Januária, situada entre a Serra da Tapiraçaba e o Rio São Francisco, em Minas Gerais. Filho de Jacome Chiacchio e de D. Patrícia de M. Chiacchio. Estudou como interno  no colégio Spencer em Salvador, quando mostrou ter vocação literária.  Em Salvador, cidade onde mais tarde também se formou em medicina, fez parte da Nova Cruzada, associação cultural fundada em 1901 e extinta em 1916. Foi proprietário de farmácia, funcionário da Estrada de Ferro, e médico de bordo. Por fim, fixou-se mesmo em Salvador, onde ficou até o fim de sua vida. Foi o chefe e animador do grupo modernista na Bahia, em 1928, em torno da revista Arco & Flecha (1928-1929). Foi um dos mais típicos e valorosos intelectuais de província, e muito trabalhou para a difusão da cultura na Bahia, algumas vezes até sacrificando seus interesses pessoais. Sua produção extensa, dela salientando-se, contudo, um livro de poemas Infância e Biocrítica.

 

Obras: 

A Dor, 1910  

A Margem de uma polêmica, 1914  

Biocrítica, 1941  

Canto de marcha, 1942  

Cronologia de Rui, 1949  

Euclides da Cunha, 1940  

Infância, poesia, 1938  

Modernistas e Ultramodernistas, 1951  

Os grifos, 1923  

Paginário de Roberto Correia, 1945  

Presciliano Silva, 1927  

Primavera, 1910, 1941

 





Minha árvore, poema de Natal de Diógenes Pereira de Araújo

17 12 2009

 

Cartão de Natal da Polônia, década de 1950.
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MINHA ÁRVORE

 

                                                                          Diógenes Pereira de Araújo

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Vou armar uma árvore, escondida

no coração, recôndito de mim.

Será planta odorífera: alecrim,

por faces de pessoas preenchida

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Tais faces vou colhê-las no jardim

dos amigos de sempre cuja vida

fazem a minha vida colorida

e perfumada: há rosas e jasmins

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Amigos do passado eu ponho ao centro

amigos do presente mais à mão

para incluir a todos na oração:

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“Senhor, – que trago aqui também por dentro –,

meu coração, com carga especial

transplanta para o teu neste Natal.”

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Diógenes Pereira de Araújo ( SP, 1935).  Advogdo, escritor e poeta.  Blog:  http://diogenespereiradearaujo.blogspot.com

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Nhá Carola, poesia Ricardo Gonçalves para uso escolar

24 11 2009

Daniel Penna ( SP, 1951) Fundo%20Quintal, osmFundo de quintal, 2009

Daniel Penna ( Brasil, 1951)

óleo sobre tela/ sobre madeira

18 cm x 24 cm

www.pennart.com.br

 

 

Nhá Carola

                                                            A .D. Olga

                                                          Ricardo Gonçalves

Arrepanhando o vestido

De chita azul, nhá Carola,

Põe feijão na caçarola

Para o almoço do marido.

Dorme um cachorro estendido

À porta da casinhola;

Gritam galinhas de Angola

No terreiro bem varrido.

Enquanto chia a panela,

A moça vai à janela,

A ver se o marido vem.

Mas entra logo zangada

Porque na volta da estrada

Não aparece ninguém.

Em: Poesia Brasileira para a Infância,  Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito,  São Paulo, Saraiva:1968

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ricardo gonçalves

 

Ricardo Mendes Gonçalves  (SP, SP 1893 – SP, SP 1916) pseudônimos: Ricardo Gonçalves, Bruno de Cadiz, D. Ricardito.  Poeta, tradutor, jornalista, diplomado em Direito (1908), político, membro grupo Minarete.  Trabalhou para diversos jornais entre eles o Comércio de São Paulo e Estadinho. Foi também repórter do jornal O Correio Paulistano.

Obras:

 Ipês, 1922





Poesia infantil de Afonso Schmidt: Alegria de menina que gosta de leite de cabra

12 11 2009

# 16 Cheng Minsheng  Pastorinha de CabrasPastorinha de cabras

Cheng Minsheng ( QinDu, China, 1943)

Aquarela, tinta, sobre papel.

25 cm x 25 cm

Coleção particular.

Alegria de menina que gosta de leite de cabra

                                                  Afonso Schmidt

Quando acorda a corruíra do pessegueiro,

eu acordo também;

é a hora dourada em que passa o cabreiro

com suas cabrinhas tão bonitinhas…

São cerca de quarenta mas, contando bem,

talvez não passem de trinta…

A pintada, aquela que vai correndo na frente

e que não tem medo de gente

é a que leva o guizo alegre que tilinta.

As outras vão correndo atrás,

vão pulando,

vão chifrando,

vão berrando

                    bé, bé, bé…

Eu pego no copo e vou para o portão

chamar o cabreiro:

— Seu cabreiro, me tire este copo de leite,

mas quero daquela cabrinha malhada

que leva na boca uma folha dourada.

E o cabreiro chama a cabrinha:

                    bit, bit, bit…

Põe-se a tirar o leite:

puxa que puxa,

espicha que espicha,

escorrupicha…

Mamãe , que me espia sob o pé de brincos-de-princesa,

me fala:

— Menina que gosta de leite de cabra vira cabrita!

(mas isso é bobagem, ninguém acredita).

Depois o cabreiro e suas cabrinhas vão

pelas ruas do bairro, encharcadas de sol.

Em: Poesia Brasileira para a Infância,  Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito,  São Paulo, Saraiva:1968.

 afonso schmidt

Afonso Schmidt (Cubatão, SP 1890 – SP, SP 1964) poeta, romancista, contista, biógrafo, jornalista.  Como jornalista trabalhou para  A Voz do Povo, em 1920, no Rio de Janeiro.  Para Folha da Noite,  Diário de Santos e A Tribuna, em Santos. Em São Paulo trabalhou na Folha da Noite e O Estado de S.Paulo.  Neste último trabalhou de 1924 até 1963.  Recebeu o prêmio da  revista O Cruzeiro em 1950 pelo romance Menino Felipe.   A União Brasileira de Escritores lhe premiou com o Juca Pato – Intelectual do Ano em 1963.  Foi sócio fundador do Sindicato dos Jornalistas do Estado de S. Paulo, membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Obras: 

A Árvore das lágrimas – 1942  

A Datilógrafa    

A Marcha -1941  

A Nova conflagração -1931  

A Primeira viagem – 1947  

A Revolução brasileira – 1930  

A Sombra de Júlio Frank – 1936  

A Vida de Paulo Eiró – 1940  

Ao relento -1922  

As Levianas    

Aventuras de Indalécio    

Bom tempo -1956  

Brutalidade  – 1922  

Carantonhas – 1952  

Carne para canhão – 1934  

Colônia Cecília – 1942  

Curiango – 1935  

Evangelho dos livres -1919  

Garoa – 1931  

Janelas abertas – 1911  

Lembrança    

Lírios roxos – 1904  

Lua nova    

Lusitânia – 1918  

Menino Felipe -1950  

Miniaturas – 1905  

Mirita e o ladrão – 1960  

Mistérios de São Paulo – 1955  

Mocidade – 1921  

O Assalto – 1945  

O Canudo – 1963  

O Desconhecido    

O Dragão e as virgens – 1926  

O Enigma de João Ramalho – 1963  

O Passarinho verde    

O Que era proibido dizer – 1932  

O Reino do céu – 1942  

O Tesouro de Cananéia – 1942  

Os Boêmios    

Os Impunes – 1923  

Os Impunes – 1924  

Os Melhores contos de Afonso Schmidt – 1946  

Pirapora -1934  

Poesia – 1945  

Poesias -1933  

Retrato de Valentina – 1948   

Saltimbancos – 1950  

São Paulo dos meus amores -1954  

Somos todos irmãos – 1949  

Tempos das águas – 1962  

Zamir    

Zanzalás – 1938