Resenha: “O pescoço da girafa” de Judith Schalansky

27 04 2016

 

 

GrandvillefullAs metamorfoses do dia, 1829, ilustração de Grandville.

 

 

No livro “Jokes and their relation to the unconscious”, Sigmund Freud explana sua teoria do humor como expressão do sublime. Sublime neste contexto tem o sentido de assombroso, supramundano, semelhante ao seu sentido na literatura gótica da virada do século XVIII para o XIX.  Os surrealistas, quase cem anos atrás, usaram o conhecimento das teorias de Freud para justificar o que se convencionou chamar humor negro: a porta de entrada para o inconsciente. Um estudo sobre o surrealismo por Anna Balakian mostra que o humor negro era um canal para retratar uma realidade ou uma crise incompreensível.  E é justamente assim, através de um humor de justaposições irracionais e de gosto duvidoso, que somos apresentados à realidade de Inge Lohmark, professora de biologia no Colégio Charles Darwin, na antiga Alemanha Oriental.

Inicialmente nos dobramos de rir ao perceber as comparações que Frau Lohmark faz entre o mundo animal e o comportamento de seus alunos.  Baseando-se na teoria da evolução de Darwin, Inge Lohmark cativa a atenção do leitor, por explicar de modo claro, como o comportamento das crianças na sala de aula espelha aquele dos animais na eterna busca pela sobrevivência do mais forte.  Aos poucos, no entanto, começamos a perceber o desequilíbrio emocional da mestra.  A mudança é sutil.  Só quando o leitor já se vê cansado das teorias de Lohmark sobre o mundo, ele percebe, de repente, que entrou no fluxo de pensamento dela, como se testemunhasse a escrita automática que André Breton e seus cúmplices do movimento surrealista advogavam.

 

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O humor era entendido pelos surrealistas como uma crítica implícita aos mecanismos mentais convencionais. O conhecimento da obra de Freud lhes deu o ponto de partida para explorar o humor negro, ignorando a lógica como uma maneira de pensar, a fim de recuperar a verdade encontrada na percepção sensorial.  Este parece ser mais ou menos o caminho escolhido por Judith Schalansky para levar avante esta obra da qual qualquer escritor que tivesse assinado o Manifesto Surrealista de 1924 se sentiria justificado. Humor, ironia, chiste são os recursos usados para que o véu que esconde a verdadeira natureza da professora de biologia seja levantado. E o que se encontra, pode não ser tão bonito assim.

Inge Lohmark é uma professora idosa, amarga, infeliz, que passa a narrativa ruminando sobre o sistema escolar na antiga Alemanha Oriental, lugar onde havia nascido, crescido e estudado.  Suas ruminações são por vezes hilárias.  Mas as mudanças vindas com a unificação do país se mostram difíceis de abraçar no âmbito profissional, político e pessoal.  Sua interpretação baseada na sobrevivência das espécies que explica quase tudo à sua volta é inicialmente  interessante, por ser inesperada,  mas logo se torna cansativa.  À medida que vislumbramos a solidão e amargura da professora, à medida que ela parece mais humana, a narrativa perde a força, ainda que se possa ver com maior claridade a inépcia de Frau Lohmark em se adaptar às mudanças que a vida requer.  E o argumento, a crítica mordaz desencadeada pelas observações da mestra, perde força e claridade com o desenrolar da trama.

 

Judith Schalansky1Judith Schalansky

 

Tenho a impressão de essa obra, essa crítica ao sistema escolar e ao ensino na Alemanha Oriental, pode ser repassada para outras escolas e sistemas de ensino em países diversos, mas não consigo deixar de sentir que esta narrativa é mais significativa para os alemães e talvez para alguns europeus.  Há muito que se perde na mudança de uma cultura para a outra. É uma obra que qualquer escritor surrealista estaria feliz em ter assinado.

É um livro difícil de recomendar. Pode-se entender seu objetivo.  Mas duvido da qualidade de sua mensagem para um público estrangeiro.





Estudando a população dos pássaros por seus cantos

9 12 2009

 

Ilustração Milo Winter, década de 1930.

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Como qualquer observador de pássaros poderia dizer, na floresta, ouvir o canto das aves é mais fácil do que avistá-las. Agora, dois cientistas desenvolveram um sistema para estimar a densidade das populações de pássaros ao gravar suas canções com um conjunto de microfones.

O método oferece uma alternativa à forma mais comum de estimar as densidades populacionais de pássaros: o ouvido humano. Ouvintes humanos são empregados com frequência em estudos sobre pássaros, mas o trabalho deles fica bem aquém da perfeição, diz Murray Efford, da Universidade de Otago, em Dunedin, Nova Zelândia. Um problema especial, segundo ele, é que “não somos muito bons em estimar a que distância está a origem de um som“.

Efford e Deanna Dawson, do Serviço de Levantamento Geológico dos Estados Unidos (USGS), em Laurel, Maryland, desenvolveram um método que envolve o uso de múltiplos microfones espalhados pela mata. Ao gravar os pássaros em diversos lugares simultaneamente, os pesquisadores podem estimar a “impressão acústica” deixada por cada pássaro – ou seja, a área em torno dele na qual seu canto pode ser ouvido.

A dimensão dessa impressão acústica depende de parâmetros como o barulho dos pássaros e as propriedades acústicas da floresta. Assim, Efford e Dawson precisam tentar diferentes valores para esses parâmetros até que encontrem uma boa comparação com os dados registrados pelos microfones. Ao final do processo, os pesquisadores se tornam capazes de estimar a densidade da presença de pássaros sem que seja necessário determinar a localização dos pássaros ou conhecer a extensão da floresta.

Os cientistas experimentaram esse método com um pássaro conhecido como mariquita-de-coroa-ruiva (Seiurus aurocapilla), que vive no Refúgio de Pesquisa de Patuxent, perto de Laurel, Maryland. Apenas as mariquitas macho cantam, e a técnica permitiu estimar sua densidade em cerca de um pássaro macho a cada cinco hectares.

As constatações parecem confirmar estimativas computadas com base na captura de filhotes de pássaros por meio de redes. Além disso, os pesquisadores descobriram que a nova técnica oferecia mais precisão do que o método de captura com redes. O trabalho deles foi publicado na versão online da revista Journal of Applied Ecology.

Efford e Dawson afirmam que o método poderia ser usado para estimar as densidades de outros animais difíceis de localizar visualmente, entre os quais baleias e golfinhos. Len Thomas, um especialista em estatísticas ecológicas da Universidade St. Andrews, na Escócia, por exemplo, já está empregando método semelhante como parte de um esforço para monitorar as baleias minke (Balaenoptera acutorostrata) por meio dos sons que elas produzem.

Ilustração Maurício de Sousa.

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O número de baleias dessa espécie avistadas no Pacífico é muito baixo, mas os machos da espécie produzem um som grave e muito característico que poderia ser capturado por hidrofones e possibilitaria determinar sua impressão acústica, como acontece com os pássaros.

No entanto, Thomas afirma que o método desenvolvido por Efford e Dawson só permite contemplar parte do quadro para as populações de baleias minke. O método estima apenas a densidade de sons, não de animais, e no caso das baleias a incerteza quanto à porcentagem de machos que emitem sons e quanto à frequência com que o fazem torna difícil extrapolar desses registros uma estimativa para a densidade populacional.

Efford acrescenta que a nova técnica funcionará melhor no caso de animais que produzem sons repetitivos e em volume constante. Isso significa que ela deve ser especialmente útil para estimar as densidades populacionais de outras espécies de pássaros. “Muitos pássaros repetem o mesmo canto vezes sem conta, de forma persistente e monótona“, ele disse.

A monotonia parece ter incomodado Efford, que teve de ouvir o cântico das mariquitas repetidamente para o estudo. “É um chamado especialmente insistente e irritante“, ele admite.

TEXTO: Emma Marris, para revista Nature.

Tradução: Paulo Migliacci ME

Fonte: Portal Terra





Um novo camaleão na Tanzânia

24 11 2009

Foto: BBC Brasil

 

Cientistas descobriram uma nova espécie de camaleão na Tanzânia.   Este é um camaleão diferente de dois outros camaleões semelhantes encontrados na mesma região.  Trata-se de uma espécie até então desconhecida. A confirmação veio após análise genética dos animais.  O novo animal recebeu o nome de Kynyongia magomberae, em homenagem à floresta de Magombera, onde foi encontrado.

 Espécies de camaleões tendem a se concentrar em áreas pequenas e, infelizmente, o habitat do qual este novo animal depende – a floresta de Magombera – está ameaçado, afirmou Andrew Marshall, do Departamento de Meio-Ambiente da Universidade de York e chefe da equipe de pesquisadores em campo. Esperamos que esta descoberta estimule os esforços para dar mais proteção a esta região e a outras próximas.

 A floresta Magombera da Tanzânia abriga ainda os macacos piliocolobus, que estão ameaçados de extinção. Por causa da tática de camuflagem do camaleão, muitas espécies passam despercebidas pelos cientistas. Ainda assim, cerca de duas novas espécies do réptil são descobertas a cada ano no mundo.

 É maravilhoso encontrar uma nova espécie desta maneira,  disse Marshall ao jornal britânico The Daily Telegraph. Trabalho na Tanzânia há 11 anos e identifiquei algumas novas espécies de árvores, mas encontrar um ser vertebrado é muito especial.

 

FONTE: Terra





Novos moluscos em mares espanhóis

24 11 2009

Foto: Agência EFE

Boas novas do arquipelágo das Canárias: pesquisadores espanhóis e cubanos,  trabalhando na costa espanhola, próximo à cidade de Santa Cruz de Tenerife, na ilha de Tenerife,  novas espécies do moluscos.

Foto: Agência EFE.

Vale lembrar que os moluscos são animais invertebrados na sua grande maioria marinhos.  Mas há também alguns de água doce ou terrestres.  Entre os moluscos mais conhecidos estão os caramujos, as ostras e as lulas. 

Foto: Agência EFE.

Das espécies  encontradas nos mares espanhóis a grande novidade são que todas se caracterizam por emitir flashes de luz quando são ameaçadas.





O bebê chora em português, ou francês ou inglês…

6 11 2009

Bebe acordado, maud Tousey FangelIlustração, Maud Tousey Fangel (EUA, 1881-1968).

Desde seus primeiros dias de vida, os bebês choram em francês, inglês ou português, já que ao emitirem seus primeiros sons levam a marca do idioma de seus pais, afirma um estudo publicado nesta quinta-feira no site da publicação “Current Biology“.

A descoberta sugere que os bebês captam elementos do que será seu idioma materno ainda na barriga da mãe, muito antes de suas primeiras palavras.

A descoberta mais espetacular do estudo é que os recém-nascidos humanos não são só capazes de reproduzir diferentes tons quando choram, mas preferem os tipos de sons típicos do idioma que ouviram quando feto, no último trimestre de gestação“, diz Kathleen Wermke, da universidade de Wuerzburg (Alemanha) e uma das autoras do estudo.

Segundo Wermke, ao contrário do que indicam as interpretações mais conservadoras, os resultados do estudo mostram a importância do choro para o futuro desenvolvimento da linguagem.

Diferenças

A equipe de Wermke gravou e analisou o choro de 60 bebês saudáveis, 30 deles de famílias francesas e os outros 30 de famílias alemãs, entre três e cinco dias após o nascimento. A análise revelou claras diferenças com base no idioma materno.

No experimento, os bebês franceses tenderam a chorar em um tom ascendente, enquanto os alemães faziam em um tom descendente, diferenças características entre os dois idiomas, como explicou Wermke.

Mas embora se soubesse que a exposição antes do parto ao idioma materno influía na percepção dos recém-nascidos, pensava-se que seus efeitos sobre a emissão de sons davam-se de forma mais tardia.

Segundo o estudo, os recém-nascidos preferem a voz da mãe a todas as demais, percebem o conteúdo emocional das mensagens enviadas mediante a entonação, e sentem uma forte motivação de imitá-la para atraí-la e criar laços afetivos.

Fonte: Folha on line





GPS Biológico? Nas borboletas?

27 09 2009

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Todos os outonos 100 milhões de borboletas monarca migram para o sul dos Estados Unidos.  Elas voam 4.000 quilômetros para se refugiarem no México do inverno rigoroso mais ao  norte.   Essas borboletas navegam na sua rota migratória de acordo com a posição do sol, e calculam o caminho de acordo com o movimento do sol através do céu.

Até recentemente acreditava-se que estas borboletas usassem algum tipo de relógio de 24 horas, que tivessem em seus cérebros.  Mas uma pesquisa publicada no jornal Science, mostra que é nas antenas das borboletas que há um forte aparato para  manter o ritmo circadiano correto.  monarch-butterfly1

 

As borboletas monarcas navegam seus vôos usando um “relógio solar” molecular.  E mais interessante ainda, os estudos sugerem que esses “relógios” exercem uma função diretamente ligada ao cérebro desses insetos, regulando o sistema central do cérebro.

MUITO MAIS INFORMAÇÔES, NO ARTIGO COMPLETO :  BBC





Entre os pássaros ELAS preferem os mais inteligentes!!!

22 09 2009

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Pássaros-cetim que se mostram mais inteligentes atraem um número maior de parceiras, segundo um estudo da Universidade de Maryland publicado pela revista científica Animal Behaviour.

Os pesquisadores aplicaram uma série de testes cognitivos a machos da espécie para avaliar sua capacidade de resolução de problemas. Os pássaros que tiveram melhor desempenho também foram os que procriaram com mais fêmeas, em comparação com os pássaros menos inteligentes.

Este é o primeiro estudo a mostrar que os machos que se saem melhor na resolução de problemas também têm maior número de parceiras. Os cientistas estudaram os pássaros-cetim (Ptilonorhynchus violaceus) que vivem na floresta ao sul de Brisbane, na Austrália.

Os pássaros-cetim são conhecidos por seu complexo sistema de cortejar as fêmeas e a construção de elaborados ninhos, na forma de caramanchões. Os machos passam horas construindo o ninho, que decoram por dentro com objetos coloridos e até flores. As fêmeas visitam os ninhos antes de escolher os machos.

Os pássaros-cetim são o tipo de pássaro que faz você pensar que a expressão ”cérebro de passarinho” deveria ser usada como um elogio“, disse Jason Keagy, que liderou o estudo. Os cientistas desconfiaram que, por conta do complexo sistema para cortejar as fêmeas, os pássaros mais inteligentes teriam vantagens.

Para descobrir o quão inteligente os pássaros eram, os cientistas desenvolveram uma série de testes envolvendo resolução de problemas. “Os pássaros-cetim machos não gostam de objetos vermelhos dentro de seus ninhos e imediatamente tentam removê-los“, disse Keagy.

Nós criamos situações em que os machos tinham que remover um obstáculo para remover os objetos vermelhos. O primeiro teste consistia em um pote transparente colocado sobre três objetos, e os machos tinham que encontrar um meio de derrubar o pote para retirar os objetos ofensivos.

Os melhores em resolução de problemas conseguiram remover o pote mais rapidamente“, disse ele. A equipe de cientistas ainda desenvolveu um segundo teste em que os pesquisadores fixaram um azulejo no chão, que o pássaro-cetim não poderia remover. Os pássaros mais inteligentes perceberam isso mais rapidamente e cobriram o azulejo com folhas e gravetos.

Quando os cientistas avaliaram o sucesso dos pássaros junto ao sexo oposto, descobriram que os que se saíram melhor nos testes também tinham maior número de parceiras.

 

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Há várias razões potenciais para a o sucesso dos machos inteligentes, explica Keagy. “Ajuda se pensarmos no cérebro como uma vitrine da qualidade genética de um macho por conta da complexidade do cérebro“, disse ele.

Por exemplo, diz Keagy, outros estudos mostram que indivíduos doentes, com muitos parasitas, em geral não se saem bem em testes cognitivos. Esses mesmos machos geralmente têm parasitas por causa de um sistema imunológico deficiente. “Se você for fêmea, esses não são os tipos de genes que você quer encontrar no pai de seus filhos.

Além disso, se você está falando de fêmeas de uma espécie em que o macho também assume responsabilidade sobre os filhos, os machos mais ”inteligentes” podem se sair melhor na procura de comida e em cuidar dos filhos e, portanto, ser uma escolha melhor de parceiro“, diz ele.

Neste momento, não sabemos com certeza como as fêmeas estão escolhendo parceiros mais ”inteligentes”, mas há duas hipóteses básicas de como isso pode ocorrer“, afirma Keagy. “As fêmeas podem ter evoluído para escolher machos que tem inteligência cognitiva superior e observam o comportamento deles durante a corte que indicam o quão ”inteligente” eles são.”

O complexo sistema de cortejar dos pássaros-cetim, que envolve dança, e a construção dos ninhos permite às fêmeas ter uma idéia de seu desempenho cognitivo. Outra possibilidade, sugere Keagy, é que os machos usem seus cérebros para convencer as fêmeas a não deixá-los. Eles podem fazê-lo ao responder efetivamente aos sinais das fêmeas, já conhecidos na espécie.

O mais provável é que esteja ocorrendo uma espécie de combinação dessas duas coisas“, diz Keagy. O cientista espera que o estudo levante a discussão sobre como a seleção sexual pode influenciar a evolução cognitiva.

 “Normalmente, quando a evolução do cérebro é discutida, a gente supõe que deve ter sido um tipo de seleção natural, como melhor desempenho em procurar comida ou se integrar em grupos sociais“, diz o cientista. “Mas nós não podemos ignorar que, a menos que um macho consiga se reproduzir com uma fêmea, ele não vai passar seus genes adiante. Se o animal carrega algo tão grande e valioso como um cérebro, por que não usá-lo para aumentar suas chances de procriar?”

 

FONTE:  Portal Terra





Novas espécies de rãs, víboras, e mais descobertas no Nepal

10 08 2009

O escorpião Heterometrus nepalensis, catalogado em 2004 no Nepal, pode alcançar 8 cm de comprimento

O escorpião Heterometrus nepalensis, catalogado em 2004 no Nepal, pode alcançar 8 cm de comprimento.  Foto: WWF-Nepal

 

Mais de 350 novas espécies de animais e vegetais foram descobertas na região do Himalaia oriental na última década apesar das ameaças causadas pelo aquecimento global, anunciou nesta segunda-feira a ONG WWF (World Wide Fund for Nature). O catálogo, com dados coletados entre 1998 e 2008, apresenta 244 raridades de plantas, 16 anfíbios, 14 peixes, duas aves, dois mamíferos e pelo menos 60 invertebrados.

 

A pequena rã voadora Rhacophorus suffry, registrada em 2007, utiliza as membranas das longas patas avermelhadas para deslizar pelo ar

A pequena rã voadora Rhacophorus suffry, registrada em 2007, utiliza as membranas das longas patas avermelhadas para deslizar pelo ar.  Foto: WWF-Nepal

 

Entre as novas espécies, encontram-se rãs voadoras, o menor cervo do mundo, o fóssil de uma espécie de lagarto com mais de 100 milhões de anos e a perigosa víbora venenosa Trimeresurus gumprechti. Os achados foram realizados por um grupo internacional de cientistas em uma região da cadeia montanhosa que compreende desde o Butão e o noroeste da Índia até o norte da Birmânia, do Nepal e o sul do Tibete (China).  A pequena rã voadora Rhacophorus suffry, registrada em 2007, utiliza as membranas das longas patas avermelhadas para deslizar pelo ar. O Muntiacus putaoensis, considerado a menor espécie de cervo do mundo, foi descrito em 1999 e não ultrapassa os 80 cm de altura e 11 kg.

 

Identificada em 1999 no Estado indiano de Assam, a rã gigante Leptobrachium smithi possui um olho dourado que impressiona os cientistas

Identificada em 1999 no Estado indiano de Assam, a rã gigante Leptobrachium smithi possui um olho dourado que impressiona os cientistas.  Foto: WWF-Nepal

 

Em 2002, os cientistas observaram pela primeira vez a Trimeresurus gumprechti, uma víbora venenosa perigosa que é capaz de atingir 1,3 m de comprimento. No entanto, os especialistas acreditam que existam exemplares maiores. Do ponto de vista científico, conforme a WWF, um dos descobrimentos mais importantes foi o fóssil da espécie de lagarto pré-histórico Cretacegekko burmae, com mais de 100 milhões de anos. O resto fossilizado do réptil foi encontrado em uma mina de âmbar no vale de Hukawng, norte da Birmânia.

 

Trimeresurus grumprechti, vibora veneneosa

A Trimeresurus gumprechti, uma víbora venenosa perigosa, foi vista pela primeira vez em 2002.  Foto: WWF-Nepal

 

O Himalaia oriental abriga uma diversidade biológica que inclui 10 mil espécies de flora, 300 mamíferos, 977 aves, 176 répteis, 105 anfíbios e 269 tipos de peixes de água doce. Além disso, a região concentra a maior população de tigres de Bengala do planeta e a última com a ocorrência do rinoceronte indio.

 

Fontes:  TERRA

WWF-NEPAL





“Dorme que passa…” — dormir ajuda a resolver problemas

14 06 2009

soneca noturna, pateta

Pateta, ilustração Walt Disney.

 

Há algum tempo  uma amiga reclamava sobre seu companheiro dizendo que ele era completamente insensível, que só se preocupava com o bem estar dele mesmo.  Citava, como exemplo, uma ocasião recente em que ela, sem conseguir dormir, se remexeu tanto na cama que acabou acordando o marido.  Ainda sonolento ele perguntou o que acontecia.  Ouvindo a explicação, ele simplesmente ajeitou os lençóis e os travesseiros, virou-se para o outro lado e disse, antes de cair de novo em sono profundo:

Dorme que passa

Esta história era na opinião de minha amiga a verdadeira demonstração de insensibilidade.  No entanto, depois de ler um artigo da BBC mostrando que dormir ajuda a resolver problemas, talvez o rapaz em questão estivesse mais certo do que se imaginava.

 

Dormir pode ajudar uma pessoa e resolver problemas, dizem cientistas americanos.

Eles concluíram que uma boa soneca com sonhos estimula a criatividade.

A equipe da University of California San Diego fez experimentos para verificar se “incubar” o problema aumenta as chances de soluções inspiradas.

E descobriu que sim, especialmente quando as pessoas entram na fase conhecida como REM (sigla inglesa para Rapid Eye Movement ou movimento rápido do olho), estágio do sono em que ocorrem os sonhos mais vívidos.   O trabalho foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy Of Sciences.

Na manhã dos testes, um grupo de 77 voluntários recebeu uma série de problemas para resolver.

Eles foram orientandos a pensar sobre o problema até a tarde daquele dia, seja descansando sem dormir ou dormindo.

Os que dormiram tiveram seu sono monitorado pelos cientistas.

Comparados aos participantes que apenas descansaram ou que dormiram sem alcançar o estágio REM, os voluntários que dormiram e atingiram o estágio REM apresentaram maior probabilidade de sucesso na resolução do problema.

O estudo revelou que o grupo que atingiu a fase REM durante o sono melhorou sua habilidade de resolver problemas criativamente em cerca de 40%.

Os resultados indicam que não são apenas o sono ou a passagem do tempo que determinam o sucesso na resolução de problemas e, sim, a qualidade do sono.

Para os autores do estudo, apenas o sono onde o estágio REM é atingido tem o poder de melhorar a criatividade.

Eles acreditam que o sono REM permite que o cérebro forme novas conexões nervosas sem a interferência de outras conexões de pensamento que ocorrem quando estamos acordados ou dormindo sem sonhar.

“Nós propomos que o sono REM é importante para a fusão de novas informações com experiências passadas para criar uma rede mais rica de associações para uso futuro”, disseram os autores à revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

 Fonte: O Estadão





Salvem os macacos bugios, no RS!

18 04 2009

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Preocupado com a matança equivocada de macacos bugios no Rio Grande do Sul, um pesquisador da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) decidiu lançar uma campanha para alertar a população. Nos últimos meses, a mídia gaúcha tem noticiado casos de pessoas que matam os bugios para prevenir a disseminação da febre amarela.

 

Sensíveis à doença, os macacos são os primeiros a adquiri-la, e a sua morte serve como um aviso para que os órgãos de saúde pública iniciem campanhas de vacinação. “Algumas pessoas pensam que os bugios transmitem a febre amarela aos humanos, o que é totalmente errado”, explica o pesquisador Júlio César Bicca-Marques, autor da iniciativa e especialista em ecologia, comportamento, cognição e biologia da conservação de primatas

 

No dia 3, ele começou a enviar emails e contatar os órgãos de imprensa para falar sobre o problema e intitulou a campanha Proteja seu anjo da guarda. A idéia é espalhar a informação de que o agente transmissor é um mosquito, e não os macacos. O projeto tem o apoio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre e outras instituições.

 

Por adoecerem primeiro, os primatas dão às autoridades informações valiosas sobre a circulação do vírus. “Por isso, matá-los seria como dar um tiro que sairá pela culatra”, completa Júlio César.

 

Principais espécies de macaco do Rio Grande do Sul, os bugios preto e ruivo, que pesam 6 kg em média, vivem sob risco de extinção. Com o habitat natural reduzido pela substituição de florestas, eles já enfrentavam caçadores e comerciantes de animais silvestres antes de virarem alvo da população.

 

 

 

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Macaco Bugio.  Foto: Denis Ferreira Neto.

 

 

É importante lembrar que a febre amarela é uma doença infecciosa causada por um vírus que é transmitido por mosquitos. Existem dois tipos: a febre amarela urbana, erradicada do Brasil por volta da década de 1960, e a febre amarela silvestre. Os vetores (agentes responsáveis pela transmissão) da forma silvestre são mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, enquanto a forma urbana pode ser transmitida pelo Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue.

 

 

A febre amarela silvestre já provocou a morte de algumas pessoas e de muitos bugios em uma extensa área do Rio Grande do Sul desde o final de 2008. No entanto, ao contrário da maioria das pessoas, os bugios são extremamente sensíveis à doença, morrendo em poucos dias após contraí-la. Esses macacos já estão ameaçados de extinção no Estado devido à destruição de seu hábitat natural (as florestas), à caça e ao comércio ilegal de mascotes.

 

Os bugios NÃO transmitem a febre amarela para o homem e NÃO são os responsáveis pelo rápido avanço da doença no Estado. Eles são as principais vítimas. As mudanças climáticas e a degradação ambiental provocadas pelo homem são as principais responsáveis pelo recente aparecimento de inúmeras doenças infecciosas no Estado. Especialistas acreditam que o avanço da doença tem sido facilitado pelo deslocamento de pessoas infectadas ou pela dispersão dos mosquitos ou outro hospedeiro ainda desconhecido.

 

Esta é uma combinação de dois artigos escritos por Júlio César Bicca-Marques, Professor Titular, Grupo de Pesquisa em Primatologia da Faculdade de Biociências/PUCRS.