Feliz Aniversário, Rio de Janeiro: 444 anos!

1 03 2009
Enseada de Botafogo, ao fundo o Pão de Açúcar, Foto: Ladyce West

Enseada de Botafogo, ao fundo o Pão de Açúcar, Foto: Ladyce West

 

A cidade do Rio de Janeiro comemora hoje 444 anos desde sua fundação por Estácio de Sá.

 

Para lembrar esta passagem, transcrevo aqui um trecho de uma carta enviada pelo pintor francês Edouard Manet, quando visitou o Rio de Janeiro, no Carnaval de 1849.

 

 

Os arredores da cidade são incomparavelmente bonitos, nunca vi uma natureza tão bela.  Ontem na companhia de alguns solteirões, fiz um passeio por uma ilha situada ao fundo da baía.  Divertimo-nos deveras.  A casa em que nos hospedamos por três dias é encantadora e tipicamente crioula.  Excursionamos por uma floresta virgem.  É uma experiência interessante, exceto pelas cobras, que tornam o passeio menos prazeroso.

 

 

Carta de Edouard Manet, de 26 de fevereiro de 1849, a seu primo Jules.

 

 

Viagem ao Rio: cartas da juventude, 1848-1849, Edouard Manet, trad. e apresentação de Jean Marcel Carvalho França, Rio de Janeiro, Editora José Olympio: 2002, página 92





Instrumentos musicais feitos de gelo?!?

27 02 2009

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Foto: Bjørn Furuseth

 

 

 

 

Apesar de carioca, confesso que não sou muito chegada ao calor.  E depois deste mês de temperaturas bastante altas, sem nenhuma brisa para aliviar o mal-estar, andei sonhando com lugares para visitar no próximo ano.  Eis que do nada me deparo com algo realmente mirabolante: um festival de música no gelo.  Isso mesmo.  Acho que tentarei comprar entradas para a próxima versão deste festival em 2010.  

 

As fotografias do evento deste ano me deixaram com muita vontade de pelo menos conhecer este fenômeno.  Os concertos nesta ocasião são tocados por violões, guitarra, flautas, violinos, harpas, órgãos e outros instrumentos, todos feitos de gelo, isso mesmo, de água congelada!  É difícil de acreditar, mas  é a absoluta verdade. 

 

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Foto: Bjørn Furuseth

 

 

 

 

 

O local é a chamada catedral, um espaço como um gigantesco iglu na glacier Val Senales na região da Itália tirolesa.  Composta de uma cúpula de 12 metros de altura a catedral é completamente feita de gelo.  É uma experiência arquitetônica sem igual, dizem os visitantes, porque há mais de um ambiente, e tanto os palcos, como as poltronas em fila, o bar, tudo é esculpido no gelo.  Ensembles e orquestras tocam suas músicas em instrumentos feitos com gelo.  Dizem que a acústica é perfeita.  O festival começou no dia 27 de janeiro e vai até o inicio de Abril.

 

A estadia precisa ser marcada com antecedência pois  fica por conta das hospedarias de quatro aldeias no vale entre montanhas: Certosa, Monte Catarina, Madonna di Senales e Vernago.   Estas aldeias estão acostumadas a hospedar turistas por na parte superior do vale fica a estação dos carrinhos a cabo de Val Senales, que é uma estação de esqui aberta o ano inteiro.  Na verdade, esta região é o conhecido caminho, há muitos e muitos séculos  por onde pastores italianos levavam seus cordeirinhos para os pastos verdes do vale Ventertal na Áustria.  Foi aqui neste local que Ötzi o Homem da Neve, foi encontrado em 1991, seu corpo muito bem preservado  na montanha Similaun no coração da glacier  Val Senales.  

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REUTERS/Alessandro Bianchi

 

 

 

Uma série de concertos é programada.  Cada concerto está  programado para ter um estilo diferente e há também um concerto especial para crianças.  Em 2009 todos os concertos são realizados às 11:00 e às 15 horas.  Mas há alguns poucos concertos às 17 horas.   O festival também tem um show de luzes e um de fogo.  E no final há uma descida de esqui à luz de tochas.   A entrada para todos os eventos é gratuita.  

 

Por mim, eu passo a descida de esqui à luz de tochas, mas ficaria feliz de ver os esquiadores.  Todo o resto me parece perfeito!!!!!!!!!

 





Tuareg, romance/aventura de Alberto Vazquez-Figueroa

23 02 2009

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Tuareg, 2007

Mo Skett (Austrália)

Aquarela sobre papel

 

 

 

Minha fascinação com o deserto, com o norte da África, com os bérberes, data de muito tempo.  Foi parcialmente domada pelo ano que morei em Oran, na Argélia.  Foi naquela época que deixei de lado idéias românticas da vida no local, em grande parte feitas robustas pelos escritores e pintores europeus do século XIX, que conseguiram gravar na minha imaginação cenas de maravilhosos banhos públicos, circundados por paredes cobertas de azulejos com desenhos abstratos e colorido especial; ricos ambientes com dezenas de tapetes grossos de lã, cuja arte de fiação local, transformava em sedosos, brilhantes e macias cobertas protetoras para os pés;  adereços de ouro, pulseiras escravas; roupas de odalisca e tudo mais com que a imaginação romântica de uma adolescente poderia se deslumbrar.  Essas idéias foram rapidamente aparadas, reduzidas quando da minha estadia na moderna cidade de Oran nos anos 80.

 

Mas meu interesse por este pedaço do mundo nunca chegou a se apagar.  E, se quando saí da Argélia havia chegado a um ponto saturação com uma cultura radicalmente oposta à minha – a saturação veio na terceira semana do Ramadã, em que os dias são trocados pelas noites –, saí daquele país ciente de que ainda teria que voltar ao norte da África.  Não quis naquela época emendar a minha viagem com a Tunísia ou os Marrocos porque sabia que era preciso fazer jus aos povos que aí habitavam sem trazer comigo preconceitos desenvolvidos ao longo da minha estadia em Oran.  

 

 

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Tipaza, Argélia: teatro romano

 

 

Houve naquele ano na Argélia duas visitas que me marcaram para sempre e que estarão vívidas na minha imaginação até os meus derradeiros dias: a visita às ruínas romanas de Tipaza e a visita ao deserto de Saara, mais particularmente, ao oásis que abriga cinco cidades, inclusive a cidade de Ghardaia, também chamado de Pentápolis.   Esta passagem pelo deserto foi de uma beleza sem igual, um momento em que tudo se cala diante do espetáculo da natureza.  Sempre imaginei voltar.  

 

Com esta dívida à mim mesma foi com grande satisfação que comecei 2009 com a leitura de um livro surpreendente,  Tuareg, do escritor espanhol Alberto Vazquez-Figueroa (LP&M: 1988, reimpressão, 2008).  Este foi o primeiro livro de Vazquez-Figueroa que li.  Não o conhecia.  Fiquei certamente encantada com sua habilidade narrativa, extremamente evocativa.  Sua descrição do deserto, das paisagens inóspitas que fazem parte do dia a dia dos Tuaregs, é absorvente e sedutora.

 

 

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É importante também reconhecer que Vazquez-Figueroa consegue num enredo simples e linear trazer a tona os problemas da colonização de povos anciães, tais como os Tuaregs: Gacel Sayad – personagem principal do romance — é imensamente desonrado quando assassinam uma pessoa que estava protegida, sob seu teto, no deserto.  Não há maior desonra.   Faz-se necessário que ele puna aqueles que cometeram este ato. E assim começa uma aventura no deserto, uma sequência de perseguições, de dissimulações, truques, golpes, tudo parte de uma perseguição da qual ninguém sai vencedor.  

 

Tomando por base o conhecimento dos princípios que regem as ações de Gacel Sayad, é impossível não simpatizar com ele e reconhecer que para aqueles que vivem no deserto nas circunstâncias em que eles vivem o conceito de país, de fronteira, de nacionalidade não só não existe como não faz sentido.   E mesmo que não se aprove os diversos assassinatos que ele conduz, nossa simpatia e lealdade estão com ele até o final, porque sabemos que são ações baseadas num extraordinário senso de justiça, mesmo que esta justiça seja completamente diferente da aceita pelo leitor.  

 

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Tudo isso é particularmente assessorado por uma belíssima prosa, em que as cenas mais corriqueiras conseguem se transformar em imagens poéticas e sonhadoras:

 

A noite se fechara sobre a planície pedregosa, a primeira hiena riu longe e tímidas estrelas piscaram em um céu que, logo, estaria todo tomado por elas, no belíssimo espetáculo que nunca cansava de admirar.  Eram essas estrelas, das noites de paz, talvez, que o ajudavam a persistir, após um longo dia de calor, tédio e desesperança.  “Os tuareg espetam as estrelas com suas lanças para, com elas, iluminar os caminhos…Um belo ditado do deserto, nada mais que uma frase, mas quem a inventou conhecia bem aquelas noites e aquelas estrelas, e sabia também o que significava contemplá-las horas a fio, de tão perto.

 

Descrições detalhadas do deserto, da experiência do deserto, são,  não só essenciais para o comportamento de Gacel Sayad, mas provavelmente parecem verdadeiramente precisas porque o Vazquez-Figueroa, tendo nascido no Tenerife, passou sua infância no Saara, antes de estabelecer residência em Madri.  

 

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O escritor: Alberto Vazquez-Figueroa

Poucos de seus livros estão traduzidos para o português.  Além de Tuareg encontrei O iguana, não obstante, vou fazer um esforço para ler seus outros livros.  O sucesso de Tuareg, que vendeu mais de dois milhões de exemplares na Espanha e na América Espanhola não vem sem motivo.  É um ótimo livro, em que o entretenimento, a aventura, não tiram de foco considerações mais sérias sobre a colonização e o estupro cultural de povos cujas bases culturais são tão antigas quanto a humanidade.  

 





Brasil que lê: fotografia tirada em lugar público

20 12 2008

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Praça Serzedelo Correa, Copacabana, Rio de Janeiro.





Dos prazeres da mesa nordestina…

19 12 2008

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Natureza morta com abacaxi, melão

e outras frutas tropicais, 1640s

Albert Eckhout, Flandres (1610-1666)

Óleo sobre tela, 90 x 90 cm

Museu Nacional da Dinamarca

Aos domingos comíamos sarapatel de porco, servido com farinha seca e pimenta malagueta, algumas gotas de limão sobre a carne.  Bebíamos vinho verde português, comprado em pipa na mercearia de Antônio Maia, na cidade da Paraíba.  Mesmo criança eu já gostava de bebidas espirituosas.  Até hoje perambulo pelos restaurantes do Rio de Janeiro em busca de um sarapatel parecido com aquele, mas em vão.  Persigo pelas ruas a mágica impressão do odor, espalhado pela brisa, de carne fresca da chã-de-dentro, mocotó ou chambaril; ao fechar os olhos, na cama, vejo o pirão dourado, minha boca se enche de saliva quando penso no maxixe, quiabo ou jerimum-de-leite; passo a mão na seda de uma camisa e sinto a suavidade dos molhos de couve que cresciam no quintal da casa; verto lágrimas com saudades da bacalhoada das sextas-feiras; sinto meu estômago se revirando, com desejo de um bredo cozinhado no azeite, feijão e peixe de coco, servidos na Quaresma.  E não há nenhum Natal em casa luxuosa do Rio de Janeiro que ofereça algo tão delicioso como os pastéis de nata da Librada, ou os filhoses de palito embebidos em mel claro, feitos por Donata.

 

As sobremesas do engenho também me deixaram impressão profunda.  As frutas eram mais saborosas do que todas as que provei no Rio de Janeiro, mesmo as maçãs ou peras importadas não se igualavam às bananas e laranjas que Donata preparava, em talhadas, misturadas com farinha, ou aos abacaxis, às perfumadas mangas, aos abacates.  O café que se tomava após as refeições era colhido na fazenda.  Nunca havia aguardente à mesa, mas sempre um licor de cacau, ou de anis, importados.  Na ceia, como no primeiro almoço, comíamos angu de caroço, broas de milho seco, canjica de milho verde, pamonha, raramente faltando macaxeira e inhame, e batata-doce, cozida ou assada.  

 

Ao lado da casa-grande ficava um pomar, rodeado por uma cerca viva de limoeiros.  Dava laranja, banana-maçã, carambola, graviola, araticum, maçaranduba, jambo amarelo, abacaxi, jatobá, jenipapo, cajá, uma infinidade de frutas, lembro-me de todas elas, das cores de suas cascas, de seus perfumes, das épocas em que floresciam e frutificavam e de quais passarinhos gostavam de bicar essa ou aquela.  Cultivadas apenas para os membros da família e os agregados, as frutas eram tantas que até as levávamos para serem vendidas nas feiras aos sábados, no povoado de Cachoeira, assim como farinha de mandioca, milho verde, fava, caldo de cana, mel, enfim, tudo o que não era usado na alimentação dos moradores da casa-grande e dos cassacos.  Em torno do pomar ficavam as roças bem cuidadas, que produziam com fartura.  A vida no engenho tinha como centro a mesa de mogno da cozinha.

 

 

A Última Quimera, Ana Miranda.

 

 

Ana Maria Nóbrega Miranda (Fortaleza, 1951) é uma poetisa e romancista brasileira.

 

 

Obra:

 

Anjos e Demônios (poesia) 1979

Celebrações do Outro (poesia), 1983

Boca do Inferno (romance), 1989

O Retrato do Rei (romance), 1991  

A Última Quimera (romance), 1993

Desmundo (romance), 1996

Amrik (romance), 1997

Dias & Dias (romance), 2002

 

 

Albert Eckhout (Groningen, 1610 — 1666) foi um pintor, artista plástico e botânico flamengo. É autor de pinturas do Brasil holandês envolvendo a população, os indígenas e paisagens da região Nordeste do Brasil. Viajou também por outras regiões da América, antes de retornar à Europa.

 

 

 

 

 





Passeio Público: uma descrição evocativa

18 12 2008

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Passeio Público do Rio de Janeiro, foto: Ladyce West

 

 

 

Quem acompanha este blog sabe que de vez em quando construo uma rapsódia sobre um lugar favorito.  Lugares têm grande habilidade de me afetarem.   Já houve ocasião de chegar às lágrimas, emocionada com um local.  Não é a toa que boa parte do que escrevo em geral está ligado a viagens, passeios ou seja a lugares especiais.  Em junho deste ano coloquei aqui uma pequena nota sobre o Passeio Público no Rio de Janeiro.  Logo após apresentei um poema de Mário Pederneiras sobre o local.  Hoje lendo o livro A última quimera de Ana Miranda, me deparei com uma descrição que acredito ser perfeita para aqueles que vivenciaram o local nos anos finais do século XIX aos primeiros anos do século passado.  

 

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Passeio Público, fonte de Netuno, foto: Ladyce West

 

O passeio Público é um dos lugares onde mais gosto de permanecer nas minhas horas de reflexão.  Não durante o dia, quando as crianças enchem as aléias com sua presença alegre e os rapazes vêm cortejar as jovens ou procurar uma delas para seus devaneios; nem quando senhores e damas cruzam as alamedas entre os baobás, ou jogam cartas, ou ouvem a banda dos alemães; tampouco quando, de noite, os aristocratas passam em direção à casa de Glaziou ou os boêmios vão ao café-cantante.  Gosto das horas raras em que o Passeio está deserto, quando apenas um ou outro transeunte caminha silencioso, quase invisível, e homens da Guarda rondam atrás de vadios.  Nesses momentos de solidão as árvores parecem soberanas, o lago permanece limpo; as águas do chafariz do menino podem ser ouvidas como uma música monótona, propensa ao raciocínio e à ruminação de paixões secretas.  Este é um momento assim, e me sento no primeiro banco que avisto.

 

Em: A última quimera, de Ana Miranda, Cia das Letras: 1995, São Paulo.

 

Para mais fotos do local, sua história e o poema de Mário Pederneiras, clique aqui.

 





O Vaticano vai de verde!

14 12 2008

 

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          Árvore no Vaticano (Foto: Reuters, Alessandro Bianchi)

 

No mês passado o Vaticano ativou um grande sistema de painéis solares no telhado do salão de audiências. Na ocasião a administração da cidade anunciou um plano ambicioso de conservação de energia que poderá num futuro próximo fazer com que o Vaticano seja um exportador de energia alternativa.

 

Agora, na semana passada, quando deu início às comemorações natalinas com a inauguração da tradicional árvore de Natal na Praça de São Pedro em Roma, o Vaticano anunciou que esta árvore, a maior que já tiveram para esta comemoração, terá sua madeira reciclada: virará brinquedos para crianças carentes e móveis como bancos, para jardins e salas de aulas.  Todos decorados por crianças italianas.  Esta é uma iniciativa inspirada na consciência de que a madeira é uma riqueza que «não deve ser desperdiçada, e mais, deve-se voltar a utilizar para o próprio benefício e o das novas gerações do planeta», como divulgou o L’Osservatore Romano, diário da Santa Sé. 

 

O pinheiro tem 33 metros de altura, 45 cm de diâmetro e pesa aproximadamente 3 toneladas.  Com 120 anos de vida, veio das florestas ao sul da Áustria, doada pelo município de Gutestain, próximo de Sankt Poelten, na região da Baixa Áustria, cuja principal igreja comemora 500 anos de existência.  A cerimônia de inauguração da gigantesca árvore de Natal, foi acompanhada de chuva por toda tarde.  Este ano a árvore terá duas mil bolas amarelas e brancas e será encimada por uma grande estrela.  Um novo sistema de iluminação composto por 1500 luzes faz parte das inovações deste ano. O rio Tibre, que passa ali perto, estava parecendo que poderia transbordar, tendo atingido a maior altura de suas águas em décadas.  Mas isso não deteve os visitantes que vieram desfrutar da magia do momento: peregrinos de diversas partes do mundo participaram desta inauguração na presença do Cardeal Giovanni Lajolo, governador da cidade do Vaticano.

 

Como habitualmente, para além da gigantesca árvore, outros 50 pinheiros serão colocados em diversos locais do Vaticano, desde a sala Paulo VI aos Museus. Cinco deles são colocados no apartamento do Papa.  A tradição de colocar uma árvore junto do obelisco, iniciada por João Paulo II em 1982, tem sido mantida por Bento XVI. Ser escolhido para oferecer a árvore de Natal ao Vaticano é considerado uma honra e, para os próximos anos, esse privilégio já está reservado. É a oitava vez que a árvore do Vaticano vem da Áustria.

 

 





Quando a oportunidade aparece, artesãos lucram!

12 12 2008
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Presépio italiano

 

 

A agência Reuters noticia hoje, que nas famosas barracas de itens para presépios, na Via Presepe, como é conhecida a famosa Via San Gregório Armeno, no centro velho da cidade de Nápoles, na Itália, o item mais “quente” de vendas é a imagem do Presidente Eleito nos EUA Barack Obama e sua esposa.    

 

Via Presepe

Via Presepe

Nápoles é conhecida pela manufatura dos mais belos presépios italianos.   Presépios são um dos mais importantes elementos do tradicional Natal italiano.  Muitas famílias tem enormes presépios que contém até mesmo réplicas de partes das cidades onde moram, retratos de autoridades locais.  Durante o mês de dezembro muitos feirantes, vestidos com a roupagem tradicional de pastores, montam a feira onde  imagens dos reis magos, dos carneirinhos e pastores, há séculos fazem parte do comércio local movimentando quantidades enormes de dinheiro na época do Natal.

 

Barack e Michelle Obama

Imagens para presépio: Barack e Michelle Obama

Este ano as imagens de Barack e Michelle Obama foram adicionadas aos inventários dos presépios italianos, para serem colocadas lado a lado com os outros personagens da cena religiosa.    A tradição italiana é que os presépios sejam montados peça por peça nos dias que antecedem o Natal, sendo a última imagem a ser colocada a do Menino Jesus na manjedoura, no dia 24 de dezembro. E há tempos que os artesãos destas figuras de barro,  adicionam personalidades famosas, pessoas que se destacaram durante o ano que acaba. Em geral estas peças são compradas por aqueles que gostariam de dar uma nota de maior leveza à cena.  A novidade este ano é a popularidade que as imagens do futuro presidente dos EUA e sua esposa estão tendo.   Além deles este ano aparecem também as imagens do Presidente francês Nicolas Sarkozy e sua esposa Carla Bruni e a do primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi.  

 





E lá se vai o Urso Polar! Ajude-o!

23 09 2008

 

Com as temperaturas aumentando continuamente nas últimas décadas e o cobertor de gelo do Pólo Norte derretendo, a terra, próxima à Sibéria, ao Canadá e ao Alaska, está se tornando macia e convidativa à formação de novas fazendas agrícolas.   Os animais e plantas do Ártico terão que se adaptar às novas temperaturas, ou serem para sempre extintos.  Esta é uma das razões pelas quais o urso polar se tornou o símbolo da mudança climática.  

 

Os 100.000 habitantes do Círculo Polar, membros de povos nativos e espalhados através do Alaska, Canadá, Groenlândia e Sibéria já contam suas perdas.  Percebem claramente que as áreas naturais que usam para habitação estão diminuindo de tamanho e que as terras, anteriormente cobertas por gelo, hoje estão afundando depois que o gelo derrete.

 

Mas há outras pessoas que vêem uma possibilidade de crescimento neste desastre ecológico.  Cinco nações que tem fronteiras com o Ártico – EUA, Rússia, Canadá, Noruega e Dinamarca – se preparam para administrar as novas riquezas descobertas debaixo do gelo.

 

 

Os Russos vêem no degelo a possibilidade de plantações de trigo e de melhoria de safra deste cereal.   Na Groenlândia recentemente as terras foram dedicadas à plantação de batatas e de brócolos.  Isto torna a Groenlândia menos dependente de importações do sul do planeta.  A Alcoa, uma grande companhia americana produtora de alumínio se prepara para construir uma instalação próxima a Nuuk, capital da Groenlândia.  Alcoa usará eletricidade fabricada pelo degelo dos glaciers para a indústria.  

 

Com o degelo novas rotas para navegação aparecem; rotas que podem ser usadas para petróleo e gás, assim como diversos minérios.  Isto fez com que três governos diferentes já tenham começado a expandir alguns portos.  Os mais atualizados são: Murmansk (Rússia), Churchill (Canadá) e Hammerfest (Noruega).   Estes portos deverão ser bastante usados porque com o degelo uma imensa quantidade de fontes de petróleo, gás e de minérios estará muito mais fácil de ser acessada.

 

Mas há ainda alguns problemas a serem resolvidos: há fronteiras que não estão bem delineadas e governos já se posicionam para uma briga pelo menos diplomática, apesar dos cinco países envolvidos nas terras do Círculo Polar terem feito um acordo de cooperação dentro do oceano ártico.

 

Mudanças que deixam o resto do mundo em alerta são pequenas mas significativas:  o Canadá investiu 3 bilhões de dólares para adicionar 1.000 soldados às tropas dos sediadas do Ártico, para aumentar o patrulhamento naval da área e para construir uma nova estação naval em Nanisivik, por 100 milhões de dólares.

 

Os EUA estão no momento estudando o fundo do mar ao norte do Alaska na esperança de estabelecer novas fronteiras na região junto às Nações Unidas.  O governo federal pretende gastar 1,5 bilhões adquirindo novos quebradores de gelo, para poder utilizar as novas rotas marítimas.  A Casa Branca espera ainda este ano revelar uma nova estratégia política para o Ártico.  E há no horizonte alguns conflitos previstos sobre fronteiras territoriais entre a Dinamarca e o Canadá e entre a Rússia e a Noruega.  Estes conflitos se acirram porque novas fontes de minérios e outras riquezas minerais continuam a aparecer e estimulam os governos a explorá-las.  

Resta saber a conseqüência no meio ambiente destas novas explorações minerais.  

 

Este post foi baseado num artigo da revista Der Spiegel, de 19/9/2008, por Gerald Traufetter.

 

 

E ainda há aqueles que dizem que não há provas do aquecimento global.   Só mesmo para quem não quer ver.





Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife, Século XVII

10 08 2008
Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife, Século XVII

Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife, Século XVII

Na penúltima vez que estive em Recife esta sinagoga ainda não estava aberta ao público. Mas recentemente, visitando o nordeste, pude verificar este grande marco do Brasil colônia que foi a primeira sinagoga oficial de todas as Américas: Sinagoga Kahal Zur Israel (ou Congregação Rochedo de Israel).  Aberta no Período em que Recife era o centro do governo holandês. A foto mostra o nome da Rua dos Judeus, onde ela está localizada.  Este era o antigo nome da rua.  Hoje em dia chama-se Rua do Bom Jesus.

 

Diz-se que foi a primeira sinagoga oficial porque sabemos da existência de uma sinagoga anterior: Maguen Abraham (Escudo de Abraão).  Tudo indica que esta ficava na antiga ilha de Antônio Vaz, que depois se chamou Maurícia.  Mas até hoje ainda não foram encontrados vestígios arqueológicos desta sinagoga.  Há relatos também de sinagogas formadas em pequenas comunidades na Paraíba e na Bahia.

 

 

No século XVI é certo houve um grande número de judeus vindo para o Brasil.  Quando as prisões portuguesas foram esvaziadas e seus presos trazidos para o Brasil com a intenção de popular a terra, muitos dos que se encontravam presos eram novo-cristãos que haviam sido presos por continuarem praticas judaizantes.   Ainda que Portugal estivesse sob orientação da Inquisição, havia um grande problema nas mãos do reinado:  a necessidade de popular  a terra descoberta, com terras costeiras de perímetro generoso e defendê-las mesmo assim contra invasores.  Isto tudo para um dos menores países europeus com uma população também pequena.

 

Rua do Bom Jesus antiga Rua dos Judeus, Recife, PE

Rua do Bom Jesus antiga Rua dos Judeus, Recife, PE

 

 

 

 

 

 

 

Com a invasão holandesa, o Nordeste brasileiro passa a ser regrado pelas leis e costumes dos invasores.  Assim um grupo de judeus vem se estabelecer no Novo Mundo, contando com  a liberdade religiosa já existente no país flamengo.   Foi só nesta época que a sinagoga Kahal Zur Israel esteve ativa sendo sustentada por 180 famílias de judeus brasileiros e europeus no Recife.

 Junto a esta sinagoga havia duas escolas religiosas: Etz Hayim e Talmud Torah.   Mas estas não foram recuperadas.  O que se tem hoje é o edifício onde o templo exercia suas funções religiosas.  Ocupava duas casas, como pode ser visto na foto da fachada postada anteriormente. A comunicação entre as duas casas era feita por uma única pequena porta bem na frente; enquanto que o acesso ao segundo andar era feito exclusivamente por uma das casas, através de uma bela escada de madeira nos moldes do mobiliário vistos aqui.

Interior da sinagoga; segundo andar.

Interior da sinagoga; segundo andar.

 

 

 

 

 

Hoje o andar térreo desta sinagoga está dedicado a uma exposição permanente da história desta comunidade judaica que construiu e estabeleceu este templo.  Pode-se ver as escavações do local, que passou para as mãos de João Fernandes Vieira, em 1656.  Podemos ver os alicerces da construção e examinar o  piso original holandês, a descoberto depois de terem sido encontrados 8 diferentes níveis, principalmente porque a história do edifício inclui diversas funções.  Em1679 o prédio foi doado aos padres da Congregação do Oratório de Santo Amaro.  Daí por diante há uma troca constante de funções sendo que até recentemente era uma casa de material elétrico.   No térreo pode-se observar  também o muro de contenção das águas do rio Beberibe, a fundação do Micvê,  assim como vitrines com pedaços de  louça, cachimbos, faiança, utensílios de barro esmaltado trazidos tanto pelos colonizadores portugueses como pelos holandeses.   

Fragmentos de louça encontrados nas excavações

Fragmentos de louça encontrados nas excavações

 

 

 

No primeiro andar está a sala de orações. Esse espaço está hoje destinado ao publico participante de conferências e seminários sobre a cultura judaica que fazem parte dos estudos realizados no centro de pesquisa localizado no andar de cima.  O mobiliário desta parte foi construído de acordo com os moldes usados nos Países Baixos na época.  Enquanto que o formato e o material do teto da sinagoga são baseados nas  sinagogas da península ibérica do século XVII.   A arca que contém a Torah está em frente ao púlpito.  O salão do serviço religioso se encontra na direção leste, como requerido.   No mezanino ficava a parte reservada às mulheres, que acompanhavam as cerimônias religiosas, separadamente.   No segundo andar  encontra-se a sede do Centro de Documentação da Memória Judaica de Pernambuco.

 

Com a retomada portuguesa do território sob  Maurício de Nassau  muitas das famílias judias pernambucanas, temendo a volta dos processos da Inquisição, saíram da cidade de Recife.  Algumas delas vieram para o sul do Brasil, para Minas Gerais, onde se juntaram aos bandeirantes na procura por metais e pedras preciosas. Outras 150 famílias decidiram retornar à Holanda.   23 destas famílias, que se encontravam a bordo do navio Valk, de regresso aos Países Baixos,  foram deixadas presas na Jamaica depois que a embarcação sofreu um ataque de piratas espanhóis.  Quando liberadas, tomaram um navio francês que seguia para a America do Norte e chegaram ao vilarejo de Nova Amsterdam,  com  1500 habitantes, no coração da ilha de Manhattan, em setembro de 1654.

 

***

 

A sinagoga encontra-se aberta ao público desde 2001.