Imagem de leitura — Georges van Houten

26 02 2017

 

 

 

van Houten, Georges, 1888-1964; Portrait of a Seated Lady in Yellow and Green Reading

Sra. em amarelo e verde lendo, 1927

Georges van Houten (Bélgica, 1888–1964)

óleo sobre tela

Examination Schools, University of Oxford

Salvar





Esmerado: Capa de livro de salmos, 1641

13 07 2015

 

livro dos salmos, inglaterra

Capa de cetim bordada com pequenas pérolas e fio de ouro, 1641

Livro de salmos, Londres,  8 x 5 x 2,5 cm

Coleção Lessing J. Rosenwald, Biblioteca do Congresso, EUA





Vestígios de comunidade judaica em Coimbra, c. 1370

10 07 2015

MArc Chagall, jewish wedding 1910Noite, 1910

[O casamento judeu]

Marc Chagall (Bielorússia/França, 1887-1985)

óleo sobre tela

 

Há certas notícias que não têm hora para serem publicadas.  Esta é uma delas.  Não sei porque não cheguei a saber dessa descoberta há um ano e meio, quando foi publicada, logo após o Natal de 2013.  Mas não importa, vejam que interessante: um bombeiro, ao fazer um conserto em uma casa na cidade de Coimbra descobriu uma estrutura no subsolo da residência, que depois de examinada pelo arqueólogo Jorge Alarcão, parece ter sido uma mikvá, datando do século XIV.   Há uma boa possibilidade desse ser um dos mais antigos banhos rituais judaicos descobertos na Europa. E mais raro ainda por se destinar a banhos rituais femininos.

978 - inf 43.537 - RVL_21.13xDescoberta em Coimbra, foto O Público.

Sabe-se que a comunidade judaica já existia em Coimbra antes mesmo da existência de Portugal.  E que havia uma parte da cidade dedicada à velha judiaria, que foi desativada durante o reinado de D. Fernando I, por volta de 1370. É por isso que se acredita que os banhos descobertos não podem ser posteriores a essa data.

Fonte: O Público





20 de janeiro, feriado na cidade: Dia de São Sebastião

20 01 2015

 

 

BONADEI -São Sebastião - Oleo s cartão prensado CIE - 1942 - 49 x 39 cmSão Sebastião, 1942

Aldo Bonadei (Brasil, 1906-1974)

óleo sobre cartão prensado, 49 x 39 cm





O mais antigo manuscrito cristão da África

8 02 2014

Garima-gospels_2_1672773cOs Evangelhos de Garima, iluminura, c. 330-660 EC.

Em janeiro passou sem referência na imprensa carioca uma descoberta anunciada em quase todos os  jornais europeus: novas datação para os Evangelhos de Garima, que os transformam no mais antigo manuscrito ilustrado cristão do mundo.  Esses dois volumes, um de 348 páginas com 11 páginas iluminadas e  outro de 322 página com 17 iluminuras, foram encontrados em um mosteiro etíope na região montanhosa do país  a 2.150 m de altitude.  Os Evangelhos de Garima haviam sido anteriormente datados de 1100 da Era Comum, mas novo exame por rádio carbono realizado em Oxford sugere data anterior:  entre 330 e 650EC, tendo os anos de 487-488 a data mais indicada. Esta descoberta tem duas conseqüências: muda o nosso conhecimento sobre o desenvolvimento de manuscritos iluminados e lança uma nova luz sobre a difusão do cristianismo na África subsaariana. Preservados em um mosteiro isolado na região de Ti Gray, os Evangelhos de Garima permanecem como únicos exemplares datados de antes do século XII,  pré-datando todos os outros manuscritos cristãos por mais de 500 anos.  Essa nova informação sobre o manuscrito pode ligá-lo diretamente ao tempo de Abba Garima, fundador do mosteiro.  Vindo de Constantinopla, o monge Garima chegou à a Etiópia por volta de 494. Diz a lenda que ele copiou os Evangelhos em um único dia.  Para ajudá-lo a concluir esta longa tarefa, Deus teria adiado o por do sol.

garima_gospels2.jpgOs Evangelhos de Garima

A sobrevivência dos Evangelhos Garima é surpreendente,  já que todos os outros manuscritos etíopes anteriores parecem ter sido destruídos em tempos de turbulência. Muito pouco se sabe sobre a história do Mosteiro de Abba Garima, mas ele pode ter sido invadido na década de 1530 por muçulmanos.   E em 1896 essa área foi o centro de resistência das forças italianas que lutavam para manter a colônia.  Além disso a igreja principal do monastério pegou fogo em 1930. Sabe-se que esses evangelhos estavam escondidos, talvez por séculos ou até mesmo por mais de um milênio.  Em 1520, capelão Português Francisco Álvarez visitou o mosteiro e registrou que havia uma caverna (agora perdida ou destruída), onde acreditava-se que Abba Garima havia vivido. Álvarez relatou que os monges desciam até a gruta por uma  escada para fazer penitência.  Especula-se,portanto, que  os Evangelhos possam ter sido escondidos nesta caverna.

FONTE: The Art Newspaper





O simbolismo dos três presentes — Malba Tahan

6 01 2012

Cartão de Natal, EUA, sem data.

O simbolismo dos três presentes

Eis como o escritor católico, Sr. Ângelo Antônio Dallegrave, descreve a cena memorável:

“Melchior, venerável por sua velhice, ofereceu o ouro, reconhecendo Jesus como seu único Soberano e Senhor; Gaspar que segundo a tradição era o mais jovem, apresentou ao Menino incenso, porque viu na criança o Verbo Eterno que se fez homem e habitou entre nós; Baltasar ofertou-lhe mirra, porque, reconhecendo no Divino Infante, o Eterno, sabia igualmente, que Jesus viera ao Mundo, se fizera homem, nosso irmão pela carne, menos no pecado, para por nós morrer.”

Em torno da figuras tradicionais dos Reis Magos e dos presentes por eles oferecidos ao Menino, tecem os escritores cristãos as mais incríveis fantasias.  Vamos transcrever pequeno trecho do historiador, Sr. Hermes Vieira:

“Representando a cultura máxima do tempo dos Reis Magos, ao presentearem Jesus, deram uma grande lição à Humanidade.  Baltasar, que era preto, e viera da África, ofereceu-lhe a mirra que simbolizava a Mortificação; Gaspar, que tinha os olhos longos e a barba fina como um cavalheiro da Arábia, doou-lhe o incenso, que significava a Oração; e Melchior, que era velho e já possuía uma longa barba cor de neve, deu-lhe o Ouro, traduzindo com este gesto o desprendimento das coisas da Terra.”

Outra referência ao simbolismo das três dádivas encontramos no livro  Os Quatro Evangelhos, do eminente pregador Padre Lincoln Ramos.  Eis o que nos ensina esse sacerdote:

“Entregaram os Magus a Jesus o que mais precioso haviam trazido de sua pátria sem se impressionarem com a pobreza do lugar e das pessoas.  Atribui-se belo simbolismo às três dádivas: pelo ouro homenagearam Jesus como Rei; pelo incenso e pela mirra, reconheceram-no como deus e como homem.  O incenso se oferece a Deus nos altares; com a  mirra — resina aromática — eram embalsamados os cadáveres e purificadas as mortalhas que os envolviam.”

Em: A Estrela dos Reis Magos, Malba Tahan, São Paulo, Saraiva: s/d





Göbekli Tepe: a descoberta do Jardim do Éden?

18 06 2011

 

Göbekli Tepe, Turquia

A minha geração estudou história sob a influência do arqueólogo  V. Gordon Childe, responsável pela teoria da Revolução Neolítica, que explicava que a civilização, como a conhecemos, havia sido consequência da agricultura.  De bandos de nômades havíamos passado a uma vida mais sedentária, reunida à volta de vilarejos e cidades, cultivando trigo, cevada e domesticando animais.  A razão para o aparecimento de aglomerados urbanos era simples: precisávamos tocar quintas, plantações, e garantir comida o ano inteiro.   Os ajuntamentos facilitavam a defesa dos interesses grupais:  garantir que  colheitas não fossem parar em mãos inimigas ou roubadas por bandos famintos, ainda nômades, que cruzavam a terra.

Parte do estabelecimento dos seres humanos em cidades e aldeias justificaria assim o aparecimento da hierarquia de comando, de principados, reinos, de classes sociais dominantes e da religião organizada.  Essa visão antropológica do nosso desenvolvimento era abrangente o suficiente para que não a questionássemos.  Além disso ela explicava muito do que não conseguíamos explicar de outra forma.  Foi só na década de 1990, com as primeiras descobertas arqueológicas em Göbekli Tepe, na Turquia, que evidências de outra possibilidade começaram a surgir.   E vieram tão numerosas e de tantas formas diferentes, que a necessidade de revermos de maneira drástica o que imaginávamos ser o desenvolvimento dos seres humanos no Neolítico se fez necessário.  A revista The National Geographic Magazine deste mês foca nas consequências das descobertas de  Göbekli Tepe:  a organização religiosa dos seres humanos talvez não tenha vindo como consequência da Revolução Neolítica, mas ao contrário:  a  necessidade de uma religião organizada pode ter dado origem à agricultura.



Stonehenge, Inglaterra

É uma reviravolta inesperada e fascinante.

Até evidência em contrário, o aparecimento da religião organizada entre os homens aconteceu na Turquia, em Göbekli Tepe, mais ou menos há 11.000 anos atrás.  As fundações desse templo religioso no topo de uma montanha, a 15 km de Şanlıurfa, no Sudeste da Turquia, são incontestáveis.  Haveria outros templos mais antigos?  Não sabemos.  Por ora, a civilização começou aí.  Göbekli Tepe é um templo extraordinário.  Ou melhor, uma série de templos dos quais muito pouco está escavado.   Inicialmente havia sido comparado a Stonehenge, na Inglaterra, por causa de seu desenho quase circular de pedras variadas.  Mas a semelhança com o sítio na Inglaterra para na forma circular.  Göbekli Tepe  foi construído muitos milênios antes de Stonehenge [que foi construído por volta de 2.500 anos aC, ou seja há 4.500 atrás].  Além disso, o complexo arqueológico turco é mais sofisticado.  Suas pedras gigantescas são cortadas com precisão e apresentam baixo-relevos de animais variados:  cobras, raposas, escorpiões, javalis e bandos de gazelas.  Construído uns há 11.600 anos, e 7.000 anos antes das pirâmides do Egito,  Göbekli Tepe  prima por maior sofisticação na construção do que se imaginava para a época, quando comparamos este a outros sítios posteriores.  Hoje, é considerado o primeiro grande monumento arquitetônico da humanidade.

Ilustração de bandos de nômades, como seriam os homens do neolítico.

Como então Göbekli Tepe se encaixa na chamada Revolução do Neolítico, proposta por Childe?  Não se encaixa.   Aquela época importante quando a agricultura tomou conta da nossa vida no planeta, aqueles milênios em que as culturas nômades dedicadas à caça e pesca passaram a plantar e cultivar os animais, não parece se refletir no primeiro grande templo da humanidade.  E isso é só uma das partes desse quebra-cabeças.

Mas o que foi achado em Göbekli Tepe para nos fazer questionar o que parecia certo e lógico?  Localizado na maior colina em toda área, por quilômetros e quilômetros, esse templo consiste de 20 câmaras no subsolo que têm um grande número de pedras de calcário em forma de T.  Muitas dessas pedras e pilares foram decorados com o desenho de animais do campo, em relevo, cinzelados.  As pilastras estão organizadas em círculos de pedras, — quatro foram escavados até agora.  Cada círculo tem não mais do que 30 m de diâmetro.  As pedras que os formam são de aproximadamente 6 metros de altura, pesando entre 12 a 18 toneladas.

Göbekli Tepe, Pedra do sol  [nome dado pelos arqueólogos para distinguí-la de outras pedras].

No entanto, não há vestígios de habitação permanente de seres humanos no local.  Nem mesmo rastros deixados por acampamentos de longa duração, já que nessa época não existiam ainda vilarejos, nem cidades, nem aglomerados humanos de maior complexidade.  Os seres humanos eram nômades, sobrevivendo da caça e pesca e de colheita de frutos da natureza.  Então como construir um monumento desse porte, se era preciso um grande número de pessoas, organizadas, que  exercessem diferentes tarefas?    As pedras da construção de Göbekli Tepe  são encaixadas precisamente, têm formas específicas e eram transportadas de longe, para este local pesando em média 15-16 toneladas cada.  Só isso exigiria uma organização muito mais complexa do que creditamos nossos antepassados de poderem ter exercido, porque tudo isso foi feito numa época em que os seres humanos não conheciam a escrita, o metal, a cerâmica ou a roda.

O que causaria esse grande esforço para se construir um templo, num lugar de tão difícil acesso?  O que havia levado esses povos a construir algo tão ambicioso?  E mais estranho ainda:  a enterrá-lo propositadamente depois de algum tempo e abrir um outro  templo circular um pouco mais adiante, e ao fim de um determinado tempo, enterrá-lo e assim por diante?  Acredita-se haver uns 20 a 40 templos circulares em volta de Göbekli Tepe.   Como o arqueólogo responsável Klaus Schmidt do Instituto de Arqueologia da Alemanha imagina: “bandos de caçadores teriam se juntado no local esporadicamente, através das décadas de construção, vivendo em tendas feitas de peles de animais e caçando os animais locais para alimento”.

Göbekli Tepe, vista de cima.

Os pilares, as colunas de pedra, foram colocados em círculos, num desenho comum a todos.  São pedras de calcário, como grandes colunas, ou grandes Ts.  No meio de cada círculo dois pilares.  As pedras podem ou não ser decoradas com animais estilizados, grande parte deles animais perigosos:  escorpiões armados para o ataque,  javalis agressivos,  leões ferozes.   Não se sabe ainda a razão, mas após uma ou duas décadas, essas construções eram regularmente enterradas, com todos os pilares sob terra, e novos círculos eram construídos dentro do círculo que foi enterrado, com novas pedras.  Às vezes até um terceiro círculo era organizado.   Aí então o grupo todo era enterrado, e um novo círculo, mais adiante era construído.  O local foi construído e reconstruído com círculos de pedras por séculos e séculos.  E ainda mais intrigante: a medida que os séculos passavam as construções  ficaram cada vez piores.  As pedras menos decoradas, com corte mais rústico, e tudo organizado de uma maneira menos cuidadosa.  Ao longo dos séculos o povo que construiu esses templos se tornou cada vez menos apto a fazê-lo.  Os esforços de construção pararam finalmente por volta do ano 8.200 aC.

Göbekli Tepe

Porque nenhuma habitação foi encontrada, o templo parece ter sido construído com um único objetivo: um centro cerimonial.  Os ossos achados nos canteiros arqueológicos, que mostram o que era consumido durante a construção desses círculos, são ossos de gazelas e outros animais caçados muito longe dali e mandados para o local para servirem de alimento.  Não havia nenhuma fonte de água natural no lugar.  Evidentemente havia necessidade de uma boa organização para que essa construção fosse feita e, no entanto, não foram achados ainda quaisquer vestígios de alguma estrutura social com mandantes e mandados.  Quem organizava essas centenas de pessoas necessárias para cinzelar, erguer e arranjar as pedras necessárias?  Klaus Schmidt lembra de maneira bastante enfática o que é tão intrigante:  “Descobrir que povos de caçadores, pescadores e apanhadores de frutos foram capazes de construir Göbekli Tepe  é como descobrir que alguém havia construído um avião 747 com um estilete”.  E no entanto, lá está, o templo fora do contexto temporal a que lhe atribuímos.

Câmara em Göbekli Tepe.

Mesmo que V. Gordon Childe tivesse sido abrangente demais nas suas teorias sobre a Revolução Neolítica, é preciso não descartarmos  o fato de que foi a agricultura que nos permitiu viver agrupados em  aglomerados, aldeias, cidades, reinos.  Com a agricultura também conseguimos prolongar as nossas vidas e chegar a um grande crescimento populacional.  E  poder plantar para colher não é um passo pequeno de desenvolvimento.  Mesmo que os homens neolíticos conseguissem proteger um pedacinho de terra em que o trigo ou cevada selvagens estivessem crescendo, suas sementes quando maduras se comportavam de maneira diferente das sementes dos grãos domesticados.  Isso só foi conseguido milhares de anos  mais tarde.  Os grãos das espécies selvagens se soltam da planta e caem no chão tornando uma tarefa quase impossível coletá-los no ponto preciso de amadurecimento.   Em termos de genética, a verdadeira agricultura de grãos só se deu quando uma área bastante grande de terreno pode ser dedicada ao cultivo de plantas que já haviam sofrido alguma mutação, deixando que os grãos maduros permanecessem nas plantas para a colheita.

Agricultura demanda organização, perseverança, disciplina e estratégias de longo prazo com relação ao retorno sobre o investimento do trabalho.  Como é um passo complexo aconteceu através de milhares de anos, quando povos nômades co-existiram com os sedentários.  Para que se tenha sucesso na agricultura  é necessário defender o investimento  contra a invasão territorial de animais e de outros seres humanos.  O trabalho se torna cooperativo e relativamente complexo, envolvendo um grupo social que exige uma estratificação, uma hierarquia social. Era muito maior o trabalho envolvido no cultivo de qualquer grão e na domesticação de animais  do que simplesmente colher, caçar e pescar.  No entanto, o sedentarismo prevaleceu.  Mas por que?  As vantagens são: pode-se plantar mais do que se consome; pode-se estocar comida para o período de inverno; pode-se trocar o excedente de um alimento de um grupo pelo excedente de alimentos de um outro grupo.   Mais pessoas comem.  O grupo, permanecendo num único lugar pode viver de maneira mais confortável, sem ter que carregar tudo o que lhe pertence.  Pode ter abrigo permanente contra as intempéries climáticas.

Mas nem tudo são flores.  Quando se fez a troca de uma vida de caça, pesca e colheita para uma agrícola, sedentária, o esqueleto humano mudou.   Temporariamente os homens ficaram menores, porque a dieta a que eles estavam acostumados, rica em proteína, também mudou.  Além do que, os animais domesticados também tiveram mudanças radicais sendo menos musculosos, oferecendo menos carne a ser degustada.  Mas, mesmo assim, insistiu-se na agricultura.  Por que?  É uma daquelas perguntas que ainda não pode ser bem respondida.  Há muitas teorias, entre elas a da extinção de animais selvagens pela caça generalizada, pressões populacionais…

Sabemos que a agricultura começou no que chamamos de Crescente Fértil: uma região  de clima temperado, do Oriente Médio irrigada pelos rios Jordão, Eufrates, Tigre e Nilo.  Uma área muito fértil, que é o lugar de nascença da história, da nossa história, da história da humanidade.   Foi aí que mais ou menos a 14.000 anos aC  os homens começavam a ter algum controle sobre a natureza, antes mesmo de conseguirem plantar para comer, antes mesmo de terem domínio sobre plantas e a domesticação de animais.   Foi aí que o mundo despertou.  Dá-se o nome de Crescente Fértil porque essa área, em que diversos povos chegam à agricultura, se desenhada sobre um mapa do mundo, formaria um arco, um crescente, sobre os atuais países: Egito, Israel, Cisjordânia, Líbano, partes da Jordânia, da Síria, do Iraque, da Turquia e do Irã.  É daí, nessa região, nas colinas suaves de Anatolia, que nasce a agricultura e consequentemente a civilização.  A uns poucos passos  de Göbekli Tepe. 

Localização de Göbekli Tepe, na região mais ao norte do Crescente Fértil.

É a proximidade entre o templo de Göbekli Tepe com primeiro cultivo proposital da agricultura que deixa alada a imaginação dos historiadores.  O que fez a população de Göbekli Tepe se organizar para construir um templo antes de mesmo de se organizar para a agricultura?  Obviamente havia uma necessidade emocional, interna, uma necessidade comum aos homens, de reverenciar um deus ou muitos, de idolatrar as forças que os governavam, para cultuar os favores: da caça e pesca abundantes, do renascimento constante de frutos e folhas.  Com a consciência de sua insignificância, de sua pequenez frente à natureza que os dominava, instalou-se  a precisão de um culto, dedicado a um ou mais seres, algo que aliviasse a angústia da incerteza da vida.

Área onde foram encontradas aldeias natufianas, desaparecidas por volta de 10.000 aC.

Antropólogos há muito assumem que a religião organizada surgiu como maneira de resolver problemas entre grupos à proporção que os nômades tiveram que conviver com outros grupos, quando todos se tornavam vizinhos sedentários, usufruindo das mesmas fontes de água limpa, de campos adjacentes, transformados em pequenos fazendeiros, responsáveis pela alimentação de seu grupo tribal.   Vilarejos surgiram, imaginava-se, da necessidade de estruturar as ações comuns que melhoravam a vida do individuo: enterro dos mortos;  abrigo à prova de animais para os membros do grupo,  o uso de plantas medicinais, e assim por diante.  E assumiu-se que só quando um uma visão de ordem celestial comum a um grande grupo apareceu, aí sim, vieram os templos, nas aldeias e nos vilarejos, um sistema religioso capaz de unir esses novos grupos.  Mesmo assim, já havia alguns indícios, raros é verdade, de que talvez essa ordem não estivesse correta: há resquícios de aldeias  datando de 13.000 anos aC , chamadas de Aldeias Natufianas [do período neolítico] que surgiram no Oriente médio, particularmente nas áreas que hoje cobrem os estados de Israel e Palestina,  Líbano, Jordão e oeste da Síria.  Os habitantes dessas aldeias, que viviam em lugar permanente, não eram agricultores, eram colhedores de sementes, de trigo, cevada e centeio, assim como caçadores de gazelas.  Como o professor Ofer Bar-Yosef,  da Universidade de Harvard apontou, a descoberta dessas aldeias foi “um grande sinal  de aviso que deveríamos mudar nossas idéias”. Mas essas aldeias neolíticas começaram a desaparecer por volta de 10.200 aC, quando houve uma pequena idade do gelo, com a queda da temperatura local por mais ou menos 11º centígrados.  As aldeias Natufianas certamente sugerem que a organização em aldeias veio anterior à agricultura.

Beidha, aldeia netufiana, no sul do Jordão, perto de Petra.

À medida que Karl Schmidt organiza e reflete sobre suas escavações em Göbekli Tepe também imagina as causas do aparecimento da agricultura antes mesmo da residência sedentária dos povos nômades. Talvez o templo tivesse sido construído por tribos das áreas ao entorno, num raio de 150 km, que tiveram como objetivo se agruparem, trazerem presentes e dádivas aos deuses, ou a um sacerdote. Certamente haveria alguma ordem social, que nos escapa hoje, que seria responsável pela construção do local e também pela organização dos fiéis. Haveria rituais, cantos, tambores, festas. E com o passar do tempo, da própria necessidade de alimentar os visitantes, agrupados ali para as cerimônias, houvesse aparecido a necessidade de garantir uma certa quantidade de comida. Teria nascido dessa maneira a agricultura nesse canto da Anatolia, sul da Turquia, com o cultivo mais intenso dos melhores grãos? Além das primeiras evidências de domesticação de plantas virem de Nevalı Çori, a 30 km de Göbekli Tepe, há muitos outros indícios deste início de tentaivas agrícolas, na mesma região. Os porcos domesticados pelo homem primeiro aparecem em Cayounu, a 100 km de Göbekli Tepe; gado bovino, caprino e ovino foram domesticados pela primeira vez no leste da Turquia. Todas as sementes de trigo existentes hoje no mundo inteiro são descendentes do einkorn kernel [Triticum boeoticum] cuja evidencia de DNA sugere ter sido domesticado próximo a Karaca Dağ , no sudeste da Turquia.

A visão que temos hoje da região é muito diferente daquela de então. O deserto do Curdistão era, naquela época, um lugar fértil, coberto de vegetação. Os relevos de todo tipo de animal nas pedras no templo atestam sobre esta abundância. Tudo indica que foi o homem, justamente através da agricultura do período neolítico que levou à desertificação: árvores derrubadas, o solo escorrendo com as chuvas, a terra exposta, sem plantio. Tudo o que mantinha verde esse grande oásis à beira de uma região de equilíbrio delicado, foi modificado e acabou sendo devastado. Teria sido esta a primeira grande perda ecológica que tivemos?

O Jardim do Éden, 1612

Jan Brueghel ( Holanda, 1568-1625)

óleo sobre placa de cobre,  50 x 80 cm

Galeria Doria-Pamphili,  Roma

São os contrastes entre esta visão paradisíaca da região — quando Göbekli Tepe foi construído, época em que grupos nômades se saciavam com o que apanhavam na natureza —  e a introdução da agricultura na área, com a devastação do meio ambiente em seguida, que têm levado alguns historiadores a se perguntarem se não seria justamente sobre esses eventos, a descrição da Expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden no Paraíso e sua subseqüente punição: serem obrigados a colher o fruto de seu trabalho, como descrito no primeiro livro do Gênese da Bíblia.  Adão, o caçador, foi levada a arar o solo de onde havia vindo.

Adão e Eva depois da Queda, 1818

Johann Anton Ramboux (Alemanha, 1790-1866)

óleo sobre tela,  115 x 139 cm

Museu Wallraf-Richatz,  Colônia

Que muitos dos relatos bíblicos vez por outra parecem ser comprovados, é fato.    Uma das publicações mais populares  de meados do século passado, que comparava  textos bíblicos às descobertas arqueológicas é o clássico E a Bíblia tinha razão, de 1955, do escritor alemão Werner Keller, um grande best-seller universal.  Muitos outros estudos desde então já apontaram diversas vezes para a área do Curdistão na Turquia como a provável localização do Éden: a oeste da Assíria, exatamente onde se encontra Göbekli Tepe.  Além disso, o Jardim do Éden bíblico está situado entre quatro rios incluindo o Tigre e o Eufrates.  Tom Knox, autor do romance de suspense The Genesis Secret, [Harper Collins: 2009] aponta para seus leitores  outros detalhes interessantes, entre eles, textos sírios, escritos na antiguidade, onde há a menção da Casa do Éden [Beth Eden], como um reino pequenino,  localizado a 75 km de  Göbekli Tepe. Outras referências  sobre a localização de um possível lugar chamado Éden [que na língua da Suméria significa “planalto” ] auxilia na localização do paraíso justamente no planalto de  Haran.

Angelus, 1857-59

Jean- François Millet (França, 1814-1875)

Óleo sobre tela, 55x 66 cm

Musee d’Orsay, Paris

Quando juntamos essas referências,  vem a vontade de dizer que as construções encontradas no sítio arqueológico de Göbekli Tepe, poderiam apontar para um templo localizado dentro do Jardim do Éden.    Mas ainda é muita especulação.  No entanto o que sabemos é que o local foi considerado santo há muitos e muitos milênios.  Inspirou o ser humano à introspecção, ao sagrado, à aceitação do divino em suas vidas.  Templo foi, sem dúvida.  Por si só expressa a necessidade humana de ir ao encontro de um poder maior,  de reconhecer suas próprias limitações e de apelar aos poderes que têm controle sobre nós.  Göbekli Tepe mostra que a necessidade de se agradecer dádivas, de se admitir o que é santo, de se confirmar em grupo a união com o Criador é inerente ao homem e como tal mais antiga do que imaginávamos.  Parece apontar, de fato, para o local do nascimento da religião.

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Esta postagem foi um sumário das idéias demonstradas nos seguintes artigos:

The Birth of Religion, de Charles C. Mann,  The National Geographic Magazine

Göbekli Tepe, em  Ancient Wisdom

Do these mysterious stones mark the site of the Garden of Eden? de Tom Knox,  The Daily Mail

E auxílio dos seguintes blogs: Hubpages; Essay Web; Hubpages (2);  Paleo Playbook, Mr.Guerriero






Hoje, Dia de Reis, o 12° dia do Natal!

6 01 2009

 

 

gentile-da-fabriano-altar-dos-medici-adoracao-dos-reis-magos-sobre-3-predellas-1423

Altar da Adoração dos Reis Magos, 1420-23

Gentile da Fabriano (Itália, 1370 – 1427)

Têmpera sobre madeira, 203 x 282 cm

Uffizi, Florença

 

[nota: abaixo três predellas , contam a vida anterior e posterior à cena retratada. Da esquerda para a direira: O nascimento de Jesus Cristo, A fuga para o Egito e à direita, A apresentação no templo e circuncisão

 

Por vezes falarei aqui neste blog sobre religiões.  Não necessariamente porque estou advogando uma específica, mas simplesmente porque muito do que fazemos e vemos no nosso dia a dia, muito do que pensamos e como pensamos, está direta ou indiretamente relacionado às religiões que formaram a cultura brasileira.  Como historiadora da arte, para mim foi sempre essencial saber em que meio, em que cultura um quadro, uma escultura, um altar, uma imagem litúrgica teria sido feita para poder entender o porquê de certos detalhes.  Assim como mencionei a festa judaica,  o Festival de Luzes, em dezembro de 2008, hoje venho pensando no Natal, e nas festividades que estão aos poucos desaparecendo.

 

Hoje é dia 6 de janeiro, Dia de Reis, ou Dia dos Reis Magos.  Atualmente quando falamos de magos há três imagens que nos vêm à memória, sem relação ao dia de hoje.  1 – pensamos em Paulo Coelho;  2 – pensamos na obra de Tolkien, O senhor dos anéis,  3 – pensamos na obra de J K Rolling, Harry Potter.  Quase nenhuma criança, adolescente, jovem ou adulto se lembra primeiro de Gaspar, Belquior, e Baltazar, os reis que seguiram a estrela de Natal e levaram presentes para o bebê nascido na manjedoura.

 

O Dia de Reis é o décimo-segundo dia de Natal.  E ainda é celebrado em muitas partes do mundo, em lugares onde a tradição da Igreja Ortodoxa grega impera, [aquela que é herdeira e mantenedora das tradições religiosas depois da Queda do Império Romano].  É nela que  é no dia de hoje, lembrando os presentes dados pelos reis magos a Jesus, as pessoas trocam presentes de Natal.

 

Quando morei nos EUA fiquei surpresa de ouvir a grande maioria dos americanos cantando uma conhecida cantiga natalina, chamada The Twelve Days of Christmas,  — os doze dias de Natal – sem terem a menor noção de que esses 12 dias se referem ao período do dia 25 ao dia 6 de janeiro.  Não sabem também que a letra desta conhecida canção traz muitas referências à história da igreja católica na Grã-Bretanha.  É por causa deste simbolismo dos 12 dias de Natal que tradicionalmente nós nos desfazemos dos nossos enfeites natalinos, inclusive da árvore de Natal, só depois do dia 6 de janeiro.  No entanto, nos EUA, ao invés, as pessoas se desfazem de suas árvores de Natal no dia 31 de dezembro e no sul do país, onde morei por muitos anos, a tradição oral é: manter a árvore montada depois do dia primeiro traz má sorte.   Esta atitude sempre me surpreendeu porque aquele é um país cristão e bastante religioso.   Mas lá, já se perdeu a noção dos 12 dias do Natal.

 

Então, vejamos o que a canção natalina a que me referi realmente diz:

 

The Twelve Days of Christmas

 

 

On the first day of Christmas,

my true love sent to me

A partridge in a pear tree.

 

On the second day of Christmas,

my true love sent to me

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the third day of Christmas,

my true love sent to me

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the fourth day of Christmas,

my true love sent to me

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the fifth day of Christmas,

my true love sent to me

Five golden rings,

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the sixth day of Christmas,

my true love sent to me

Six geese a-laying,

Five golden rings,

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the seventh day of Christmas,

my true love sent to me

Seven swans a-swimming,

Six geese a-laying,

Five golden rings,

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the eighth day of Christmas,

my true love sent to me

Eight maids a-milking,

Seven swans a-swimming,

Six geese a-laying,

Five golden rings,

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the ninth day of Christmas,

my true love sent to me

Nine ladies dancing,

Eight maids a-milking,

Seven swans a-swimming,

Six geese a-laying,

Five golden rings,

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the tenth day of Christmas,

my true love sent to me

Ten lords a-leaping,

Nine ladies dancing,

Eight maids a-milking,

Seven swans a-swimming,

Six geese a-laying,

Five golden rings,

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the eleventh day of Christmas,

my true love sent to me

Eleven pipers piping,

Ten lords a-leaping,

Nine ladies dancing,

Eight maids a-milking,

Seven swans a-swimming,

Six geese a-laying,

Five golden rings,

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree.

 

On the twelfth day of Christmas,

my true love sent to me

Twelve drummers drumming,

Eleven pipers piping,

Ten lords a-leaping,

Nine ladies dancing,

Eight maids a-milking,

Seven swans a-swimming,

Six geese a-laying,

Five golden rings,

Four calling birds,

Three French hens,

Two turtle doves,

And a partridge in a pear tree!

 

 

No 1º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Uma perdiz em uma pereira

No 2º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Duas rolinhas

No 3º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Três galinhas francesas

No 4º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Quatro pássaros

No 5º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Cinco sinos

No 6º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Seis gansos

No 7º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Sete cisnes

No 8º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Oito  jovens que ordenham

No 9º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Nove senhoras dançando

No 10º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Dez senhores saltadores

No 11º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Onze flautistas tocando

No 12º dia de Natal meu verdadeiro amor me enviou…
Doze tocadores de tambor tocando-os

Esta letra vem do tempo em que a Inglaterra proibia a religião católica [1558-1829] e católicos ingleses e irlandeses precisavam achar uma maneira de passar para seus filhos os aprendizados religiosos.  Tornaram-se então grandes especialistas em simbologia – assim como nós no Brasil da ditadura militar do século passado, passamos a falar em código sobre muito do que era proibido pelo governo.  Então, voltando à Inglaterra, esta canção é ao mesmo tempo uma canção natalina e um trava-linguas, uma brincadeira infantil que pretende seduzir as crianças em aprenderem esta simbologia muito especial.  

 

Amor verdadeiro =  Jesus Cristo

Duas rolinhas: o Novo e o Velho Testamentos

Três galinhas francesas = as virtudes teológicas: Fé, Esperança e Caridade

Quatro pássaros = os quatro evangelhos / os quatro evangelistas

Cinco sinos = Pentateuco ou seja, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, que mostram como o homem perdeu o Paraíso

Seis gansos = Seis dias da Criação

Sete cisnes = sete sacramentos

Oito jovens que ordenham = oito beatitudes

Nove senhoras dançando = nove frutos do Espírito Santo: alegria, amor, auto-controle, bondade, fidelidade, docilidade, nobreza de sentimentos, paciência, paz.

Dez senhores salteadores = dez mandamentos

Onze flautistas = onze fiéis discípulos

Doze Tocadores de tambor = doze pontos de fé do Credo dos Apóstolos

 

Lembrando os doze pontos de fé do Credo:

 

1. CREIO em   —  Deus Pai Todo-poderoso,  Criador dos Céus e da terra.

 

2.   E em Jesus Cristo, o seu único Filho, o nosso Senhor;

 

3.   que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria;

 

4.   padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;

 

5.   desceu aos inferno, e ao terceiro dia ressuscitou dentre os mortos;

 

6.   subiu ao céu e está assentado a direita de Deus Pai Todo-poderoso;

 

7.   dali virá para julgar os vivos e os mortos.

 

8. Creio no Espírito Santo;

 

9. na santa Igreja católica, a comunhão dos santos;

 

10. o perdão dos pecados;

 

11. a ressurreição do corpo

 

12. e a vida eterna. Amém.”

 

 

Neste Natal que passou cheguei a ouvir algumas vezes esta canção (muito repetitiva e enfadonha) por aí, nas lojas que pretendem ser mais sofisticadas.

 

Feliz Dia de Reis!

 

—–

Nota sobre o altar de Gentile da Fabriano:  Na minha opinião, este não é só o mais belo altar retratando a  Adoração dos Reis Magos do estilo Gótico Internacional, mas talvez o mais belo que conheço, de todos os retábulos representando a Adoração do Reis Magos (são muitos) do período da Renascença e do Barroco europeus.





O Vaticano vai de verde!

14 12 2008

 

vaticano-reuters-alessandro-bianchi

          Árvore no Vaticano (Foto: Reuters, Alessandro Bianchi)

 

No mês passado o Vaticano ativou um grande sistema de painéis solares no telhado do salão de audiências. Na ocasião a administração da cidade anunciou um plano ambicioso de conservação de energia que poderá num futuro próximo fazer com que o Vaticano seja um exportador de energia alternativa.

 

Agora, na semana passada, quando deu início às comemorações natalinas com a inauguração da tradicional árvore de Natal na Praça de São Pedro em Roma, o Vaticano anunciou que esta árvore, a maior que já tiveram para esta comemoração, terá sua madeira reciclada: virará brinquedos para crianças carentes e móveis como bancos, para jardins e salas de aulas.  Todos decorados por crianças italianas.  Esta é uma iniciativa inspirada na consciência de que a madeira é uma riqueza que «não deve ser desperdiçada, e mais, deve-se voltar a utilizar para o próprio benefício e o das novas gerações do planeta», como divulgou o L’Osservatore Romano, diário da Santa Sé. 

 

O pinheiro tem 33 metros de altura, 45 cm de diâmetro e pesa aproximadamente 3 toneladas.  Com 120 anos de vida, veio das florestas ao sul da Áustria, doada pelo município de Gutestain, próximo de Sankt Poelten, na região da Baixa Áustria, cuja principal igreja comemora 500 anos de existência.  A cerimônia de inauguração da gigantesca árvore de Natal, foi acompanhada de chuva por toda tarde.  Este ano a árvore terá duas mil bolas amarelas e brancas e será encimada por uma grande estrela.  Um novo sistema de iluminação composto por 1500 luzes faz parte das inovações deste ano. O rio Tibre, que passa ali perto, estava parecendo que poderia transbordar, tendo atingido a maior altura de suas águas em décadas.  Mas isso não deteve os visitantes que vieram desfrutar da magia do momento: peregrinos de diversas partes do mundo participaram desta inauguração na presença do Cardeal Giovanni Lajolo, governador da cidade do Vaticano.

 

Como habitualmente, para além da gigantesca árvore, outros 50 pinheiros serão colocados em diversos locais do Vaticano, desde a sala Paulo VI aos Museus. Cinco deles são colocados no apartamento do Papa.  A tradição de colocar uma árvore junto do obelisco, iniciada por João Paulo II em 1982, tem sido mantida por Bento XVI. Ser escolhido para oferecer a árvore de Natal ao Vaticano é considerado uma honra e, para os próximos anos, esse privilégio já está reservado. É a oitava vez que a árvore do Vaticano vem da Áustria.

 

 





Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife, Século XVII

10 08 2008
Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife, Século XVII

Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife, Século XVII

Na penúltima vez que estive em Recife esta sinagoga ainda não estava aberta ao público. Mas recentemente, visitando o nordeste, pude verificar este grande marco do Brasil colônia que foi a primeira sinagoga oficial de todas as Américas: Sinagoga Kahal Zur Israel (ou Congregação Rochedo de Israel).  Aberta no Período em que Recife era o centro do governo holandês. A foto mostra o nome da Rua dos Judeus, onde ela está localizada.  Este era o antigo nome da rua.  Hoje em dia chama-se Rua do Bom Jesus.

 

Diz-se que foi a primeira sinagoga oficial porque sabemos da existência de uma sinagoga anterior: Maguen Abraham (Escudo de Abraão).  Tudo indica que esta ficava na antiga ilha de Antônio Vaz, que depois se chamou Maurícia.  Mas até hoje ainda não foram encontrados vestígios arqueológicos desta sinagoga.  Há relatos também de sinagogas formadas em pequenas comunidades na Paraíba e na Bahia.

 

 

No século XVI é certo houve um grande número de judeus vindo para o Brasil.  Quando as prisões portuguesas foram esvaziadas e seus presos trazidos para o Brasil com a intenção de popular a terra, muitos dos que se encontravam presos eram novo-cristãos que haviam sido presos por continuarem praticas judaizantes.   Ainda que Portugal estivesse sob orientação da Inquisição, havia um grande problema nas mãos do reinado:  a necessidade de popular  a terra descoberta, com terras costeiras de perímetro generoso e defendê-las mesmo assim contra invasores.  Isto tudo para um dos menores países europeus com uma população também pequena.

 

Rua do Bom Jesus antiga Rua dos Judeus, Recife, PE

Rua do Bom Jesus antiga Rua dos Judeus, Recife, PE

 

 

 

 

 

 

 

Com a invasão holandesa, o Nordeste brasileiro passa a ser regrado pelas leis e costumes dos invasores.  Assim um grupo de judeus vem se estabelecer no Novo Mundo, contando com  a liberdade religiosa já existente no país flamengo.   Foi só nesta época que a sinagoga Kahal Zur Israel esteve ativa sendo sustentada por 180 famílias de judeus brasileiros e europeus no Recife.

 Junto a esta sinagoga havia duas escolas religiosas: Etz Hayim e Talmud Torah.   Mas estas não foram recuperadas.  O que se tem hoje é o edifício onde o templo exercia suas funções religiosas.  Ocupava duas casas, como pode ser visto na foto da fachada postada anteriormente. A comunicação entre as duas casas era feita por uma única pequena porta bem na frente; enquanto que o acesso ao segundo andar era feito exclusivamente por uma das casas, através de uma bela escada de madeira nos moldes do mobiliário vistos aqui.

Interior da sinagoga; segundo andar.

Interior da sinagoga; segundo andar.

 

 

 

 

 

Hoje o andar térreo desta sinagoga está dedicado a uma exposição permanente da história desta comunidade judaica que construiu e estabeleceu este templo.  Pode-se ver as escavações do local, que passou para as mãos de João Fernandes Vieira, em 1656.  Podemos ver os alicerces da construção e examinar o  piso original holandês, a descoberto depois de terem sido encontrados 8 diferentes níveis, principalmente porque a história do edifício inclui diversas funções.  Em1679 o prédio foi doado aos padres da Congregação do Oratório de Santo Amaro.  Daí por diante há uma troca constante de funções sendo que até recentemente era uma casa de material elétrico.   No térreo pode-se observar  também o muro de contenção das águas do rio Beberibe, a fundação do Micvê,  assim como vitrines com pedaços de  louça, cachimbos, faiança, utensílios de barro esmaltado trazidos tanto pelos colonizadores portugueses como pelos holandeses.   

Fragmentos de louça encontrados nas excavações

Fragmentos de louça encontrados nas excavações

 

 

 

No primeiro andar está a sala de orações. Esse espaço está hoje destinado ao publico participante de conferências e seminários sobre a cultura judaica que fazem parte dos estudos realizados no centro de pesquisa localizado no andar de cima.  O mobiliário desta parte foi construído de acordo com os moldes usados nos Países Baixos na época.  Enquanto que o formato e o material do teto da sinagoga são baseados nas  sinagogas da península ibérica do século XVII.   A arca que contém a Torah está em frente ao púlpito.  O salão do serviço religioso se encontra na direção leste, como requerido.   No mezanino ficava a parte reservada às mulheres, que acompanhavam as cerimônias religiosas, separadamente.   No segundo andar  encontra-se a sede do Centro de Documentação da Memória Judaica de Pernambuco.

 

Com a retomada portuguesa do território sob  Maurício de Nassau  muitas das famílias judias pernambucanas, temendo a volta dos processos da Inquisição, saíram da cidade de Recife.  Algumas delas vieram para o sul do Brasil, para Minas Gerais, onde se juntaram aos bandeirantes na procura por metais e pedras preciosas. Outras 150 famílias decidiram retornar à Holanda.   23 destas famílias, que se encontravam a bordo do navio Valk, de regresso aos Países Baixos,  foram deixadas presas na Jamaica depois que a embarcação sofreu um ataque de piratas espanhóis.  Quando liberadas, tomaram um navio francês que seguia para a America do Norte e chegaram ao vilarejo de Nova Amsterdam,  com  1500 habitantes, no coração da ilha de Manhattan, em setembro de 1654.

 

***

 

A sinagoga encontra-se aberta ao público desde 2001.