Princesa Isabel, 1920, em Paris.
—
—
Princesa Isabel, teu nome,
Hoje coberto de glória,
Relembra o gesto mais lindo
Dos anais da nossa história.
—
—
Princesa Isabel, teu nome,
Hoje coberto de glória,
Relembra o gesto mais lindo
Dos anais da nossa história.
A Inconfidência, década de 1960-70
Emiliano Di Cavalcanti (Brasil 1897 – 1976)
óleo sobre tela
—
—
Viriato Corrêa
—
—
A natureza é inexorável nos seus caprichos. Assim como talha criaturas para os surtos dos sucessos, molda outras irremediavelmente para as sensaborias da vida.
Tiradentes é uma figura nascida com pouca sorte. Por mais de um século que vem rolando na história e, até hoje, a história não lhe fez a justiça que merecem os seus grandes gestos e as suas virtudes cívicas.
Há ainda hoje quem lhe negue tudo: o desassombro em tramar a conjuração mineira, a grandeza da alma em chamar para si as responsabilidades totais do movimento, a confiança no seu papel, a coragem inflamada ao subir à forca, a resignação de mártir, tudo. E, não satisfeita com isso, a história, quase sem dissonância alguma, nega-lhe até as qualidades de inteligência.
Ainda hoje o grande sacrificado da inconfidência de Minas é apontado como um ignorantão. É esse o conceito geral entre quase todos os historiadores do movimento mineiro.
A injustiça é flagrante. Tiradentes nunca foi a cavalgadura que se propala.
Numa rebelião da ordem da de 1789, em que havia figuras da estatura intelectual de Alvarenga Peixoto, Cláudio Manuel da Costa, Gonzaga, cônego Luiz Vieira da Silva e outros, Tiradentes não podia ser uma personalidade de predominância mental.
Mas, nem por isso, se deve dizer que ele fosse a besta chapada que nossos historiadores têm feito acreditar.
—
—
—
—
Sobre os dotes da cultura de Tiradentes há ainda um ponto de interrogação na história.
Ninguém sabe as escolas que o incendido alferes mineiro cursou quando menino e rapaz. Acostumaram-se os cronistas a julgá-lo um tipo inferior, e ninguém mais cuidou de apurar a verdade.
Não é, porém, provável que o mártir da inconfidência tivesse tido uma educação completamente descurada. Os seus pais tinham posses para o educar.
Há na Revista do Instituto Histórico um documento interessante a esse respeito. É o inventário dos bens de dona Antônia da Encarnação Xavier, mãe do futuro sacrificado da conspiração de Minas.
O inventário é de 1756, data em que Tiradentes tinha apenas oito anos de idade. O inventariante é Domingos da Silva Santos, pai do futuro alferes e marido de dona Antônia.
Por aquele documento se vê que o casal se não é rico, é pelo menos remediado. É possuidor de fazenda agrícola do Pombal no Rio Abaixo, no município de São João D’ El-Rei. Na fazenda trabalham trinta e cinco escravos. Estende-se nos seus domínios uma lavra de terras minerais, tudo de propriedade do casal. Entre os bens inventariados lá estão um jarro de prata para lavar as mãos, galhetas e talheres também de prata, sinal de abastança na época.
Todo mundo sabe o que são avaliações de inventário – tudo pela metade ou pelo terço. O monte mor dos bens do casal progenitor de Silva Xavier é avaliado em mais de dez contos de réis.
—
—
Jornada dos Mártires, circa 1928
Antônio Parreiras ( Brasil, 1860-1937)
óleo sobre tela, 200 x 365 cm
Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora
—
—
Poder-se-á dizer que, apesar de remediados, os pais de Tiradentes podiam não cuidar da educação dos filhos. Mas Xavier da Veiga, nas Efemérides Mineiras, cita um outro documento em que se vê que isso não é verdade. É aquele em que se verifica que dois irmãos do sonhador da inconfidência eram padres. Não parece provável que o velho Domingos da Silva tivesse ordenado dois filhos e descurasse completamente da educação de um terceiro.
Sobre esse ponto a história se conserva muda. Sabe-se precisamente o ano em que Tiradentes nasceu – 1748.
Há, porém, uma profunda treva em derredor de sua adolescência. Vamos depois encontrá-lo em Minas Novas , arvorado em mascate, já homem feito, mercadejando de vila em vila.
Se nesse tempo tinha ou não o polimento das escolas, está tudo por apurar-se. Pereira da Silva afirma que ele viajou pela Europa e pelos Estados Unidos, voltando ao Brasil inflamado pelas idéias liberais que no momento incendiavam o mundo. A informação parece leviana, pois não há nenhum documento que a confirme.
Na profissão de mascate é homem de pouca sorte que a fatalidade caprichosamente atirou ao mundo. Não progride e é até preso por dívidas, segundo muitos afirmam.
Parece que são os desastres de negociante que o empurram para a farda. Há quem atribua essa resolução a um caso de amor. [* Martinho de Freitas – Memórias Históricas].
Tiradentes, em S. João D’ El-Rei, amou perdidamente uma moça filha de pais portugueses, abastados. Os preconceitos de cor e os preconceitos de fortuna predominavam mais do que nunca. Ele era de cor morena e pobre. A oposição dos pais da moça não pode ser vencida. Arreliado, desiludido, corre a por nas costas a farda do regimento de dragões.
Onde e quando a sua alma se inflamou pelas idéias republicanas? No ambiente do quartel? Nas peregrinações de mascate?
—
—
Tiradentes, 1928
Décio Villares
óleo sobre tela
—
—
Joaquim Felício dos Santos, na Revista do Arquivo Mineiro, parece esclarecer esse ponto. Quando mercador ambulante, Tiradentes foi muitas vezes à Bahia refazer o sortimento de mercadorias para os seus negócios. A capital baiana era o centro da efervescência maçônica, foi mesmo o primeiro ponto de entrada da maçonaria no Brasil. E, naquela época, as lojas de maçonaria eram verdadeiras oficinas revolucionárias, verdadeiro centro de cultura, sob o influxo novo dos enciclopedistas que transformaram o mundo.
Numa daquelas viagens, Tiradentes se fez maçom e, na atmosfera crepitante das lojas, formou seu espírito de revolucionário liberal.
A sua vida militar foi amarga e dura.
No século XVIII Portugal insaciavelmente explorou o Brasil. Explorou-o em tudo> no ouro, nos diamantes, na incultura imposta nos cargos públicos. O brasileiro não tinha direito de subir. No exército só os portugueses conseguiam os melhores postos.
A vida militar de Tiradentes dói exemplaríssima. Apesar disso, sofreu as mais cortantes injustiças. Não sabia pedir, não sabia adular, e o preteriam nas promoções.
Não passou de alferes. Valeriano Manso, seu furriel, avançou-lhe à frente, conquistando o posto de tenente. Antônio José de Araújo, que ele viu furriel, subiu a capitão nas suas próprias barbas. O cadete Fernando Vasconcelos fez-se alferes da noite para o dia.
Esses dissabores constantes deviam-lhe ter arranhado fundamente a alma, acendendo-lhe os ímpetos de independência, despertando-lhe o sonho de um país emancipado, onde houvesse justiça e prêmio às virtudes.
Nenhum estudo foi feito até hoje em que se pudessem aquilatar com precisão os dotes de cultura do admirável sacrificado da conjuração mineira.
É possível mesmo que esses dotes fossem poucos, mas o que ninguém poderá negar é qie Tiradentes tivesse sido uma criatura inteligentíssima, de uma inteligência clara e avançada, muito superior para a época em que viveu.
Não falemos das suas incontestáveis habilidades de dentista. Não há notícia de que ele tivesse aprendido a cirurgia dentária e, no entanto, os cronistas são unânimes em afirmar ter sido ele um habilíssimo cirurgião “que tirava os dentes com a mais sutil ligeireza e ornava a boca de novos dentes, feitos por ele mesmo, que pareciam naturais”, segundo informação dada por frei Raimundo Penaforte, aquele estranho frade que lhe assistiu os últimos momentos. E, naquela época, no Brasil, isso constituía um verdadeiro assombro.
Não falemos das suas qualidades de médico, das suas curas felizes entre a pobreza, fatos que ninguém contesta e que todos apontam.
Falemos apenas de Tiradentes engenheiro, Tiradentes homem de larga iniciativa.
—
—
São João D’ El-Rei, 1983
Emeric Marcier ( Romênia 1916- Paris 1990)
óleo sobre tela 73 x 92 cm
—
—
Os documentos da história neste particular são positivos. Tiradentes era tido no seu tempo como uma competência em assuntos mineralógicos. Em 1784, o governador Luiz da Cunha Menezes incumbiu o sargento-mor Pedro Afonso Galvão de S. Martinho de proceder a uma “exatíssima averiguação” nos sertões de leste de Minas. Para acompanhar o sargento-mor foi escolhido o alferes republicano. Lá está no ofício que o governador envia ao coronel Manuel Rodrigues da Costa:
“ o mesmo (Pedro Afonso Galvão de S. Martinho) leva para o acompanhar o alferes Joaquim José da Silva Xavier, que se acha destacado na ronda do Mato, visto Vmcê, também me dizer que ele tem inteligência mineralógica.”
Esse “também” mostra a boa fama em que Tiradentes era tido no assunto.
Mas não é só como minerador que ele se firma um homem de inteligência incontestável. É com trabalhos mais largos, com iniciativa mais vasta.
A primeira vez que Tiradentes veio ao Rio, já militar, ficou deslumbrado pela grandeza e pela riqueza da cidade. O Rio de Janeiro, naquela época, tinha apenas cinqüenta mil habitantes, mas era já a maior e mais bela cidade brasileira.
Num lancear de olhos o humilde alferes mineiro compreendeu o progresso futuro da capital do Brasil. O Rio de Janeiro desenhou-se-lhe no espírito de homem superior com a grandeza e o vulto que hoje tem. Havia de ser uma das vastas capitais do mundo, no correr de um século.
E reparem bem isto: Tiradentes teve a visão que se não tinha ainda: uma cidade como o Rio, com o futuro do Rio, exigia, com urgência, um perfeito abastecimento de água e um porto onde não faltassem trapiches.
E em 1788, quando volta ao Rio, propõe ao vice-rei Luiz de Vasconcelos a canalização dos riachos Maracanã e Andaraí, para o abastecimento da cidade e a construção de vastos trapiches na Saúde.
É preciso considerar com justiça esse fato e pesar, no seu valor, as duas propostas. Só podem ser de um homem de inteligência admirável. Raros serão os engenheiros do século XX que, ao chegar rapidamente a uma cidade, sem conhecimento da sua topografia, possam perceber, de um golpe, não só as suas necessidades de abastecimento de água como os meios de resolver o caso.
—
—
Monumento à civilização mineira
Praça da Estação Rodoviária
Belo Horizonte, MG
—
–
E de que Tiradentes teve em pleno século XVIII a verdadeira visão comercial do Rio futuro, aí estão as obras do porto, só começadas no século XX, como uma necessidade imprescindível do comércio.
E através dos séculos futuros, só vêem as inteligências privilegiadas…
Não se sabe bem qual foi a impressão que as propostas de Tiradentes causaram ao vice-rei. Luiz de Vasconcelos era homem de certo gosto, mas era também cortesão. Um simples alferes provinciano não lhe devia merecer grande importância. O certo é que, por isto ou aquilo, enviou as propostas a Lisboa, ao Conselho Ultramarino. Em Portugal os planos do republicano mineiro foram levados a sério. O Conselho, tomando-os em consideração, devolveu os papéis ao vice-rei para que os informasse.
Que Tiradentes foi um homem de talento não se pode ter dúvida. Os próprios historiadores que o apontam como cavalgadura dizem-no orador vibrante, eloqüente, que arrebatava as multidões com rasgos de fulgor.
E só podia ser uma inteligência de imenso vulto. Só uma grande inteligência poderia ser irmã daquela esplêndida alma desassombrada que, diante da morte, sorri tranqüila e, diante da miséria dos companheiros, consegue ter alento para perdoar.
***
Em: Terras de Santa Cruz: contos e crônicas da História Brasileira, Viriato Corrêa, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro: 1956, páginas 153-160.
—
—
—
—
Manuel Viriato Corrêa [ou Correia] Baima do Lago Filho (Pirapemas, MA 1884 — Rio de Janeiro, RJ 1967) – Pseudônimos: Viriato Correia, Pequeno Polegar, Tibúrcio da Anunciação. Diplomado em direito, jornalista, contista, romancista, teatrólogo, autor de literatura infantil e crônicas históricas, professor de teatro, membro da ABL e político brasileiro.
Obras:
Minaretes, contos, 1903
Era uma vez…, infanto-juvenil, 1908
Contos do sertão, contos, 1912
Sertaneja, teatro, 1915
Manjerona, teatro, 1916
Morena, teatro, 1917
Sol do sertão, teatro, 1918
Juriti, teatro, 1919
O Mistério, teatro, 1920
Sapequinha, teatro, 1920
Novelas doidas, contos, 1921
Contos da história do Brasil, infanto-juvenil, 1921
Terra de Santa Cruz, crônica histórica, 1921
Histórias da nossa história,crônica histórica, 1921
Nossa gente, teatro, 1924
Zuzú, teatro, 1924
Uma noite de baile, infanto-juvenil,1926
Balaiada, romance, 1927
Brasil dos meus avós, crônica histórica, 1927
Baú velho, crônica histórica, 1927
Pequetita, teatro, 1927
Histórias ásperas, contos, 1928
Varinha de condão, infanto-juvenil, 1928
A Arca de Noé, infanto-juvenil, 1930
A descoberta do Brasil, infanto-juvenil,1930
A macacada, infanto-juvenil, 1931
Bombonzinho, teatro, 1931
Os meus bichinhos, infanto-juvenil, 1931
No reino da bicharada, infanto-juvenil, 1931
Quando Jesus nasceu, infanto-juvenil, 1931
Gaveta de sapateiro, crônica histórica, 1932
Sansão, teatro, 1932
Maria, teatro, 1933
Alcovas da história, crônica histórica, 1934
História do Brasil para crianças, infanto-juvenil, 1934
Mata galego, crônica histórica, 1934
Meu torrão, infanto-juvenil,1935
Bicho papão, teatro, 1936
Casa de Belchior, crônica histórica, 1936
O homem da cabeça de ouro, teatro, 1936
Bichos e bichinhos, infanto-juvenil, 1938
Carneiro de batalhão, teatro, 1938
Cazuza, infanto-juvenil, 1938
A Marquesa de Santos, teatro, 1938
No país da bicharada, infanto-juvenil, 1938
História de Caramuru, infanto-juvenil, 1939
O país do pau de tinta, crônica histórica, 1939
O caçador de esmeraldas, teatro, 1940
Rei de papelão, teatro, 1941
Pobre diabo, teatro, 1942
O príncipe encantador, teatro, 1943
O gato comeu, teatro, 1943
À sombra dos laranjais, teatro, 1944
A bandeira das esmeraldas, infanto-juvenil, 1945
Estão cantando as cigarras, teatro, 1945
Venha a nós, teatro, 1946
As belas histórias da História do Brasil, infanto-juvenil, 1948
Dinheiro é dinheiro, teatro, 1949
Curiosidades da história do Brasil, crônica histórica, 1955
Terras de Santa Cruz: contos e crônicas da História Brasileira, 1956
O grande amor de Gonçalves Dias, teatro, 1959.
História da liberdade do Brasil, crônica histórica, 1962
Morandini, designer ( de seu blog: http://blog.morandini.com.br/ )
Técnica mista com folhas de árvores
–
–
Ronald de Carvalho
–
Tua Pátria não está somente no torrão em que nasceste!
tua Pátria não se levanta num simples relevo geográfico.
O solo em que pisas,
as águas em que te refletes,
o céu que te alumia,
as árvores que te dão vozes, fruto e sombras,
as fontes que te dessedentam,
o ar que respiras,
recebeste, em partilha, com todos os homens sobre a terra.
Tua pátria não é um acidente geográfico!
Brasileiro,
se te perguntarem: Onde está a tua Pátria?
responde:
— Minha Pátria está na geografia ideal que os meus
Grandes Mortos me gravaram no coração;
no sangue com que temperaram a minha energia;
na essência misteriosa que transfundiram no meu caráter;
na herança de sacrifícios que me transmitiram;
na herança cunhada a fogo;
no ferro, no bronze, no aço das Bandeiras, dos Guararapes, das Minas da Inconfidência, da Confederação do Equador, do Ipiranga e do Paraguai.
Minha Pátria está na consciência que tenho de sua grandeza moral e nessa lição de ternura humana que a sua imensidade me oferece, como um símbolo perene da tolerância desmedida e infinita generosidade.
Minha Pátria está em ti, Minha Mãe! No orgulho comovido com que arrancaste das entranhas do meu ser a mais bela das palavras, o nome supremo: — BRASIL!
Em: Criança Brasileira: quinto livro de leitura [admissão e quinta-série], Theobaldo Miranda Santos, Rio de Janeiro, Agir: 1949
Ronald de Carvalho (RJ, 1893 — RJ, 1935), foi um poeta e político brasileiro. Nasceu a 16 de março de 1893, no Rio de Janeiro. Formou-se em Direito e ingressou no serviço diplomático. Participou ativamente do movimento modernista e da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, em 1922. Em concurso realizado pelo Diário de Notícias, em 1935, foi eleito Príncipe dos Prosadores Brasileiros, em substituição a Coelho Neto. Faleceu vítima de um acidente automobilístico em 1935.
Obras:
Luz Gloriosa, 1913
Pequena História da Literatura Brasileira, 1919
Poemas e Sonetos, 1919
Afirmações: um ágape de intelectuais, 1921
Epigramas Irônicos e Sentimentais, 1922
O espelho de Ariel, 1923
Estudos Brasileiros, 1924
Jogos pueris, 1926
Toda a América, 1926
Imagens do México, 1929
Caderno de Imagens da Europa, 1935
Itinerário: Antilhas, Estados Unidos, México, 1935
O Imperador D. Pedro I, 1826
Manuel de Araújo Porto-alegre (Brasil, 1806-1879)
Óleo sobre tela
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
—-
PROCLAMAÇÃO – DE 8 DE SETEMBRO DE 1822
Sobre a divisa do Brasil – Independência ou Morte.
HONRADOS PAULISTANOS
O amor que Eu consagro ao Brazil em geral, e à vossa Provincia em particular, por ser aquella, que perante Mim e o Mundo inteiro fez conhecer primeiro que todos o systema machiavelico, desorganisador e faccioso das Côrtes de Lisboa, Me obrigou a vir entre vós fazer consolidar a fraternal união e tranquilidade, que vacillava e era ameaçada por desorganizadores, que em breve conhecereis, fechada que seja a Devassa, a que Mandei proceder. Quando Eu mais que contente estava junto de vós, chegam noticias, que de Lisboa os traidores da Nação, os infames Deputados pretendem fazer atacar ao Brazil, e tirar-lhe do seu seio seu Defensor: Cumpre-Me como tal tomar todas as medidas, que Minha Imaginação Me suggerir; e para que estas sejam tomadas com aquella madureza, que em taes crises se requer, Sou obrigado para servir ao Meu Idolo, o Brazil, a separar-Me de vós (o que muito Sinto), indo para o Rio ouvir Meus Conselheiros, e Providenciar sobre negocios de tão alta monta. Eu vos Asseguro que cousa nenhuma Me poderia ser mais sensivel do que o golpe que Minha Alma soffre, separando-Me de Meus Amigos Paulistanos, a quem o Brazil e Eu Devemos os bens, que gozamos, e Esperamos gozar de uma Constituição liberal e judiciosa, Agora, paulistanos, só vos resta conservardes união entre vós, não só por ser esse o dever de todos os bons Brazileiros, mas tambem porque a Nossa Patria está ameaçada de soffrer uma guerra, que não só nos ha de ser feita pelas Tropas, que de Portugal forem mandadas, mas igualmente pelos seus servis partidistas, e vis emissarios, que entre Nós existem atraiçoando-Nos. Quando as Autoridades vos não administrarem aquella Justiça imparcial, que dellas deve ser inseparavel, representai-Me, que eu Providenciarei. A Divisa do Brazil deve ser – INDEPENDENCIA OU MORTE – Sabei que, quando Trato da Causa Publica, não tenho amigos, e validos em occasião alguma.
Existi tranquillos: acautelai-vos dos facciosos sectarios das Côrtes de Lisboa; e contai em toda a occasião com o vosso Defensor Perpetuo. – Paço, em 8 de Setembro de 1822.
PRINCIPE REGENTE´
——-
Manuel José de Araújo Porto-alegre, primeiro e único barão de Santo Ângelo (Rio Pardo, 2 de novembro de 1806 — Lisboa, 29 de dezembro de 1879), escritor, pintor, caricaturista, arquiteto, crítico e historiador de arte, professor e diplomata brasileiro.
“D. Pedro, como príncipe, recebia muito pouco dinheiro. A sua pensão era ridícula: um conto de réis! E não havia força de D. João sair daquilo. O rei era um sovina tremendo. D. Pedro, temperamento de irrefletido, inteiramente oposto ao do pai, gastava às mãos cheias, estouradamente, esbanjadamente. Por isso mesmo, enquanto príncipe, D. Pedro viveu em aperturas desesperadas. Mais duma vez, nos seus apuros, o herdeiro do trono recorreu a empréstimos envergonhantes. O Pilotinho, bodegueiro da Rua dos Borbonos, forneceu-lhe certa ocasição, doze contos de réis. Manuel José Sarmento, pessoa pacata, antigo oficial da secretaria, socorreu-o muitíssimas vezes com quantias fortes. Ora, diante da usura do pai, para sair daquela situação humilhante de empréstimos e mais empréstimos, o príncipe tomou uma resolução heróica: resolveu ganhar dinheiro! Resolveu ganhar dinheiro a todo o transe, de qualquer jeito, desse no que desse. E que é que engendrou aquela cabeça de vento? Apenas isto: fazer uma sociedade mercantil com o Plácido. [ Plácido Imaginar e executar foi um pronto. Apalavraram logo o contrato. E ambos, unindo os seus destinos, meteram-se a negociar. Um príncipe, o herdeiro do trono, a negociar de parceria com o seu barbeiro! Imaginai um pouco… E negociar em quê: Na única coisa de que D. Pedro realmente entendia: compra e venda de animais.,,
A sociedade principiou a funcionar sem demora. D. Pedro, em companhia do Plácido, ia quase toda manhã ver as tropas que chegavam. Escolhia, num relance, os animais mais belos. Um golpe de vista espantoso! Apartava-os, pagava-os, mandava-os para as cavalariças do Paço. Diziam os tropeiros que “o moço tinha faro: enxergava logo a flor da manada…”
Depois, na cidade, a engrenagem do negócio era das mais simples. Uns dias de trato, os animais engordavam, o pelo reluzia. O Plácido saía então em busca dos compradores. Uma facilidade. Bastava dizer a um daqueles fidalgotes endinheirados:
— O príncipe resolveu vender um belo animal. Belíssimo animal! É um dos mais soberbos das cavalariças do Paço. Por que Vossa Mercê não aproveita a ocasião?
O homem não titubeava. Corria ao Paço, via o cavalo, achava-o perfeito, comprava por qualquer preço. E saía honradíssimo, cheio de orgulho, a esparramar pela corte que adquirira um “cavalo das cavalarias reais…”
A sociedade, evidentemente, começou a prosperar. Os dois parceiros puseram-se a ganhar dinheiro à vontade. Dinheiro a rodo. D. Pedro andava contentíssimo! O negócio era dos melhores, dos mais certos.
— Um negocião da China, como dizia alvoroçadamente o príncipe ao barbeiro; um negociação da China! E dizer que até hoje ninguém ainda teve essa idéia!
Mas, um dia, por fatalidade, aquela história foi parar aos ouvidos do rei. D. João VI branqueou. Nunca, na sua vida, o pobre monarca enfureceu tanto! Aquela leviandade do príncipe revirou-lhe os nervos. Sacudiu-o. Mandou chamar imediatamente o filho.
D. Pedro, ao entrar, deparou com o pai de pé, revolucionado, o cenho torvamente cerrado. O rei tinha na mão sua grossa bengala de castão de ouro. E numa fúria, espumejando:
— Então seu grandíssimo canalha, vosmecê a negociar em animais? E a negociar em parceria com o Plácido, o barbeiro? Pois, vosmecê, o herdeiro do trono, não tem vergonha nessa cara? O que eu deveria fazer, seu cachorro, era quebrar-lhe a cara com essa bengala? Quebrar-lhe a cara, ouviu?
E erguia a bengala no ar, e bramia, e descompunha, e gaguejava de cólera. D. Pedro não negou. Confessou tudo com firmeza. D. João mandou buscar o Plácido. E ali mesmo:
— Você, de hoje em diante, está proibido de se meter em qualquer negócio com o príncipe. A sociedade está liquidada. Lucro, se houve, que fique com você. Não admito que meu filho toque num real dessa patifaria.
E desfez a sociedade.
Está claro que havia muitíssimo lucro no negócio. E o Plácido, o felizardo, ficou-se com aquele dinheirão todo. Principiou desde aí, com esse capital, a prosperar na vida. Ficou riquíssimo. Terminou numa das mais grandiosas fortunas do Primeiro Império.”
Em: As maluquices do imperador, Paulo Setúbal, São Paulo, 1947: Clube do livro., páginas 64-66.
NOTA DA PEREGRINA: O amigo de D. Pedro era Plácido Pereira de Abreu, que mais tarde se casou com a filha do Marquês de Inhambupe.
—-
Paulo Setúbal de Oliveira, ( Tatuí, SP 1893 — SP, SP, 1937) advogado, jornalista, ensaísta, poeta e romancista. Formou-se em Direito em 1914. Trabalhou como colaborador do jornal O Estado de São Paulo. Foi eleito deputado estadual (1928 / 1930), renunciou ao mandato por problemas de saúde. Em 06 de dezembro de 1934 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras
Obras:
Alma cabocla, poesia (1920);
A marquesa de Santos, romance-histórico 1925
O príncipe de Nassau, romance histórico, 1926
Um sarau no pátio de São Cristóvão, teatro, 1926
As maluquices do Imperador, contos-históricos, 1927
A bandeira de Fernão Dias, contos-históricos, 1928
Nos bastidores da história, contos, 1928
O ouro de Cuiabá, história, 1933
Os irmãos Leme, romance, 1933
El-dorado, história, 1934
O romance da prata, história, 1935
O sonho das esmeraldas, romance, 1935
A fé na formação da nacionalidade, ensaio, 1936
Confíteor, memórias, 1937
Ensaios históricos (obra póstuma)
Foi o Príncipe D. Pedro
Altivo, forte e leal,
Quem tornou independente
A nossa Terra Natal!
(Walter Nieble de Freitas)
Dra. Carlota Pereira de Queiroz
Comemorando Revolução Constitucionalista de 1932, nada mais natural do que trazer à lembrança a Dra. Carlota Pereira de Queiroz, primeira deputada federal do Brasil, eleita por São Paulo em 1933. Sua projeção na política paulista surgiu durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Ela organizou um grupo de 700 mulheres e junto com a Cruz Vermelha deu assistência aos feridos nesta guerra civil. Esse trabalho serviu de semente para uma vida pública, com deputada federal.
Carlota Pereira de Queiroz nasceu em 13 de fevereiro de 1892, em São Paulo. Veio de uma família abastada de fazendeiros pelo lado do pai e de uma família de políticos do lado da mãe. Mas não foi a importância de qualquer uma das famílias que mais a caracterizou. Foi simplesmente o fato de ser uma mulher moderna e que não aceitava as limitações comumente impostas pela sociedade. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1926), com a tese ” Estudos sobre o Câncer“. Interna da terceira cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e chefe do Laboratório de Clínica Pediátrica (1928), como assistente do professor Pinheiro Cintra. Foi comissionada pelo governo de São Paulo em 1929 para estudar Dietética Infantil em centros médicos da Europa. Sempre exerceu sua profissão.
Dra. Carlota Pereira de Queiroz, na Câmara dos Deputados, 1934.
Além disso, esta médica fez história no Brasil porque foi a primeira mulher a ser deputada. Nas eleições de 3 de maio de 1933, pela primeira vez em nossa história uma mulher foi eleita para uma cadeira na Câmara dos Deputados. Como parlamentar elaborou o primeiro projeto sobre a criação de serviços sociais no país. Em 1934, elegeu-se novamente, mandato que exerceu até o Golpe de Getúlio Vargas que fechou o Congresso Nacional, em novembro de 1937. Eleita membro da Academia Nacional de Medicina em 1942, fundou, oito anos depois, a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, da qual foi presidente durante alguns anos. Dra. Carlota Pereira de Queiroz faleceu em 17 de abril de 1982.
São Paulo, Capital, 1932
Navio a vapor, Rio Una, levou tropas de Juquiá a Cananéia, Revolução de 1932.
NOTA
Há mais informações neste blog sobre a Revoluçao Paulista de 1932. Com mais fotos e descrição de eventos de acordo com o diário de meu avô, Gessner Pompílio Pompêo de Barros, transcrito para este blog!
Batalha do Riachuelo, 1872
Victor Meirelles ( SC, 1832- RJ, 1903)
Óleo sobre tela – Monumental: 400 cm x 800 cm
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
—–
Batalha do Riachuelo, travou-se a 11 de Junho de 1865 às margens do rio Riachuelo, um afluente do rio Paraguai, na província de Corrientes, na Argentina. Considerada pelos historiadores militares como uma das mais importantes batalhas da Guerra do Paraguai (1864-1865).
—
Victor Meirelles; ou Victor Meireles; ou Vitor Meirelles, ou ainda Vitor Meireles
Victor Meirelles de Lima (Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis SC 1832 – Rio de Janeiro RJ 1903). Pintor, desenhista, professor. Inicia seus estudos artísticos por volta de 1838, com o engenheiro argentino Marciano Moreno. No ano de 1847, muda-se para o Rio de Janeiro e se matricula na Academia Imperial de Belas Artes – onde, em 1849, inicia o curso de pintura histórica. Em 1852 ganha o prêmio de viagem ao exterior e no ano seguinte segue para a Itália. Em Roma freqüenta, em 1854, as aulas de Tommaso Minardi (1787 – 1871) e, posteriormente de Nicola Consoni (1814 – 1884), com quem realiza uma série de estudos com modelo vivo. Com a prorrogação da pensão que lhe fora concedida continua sua formação estudando em Paris onde, em 1857, matricula-se na École Superiéure des Beaux-Arts [Escola Superior de Belas Artes], freqüentando as aulas de Leon Cogniet (1794-1880) e, em seguida, recebendo orientações de seu discípulo Andrea Gastaldi (1810-1889). Durante o período em que permanece no exterior corresponde-se com Porto Alegre (1806 – 1879). Retorna ao Brasil em 1861 e, um ano depois, é nomeado professor de pintura histórica da Aiba. Entre os anos de 1869 e 1872 executa duas grandes telas, Passagem do Humaitá e Batalha de Riachuelo. Em 1879 participa da Exposição Geral de Belas Artes, expondo a Batalha dos Guararapes ao lado da Batalha do Avaí de Pedro Américo (1843 – 1905). A apresentação das duas obras gera grande polêmica e um intenso debate no meio artístico. A partir de 1886 passa a se dedicar à execução de panoramas. Entre eles destacam-se: o Panorama Circular da Cidade do Rio de Janeiro, feito na Bélgica, juntamente com Henri Langerock (1830 – 1915) e Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro em 1894, produzida nesse mesmo ano.