–
–
Foto antiga de Itajubá, MG.
–
–
Lembranças da Revolução de 1932
–
A revolução paulista desencadeia na cidade um febre política que contamina toda a população. Pela situação estratégica, Itajubá passa a ser o ponto central para onde afluem as tropas que vão combater os revoltosos e também por estar próxima ao túnel, onde se instalam as tropas paulistas para impredir o avanço dos legalistas. Há muitos contingentes aquartelados em toda a cidade. Até o Grupo Escolar, acabado de construir, da noite para o dia, se transformou em praça de guerra. As paredes estão cobertas de mapas contendo a zona em que se encontram os revolucionários. Entramos na sala em que está aquartelado o P.C. da 1ª DI. O general Trompowsky faz as honras de dono da casa ao receber as senhoras dos oficiais que estão no front. Manda servir café e depois chama um soldado que é hábil saxofonista e taca o Tico-tico no fubá. Ouvimos o barulho do motor de um avião e corremos lá fora para ver. Ele distribui manifestos pela cidade, enquanto o povo mineiro entusiasma-se dando vivas aos paulistas. Mamãe nos leva para casa, o tiroteio começa, alguma bala desgarrada pode nos atingir. O avião, cada vez mais alto, sai do campo de ação. Depois desaparece.
Os boatos fervem o dia todo. O ex-presidente Wenceslau Braz quer a adesão de Minas à causa paulista. Os paulistas estão de tal forma empolgados, que venderam todo o ouro que tinham para comprar armas. Em troca receberam um anel de aço onde está escrito: “Dei ouro para o bem de São Paulo”. Nossa casa atrai visitantes, políticos, militares, civis. Muitos, principalmente os políticos, estão empenhados em obter do papai, comandante do 4º B/E, a adesão a São Paulo. Se isso acontecer, naturalmente os outros estados também hão de aderir. A meu pai repugna trair o chefe da nação. A oficialidade se reúne no QG das forças legalistas. Góis Monteiro, Eurico Dutra, Trompowsky, Horta Barbosa. Decidem com meu pai permanecer fiéis ao governo de Getúlio Vargas. O desfecho desagrada ao povo mineiro. Wenceslau Braz se empenha e consegue a transferência do oficial da arma de Engenharia, Miguel Salazar Mendes de Moraes, de Itajubá para o Rio de Janeiro.
–
Autora: Ivna Thaumaturgo [ Ivna Thaumaturgo Mendes de Moraes Duvivier]. Nascida em 1915, neta do marechal Gregório Thaumaturgo de Azevedo, primeiro chefe de uma comissão mista Brasil-Bolívia encarregada de demarcar a fronteira entre esses países e neta, por parte de pai, do general Feliciano Mendes de Moraes. A família era toda de militares sendo Ivna filha do futuro marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes.
–
Em: A família de guizos: história e memória, de Ivna Thaumaturgo, Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1997