Mais três telas de Rafael Falco!

22 01 2016

 

 

Rafael Falco (Brasil, 1885-1967), Piçarras, otcp,30 x 20 cm, Col. Part. Fabiano WolffVista de Piçarras

Rafael Falco (Argélia/Brasil, 1885-1967),

óleo sobre tela colada em placa, 30 x 20 cm

Coleção Fabiano Wolff

[com localização e dedicatória no verso ao pintor EmílioWolff]

 

 

Em 2011, neste blog, lancei um pergunta sobre o pintor brasileiro Rafael Falco, que poucos conhecem por nome, mas que muitos conhecem pelas obras históricas tal como Tiradentes ante o carrasco, de 1941, que de vez em quando aparece na televisão como pano de fundo de entrevistas políticas porque faz parte do acervo da Câmara dos Deputados em Brasília.  Minha pergunta: por que conhecemos tão pouco a respeito de alguém cuja obra apareceu em verso de papel moeda, em ilustrações de livros de história?  [Rafael Falco, um pintor brasileiro. Alguém tem mais informações?] Esse questionamento levou a um interessante diálogo, de alguns anos, que permanece vivo até hoje com familiares do pintor, colecionadores e outros estudiosos da pintura brasileira.

Por causa desse questionamento informações adicionais foram publicadas sobre a obra de Rafael Falco como ilustrador da revista Caça e Pesca, cujas fotos foram gentilmente cedidas por Paulo Araújo de Almeida, chegaram ao blog em 2012. [Pintor Rafael Falco, ilustrador da revista Caça e Pesca]

 

 

Rafael Falco (Argelia-Brasil, 1885-1967), Natureza morta, ost, 44x 36cm, Col. Part. Fabiano WolffNatureza morta

Rafael Falco (Argélia-Brasil, 1885-1967)

óleo sobre tela, 44 x 36cm

Coleção Fabiano Wolff

 

 

Hoje voltamos ao assunto através da coleção particular de Fabiano Wolff que, atenciosamente, cedeu fotografias de três obras de Rafael Falco: a paisagem retratando o balneário de Piçarras em Santa Catarina,  a natureza morta com uva, garrafa e tacho de cobre e o retrato do pintor brasileiro Emílio Wolff, todos postados aqui.

 

Rafael Falco (Argelia-Brasil, 1885-1967), Retrato do pintor Emílio Wolff, 1952,ost, 44x 36cm, Col. Part. Fabiano WolffRetrato do pintor Emílio Wolf, 1952

Rafael Falco (Argélia-Brasil, 1885-1967)

óleo sobre tela, 44x 36 cm

Coleção Fabiano Wolff

[com data e dedicatória do pintor ao amigo pintor]

 

A técnica de Rafael Falco parece bastante influenciada pelo impressionismo.  Ainda que eu não tenha visto nenhuma dessas obras em pessoa, posso observar a pincelada solta, desprendida.  Há realce da luz.

Se você também tem uma obra de Rafael Falco, e gostaria de contribuir para esse tema por favor nos contate.  Tenha cuidado com a fotografia. Mande-me os detalhes das obras: técnica, tamanho, localização. E teremos grande prazer em continuar com o tema.





Rafael Falco, pintor brasileiro. Alguém tem mais informações?

30 05 2011

A morte de Fernão Dias Paes Leme, década de 40

Rafael Falco (Oran, 1885- São Paulo 1967)

Óleo sobre tela

Salão Nobre do Café Seleto, São Paulo *

* — Tudo indica que o Café Seleto foi vendido no final da década de 1970 à companhia de alimentos Sarah Lee.  Resta saber se a pintura continua lá.

Finalmente, depois de quase 3 anos de blog, tenho a oportunidade de ver que um pouquinho da minha garimpagem sobre arte brasileira pode chegar a dar frutos interessantes.  No dia 8 de março de 2009, coloquei uma tela de Rafael Falco, A morte de Fernão Dias Paes Leme, ilustrando o poema de  Afonso Louzada, Fernão Dias Paes Leme.  Como sempre tento ilustrar textos brasileiros com imagens de quadros brasileiros, que se adéquem.  Minha teoria é que se temos diversas informações sobre um momento, um evento ou uma figura histórica, como um bandeirante neste caso, se torna mais fácil para qualquer um de nós memorizar o que  lemos.  Um poema ou um quadro sobre um assunto semelhante pode fazer uma conexão na nossa memória que nos ajudará a lembrar da ocasião ou das informações.  Isso funciona porque alguns de nós têm facilidade para a memória visual, enquanto outros conseguem se lembrar de rimas ou de textos.  Tenho a impressão de que estou certa a este respeito ou as minhas postagens não estariam sendo conectadas a variados blogs e portais de auxílio ao vestibulando.  Isso me dá dupla responsabilidade.

Mas, recentemente fui contatada por familiares – 3ª e 4ª gerações de Rafael Falco  – interessados em informações sobre esse antepassado.  Isso me deu imenso – deixe-me reiterar – IMENSO prazer.  Porque se há coisa de que precisamos no nosso país é de pessoas interessadas, que se proponham a resgatar a história de um artista, de um poeta, às vezes esquecido pelas políticas e preconceitos de época, por ciúmes e inveja de seus contemporâneos, pelo descaso de intelectuais e também pela grande dificuldade de se fazer qualquer pesquisa no Brasil.  Isso faz com que informações sejam descartadas ou nunca usadas.   Como expliquei para esses leitores, eu mesma tenho na família um primo, que é neto de um conhecido escultor brasileiro.  Um escultor figurativo, realista.  Suas obras encontram-se nos parques públicos no Rio de Janeiro, em cidades vizinhas e até mesmo em parques no exterior.  No entanto, pouco se sabe a respeito do escultor e hoje a família, simplesmente para ter uma idéia de quem era esse antepassado, vira e mexe faz um passeio com a intenção de fotografar, colher dados e arrematar informações antes que elas se percam de vez.  E, agora, com a facilidade de se postar um apanhado de informações na internet, fica mais fácil pensar em distribuição de informações.  É importante ir despejando o que se sabe, porque não sabemos que o que às vezes corriqueiro para nós pode ser de maior valia para o nosso vizinho.

Tiradentes ante o carrasco, 1941

Rafael Falco (Oran, 1885- São Paulo 1967)

óleo sobre tela,  70 x 55 cm

Museu da Câmara dos Deputados, Brasília

Assim sendo, volto as minhas atenções ao pintor Rafael Falco.  Eu ia dar essas informações às suas netas, bisnetas e tataranetas respondendo aos comentários delas, mas resolvi fazer a postagem.  E ir mostrando a quem quer que seja como ir aprofundando as pesquisas.

Comecemos com suas datas.  As informações que tenho, são de Júlio Louzada, — um grande colhedor de informações sobre arte brasileira.  Sim, tudo indica que Rafael Falco nasceu em Oran, na Argélia, em 1885.

1)      Nessa época a Argélia era um estado da França. E Oran era uma cidade extremamente cosmopolita com europeus de quase todas as nações vivendo lá, era uma grande resort também.  Então, Rafael Falco, nascido em Oran, era originalmente cidadão francês.  Mas as leis de direito de cidadania são diferentes em cada país, vale a pena verificar se ele era francês mesmo ou se só nasceu em Oran,  filho de estrangeiros., nem sempre o direito à cidadania se aplica nesses casos.   Pelo nome seus pais poderiam ser espanhóis ou italianos.  Nessa época, final do século XIX, Oran era a capital do estado de Oran.  Era um departement – estado — francês e por isso mesmo é possível que haja documentação na França.  Lembrem-se de que a Argélia não era uma colônia francesa, muito pelo contrário, era considerada território francês, dividida em 3 estados todos considerados parte da França.  E só ficou independente na guerra da independência — chamada pelos franceses de guerra civil, já que era uma parte da França se separando da outra.  Essa guerra  levou muitos anos, desde meados da década de 1950 à década de 1960.  Essas informações do final do século XIX devem existir na França.  Uma excelente desculpa para os familiares irem à França ou até aprenderem francês.

2)      Como Rafael Falco já se encontrava ensinando desenho no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, é provável que tenha chegado ao Brasil ainda criança, adolescente talvez, mas menor de idade.

3)      Dados dos serviços de imigração devem poder precisar a data de chegada de Rafael Falco ao Brasil.  Deve ter chegado com seus pais.  E como toda sua vida parece ter sido levada na região do ABC paulista, é provável que seus pais tenham entrado no Brasil pelo porto de Santos.  Há listagem dos navios chegados ao Brasil.  Há também muitos portais que ajudam a dar início a essa pesquisa, Genweb-genealogia brasileira é um de muitos.  Depois da internet, a pesquisa precisa ser feita em pessoa.  Mas vale a pena começar pela internet. A busca deve ser feita entre 1885-1900.  Lembrem-se de checar todas as possíveis formas de se escrever os nomes dos pesquisados.

Cédula de CR$ 5.000 cruzeiros-novos  cujo verso exibe gravura baseada no quadro de Rafael Falco, Tiradentes ante seu carrasco, que entrou em circulação em 1974.

O próximo dado certo que temos é que ele viveu por muitos anos, talvez a vida toda em São Carlos, no estado de São Paulo.  Sabemos também que ele ensinou desenho e caligrafia na Escola Normal de São Carlos, onde chegou a publicar um artigo na revista Excelsior: O desenho nas classes primárias. A revista Excelsior era uma publicação da Escola Normal de São Carlos que tratava de manter a memória da escola.  Não tenho certeza,  mas parece que ele foi professor nessa escola desde meados da década de 1910.  Há também a fotografia de uma ilustração dele na revista Excelsior que pode ser checada no link abaixo da dissertação A configuração do habitus professoral para o aluno-mestre: A Escola Normal de São Carlos (1911-1923) de Emerson Correia da Silva  — vá para a página 69.

Gravura feita por Rafael Falco ilustrando um poema de Longfellow.

Lá também Rafael Falco era membro do Centro Espírita de São Carlos e foi nessa cidade que ele ensinou pintura, entre 1918-1923, ao artista plástico Francisco Cimino, na Escola Normal de São Carlos. [Itaú Cultural]

Quanto à sua vida como pintor, coloco aqui o verbete encontrado no Dicionário de Artes Plásticas no Brasil, de Roberto Pontual [Civilização Brasileira:1969]

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Rafael Falco  (? – São Paulo ?)  Pintor.  Participando desde os primeiros SPBA [Salão Paulista de Belas Artes], neles recebeu medalha de bronze (1939), pequena e grande medalha prata (1940, 1941) , e os prêmios Prefeitura de São Paulo (1951 e 1965) e Assembléia Legislativa (1960).  Entre seus trabalhos mais importantes está o quadro Tiradentes ante o carrasco, que se encontra no palácio do Congresso Nacional, em Brasília.  As notas de cinco cruzeiros novos trazem no reverso idêntico tema por ele pintado.   Teodoro Braga reuniu referências bibliográficas a seu respeito em Artistas Pintores no Brasil (1942), tendo a coleção de fascículos  Grandes Personagens da Nossa História ( de publicação iniciada em São Paulo, no ano de 1969) reproduzido trabalhos de sua autoria, inclusive o citado Tiradentes ante o carrasco e A morte de Fernão Dias

Os Pioneiros

Rafael Falco ( Oran, 1885- São Paulo 1967)

óleo

Coleção Dulce Moura de Albuquerque

No texto acima, Roberto Pontual afirma que Teodoro Braga, no livro Artistas Pintores no Brasil (1942) tem dados bibliográficos sobre o pintor.  Eu não tenho em mãos este volume, mas acredito que ele exista tanto na Biblioteca Nacional aqui no Rio de Janeiro como na Biblioteca Municipal de São Paulo.  É só uma questão de procurar.  Não está online.

Outros arquivos que devem conter informações sobre o pintor são os do Salão Paulista de Belas Artes [SPBA].  No ano passado, houve uma exposição em São Paulo,Um Percurso, Uma História – O Salão Paulista de Belas Artes, no Palácio dos Bandeirantes, que reuniu 66 obras de pintores que participaram desses salões, entre 1934 e 2003.  O SPBA já não existe mais.  Mas seus documentos devem ter achado abrigo no Arquivo Histórico de São Paulo.  A curadoria dessa exposição foi de  Ana Cristina Carvalho, do Acervo dos Palácios do Governo paulista.  É possível que ela possa dar maiores informações sobre a localização desses documentos.  Talvez seja bom lembrar que a maioria dos museus não mostra o seu acervo total para o público, francamente não há espaço.  Deste modo será interessante para os familiares, ou qualquer outra pessoa interessada em descobrir mais sobre o pintor, que obtenham — e demora muito tempo — informações sobre suas obras que possam estar nos armários dos porões de museus.

Outra possibilidade de informações está evidentemente relacionada não só ao quadro na Câmara dos Deputados em Brasília, mas também ao contrato para o uso da imagem de Tiradentes ante o carrasco pela Casa da Moeda do Brasil.   Cada um desses documentos certamente contribuirá para o enriquecimento do conhecimento do pintor.

Rafael Falco foi mais importante como pintor do que  a falta de informações sobre sua vida parece dizer.  Foi contemporâneo e colega de muitos dos grandes artistas plásticos do Brasil das primeiras décadas do século passado.  Há uma pequena passagem no livro de Rubem Santos Leão Aquino, Sociedade Brasileira: uma história através dos movimentos sociais: da crise do escravismo ao apogeu do neo-liberalismo, Editora Record: 2002, pág. 433 que cito abaixo que nos dá a idéia da variedade de conhecimentos que este pintor tinha:

“A pintura na década de 1930 consolidou tendências e concepções iniciadas com a Semana da Arte Moderna, de 1922.

Exposições salões e clubes reuniram artistas progressistas, muitas vezes expressando forte crítica social, com imagens de subúrbios e bairros operários, figuras de trabalhadores.

O paulista Cândido Torquato Portinari tornou-se conhecido por pinturas murais, de grandes proporções e executadas por encomendas governamentais.  Ganhou notoriedade desde 1935 quando sua tela Café foi premiada nos Estados Unidos.

Em 1936, o governo encomendou-lhe os murais do Monumento Rodoviário, na Estrada Rio-São Paulo, seguindo-se a portentosa decoração do prédio do Ministério da Educação – a chamada Evolução Econômica do Brasil.

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Seguiram-se outras obras-primas, muitas vezes decorando e valorizando edifícios público se enriquecendo o patrimônio artístico nacional.

Além de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Alberto da Veiga Guignard, Antônio Parreiras e do judeu-russo Lasar Segall, que já pontificavam desde a década de 1920, juntaram-se Ismael Néry, Iberê Camargo, Cícero Dias, Regina Veiga, Rafael Falco, Alfredo Volpi, Lula Cardoso Ayres, Lucy Citti Ferreira, Djanira e José Pancetti, ex-marinheiro e famoso por suas marinhas. ”

Assim chego ao final dos meus conhecimentos.  Gostaria de receber da família qualquer outra informação que eu não tenha colocado aqui.  E certamente gostaria de ter uma foto do pintor.  Como ele morreu em 1967 deve haver alguma foto dele, já que a fotografia era comum a todos.  Agradeço aos descendentes de Rafael Falco a oportunidade que me deram de expandir o conhecimento sobre mais um pequeno aspecto da arte brasileira e faço votos — e por favor me mantenham informada — de que suas pesquisas tragam muitos frutos e boas surpresas.

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NOTA: O nome do pintor pode aparecer como Rafael Falco, Raphael Falco ou Raphael Gaspar Falco.  Para quem quiser aprofundar a pesquisa essas três variações precisam ser testadas.  Como todos os documentos de época também eram na sua maioria escritos à mão há que decifrá-los.  Também a possibilidade de erros na transcrição de um documento para outro pode gerar diferenças em como se escreve um nome ou sobrenome.





Uma lembrança de 1932: Dra. Carlota Pereira de Queiroz

9 07 2009

1 Carlota de Queiroz32sp146Dra. Carlota Pereira de Queiroz

 

Comemorando Revolução Constitucionalista de 1932, nada mais natural do que trazer à lembrança a Dra. Carlota Pereira de Queiroz, primeira deputada federal do Brasil, eleita por São Paulo em 1933.    Sua projeção na política paulista surgiu durante a Revolução Constitucionalista de 1932.  Ela organizou um grupo de 700 mulheres e junto com a Cruz Vermelha deu assistência aos feridos nesta guerra civil.    Esse trabalho serviu de semente para uma vida pública, com deputada federal.   

carlota de queiroz

 

Carlota Pereira de Queiroz nasceu em 13 de fevereiro de 1892, em São Paulo.  Veio de uma família abastada de fazendeiros pelo lado do pai e de uma família de políticos do lado da mãe.   Mas não foi a importância de qualquer uma das famílias que mais a caracterizou.  Foi simplesmente o fato de ser uma mulher moderna e que não aceitava as limitações comumente impostas pela sociedade.  Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (1926), com a tese ” Estudos sobre o Câncer“. Interna da terceira cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e chefe do Laboratório de Clínica Pediátrica (1928), como assistente do professor Pinheiro Cintra. Foi comissionada pelo governo de São Paulo em 1929 para estudar Dietética Infantil em centros médicos da Europa.  Sempre exerceu sua profissão.

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Dra.  Carlota Pereira de Queiroz, na Câmara dos Deputados, 1934.

 

Além disso, esta médica fez história no Brasil porque foi a primeira mulher a ser deputada. Nas eleições de 3 de maio de 1933, pela primeira vez em nossa história uma mulher foi eleita para uma cadeira na Câmara dos Deputados. Como parlamentar elaborou o primeiro projeto sobre a criação de serviços sociais no país. Em 1934, elegeu-se novamente, mandato que exerceu até o Golpe de Getúlio Vargas que fechou o Congresso Nacional, em novembro de 1937.   Eleita membro da Academia Nacional de Medicina em 1942, fundou, oito anos depois, a Academia Brasileira de Mulheres Médicas, da qual foi presidente durante alguns anos. Dra. Carlota Pereira de Queiroz faleceu em 17 de abril de 1982.