Terra Natal
D. Francisco Aquino Correia
Nasci à beira
Da água ligeira,
Sou paiaguá!
De Sul a Norte,
Tribo mais forte
Que nós não há.
Nas mansas águas,
Vive sem mágoas
O paiaguá;
O seu recreio,
O seu enleio
No rio está.
Nele me afundo,
Nado no fundo,
Surjo acolá;
E nem há peixe,
Que atrás me deixe,
Sou paiaguá!
Se faz soalheira,
Durmo-lhe à beira,
Ao pé do ingá;
Mas se refresca,
Lá vai à pesca
O paiaguá!
E quando guio,
À flor do rio,
A minha ubá,
Nem flecha voa,
Como a canoa
Do paiaguá!
Um dia os brancos,
Dentre os barrancos,
Surgem de lá;
Mas, em momentos,
Viram quinhentos
Arcos de cá.
Na luta ingente,
Que eternamente
Retumbará,
Fez quatrocentas
Mortes cruentas
O paiaguá.
Não! O emboaba,
Em nossa taba,
Não reinará!
Nós coalharemos
A água de remos,
Sou paiaguá!
Nas finas proas
Destas canoas,
Triunfará,
Por todo o rio,
O poderio
Do paiaguá!
Nasci à beira
Da água ligeira,
Sou paiaguá!
De Sul a Norte,
Tribo mais forte
Que nós não há!
D. Francisco Aquino Correia ( Cuiabá, MT 1885 – São Paulo – 1956) arcebispo de Cuiabá.
Do livro:
Vamos estudar?: 3a série primária, Theobaldo Miranda Santos, Rio de Janeiro, Agir: 1961. 12a edição.