Bailado Russo
A mão firme e ligeira
puxou com força a fieira:
e o pião
fez uma eclipse tonta
no ar e fincou a ponta
no chão.
É o pião com sete listas
de cores imprevistas.
Porém,
nas suas voltas doudas,
não mostra as cores todas
que tem:
— fica todo cinzento,
no ardente movimento…
E até
parece estar parado,
teso, paralisado,
de pé.
Mas gira. Até que aos poucos,
Em torvelins tão loucos
assim,
já tonto, baboleia,
e bambo, cambaleia…
Enfim,
Tomba. E, como uma cobra,
Corre mole e desdobra
então,
em hipérboles lentas,
sete cores violentas,
no chão.
Guilherme de Almeida
Guilherme de Andrade e Almeida (SP 1890- SP 1969) foi um advogado, jornalista, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro.
Obras:
Nós (1917);
A dança das horas (1919);
Messidor (1919);
Livro de horas de Soror Dolorosa (1920);
Era uma vez… (1922);
A flauta que eu perdi (1924);
Meu (1925);
Raça (1925);
Encantamento (1925);
Simplicidade (1929);
Você (1931);
Poemas escolhidos (1931);
Acaso (1938);
Poesia vária (1947);
Toda a poesia (1953).
Do livro: Antologia Poética para a infância e a juventude, Henriqueta Lisboa, Rio de Janeiro, INL-MEC, 1961.