Dia das Mães está chegando!
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O vaivém, Lindolfo Gomes
22 04 2024
O vaivém
Lindolfo Gomes
Era um dia um velho chamado Zusa, que trabalhava pelo ofício de carapina. A sua oficina era um brinco, sempre muito asseada, a ferramenta muito limpa, tudo nos seus lugares.
Mas a mania do velho era batizar cada ferramenta com um nome apropriado. O martelo chamava-se toc-toc, o formão, rompe-ferro, o serrote, vaivém.
Quando um carapina do lugar precisava de uma, corria logo à oficina do Zusa, a pedir-lhe de empréstimo.
Mas, tantas lhe fizeram, demorando a entrega ou ficando com as ferramentas algumas vezes, que o velho resolveu parar com os empréstimos.
Certo dia foi à oficina um menino, de mando dopai, e disse:
— Papai manda-lhe muitas lembranças e também pedir-lhe emprestado o vaivém.
Mestre Zusa pôs as cangalhas no nariz e respondeu:
— Menino, volta e diz a teu pai que se vaivém fosse e viesse, vaivém ia, mas como vaivém vai e não vem, vaivém não vai.
Em: Contos Populares Brasileiros, São Paulo, Melhoramentos: 1965, p. 36
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Tags: Conto, Lindolfo Gomes, literatira brasileira
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Comedores de batatas, texto de Raquel Naveira
29 06 2023Comedores de Batatas, 1885
Vincent van Gogh (Holanda, 1853-1890)
óleo sobre tela 82 x 114 cm
Museu Van Gogh, Amsterdã
“Que quadro impressionante é o Comedores de Batatas, de van Gogh. Usando uma paleta de cores escuras como preto, marrom e ocre, retratou uma cena do cotidiano camponês medieval, com sua miséria, escassez, falta de recursos. A mesa rústica, a chama trêmula de um lampião que ilumina as faces de crianças rudes, sôfregas, interrogativas. As mãos grosseiras da mulher partindo os pedaços. Escreveu o artista em carta ao seu irmão Théo que se aplicara conscientemente em dar a ideia de que essas pessoas que comem as batatas com as mãos, também lavraram a terra. Que o trabalho manual, árduo, trouxe-lhes a nutrição honesta. E assim, entre goles de café nas canecas e bocados de massa, a luta se desenvolve, sofrida e fraterna.”
Em: Leque Aberto, Raquel Naveira, Guaratinguetá, SP, Penalux: 2020, pp, 153-4;
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Manhã na roça, texto de Virgílio Várzea
22 02 2013–
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Paisagem com casa de fazenda e animais, interior de MG, 1969
Edgar Walter (Brasil, 1917-1994)
óleo sobre tela, 65 x 82 cm
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Manhã na Roça
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Virgílio Várzea
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Uma tênue mancha de claridade argêntea recorta em laca a linha ondulada das colinas verdes. Pouco a pouco, uma poeira de ocre transparente, que se esbate para o alto, cobre todo o horizonte e o sol aponta, deslumbradoramente, como uma gema de ovo flamante. Vapores diáfanos diluem-se lentamente, em meio dos listrões vivos que purpureiam o nascente. Fundem-se no ar tons delicados de azul e rosa; e eleva-se da floresta uma orquestração triunfal. Despertam de súbito, ao alagamento tépido da luz, as culturas adormecidas. Abrem-se as casas. Pelos terreiros, úmidos da serenada da noite, homens de cócoras, em camisa de canjirão na mão, brancos de frio, ordenham as grossas tetas das pacientes e mugidoras vacas, que criam amarradas aos finos paus das parreiras, e que, expelindo fumaça no ar frígido, ruminam ainda restos de grama numa mansidão ingênua de animal digno. Mulheres de xale pela cabeça chamam as galinhas, com um ruído seco de beiço tremido, fazendo burr e sacodindo-lhes mãos cheias de milho e pirão esfarelado. Um carro atopetado de mandioca, arrancadas de fresco, empoeiradas de areia, compridas, tortas, com o aspecto e a cor esquisita das plantas que se avolumam e vegetalizam enterradas, chia monotonamente, em direção ao engenho, solavancado pela aspereza do caminho… E pela compridão majestosa e verde dos alagados e das pastagens, o colorido movimentoso e variado das reses.
[Exemplo de vistas movimentadas]
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–Em: Flor do Lácio,[antologia] Cleófano Lopes de Oliveira, São Paulo, Saraiva: 1964; 7ª edição. (Explicação de textos e Guia de Composição Literária para uso dos cursos normais e secundário), páginas 59-60.
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Virgílio dos Reis Várzea (Brasil,1863 – 1941) escritor, jornalista e político brasileiro. Nasceu em Florianópolis, mas radicou-se no Rio de Janeiro a partir de 1896. A maioria de suas obras é ambientada em Santa Catarina. Com Cruz e Sousa publicou o livro Tropos e Fantasias (1885).
Obras:
Traços Azuis, 1884
Tropos e Fantasias,1885, com Cruz e Sousa
Mares e Campos, 1895
Rose Castle, 1895
Santa Catarina: A Ilha, 1900
George Marcial, 1901
O Brigue Flibusteiro, 1904
Nas Ondas
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Terra Natal — poema para 3a série — D. Aquino Correia
18 08 2008Terra Natal
D. Francisco Aquino Correia
Nasci à beira
Da água ligeira,
Sou paiaguá!
De Sul a Norte,
Tribo mais forte
Que nós não há.
Nas mansas águas,
Vive sem mágoas
O paiaguá;
O seu recreio,
O seu enleio
No rio está.
Nele me afundo,
Nado no fundo,
Surjo acolá;
E nem há peixe,
Que atrás me deixe,
Sou paiaguá!
Se faz soalheira,
Durmo-lhe à beira,
Ao pé do ingá;
Mas se refresca,
Lá vai à pesca
O paiaguá!
E quando guio,
À flor do rio,
A minha ubá,
Nem flecha voa,
Como a canoa
Do paiaguá!
Um dia os brancos,
Dentre os barrancos,
Surgem de lá;
Mas, em momentos,
Viram quinhentos
Arcos de cá.
Na luta ingente,
Que eternamente
Retumbará,
Fez quatrocentas
Mortes cruentas
O paiaguá.
Não! O emboaba,
Em nossa taba,
Não reinará!
Nós coalharemos
A água de remos,
Sou paiaguá!
Nas finas proas
Destas canoas,
Triunfará,
Por todo o rio,
O poderio
Do paiaguá!
Nasci à beira
Da água ligeira,
Sou paiaguá!
De Sul a Norte,
Tribo mais forte
Que nós não há!
D. Francisco Aquino Correia ( Cuiabá, MT 1885 – São Paulo – 1956) arcebispo de Cuiabá.
Do livro:
Vamos estudar?: 3a série primária, Theobaldo Miranda Santos, Rio de Janeiro, Agir: 1961. 12a edição.
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