Muitos de meus amigos recomendaram a leitura do livro: A doçura do mundo de Thrity Umrigar (Editora Nova Fronteira, 2008 ) cujo lançamento foi marcado também pela presença da escritora indiana no Festival Literário de Florianópolis em maio deste ano. O livro, como todos os outros que li desta autora, é muito bem escrito e diferente de sua fama pelas obras anteriores, esse é um livro alegre, às vezes mesmo até engraçado, com um final feliz ou satisfatório.
A recomendação veio também porque sempre tive curiosidade sobre os problemas desenvolvidos com a identidade cultural de uma pessoa que passa a viver como imigrante. Por mais que se doure a pílula, por mais que se pinte a realidade de um país contra os aspectos de outro, a verdade é que a não ser que a sua imigração seja feita quando você ainda é muito jovem, quando você ainda está no processo de forjar uma identidade própria, a adaptação a um novo país assim como a adoção dos valores culturais da nova terra podem freqüentemente ser de difícil aceitação intima para o imigrante.
Thrity Umrigar é uma imigrante. Sensível como escritora e objetiva como jornalista, duas profissões que exerce nos Estado Unidos, ela está familiarizada e demonstra isso e em seus livros, com os problemas peculiares da identidade cultural, dos preconceitos, da saber-se de fora, do sentir-se de fora, assim como do saber e sentir-se acolhido. Ela conhece pela própria experiência todas as idiossincrasias culturais que perduram no imigrante, além de seu sotaque na língua estrangeira. Assim sua narrativa é verdadeira e aponta para os sentimentos mais delicados que envolvem a imigração.
A história deste livro é simples. Um rapaz, Sorab, nascido em Bombaim tem como sonho ir para os EUA. Conseguindo entrar para a universidade naquele país ele imigra, primeiro como estudante e depois permanece nos EUA a trabalho. Seguindo suas aptidões consegue desenvolver uma brilhante carreira. Neste meio tempo apaixona-se por uma americana com quem se casa e tem um filho. Seus pais, jovens ainda pelos padrões de hoje, o visitam regularmente. Até que o pai morre subitamente de um problema cardíaco. Sua mãe, Tehmina [Tammy para os americanos] se encontra então com uma difícil escolha: aos 66 anos precisa decidir se deverá imigrar para os EUA e ficar junto ao seu único filho, sua nora e neto, porém numa sociedade que a espanta e surpreende pela diferença de hábitos que seus habitantes demonstram; ou ficar no seu país natal, no apartamento onde sempre morou, rodeada das pessoas que conhece, que também ama e com quem sempre conviveu. A história se desenrola muito bem aprumada na inteligência e sensibilidade de Tehmina; que se encontra também aterrorizada por tomar esta decisão sozinha. Desde jovem todas as suas decisões eram balanceadas pela opinião do marido.
Muito rico em verdadeiras situações pelas quais um recém-chegado passa num país estrangeiro em que começa a viver, o romance de Thrity Umrigar mantém um ritmo muito bom por quase todo o livro. Minha única crítica é sobre o fechamento da história. A escritora parece ter adotado a visão americana de narrativa e leva os dois últimos capítulos fechando cada fio da meada com uma soluções redundantes para o bom leitor. Esses detalhes me lembraram os programas de televisão daquele país que conseguem resolver e solucionar os problemas mais amplos e delicados em comédias de 30 minutos. Fora esta necessidade de aferrolhar os tópicos, de não deixar nada para a imaginação do leitor, não tenho maiores críticas ao livro que certamente deve ser lido por todos aqueles que pensam em imigrar ou que conhecem alguém que o fez. Esse é um retrato sensível das muitas questões envolvendo o imigrante.