Mulheres notáveis: Galla Placídia, texto de Francisco da Silveira Bueno

10 07 2015

 

 

Aelia_Galla_PlacidiaRetrato atribuído a Galla Placídia, séc. III a V

Pintura em miniatura, medalhão de vidro

Museu Cívico Cristão, Bréscia

 

 

Galla Placídia

 

Se do pai tinha sangue espanhol, tinha sangue oriental, pelo lado materno, e dessa mistura saiu tão raro tipo de mulher política, administradora, de grande visão artística e sumamente religiosa. A sua entrada no mundo político de Roma foi, justamente, num momento angustioso da Cidade Eterna: Alarico vencia os romanos, ele que aprendera os segredos da guerra sob as ordens de Teodósio, saqueava e devastava toda a Itália com as suas hordas de visigodos. O momento era trágico e dentre as cinzas e labaredas da destruição de Roma, surge Galla Placídia para vencer, sozinha, esses bárbaros. E de que jeito? Pelo sacrifício de todo o seu orgulho. Ela, filha de Teodósio, o Grande, grega pelo nascimento, aceita casar-se com Ataulfo, cunhado de Alarico, com uma condição, os visigodos iriam para a Espanha a fim de destruir os Vândalos. Era o ano 414. Integrada agora na gente visigótica, acompanha Ataulfo: os Vândalos são batidos, expulsos, jogados da Espanha para o norte da África. Mas na batalha final, no ano 415, morre Ataulfo e Placídia está livre. De volta a Roma, onde seu irmão Honório é o imperador, casa-se com Constâncio, o maior capitão do momento. Nascem-lhe dois filhos: Honória e Valentiniano. Escolhida Ravena para capital do império romano pelo próprio Honório, ei-la que aí sonha o seu sonho maior: colocar no trono o seu próprio filho. Era uma criança, como seria possível? A sua tenacidade, a sua habilidade, jogando contra as próprias ideias do irmão todo poderoso, prepara toda a ascensão de Valentiniano. A morte de Honório vem ajudar os seus projetos: Valentiniano sobre ao trono, mas quem reina, de verdade, é a Galla Placídia e reinará por trinta – cinco anos.

 

Em: Pelas estradas do sol, Francisco da Silveira Bueno, São Paulo, Saraiva: 1967, pp. 108-109.





Vestígios de comunidade judaica em Coimbra, c. 1370

10 07 2015

MArc Chagall, jewish wedding 1910Noite, 1910

[O casamento judeu]

Marc Chagall (Bielorússia/França, 1887-1985)

óleo sobre tela

 

Há certas notícias que não têm hora para serem publicadas.  Esta é uma delas.  Não sei porque não cheguei a saber dessa descoberta há um ano e meio, quando foi publicada, logo após o Natal de 2013.  Mas não importa, vejam que interessante: um bombeiro, ao fazer um conserto em uma casa na cidade de Coimbra descobriu uma estrutura no subsolo da residência, que depois de examinada pelo arqueólogo Jorge Alarcão, parece ter sido uma mikvá, datando do século XIV.   Há uma boa possibilidade desse ser um dos mais antigos banhos rituais judaicos descobertos na Europa. E mais raro ainda por se destinar a banhos rituais femininos.

978 - inf 43.537 - RVL_21.13xDescoberta em Coimbra, foto O Público.

Sabe-se que a comunidade judaica já existia em Coimbra antes mesmo da existência de Portugal.  E que havia uma parte da cidade dedicada à velha judiaria, que foi desativada durante o reinado de D. Fernando I, por volta de 1370. É por isso que se acredita que os banhos descobertos não podem ser posteriores a essa data.

Fonte: O Público





As noivas de branco…Desde quando?

12 06 2015

 

 

Casamento russo 3Casamento na Rússia, década de 1960. Ignoro a autoria dessa ilustração.

 

“Até meados do século XVII, as noivas usavam vestidos coloridos, com pedrarias e bordados. Tons vermelhos e dourados  eram os mais comuns. Foi a rainha Vitória, da Inglaterra, que inaugurou o visual da noiva mais usado até hoje — ao se casar de branco com seu primo, o príncipe Albert. Ela também acrescentou ao seu traje nupcial um véu — detalhe, na época era proibido para rainhas que, para provarem sua identidade e soberania, nunca deveriam cobrir o rosto. O mais curioso é que ela o pediu em casamento, pois não se permitia fazer esse pedido diretamente à rainha. Com a chegada da burguesia, o vestido branco ganhou outro significado: o da virgindade.”

 

Em: Sempre, às vezes, nunca – etiqueta e comportamento, Fábio Arruda, São Paulo, Arx: 2003, 8ª edição, p: 44.





Codice Romanov: presente no seu dia a dia…

3 06 2015

 

 

café Joseph_C_LeyendeckerLanche, ilustração de Joseph Leyendecker.

 

“A origem do guardanapo é muito interessante. Antes dele cachorros e coelhos eram utilizados para limpar as mãos dos comensais, já que o padrão medieval era o de comer com as mãos. Apesar de não oficial, atribui-se a origem desse artefato a Leonardo Da Vinci (1452-1518), por meio de um livro chamado Codice Romanov, constituído de anotações culinárias atribuídas a Da Vinci. Antes da inclusão como item indispensável à mesa, as toalhas de mesa e, em seguida, as mangas dos trajes serviam para limpar os lábios.”

 

Em: Sempre, às vezes, nunca – etiqueta e comportamento, Fábio Arruda, São Paulo, Arx: 2003, 8ª edição, p: 96.





Chá, uma tradição milenar…

13 05 2015

 

 

CHÁ - Nikolai Bogdanov-Belsky (1868-1945)new-owners-tea-drinkingTomando chá, 1913

Nicolay Bogdanov-Belsky (Rússia, 1868-1945)

óleo sobre tela

 

 

“Acredita-se que o chá foi inventado por distração do imperador da China Antiga, Shennung, em 2.800 a.C. Ao ferver água para beber, ele não percebeu algumas folhas que caíram em seu recipiente. Como agradaram seu paladar, ele passou a colocar folhas para infusão em água fervente. O chá popularizou-se no Japão, que o cultua com um ritual chamado Chanoyu, a cerimônia do chá. Do século XVI em diante, na rota das descobertas, o chá chegou à Europa e dali se espalhou pelo mundo.”

 

Em: Sempre, às vezes, nunca – etiqueta e comportamento, Fábio Arruda, São Paulo, Arx: 2003, 8ª edição, p: 74.





70 anos! NUNCA MAIS…

9 05 2015

 

Slide3Soldados brasileiros retornam ao Brasil ao final da Segunda Guerra Mundial.

 

soldados-britanicos-fazem-guarda-perSoldados britânicos fazem a guarda na cidade de Caen, na França destruída na guerra.

 

monumento_dos_pracinhas_-_halley_pacheco_de_oliveira_cc_wikimedia_-_18-11-2013Monumento ao soldado desconhecido, aos mortos na Segunda Guerra Mundial, Rio de Janeiro, Brasil.

 

Ontem comemorou-se no mundo inteiro os 70 anos do término da Segunda Guerra Mundial.  Que ela não se repita.  Que tenhamos aprendido com a enorme perda de vidas, uma lição valiosa.  O Brasil participou da guerra e também perdeu vidas. É certamente um momento para ser lembrado. A vitória é de todos nós que acreditamos na liberdade, na igualdade de direitos de todos a despeito das diferenças de raça, credo e preferências individuais.





Esmerado: Relógio de sol de bolso

27 04 2015

 

Bloud_Sundial_Closed_1200X785Relógio de Sol de bolso, c. 1670
Assinado: Charles Bloud
Marfim (provavelmente) 8,1 x 9,3 cm
Dieppe, França
Barnes & Co.

 

De um tamanho maior do que o costumeiro, este relógio de sol de bolso, feito por Charles Bloud mostra elaborada decoração floral. Esse compêndio tem um mostrador circular do equinócio, um braço apontador [volvelle] com a escala de latitude lateral, um mostrador com escala elíptica para o mostrador do azimute magnético, um compasso e finalmente um calendário perpétuo.

 

Bloud_Sundial_Open_1200X785





Lua de mel, uma tradição das tribos germânicas

16 03 2015

 

 

noiva, bradshaw crandell_cosmo36julNoiva, ilustração de Bradshaw Crandell, Cosmopolitan, 1936.

 

“A origem da lua-de-mel vem de captura. Entre as tribos germânicas muitas vezes o homem capturava a sua amada e a mantinha cativa desde a lua cheia até a seguinte, tomando uma mistura afrodisíaca, adoçada com mel, para que a amada se rendesse aos seus encantos. Com o tempo os germânicos já não raptavam suas futuras esposas e celebravam seu casamento na lua nova, servindo uma bebida à base de água e mel para garantir boa sorte.”

 

Em: Sempre, às vezes, nunca – etiqueta e comportamento, Fábio Arruda, São Paulo, Arx: 2003, 8ª edição, p: 43.





Uma inovação de 500 anos, sem a qual não imaginamos viver!

8 11 2014

 

 

place-setting-art-blenda-tyvollPlace Setting Art by Blenda StudioIlustração: gravura da artista Blenda Tyvoll, “Mesa posta”.

 

“O uso de talheres começou a se difundir no século XVI, mas eram totalmente pessoais, em geral dobráveis para facilitar o transporte e evitar os envenenamentos.  Fornecê-los para convidados só a partir do século XVII, entre os aristocratas ocidentais e, no século XVIII entre os burgueses.  A idade dos acessórios é distinta. O mais antigo deles é a faca, que até o século XVI fazia as vezes de garfo, já que além de trinchar os alimentos, espetava e os levava à boca. A colher veio evoluindo desde os tempos mais antigos, mas sua forma atual data do século XV, quando seu cabo foi alongado, em parte devido às gravatas largas e bufantes e aos babados das mangas dos trajes da época. O garfo mais próximo do atual veio da Renascença italiana — mas com apenas três dentes — o quarto dente foi acrescentado pelo franceses no século XVI.”

 

Em: Sempre, às vezes, nunca – etiqueta e comportamento, Fábio Arruda, São Paulo, Arx: 2003, 8ª edição, p: 90.





Portugueses, os jardineiros do mundo, texto de Afrânio Peixoto

3 10 2014

 

 

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Coleção cítrica dos Medici, 1715
Espécies de limões e laranjas,
Bartolomeu Bimbo (Itália, 1648-1723)
Óleo sobre tela
Hoje, Palácio Pitti, Florença

 

 

“Foram porem os portugueses que nas suas viagens, depois do Renascimento, vulgarizaram a laranja pelo Ocidente. A prova é que hindus maometanos e árabes modernos, no Oriente, chamam à laranja portughan, que lhes trouxeram, da China, os navegantes portugueses. A prova é que, no Mediterrâneo, em Itália, as laranjas são, ainda hoje, chamadas portogalli.

Os portugueses foram disseminadores das árvores prestadias, pelo mundo, universalizando a natureza, regional, pela ecologia ou afeiçoamento ao meio, e tornada mundial. Não será espirituosa senão etimológica esta frase: os portugueses tornaram católica (universal) a natureza. As autoridades francesas da Guiné confessam que todas as plantas do mundo aí cultivadas são da primitiva estação portuguesa, nessa África ocidental. Aliás, o mesmo aqui podemos ver: a fruta-pão é da Oceania; a lichia é da China; o dióspiro ou caqui é do Japão; o café é da Etiópia; a cana-de-açúcar peregrinou da Índia ao Egito, à Sicília, ao Algarve, à Madeira, ao Brasil; o cacau trouxeram-no do México. O  Brasil produziu cravo, canela, anil, noz moscada, pimenta, chá, gengibre… A vida de Portugal pelo mundo, “a vida em pedaços repartida”, do Poeta, terá um sentido universal, reunindo todo o mundo, em todas as partes a que chegaram. E comunicar é civilizar…

Depois das viagens de D. João de Castro, em 1520, foram eles, os portugueses, fazendo de seu portos de escala, culturas e depósitos e assim já não precisariam trazer consigo o mundo, achando o mundo em toda parte. As laranjas foram trazidas à Guiné, às Ilhas de Cabo Verde, onde as naus, em caminho da Índia, se proviam delas, “refrescando a nutrição dos marujos — de peixe seco e bolachas — o que produzia o escorbuto, ou peste náutica, o flagelo das navegações. Pode-se sem exagero dizer que os portugueses descobriram as vitaminas, de tanto prestígio hoje em dia, pelo menos os seus providenciais efeitos. Na própria metrópole tentaram e conseguiram. ”

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[Grafia atualizada]

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Em: Breviário da Bahia, Afrânio Peixoto, Rio de Janeiro, Editora do MEC: 1980, p.122

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Nesse texto acima, Afrânio Peixoto cita um verso do Poeta.  Este Poeta a que ele se refere com letra maiúscula é Luiz de Camões.  E a passagem em verso é a seguinte:

Canção VII

[Trecho] *

.  . . . . . . . . . . . . . . . .

Aqui, nesta remota, áspera e dura
parte do mundo, quis que a vida breve
também de si deixasse um breve espaço,
porque ficasse a vida
pelo mundo em pedaços repartida.
Aqui me achei gastando uns tristes dias,
tristes, forçados, maus e solitários,
trabalhosos, de dor e de ira cheios,
não tendo tão-somente por contrários
a vida, o sal ardente e águas frias,
os ares grossos, férvidos e feios;
mas os meus pensamentos, que são meios
para enganar a própria Natureza,
também vi contra mi,
trazendo-me à memória
algũa já passada e breve glória,
que eu já no mundo vi, quando vivi,
por me dobrar dos males a aspereza,
por me mostrar que havia
no mundo muitas horas de alegria.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

* Você pode encontrar as canções de Camões facilmente na internet.  Vale a pena.  Você vai se encantar…