Rio de Janeiro, à beira da Guanabara!

25 10 2019

 

 

 

TAKAOKA, YASHIYA (1909-1978). Paisagem da Glória com Mosteiro, aquarela, 31 X 42. Assinado e datado (1938)Outeiro da Glória visto da Praça Paris, 1938

Yoshiya Takaoka (Japão/Brasil, 1909-1978)

aquarela, 31 X 42 cm





Imagem de leitura — Yumeji Takehisa

22 08 2018

 

 

Yumeji Takehisa 1884-1934Beleza japonesa

Yumeji Takehisa (Japão, 1884 – 1934)





Lendo: “O museu do silêncio” de Yoko Ogawa

4 07 2018

 

 

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Lendo:

O MUSEU DO SILÊNCIO

Yoko Ogawa

Estação Liberdade: 2016, 304 páginas

 

SINOPSE:

Os museus têm como pressuposto guardar objetos de valor histórico ou científico para fins de exibição pública, de modo a registrar à posteridade a importância que eles tiveram para a humanidade num período determinado. Mas como seria no caso de um museu que tivesse como objetivo preservar lembranças de pessoas que morreram? Essa é a essência da trama proposta pela japonesa Yoko Ogawa neste O Museu do Silêncio, primeira amostra da produção da autora que a Estação Liberdade traz ao público brasileiro.

O sonho de dar cabo ao Museu do Silêncio é de uma velha que vive com a jovem filha e um casal de empregados. Um museólogo – narrador da história – é contratado por ela para tirar o projeto do papel. De personalidade hostil e sem o menor traquejo social, a velha tem lá suas idiossincrasias, sobretudo em relação ao tipo de conteúdo que planeja para o museu: as lembranças dos mortos precisam ser representativas do que eles foram em vida. Uma peça de roupa, uma fotografia sorridente – nada disso. Não se trata de preservar lembranças afetivas. Cada objeto do museu precisa ser a metáfora perfeita da existência do finado.

No caso do homem cego, por exemplo, só mesmo seu olho de vidro serve às intenções da velha. E o museólogo – nenhum dos personagens do livro é nomeado – tem que se virar para recolher esse tipo de “relíquia” dos corpos moribundos. Para se familiarizar com essa macabra tarefa, o museólogo conta apenas com a ajuda da filha da chefe, por quem nutre sentimentos paternais… ou nem tanto. E, não bastassem o mau humor e as grosserias da velhota, ele ainda tem de lidar com uma chocante onda de assassinatos de mulheres da região, marcados pela característica comum de apresentar os corpos das vítimas mutilados numa região bem específica.

O Museu do Silêncio é uma obra de suspense, bastante simbólica da produção de Yoko Ogawa, escritora japonesa contemporânea muito saudada no Ocidente. Sua literatura é excêntrica, preterindo tons e temas ternos e etéreos por aqueles mais duros e polêmicos, não raro flertando com o grotesco. Neste livro, ela também opta por ambientar a trama em tempo e local não identificados, o que contribui para diluir os eventuais estranhamentos culturais intrínsecos às suas origens nipônicas, e assim consolidar sua voz de alcance universal.





Nossas cidades: São Luís

15 05 2018

 

 

 

KAMINAGAI, Tadashi, São Luís,ost, 1953 e sit. São Luís inf. dir.,53 x 71,5 cmSão Luís, 1953

Tadashi Kaminagai (Japão, 1899 — França, 1982)

óleo sobre tela, 53 x 71 cm





Minutos de sabedoria: Ruth Ozeki

28 01 2018

 

 

A Hiroshige print of Nissaka. Credit Courtesy of Ronin Gallery Collection

Nissaka-shuku, estação 25, das 58 estações da Estrada Tokaido, 1834

Ando Hiroshige (Japão, 1797-1858)

Xilogravura policromada

 

 

“Estudar o caminho, é estudar a si próprio. Estudar a si próprio é esquecer-se de si próprio. Esquecer-se de si próprio é tornar-se iluminado, por toda a miríade do Universo.”

 

 

 

ozeki_ruthRuth Ozeki

 





“O amante japonês” de Isabel Allende

29 10 2017

 

Toshiyuki Enoki, (Japão,1961) 1991, 9- x 9- cm Musica, JapanesO abraço

Toshiyuki Enoki (Japão, 1961)

Técnica mista, 90x 90 cm

 

Devo confessar que não me encontro entre os leitores aficionados de Isabel Allende.  Sua grande obra, A casa dos espíritos,  muito influenciada por Gabriel Garcia Marques, está entre seus primeiros trabalhos. Mais tarde veio Eva Luna que não chegou ao mesmo nível e daí para frente a escritora chilena tem revelado livros mais ou menos insossos, repletos de lugares comuns, sem grande cuidado na linguagem literária.  Continuo a encontrar esses mesmos problemas em O amante japonês.

Tudo se desenrola em torno de uma paixão mantida viva por 74 anos. Alma Mandel, que hoje mora numa casa para idosos, na Califórnia, havia nascido e vivido na Polônia, até ser embarcada para os Estados Unidos. Judia, seus pais decidem protegê-la, quando da invasão russa da Polônia, em 1939. Alma encontra abrigo com os tios Isaac e Lillian Belasco, em SeaCliff, Califórnia. Logo conhece Ichimei, um menino de origem japonesa cujo pai, jardineiro, trabalhava na propriedade. Um ingênuo romance toma os corações dos jovens, que se veem separados, quando o Japão ataca Pearl Harbor e os Estados Unidos entram na Segunda Guerra Mundial. O amor entre Alma e Ichimei, encontra diversos obstáculos através dos anos e é mantido às escondidas por Alma, por uma vida inteira.  Cartas descobertas por Irina Bazili, cuidadora, na casa de idosos, finalmente o revelam. Em paralelo, Seth, neto de Alma, procura dados para escrever a história da família. Em tempo, junto a Irina, conhece o romance proibido de sua avó, não sem antes cair de amores por Irina. A partir daí, seguimos duas histórias de amor, cada qual com seus problemas fazendo eco uma à outra.  Ambas mostram ter obstáculos que parecem intransponíveis. Nada mais corriqueiro.

 

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Allende usa a duradoura paixão de Alma por Ichimei para desfiar, como contas de um colar, acontecimentos relevantes do século XX.  Vamos da Polônia, a São Francisco, passando pelo Texas.  Familiarizamo-nos com a perseguição aos judeus e sua diáspora, o Holocausto,  o aprisionamento de pessoas de origem japonesa nos Estados Unidos, e aos preconceitos raciais no país.  Por outro lado, seguindo o romance paralelo entre Seth e Irina, aprendemos sobre os problemas do mundo atual, a vivência inter-racial nos EUA,  pornografia infantil, filosofias da eutanásia para idosos com doenças terminais, situação da população gay no país e em São Francisco em particular. Somos espectadores de uma panóplia de aflições contemporâneas.

 

OLYMPUS DIGITAL CAMERAIsabel Allende

 

Tudo é resolvido quando descobrimos que uma vida bem vivida dá conta de perdoar pecados do passado. E que há de haver resignação às reviravoltas do destino. Além de trama conhecida de amores proibidos, além das circunstâncias melhor descritas em outros obras sobre os fugitivos de guerra, este romance de Allende é recheado de rasas platitudes, frases prontas como as que encontramos nas postagens de redes sociais.  Mais que isso, há um tom proselitista e, por vezes, a linguagem nas descrições do romance entre Alma e Ichimei parece bastante anacrônica e melodramática. No todo, os diálogos são tediosos e Allende prefere contar mais do que mostrar.

No entanto tenho que admitir, que dos vinte e dois membros do meu grupo de leitura só três tiveram impressões semelhantes à minha.  Confesso que eu não teria lido este romance, não tivesse sido escolhido para leitura pelo grupo.  Li e confirmei as restrições ao estilo da escritora que já desenvolvera através dos anos e de outras leituras. Se você é fã de Allende, vá em frente e leia.  Pelo que percebi não é obra tão singular quanto outros de seus livros, mas para os aficionados, tudo indica que passou a prova.

Por outro lado se você espera passar as horas lendo uma obra que produza além de uma boa história, conhecimento, cuidado com a arte da escrita, criatividade na trama e personagens críveis;  se você se interessa por conteúdo e pela arte da escrita, recomendo que procure outro autor e outro título. É banal em todos os aspectos.





Esmerado: Lebre netsuke de marfim com olhos de âmbar

15 04 2017

Ivory_netsuke_of_the_Hare_with_Amber_EyesLebre netsuke de marfim com olhos de âmbar

Coleção Edmund de Waal

 

Netsuke é um pequeno objeto esculpido em madeira ou marfim, pode ser talhado em metal também, com diversos punções para passar um ou mais cordões, usado pelos antigos japoneses como elegante botão ou fecho de bolsa ou prendedor de obi ou sacola à faixa do quimono. 1 a 2 cm.

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Resenha: “As irmãs Makioka” de Jun’ishiro Tanizaki

27 01 2017

 

 

osakaO Castelo de Osaka, 1967

Yuzaburo Kawanishi (Japão, 1923)

xilogravura policromada

 

 

 

O ritmo, a saga de As Irmãs Makioka me lembraram Eça de Queiroz. Talvez seja por isso que desde o início me senti inclinada a gostar da obra de Jun’sihiro Tanizaki, sem levar em conta as mais de 700 páginas da edição brasileira.  O ritmo é lento. O texto se move como as estações do ano, vagarosamente, cada passagem de tempo uma atividade, novo enfoque, nova oportunidade.  Esperança. O universo é retratado nos detalhes, nas minúcias do cotidiano.  E são os pormenores da vida que nos dão a medida certa da sociedade que as produziu.

Considerado uma obra clássica da literatura japonesa, esse livro retrata o período em que o Japão esteve em guerra com a China até sua aproximação à Alemanha de Hitler.  No entanto, a julgar pelo descrito neste livro, no interior montanhoso do país, as guerras quase não tiveram impacto.  Os ecos das batalhas são longínquos e não arrepiam as penas dos pássaros nos jardins.  As irmãs Makioka retrata quatro anos (1936-1941) na vida de quatro irmãs vindas de uma família tradicional, de abastados comerciantes, que perdeu a influência financeira e social. Elas tentam manter, cada qual à sua maneira, as tradições familiares de classe e dinheiro, no entanto, os resultados são modestos e diferem para cada uma delas.  O Japão está no seu momento mais intenso de ocidentalização antes da segunda metade do século XX. E essa mudança de hábitos, de roupas, de maneiras de pensar está presente no dia a dia das irmãs.

 

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No antigo Japão – e francamente não sei como é agora – irmãs haveriam de casar na ordem em que nasceram. Essa regra, mantida pelas Makiokas, é o fio da trama.  Na abertura, a primeira filha é casada com seis filhos, a segunda, casada com uma filha, a mais jovem, rebelde, desafiadora do status quo já está comprometida para casar, mas a terceira , não consegue um marido à altura, está ficando velha demais para um bom casamento e empaca a vida da mais nova.  A solução desse problema segura a narrativa de início ao fim.  Cada uma das irmãs é detalhadamente descrita, não há como confundirmos seus nomes.  Como  é um romance movido pelo personagens, com muito pouca ação, o conhecimento profundo de cada elemento é essencial.

A vida não para porque Yukiko não consegue casar.  Vez por outra aparece um pretendente. Nesse meio tempo há eventos do cotidiano: crianças crescendo, doenças, passeios em família, mudança de endereço e assim por diante.Aos poucos temos uma visão precisa de como era a vida antes da Segunda Guerra Mundial. Li esse livro nas férias, em três semanas.  Aproveitei o tempo letárgico do verão quente para parar a cada capítulo (eles são pequenos) e procurar na internet imagens do Festival das Cerejeiras, do Dia das Meninas, a distância entre Osaka e Tóquio para entender o trauma de uma mudança de lá para cá. Procurei fotos de glicínias e outras flores mencionadas.  Fui atrás de explicações para as partes de um quimono, assim como os rituais mencionados. Tive por causa disso outros meios de apreciar a leitura. Enfim, tive o luxo de poder dar tempo à narrativa, deixá-la criar raízes.

 

 

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Jun’shiro Tanizaki

 

 

Esse é um belíssimo livro, retrato de uma época.  Foi escrito durante os anos da guerra entre o Japão e a China e publicado em 1948.  Tem sido desde então considerado uma obra-prima da literatura japonesa do século XX.  É fácil entender a razão: é a saga de uma família para sobreviver num mundo que muda rapidamente.  Durante a narrativa o Japão comemora 2.600 anos de existência.  Muitos dos rituais da corte e da sociedade japonesa ainda preserva antigos hábitos em descompasso com a ocidentalização, que já vinha se estabelecendo na terra do sol nascente desde o século XVIII através do comércio com a Holanda. O que se testemunha na leitura é um adeus às velhas maneiras.  Algo que não acontece de repente, não até perder a Segunda Guerra Mundial e ser ocupado pelas forças aliadas de reconstrução de 1945 a 1952.

Definitivamente essa leitura é um requisito para o leitor interessado da grande literatura e naquela produzida pelo Japão.

 

 

 

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Resenha: “A terra inteira e o céu infinito de Ruth Ozeki

16 01 2017

 

b9876b10d38dd5ed69d799c92718cd75Autoria desconhecida.

Os dois elementos mencionados no título brasileiro do livro de Ruth Ozeki A Terra Inteira e o Céu Infinito formam um todo, uma unidade, um ser-tempo, pleno, indivisível. E foi justamente com o sentido de plenitude, de preenchimento emocional que acabei de ler um dos mais ricos livros de ficção (o quanto é ficção é debatível) dos últimos anos.  Ao fechar a última página, ao ler os apêndices, me dei conta de querer reler o livro, assim que for possível, pela certeza de que mesmo na releitura ainda não terei digerido tudo o que foi abordado nessas quatrocentas e tantas páginas.

Esta é uma obra complexa demais para caber nos poucos parágrafos de uma resenha. Extremamente atual, de fácil leitura, o livro de Ruth Ozeki nos leva a considerar assuntos sérios que ponteiam o horizonte cotidiano de todos nós e que raramente paramos para considerar em maior detalhe. Temos através dessa história de duas mulheres: uma jovem adolescente e uma mulher madura, que se encontram através do tempo, noções de zen-budismo, física quântica, meio ambiente, tsunami, lixo oceânico, bullying, doença mental, suicídio, Segunda Guerra Mundial,  relativismo da história, escolhas éticas e morais e um tanto de fantasia.  Tudo isso numa obra que consegue manter unidade integral, única, aberta, consistente e estética.

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Com essa variedade temática espera-se uma espécie de colcha de retalhos.  Mas isso não acontece.  Ruth Ozeki controla muito bem o texto e seu ritmo.  Ainda que não produza uma obra de suspense, eu me vi virando página após página, magnetizada pelo desenrolar da quase não-trama. Que feito!

A história é contada por duas vozes distintas: Ruth, uma mulher madura que vive numa ilha no Canadá e encontra um diário de uma jovem japonesa jogado ao mar. Resolve lê-lo. E nós lemos junto. Assim conhecemos Naoko a jovem japonesa que viveu nos EUA e voltou com sua família para o Japão onde sofreu todo tipo de preconceito e bullying. Não era suficientemente japonesa. Aos poucos sabemos dos problemas familiares, de seu pai, de seu tio avô e conhecemos sua bisavó, um dos personagens mais interessantes do livro que nos dá lições e lições de vida.

Mesmo que repleto de situações difíceis descritas em detalhe, ou talvez justamente porque são descritas em detalhe, consegui seguir em frente testemunha dos sofrimentos dos personagens, seguir seus passos, entender suas maneiras de pensar, quer pessoais quer culturais, e sair ao final estimulada, esperançada.

ozeki_ruthRuth Ozeki

Esta obra de ficção é repleta de informações factuais que se transformam diante dos nossos olhos em verdadeiras meditações. Dentre elas, quase imperceptível, está aquela do leitor criando sua obra na leitura do livro, como Proust, que tem um papel importante e interessante no livro, já havia notado [“todo leitor é leitor de si mesmo”].  Como acontece com Ruth ao ler o diário de Naoko. Há, de fato, tantas camadas de leitura entremeadas e possíveis que ao final do livro o desejo de reler é quase obrigatório. Com fortes personagens o leitor é levado pela mão a considerar postulados filosóficos diversos inclusive aqueles sobre o conceito de tempo, assim como considerações éticas em horas difíceis. Tudo isso num contexto contemporâneo que a pessoa comum não só entende mas sobre a qual é frequentemente convidada a opinar.

Há tempos não me encanto com uma obra de tal maneira.  Foi a primeira leitura de 2017 do meu grupo de leitura e todos os leitores se encantaram.  Recomendo com entusiasmo.

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Escrita à mão x escrita impressa, por Ruth Ozeki

15 01 2017

 

brushwriting2Uma alta cortesã, 1794-5

[da série Cinco Tons de Tinta na área norte (Hokkoku goshiki Zumi)]

Utamaro Kitagawa (Japão, 1754-1806)

xilogravura policromada, tinta e cor sobre papel

Metropolitan Museum of Art, Nova York

 

 

“Letras impressas são previsíveis e impessoais, transmitindo informações numa transação maquinal com os olhos do leitor.
Letras de mão, em contrapartida, resistem aos olhos, revelam seus significados aos poucos e são pessoais como a pele.”

 

 

Em: A terra inteira e o céu infinito, Ruth Ozeki, Rio de Janeiro, Casa da Palavra:2014,tradução de Daniela P. B. Dias e Débora Landsberg,  página 18.

 

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