O mundo em 11 x 16 cm — cartões postais para onde foram?

15 08 2011

Modelo escrevendo cartões postais, 1906

Carl Larsson ( Suécia, 1853-1919)

Meu avô materno me apresentou ao passatempo de colecionar cartões postais e com isso plantou as sementes da viajante em mim, um grande desejo de conhecer o mundo.  Ele descobriu outros países a trabalho, mas sempre achou uns minutos para mandar cartões postais variados, com pequenas notas de viagem para cada membro da família: três filhas, esposa, netos, genros e amigos.   Vem desse tempo a minha fascinação por postais.  Talvez tenha sido nessa época o início do meu gosto pelas artes gráficas.  Não sei.  Mas cartões postais fizeram parte de toda a minha infância e adolescência: do Oiapoque ao Chuí, do Senegal à Suíça, o mundo se descortinava para mim, com cada visita do carteiro.  O formato era o mesmo, um envelope comum de 11 x 16 cm, mas o conteúdo, ah… como variava!   Havia os cartões com fotografias de locais pitorescos, dos principais monumentos do mundo; havia os postais com bonequinhas com roupas de diferentes regiões dos países europeus, bordadas no cartão e alguns postais com curiosidades esdrúxulas: da feira de produtos agrícolas da Sérvia, aos tocadores de cornetas na Suíça, com seus instrumentos tão longos que pousavam na terra, em gramados impecáveis por entre as montanhas alpinas.  Havia também os postais que eram fotos de vovô: à beira do Lago …, nos Jardins de Luxemburgo…  Cartões que hoje imagino terem sido tirados em lambe-lambes locais ou seus equivalentes no estrangeiro.  Os postais do Brasil eram sempre em preto e branco, alguns mais avermelhados,  com o nome dos locais escritos em branco sobre as fotos.   Alguns postais eram quase desenhados, fotos trabalhadas com tinta e coloridos posteriormente…  Além, dos cartões postais com desenhos interessantes:  na Páscoa pintinhos e ovos ou no meu aniversário, uma cestinha com gatinhos falando em francês: Joyeux anniversaire!

Recentemente tive a idéia de voltar a alguns dos lugares brasileiros cujos postais guardei por tanto tempo.  A maioria está irreconhecível!  Aí sim, vemos o crescimento populacional, as mudanças na paisagem.  Estive em Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro, com um cartão nas mãos, para ver à distância o Dedo de Deus.  No meu cartão eu deveria estar num campo cheio de cavalos pastando…  Hoje, daquele mesmo ângulo eu estaria no meio de alguns edifícios de muitos andares.   Tudo mudou.

Postais da minha estadia na Argélia.

Ontem, passando os olhos nos blogs do The New York Times, encontrei o interessante artigo de Charles Simic, titulado A decadente arte de escrever postais [The Lost Art of Postcard Writing], que me trouxe uma enxurrada de memórias, não só de cartões recebidos como de cartões mandados, das centenas de postais que encaixotei soltos, amarrados em grupos com cordões plásticos, com elásticos, em caixas de sapatos, em álbuns, pulando de residência em residência, de guarda-móveis a guarda-móveis, resultado de uma vida de inúmeras viagens e de longas moradias em quatro diferentes continentes.  Charles Simic está correto: estamos perdendo o hábito de mandar postais, e certamente de escrevê-los.  Mas ainda há muita gente adepta… Vejam a quantidade de postais à venda nos jornaleiros dos pontos próximos a lugares turísticos ou a hotéis no Rio de Janeiro.

O postal para mim foi sempre uma maneira de fazer uma pausa no quarto de hotel, no café da manhã, no bar de praça européia.  Um momento de reflexão sobre onde eu estava e o que havia visto.  Nunca fui de escrever:  Saudades.  Gostaria que você estivesse aqui…   O envio do postal, já indica  que estou pensando em quem o recebe.  E saudades também são assim expressadas.   Esse sentimento tão pessoal, delicado e fluido, quase melancólico não pertence, a meu ver, a uma mensagem que se encontra descoberta, exposta a qualquer um, nua, avidamente devorada pelos olhos de quem quer que manipule o cartão.  É pessoal demais…  Meus recados em postais são sempre baseados naquilo que eu diria para a pessoa a quem endereço as mensagens caso estivesse contando a minha viagem.  Sempre fui prolífica, principalmente com o pessoal da família.  Já até tive que colocar postais em envelopes, porque houve lugares – todos em países comunistas — em que os Correios achavam que tinha escrito demais no cartão, que já contava como carta…   Prolífica, todos que lêem esse blog já sabem que sou …

Cartão postal de Ghardaia [Pentápolis] — A praça do mercado

Querida mamãe: É assim mesmo!  O mercado na praça de Ghardaia.  Não tem o que tirar nem por. Você não pode imaginar o labirinto de ruas de +- 1,50m a 2m de largura pelo centro da cidade à medida que se sobe o morro para se chegar à mesquita no topo.  Só se vê homens – o meio de transporte é o burrico.  As mulheres que se vê têm véu e só deixam um olho aparecer.  Elas se viram de encontro à parede quando um homem passa.  Beijoca, L…

Cartão postal de Beni-Isguen [Pentápolis], cemitério do Palmeiral.

Querida mamãe: Este tipo de arquitetura dos oásis de Ghardaia, foi o que inspirou a arquitetura de Le Corbusier quando ele fez a Capela Ronchamp.  Outros arquitetos famosos como Frank Lloyd Wright também foram muito influenciados pela arquitetura dos Mozabites.  Beijocas, L…

Mostro o que escrevi, mas não me considero uma excelente “escritora” de postais. Isso porque tenho amigos que parecem mais sucintos, mais interessantes nas suas observações.  Recebi uma vez um cartão postal de um amigo que visitava Petrópolis, com a foto da casa de Santos Dumont, uma única frase:  Ele já morava nas alturas… para a volta à Torre Eifel foi um passo… Taí… Diferente… a continuação de uma conversa jogada no ar… Maravilha!

Charles Simic em sua postagem menciona algumas outras observações em postais feitas por amigos e lembra que não conhece nenhuma coletânea de escritos de cartões postais como as que existem de cartas, mas que se houvesse,  está certo de que a coletânea seria bastante interessante.    Pessoas que por uma frase, ou por uma observação revelam-se aos amigos de forma mais que imprevisível. Há muitos exemplos e Simic nos dá um bem humorado:

Queridos Mamãe e Papai, perdemos nosso último centavo e chegamos ao limite dos cartões de crédito em Las Vegas e estamos pegando carona desde então, às vezes passando a noite na cadeia de modo que pudemos tirar vantagem das cozinhas locais providenciadas pelas polícias do Texas.  Vocês vão gostar de saber que um padre levado à cadeia por dirigir bêbado e com quem dividimos uma cela recentemente nos disse que parecemos um casal de antigos mártires cristãos.  Os noivos.  

[Dear Mom and Dad, We lost our last penny and maxed our credit cards in Las Vegas and have been hitchhiking ever since, spending a night in jail at times so we could avail ourselves of whatever local cuisine the law enforcement provides in Texas. A priest arrested for drunken driving who shared our cell recently told us that we look like a couple of early Christian martyrs, you’ll be happy to hear.  The Newlyweds]

A comunicação entre amigos e familiares mudou muito.  O telefonema internacional está do tamanho do bolso de quem viaja e as fotos digitais nos fazem participar das viagens de nossos amigos quase em tempo real.  Neste verão tive uma inundação de emails com fotografias das diversas aventuras internacionais de amigos e conhecidos e confesso que, como Charles Simic, senti saudades da comunicação por cartão postal.  Os avanços tecnológicos são facas de dois gumes: ao mesmo tempo que participamos gratuitamente do desenrolar de uma aventura, de uma viagem especial de nossos amigos e familiares, também temos nossas caixas postais entupidas por emails com fotografia mal tiradas, muitas vezes de celulares, onde vemos Fulano com a Torre Eifel ao fundo, Beltrano na muralha da China, e até o café da manhã de Sicrano na Polônia…   Será que precisamos mesmo dessa intimidade toda?

Se não recebemos as fotos por email, temos a coleção das mesmas estampadas nas nossas páginas no Facebook, como se todos os momentos das vidas de quem conhecemos fossem de interesse absoluto e essencial para todos os que dali participam.  Voltamos de uma maneira tortuosa ao passado, às noites em que nos reuníamos na companhia de parentes para ver uma infinita coleção de slides documentando as “férias fabulosas” de nossos conhecidos, dos nossos familiares, que apareciam em frente aos pontos turísticos mais conhecidos do mundo.  Um exercício de paciência e de sono contido.  Uma verdadeira maratona que testava a amizade e o amor ao próximo.   Pelo menos hoje em dia, podemos colocar uma ou duas observações em fotos no site de relacionamento e dar por encerrada a atividade voyeurística.

Praça Paris, cartão postal,  coleção Flicker, favaro JR.

A vantagem do cartão postal está na seleção da foto, que é sempre de qualidade.  E na breve mensagem escrita à mão, que revela a quem o recebe as características de quem o enviou.  Há também uma dupla filtragem, coisa maravilhosa, de forma e conteúdo: as escolhas da imagem do cartão e do texto.  A atividade requerida em escrever um texto que irá viajar pelo mundo, já pede que pensemos no que dizer e como dizer; enquanto que a escolha do que mostrar, da foto, da imagem que mandamos, também nos dá a oportunidade de dividir com uma pessoa específica um ponto de vista, um enfoque, uma ironia, uma piada, um carinho.  A facilidade da foto digital, mandada por email ou através de sites de relacionamento permite que não se selecione, nos permite a auto-indulgência, a promiscuidade visual.  Não há triagem, não há exigência.

Além disso, o cartão postal oferece não só uma visão do lugar que se visita, mas também, e não menos importante, uma visão do que o povo daquele lugar que se visita considera importante para que os turistas se lembrem daquele local.  Há uma troca. Quando morei na Argélia, por exemplo, tive grande dificuldade de encontrar cartões postais que refletissem o que via à minha volta.  Muitos dos postais eram reimpressões de outra época no país, quando ainda fazia parte da França.  À minha volta as coisas eram diferentes e essa discrepância me incomodava.  E, como havia muitos lugares onde não era permitido se fotografar – o governo não dava muita liberdade nem a turistas nem a residentes temporários como nós – ficava difícil poder repartir as minhas experiências com familiares e amigos.

Cartão postal, Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, coleção Flicker: rio antigamente

A recente exposição Turismo no Rio de Janeiro, no Espaço Cultural Fundação Getúlio Vargas, mostrou como o cartão postal serve de testemunha da história de um local.  Muitas vezes  fotos de fotógrafos amadores se perdem.  Fotos dos meios de comunicação concentram-se mais no dia a dia local.  São justamente os cartões postais as imagens que nos dão uma idéia mais sistemática do crescimento de uma comunidade, de seus valores e de seus encantos.  E porque são produzidos aos milhares, têm uma melhor chance de serem preservados.

Da próxima vez que você viajar, mande um postal aos seus amigos e ajude a preservar a história daquele lugar, além é claro, de preservar a amizade e o carinho que você tem pelo seu correspondente.

©Ladyce West, Rio de Janeiro: 2011





Entenda o uso da vírgula!

23 11 2009

Comercial sobre a liberdade de imprensa que mostra como uma simples vírgula pode alterar a história. Associação Brasileira de Imprensa, ABI.

Agência: África São Paulo Publicidade Ltda.
Produtora: Visorama Diversões Eletrônicas
Áudio: Sonido Produções Musicais





Em tempos de crise… Entrevista para emprego

13 08 2009

 

 

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Algumas dicas que ajudam alunos entrando no mercado de trabalho.  Essas dicas foram sugestões de G. Krishnamukar, publicadas no jornal The Hindu, da Índia, no dia 11 de agosto.  Elas também são válidas para o lado de cá do mundo.  A tradução, adaptação são minhas.

Companhias têm exigido bastante no momento de recrutamento nessa hora de crise mundial, com o objetivo de escolher só os melhores profissionais.  

Com o número de vagas reduzido, candidatos, principalmente os recém formados,  precisam apurar suas aptidões para corresponder à crescente concorrência. Aqui estão algumas dicas que podem ajudar a que estiver à procura de um novo emprego.

• As grandes companhias  estão à cata de pessoas independentes. Empresas querem pessoas dispostas a assumir novas responsabilidades.

• Os candidatos a emprego terão necessariamente que aprender novas ferramntas de trabalho. Para aqueles que resistem à uma nova aprendizagem, a um novo treino em diferentes áreas,  o trajeto para emprego relevante será mais difícil.

• As empresas também querem maior empenho de seus empregados, na garantia do sucesso que a empresa terá no futuro.  A dedicação do empregado não pode ser comprometida.  Se você fizer alguma coisa, será melhor fazê-lo com todo o seu empenho, se o fizer só para terminar a tarefa, pensando que você afinal não foi contratado para aquilo, o investimento da companhia em você não valerá a pena. É um desperdício de tempo para você e para eles.

• É preciso que o candidato tenha bom desempenho para  trabalhar em equipe.  Em geral novos empregados precisam se encaixar  numa equipe já existente para atuarem numa empresa.

• Os jovens precisam aumentar suas habilidades em comunicação.

• Os requisitos para um candidato a emprego estão mais exigentes. Uma das principais razões para a rejeição de um candidato nas entrevistas é a falta de habilidade, de comunicação oral e escrita. Você pode melhorar sua comunicação só mesmo com a prática.  Não há alternativa.

• As empresas preferem pessoas que tenham capacidade de fazer várias tarefas diferentes, sem se limitarem ao nicho específico para o qual foram contratadas.





NOVO Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa

20 03 2009

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A Academia Brasileira de Letras lançou na quinta-feira a 5ª edição do VOLP — Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa  que incorpora as novas normas estabelecidas pelo Acordo Ortográfico de 1990, regulamentado no Brasil, no dia 29 de setembro do ano passado, e já em vigor desde 1º de janeiro deste ano. O volume contém 349.737 vocábulos apresentados sob forma de lista, por ordem alfabética, além dos estrangeirismos (cerca de 1,5 mil), que aparecem na parte final da obra.

 

Ao contrário de um dicionário, o VOLP não visa informar sobre significado de palavras, e sim registrar a forma oficial de escrevê-las. Além da grafia correta, ele traz indicações de prosódia e ortoépia – que estabelecem a pronúncia e acentuação das palavras -, classe gramatical e informações como formas irregulares do feminino de substantivos e adjetivos, plurais de nomes compostos, homônimos e parônimos.

 

O Doutor em Letras e escritor Cláudio Moreno afirmou que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), trará surpresas aos linguistas; enquanto o presidente da ABL, Cícero Sandroni, afirmou que “esta edição se apresenta aumentada em seu universo lexical, corrige falhas tipográficas e oferece informações sobre possíveis dúvidas resultantes do emprego de algumas das normas ortográficas“.

 

Portal TERRA





Romances celulares, você leria?

22 02 2009

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Há dois meses, no final de 2008 li uma reportagem de Dana Goodyear na revista The New Yorker que me deixou ao mesmo tempo feliz e preocupada.  O artigo chamado Carta do Japão: eu romances, considera que em 2007 quatro dos cinco romances mais vendidos no Japão haviam sido escritos em telefones celulares.  

 

Dana Goodyear centralizou seu artigo na experiência de Mone uma jovem de 21 anos que em março de 2006, achando-se casada, sem muito o que fazer, começou a escrever um romance, em grande parte baseado nos seus próprios diários de adolescente.  Na casa de sua mãe, à espera do marido completar um curso em Tóquio,  Mone se acomodou em sua antiga cama e começou a escrever seu romance no telefone celular.  Neste mesmo dia ela começou a postar o que escrevia num portal japonês chamado Maho i-Land ( A Ilha Mágica), sem nunca dar uma segunda olhadela no que havia escrito nem pensando num roteiro.  No terceiro dia de postagem Mone começou a ter contato com leitores de sua prosa que já se encontravam intrigados com as aventuras de Saki, personagem que narra o romance em questão.  O Sonho Eterno, nome que dera aos seus escritos, havia conquistado leitores que lhe pediam mais capítulos.

 

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Em meados de abril Mone havia terminado seu primeiro romance, dezenove dias depois de ter iniciado o trabalho.  Nesta altura, seu marido também acabara o curso e ela voltou a Tóquio.   Eis que de repente ela se vê procurado por uma casa editorial que queria publicar seu romance como um livro comum.  Em dezembro de 2006, o livro,  O Sonho Eterno, com aproximadamente 300 páginas foi lançado e distribuído pela Tohan, transformando-se imediatamente num dos dez mais vendidos livros do Japão em 2007.  No final daquele ano, romances escritos em telefones celulares haviam tomado 4 dos 5 primeiros lugares de mais vendidos em ficção.  O romance Linha vermelha de Mei, vendeu 1.800.000 exemplares, e ficou em segundo lugar para o romance Céu de Amor, de autoria de Mike, conseguiu o primeiro lugar em vendas.  

 

Estes escritores hoje em dia chamados de escritores de celulares conseguiram depois deste sucesso serem completamente reconhecidos como parte de um movimento cultural.  Inicialmente houve um grande rebuliço nas letras japonesas.  Muitos temiam que esta literatura, em grande parte direcionada a adolescentes viesse a acabar com a tradicional arte da escrita japonesa.  Mas logo descobriram que este não é o caso. 

 

Para jovens japoneses, e especialmente para meninas, os celulares são sofisticados, baratos e há mais de dez anos facilmente conectáveis com a internet.  Na verdade, 82% dos japoneses entre 10 e 21 anos de idade usam telefone celular.  Há uma geração inteira crescendo acostumada ao uso do celular como um mundo deles portátil, por onde eles compram, usam a internet, jogam videogames, vêem televisão em portais na web explicitamente dedicados aos celulares. 

 

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Este fenômeno daqui a pouco deixará de ser só japonês.  Com os novos IPhone e com serviços de entrega de textos como Twitter, os hábitos americanos estão no momento se desenvolvendo paralelamente aos japoneses.  Há nos EUA dois portais Quillpill e Textnovel, ambos ainda em beta, que oferecem modelos para a escrita e a leitura de ficção em celulares.  

 

A indústria editorial japonesa que havia encolhido por mais de 20% nos últimos 11 anos, abraçou o fenômeno da ficção celular com gosto.  Editoras já começam a contratar escritores para este tipo de ficção, e a distribuir capítulos dessas histórias por uma pequena taxa.  É a volta dos seriados, tal qual muito livros do século XIX foram escritos, com a diferença de terem sido publicados nos jornais.  Em 2007, 98 romances originalmente produzidos em celulares foram publicados em forma de livro.   Mais uma vez a internet mostra também como o a rede de conhecimentos de uma pessoa pode servir de base para o apoio inicial e para o sucesso mais tarde de um membro da sociedade.  Como Yoshida – um executivo em tecnologia – descreve, é um esforço coletivo.  Seus fãs lhe dão apoio e o encorajam a continuar no seu processo criador,  — eles ajudam na criação.   Depois eles compram o livro para re-afirmar aquela conexão, aquela “amizade” que têm com o autor.  

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Sozinhas estas jovens adolescentes escritoras e leitoras de ficção no celular estão mudando os costumes tradicionais.  Agora, para esta geração o sinal da tribo, é gostar de ler.  

 

Com tanto sucesso em ficção,  por que eu fiquei ao mesmo tempo feliz e preocupada?  Feliz, porque acho que qualquer incentivo à leitura é positivo. A leitura expande os conhecimentos, a imaginação.  Ela fertiliza o cérebro, ela nos mantem flexíveis nos modos de pensar, de ver e de calcular.   Preocupada, bem, fiquei mais com a escala da diferença tecnológica brasileira.  Por mais que tenhamos grandes cérebros trabalhando no Brasil em tecnologia, tenho a sensação de que o abismo entre as sociedades mais desenvolvidas tecnologicamente e nós se aprofunda.  Contrariando muitas projeções de desenvolvimento e de capacitação.  Isso é preocupante.   E muito.

 





O que muda no novo acordo ortográfico da língua portuguesa III

29 10 2008

Ilustração:  Maurício de Sousa

DA HOMOFONIA DE CERTOS GRAFEMAS CONSONÂNTICOS

 

Há grafemas consonânticos que produzem o mesmo som (homófonos) mas que nem sempre são escritos da mesma maneira.  A regra aqui será ditada pela origem, pela história da palavra.  Nem sempre é fácil esta diferenciação entre o emprego de uma letra ou de outra, quando representam o mesmo som.  Na dúvida, recorra à origem da palavra. 

 

Abaixo, uma lista dos exemplos mais comuns.

 

1º)       Distinção gráfica entre ch e x:

 

CH

                                                                      

achar,  archote, bucha, capacho, capucho, chamar, chave, chiste, chorar,

colchão, colchete, endecha, estrebucha, facho, ficha, flecha, frincha, gancho, inchar, macho, mancha, murchar, nicho, pachorra, pecha, pechincha, penacho, rachar, sachar, tacho

 

X

 

ameixa, anexim, baixei, baixo, bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo, deixar, eixo, elixir, enxofre, faixa, feixe, madeixa, mexer, oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar, xadrez, xarope, xenofobia, xerife, xícara.

 

2º) Distinção gráfica entre g, com valor de fricativa palatal, e j:

 

G

 

adágio, alfageme, Álgebra, algema, algeroz, algibebe, algibeira, álgido, almargem, Alvorge, Argel, estrangeiro, falange, ferrugem, frigir, gelosia, gengiva, gergelim, geringonça, Gibraltar, ginete, ginja, girafa, gíria, herege, relógio, sege, Tânger, virgem;

 

J

 

adjetivo, ajeitar, ajeru (nome de planta indiana e de uma espécie de papagaio), canjerê, canjica, enjeitar, granjear, hoje, intrujice, jecoral, jejum, jeira, jeito, jenipapo, jequiri, jequitibá,  jerimum, jibóia, jiquipanga, jiquiró, jiquitaia, jirau, jiriti, jitirana, laranjeira, lojista, majestade, majestoso, manjerico, manjerona, mucujê, pajé, pegajento, rejeitar, sujeito, trejeito.

 

3º) Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas:

 

ânsia, ascensão, aspersão, cansar, conversão, esconso,farsa, ganso, imenso, mansão, mansarda, manso, pretensão, remanso, seara, seda, Seia, Sertã, Sernancelhe, serralheiro, Singapura, Sintra, sisa, tarso, terso, valsa;

 

abadessa, acossar, amassar, arremessar, asseio, atravessar, benesse, codesso (identicamente Codessal ou Codassal, Codesseda, Codessoso, etc.), crasso, devassar, dossel, egresso, endossar, escasso, fosso, gesso, molosso, mossa, obsessão, pêssego, possesso, remessa, sossegar,

 

acém, acervo, alicerce, cebola, cereal, cetim, obcecar, percevejo;

 

açafate, açorda, açúcar, almaço, atenção, berço, caçanje, caçula, caraça, dançar, enguiço, inserção, linguiça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Monção, muçulmano, murça, negaça, pança, peça, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, terço;

 

auxílio, Maximiliano, Maximino, máximo, próximo, sintaxe.

 

4º) Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com idêntico valor fónico/fônico:

 

adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, esgotar, esplanada, esplêndido, espontâneo, espremer, esquisito, estender, Estremadura, Estremoz, inesgotável; extensão, explicar, extraordinário, inextricável, inexperto, sextante, têxtil; capazmente, infelizmente, velozmente.

 

De acordo com esta distinção convém notar dois casos:

 

a) Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x = s muda para s sempre que está precedido de i ou u:

 

 justapor, justalinear, misto, sistino (cf. Capela Sistina), Sisto, em vez de juxtapor, juxtalinear, mixto, sixtina, Sixto.

 

b) Só nos advérbios em -mente se admite z, com valor idêntico ao de s, em final de sílaba seguida de outra consoante (cf. capazmente, etc.).

 

5º) Distinção gráfica entre s final de palavra e x e z com idêntico valor fónico/ fônico:

 

aguarrás, aliás, anis, após, atrás, através,  s, íris, jus, lápis, país, português, quis, retrós, revés;

 

cálix, flux;

 

assaz, arroz, avestruz, dez, diz, fez (substantivo e forma do verbo fazer), fiz, giz, jaez, matiz, petiz.

 

6º) Distinção gráfica entre as letras interiores s, x e z, que representam sibilantes sonoras: aceso, analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, besuntar, blusa, brasa, brasão, Brasil, brisa, coliseu, defesa, duquesa, Elisa, empresa, frenesi ou frenesim, frisar, guisa, improviso, jusante, liso, lousa, narciso, obséquio, ousar, pesquisa, portuguesa, presa, raso, represa, sacerdotisa,  surpresa, tisana, transe, trânsito, vaso;

 

exalar, exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável;

 

abalizado, alfazema, autorizar, azar, azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza, buzina, búzio, comezinho, deslizar, deslize, fuzileiro, guizo, helenizar, lambuzar, lezíria, proeza, sazão, urze, vazar.

 





O que muda no novo acordo ortográfico da língua portuguesa II

12 10 2008
Ilustração de Blanche Wright

Ilustração de Blanche Wright

 

DO  H   INICIAL E FINAL

 

1º) O h inicial emprega-se:

a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor.

b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!.

 

2º) O h inicial suprime-se:

a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita);

b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver.

 

3º) O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano.

 

4º) O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!

 

Clique AQUI para outra mudança, explicada em postagem anterior.





O que muda no novo acordo ortográfico da língua portuguesa I

11 10 2008

Ilustração Maurício de Sousa

DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS DERIVADOS

 

1º ) O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula:

 

Iremos adicionar 3 novas letras ao alfabeto:

 

k K (capa ou cá)

w W (dáblio) 

y Y (ípsilon) 

 

 

As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:

 

a) Em antropônimos originários de outras línguas e seus derivados:

 

 

Exemplos:       Franklin, frankliniano;

Kant, kantinismo;

Darwin, darwinismo;

Wagner, wagneriano;

Byron, byroniano;

Taylor, taylorista;

 

b) Em topônimos originários de outras línguas e seus derivados:

 

Exemplos:       Kuwait, kuwaitiano;

Malawi, malawiano;

 

 

c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional:

 

Exemplos:

 

TWA,

KLM;

K-potássio (de kalium),

W-oeste (West);

kg-­quilograma,

km-quilômetro,

kW-kilowatt,

yd-jarda (yard);

Watt.

 

3º ) Em congruência com o número anterior, mantém-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes:

 

Exemplos:       comtista, de Comte;

garrettiano, de Garrett;

jeffersônia, de Jefferson;

mülleriano, de Müller;

shakesperiano, de Shakespeare.

 

Os vocábulos autorizados registrarão grafias alternativas admissíveis, em casos de divulgação de certas palavras de tal tipo de origem.

Exemplos:       de fúcsia/ fúchsia

bungavília/ bunganvílea/ bougainvíllea.

 

 

4º ) Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da tradição bíblica.

 

Exemplos: Baruch, Loth, Moloch, Ziph

 

Ou podemos simplificá-los: Baruc, Lot, Moloc, Zif.

 

Se qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se:

Exemplos:       José, em vez de Joseph,

Nazaré, em vez de Nazareth;

 

e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica:

 

Judite, em vez de Judith.

 

 

5º ) As consoantes finais grafadas b, c, d, g e h mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas, nas formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeada­mente antropônimos e topônimos da tradição bíblica.

 

Exemplos:  Jacob, Job, Moab, Isaac; David, Gad; Gog, Magog; Bensabat, Josafat.

 

Integram-se também nesta forma:

 

Cid. em que o d é sempre pronunciado;

Madrid

Valhadolid, em que o d ora é pronunciado, ora não

Calcem ou Calicut, em que o t se encontra nas mesmas condições.

 

Nada impede, entretanto, que dos antropônimos em apreço sejam usados sem a consoante final Jó, Davi e Jacó.

 

6º ) Recomenda-se que os topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso corrente.

 

Exemplo:        Anvers, substituíndo por Antuérpia;

Cherbourg, por Cherburgo;

Garonne, por Garona;

Genève, por Genebra;

Justland, por Jutlândia;

Milano, por Milão;

München, por Munique;

Torino, por Turim;

Zürich, por Zurique, etc.