Da língua, texto de Muriel Barbery

14 10 2016

 

 

francisco-sanchis-cortesespanha-1969-leituraostLeitura

Francisco Sanchis Cortés (Espanha, 1969)

óleo sobre tela

 

 

“A língua, essa riqueza do homem, e seus usos, essa elaboração da comunidade social, são obras sagradas. Que evoluam com o tempo, se transformem, se esqueçam e renasçam, enquanto por vezes,sua transgressão torna-se fonte de uma fecundidade maior, nada muda o fato de que, para praticar com elas esse direito ao jogo e à mudança, é necessário, previamente, ter lhes declarado plena submissão. Os eleitos da sociedade, esses que o destino isenta das servidões que são o quinhão do pobre, têm, portanto, a dupla missão de adorar e respeitar o esplendor da língua.”

 

 

Em: A elegância do ouriço, Muriel Barbery, São Paulo, Cia das Letras:2008, página, 117. [tradução de Rosa Freire d’Aguiar].





A língua na nossa identidade, texto de Eva Hoffman

29 08 2015

 

 

-theresa-bernstein-1923-the-immigrants.The Immigrants, 1923, oil on canvas, Thomas and Karen Buckley Collection.Os imigrantes, 1923

Theresa Bernstein (EUA, 1890-2002)

óleo sobre tela

Thomas & Karen Buckley Collection

 

 

“Por um tempo, assim como tantos outros emigrantes, estive, para todos os efeitos, sem linguagem, e da tristeza daquela condição, compreendi o quanto o âmago da nossa existência, a nossa compreensão de identidade, depende de ter uma língua viva dentro de nós. Perder toda a linguagem interna é sucumbir a uma escuridão inarticulada em que nos tornamos estrangeiros para nós mesmos; perder a habilidade de descrever o mundo é retratá-lo um pouco menos vívido, um pouco menos lúcido. E além, a riqueza na articulação propicia tonalidades de sutileza e nuance às nossas percepções e ao pensamento. Para mim, uma das passagens mais sensíveis na escrita de Nabokov é sua invocação dos sons do russo, ao final de Lolita. Lá ele evoca não só a melodia, a eufonia dos sons do russo, de maneira convincente, mas também a profundidade e a totalidade da existência da língua no nosso ser. É essa relação com a língua, mais do que o domínio superficial dela, que é difícil de duplicar nas línguas que se aprende posteriormente.”

 

 

Em: “The New Nomads”, Eva Hoffman, Letters of Transit: Reflexions on Exile, Identity, Language and Loss, ed. André Aciman, New York, The New Press: 1990, p. 48.
Tradução minha.





O alfabeto, curioso nome não é?

22 10 2013

abc, cubos, antigos

Os antigos gregos tiveram um papel importante no desenvolvimento do alfabeto.  As duas primeiras letras do alfabeto grego chamam-se Alfa e Beta.  Juntas elas nos deram a palavra alfabeto que significa o conjunto de todas as letras que escrevemos que são usadas na língua que falamos. A palavra alfabeto é uma herança cultural de mais de 2.800 anos! Esta palavra — alfabeto — é muito semelhante, quase igual, nas linguas faladas no mundo ocidental.  Senão, vejamos:

Português — alfabeto

Espanhol — alfabeto

Francês — alphabet

Italiano — alfabeto

Inglês — alphabet

Alemão — alfabet





Curiosidade: a língua romana

6 09 2013

Cesar-sa_mortA morte de César, 1804-1805

Vincenzo Camuccini (Itália, 1771-1844)

óleo sobre tela

A Língua Romana foi uma das duas principais línguas coloquiais do império romano.  A outra foi  o grego. A língua romana foi usada principalmente nas províncias ocidentais do império (Itália, Espanha, Gália, Grã-Bretanha, África do Norte, Sardenha, Córsega), mas também em partes do norte da península dos Bálcãs  [Dacia, Moesia, Illyria, norte da Macedônia. A população do Império Romano  no século I-II da nossa era foi estimada em 50 milhões de pessoas  ou 1/6 do total mundial da época.  Calcula-se que o império chinês também  tivesse cerca de 50 milhões de habitantes, nos primeiros dois séculos da Era Comum . Supõe-se que dois terços dos cidadãos romanos usassem a língua romana como língua nativa ou que a usassem como língua secundária em seus assuntos públicos.





O dicionário digital, nosso espelho

24 03 2013

Luca_signorelli,_cappella_di_san_brizio,_poets,_dante_01 fresco

Dante Alighieri, 1499-1502  [DETALHE]

Luca Signorelli (Itália, 1445-1523)

Afresco,  Capela de San Brizio

Catedral de Orvieto, Itália

Fiquei encantada com o curioso artigo de Jennifer Howard, In the Digital Era, our Dictionaries read us, [Na era digital, nossos dicionários nos lêem], publicado esta semana no The Chronicle of Higher Education.  Foi só lendo esse artigo que percebi a facilidade com que um dicionário pode hoje ser e estar atualizado. Mas, muito mais interessante do que isso, descobri que os dicionários online, além de monitorar as palavras procuradas pelos visitantes,  conseguem saber  por  que esses leitores procuram, desenvolvendo assim um retrato preciso das preocupações humanas num determinado momento.

Essa interação digital permite que os dicionários se atualizem quase instantaneamente.  Além disso oferece um retrato da sociedade, do momento por que as pessoas passam.   Desse modo, os dicionários se transformam também em um espelho cultural das sociedades a que servem.  Quando grandes calamidades públicas, por exemplo, afetam uma área do planeta a busca por palavras referentes ou usadas nas descrições dos noticiários do acontecimento  aumenta.  Assim, usando como exemplo os deslizamentos de terra durante a estação das chuvas, poderíamos encontrar procuras no dicionário por palavras tais como:  erosão, terraço, fluxo de detritos, e assim por diante.   Com esses dados é fácil perceber quando o interesse por um assunto começa assim como o momento em que naturalmente começa a ser esquecido.

Esse retrato da sociedade, de seus interesses e de suas preocupações é de grande valia para os estudos sociológicos. Mas também tem conseqüências que ainda não foram medidas para ações sociais, para política e para o marketing de produtos e idéias.   Um bom assunto para não se deixar de lado.





Ainda bem que só falamos o Português!

8 12 2011

Construção da Torre de Babel, 1260

Iluminura da Bíblia Morgan

[também conhecida como Bíblia Maciejowski]

Pierpoint Morgan Library, Nova York

Pouco damos valor a uma das coisas que mais nos distingue: somos um país de dimensões continentais, que fala uma única língua.  Só um outro país de dimensões continentais tem essa vantagem: os Estados Unidos.  Nem o Canadá, nem a Rússia, nem a China, nem a Índia…. Talvez essa tenha sido uma das melhores e maiores heranças que os portugueses nos deixaram.  Falamos a 6ª língua mais falada do mundo.  O português é uma língua romana, bem estruturada, complexa como todas as línguas romanas, uma língua falada em quatro cantos do mundo.  A vantagem que não percebemos no nosso dia a dia é que nos comunicamos de norte a sul,  sem qualquer problema, com variações regionais mínimas, e que essa herança cultural é uma das partes mais importantes que nos une.   As línguas formam a maneira como pensamos.  Elas refletem as nossas prioridades e os nossos valores.

Esse assunto me veio à mente, hoje, quando li sobre o desenlace da guerra das línguas, na Bélgica, que deixou aquele país por 535 dias (quase dois anos!) sem governo, para finalmente eleger um primeiro-ministro francófono [que fala francês], o primeiro líder francófono em 30 anos.

Aí é que começamos a pensar na nossa sorte, porque a Bélgica tem só 30.528 km2 quadrados e 3 línguas!  Imaginemos, uma área um pouco maior do que o estado de Alagoas, mas menor do que o estado do Espírito Santo, com uma população de 10.7 milhões de habitantes [menos gente que a cidade de São Paulo].  Todos têm a mesma nacionalidade, são obrigados a obedecer às mesmas leis, cantam o mesmo hino nacional, lutam nas guerras lado a lado, mas não se entendem,  não se unem, por causa da barreira linguística [economia, religião e geografia também entram na lista das barreiras].  Mas consideremos só as línguas, — que é a maneira como eles definem o problema — são três delas: francês, flamengo e alemão.  Para ilustrar as dificuldades dessa barreira, vamos usar o exemplo do primeiro-ministro eleito, empossado anteontem pelo rei da Bélgica, Alberto II.  Elio Di Rupo, cuja língua materna é o francês, fala fluentemente o italiano e o inglês, mas comete muitos erros — que ferem os ouvidos de seus outros conterrâneos  — quando se esforça para falar o flamengo.  Pelo menos os erros gramaticais dos nossos políticos não são um reflexo de divisões culturais no país.  Eles só refletem o que os políticos não andam fazendo pela educação.





Bebês bilingues aprendem mais rapidamente

1 09 2011
Bebê, ilustração de Charlotte Becker.

Os bebês criados em famílias bilíngues têm maior capacidade de aprendizagem linguística se comparados com crianças que só foram expostas a uma única língua.  Esta foi a conclusão de um estudo do Instituto de Ciências do Cérebro e Aprendizagem da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.  Outros estudos, anteriores, já haviam mostrado que as crianças têm habilidades especiais para aprender um segundo idioma.  No entanto essa capacidade começa a desaparecer a partir do primeiro ano de idade.

A pesquisa levou em conta o tempo de exposição dos bebês ao vocabulário de dois idiomas – inglês e espanhol – e constatou que essas crianças têm prolongado, exatamente esse período, descoberto anteriormente,  em que podem aprender um outro idioma, principalmente se elas são expostas em casa a muitas palavras em ambas as línguas.

O cérebro bilíngue é fascinante,  já que reflete as capacidades dos seres humanos para o pensamento flexível.  As crianças bilíngues aprendem que os objetos e eventos no mundo têm dois nomes e têm flexibilidade de alternar entre essas etiquetas, dando ao cérebro um bom exercício “, disse Patricia Kuhl, coautora do estudo e codiretora do Instituto de Ciências do Cérebro e Aprendizagem da universidade.

Os cientistas que trabalharam no estudo pesquisam os mecanismos cerebrais que contribuem para a habilidade dos bebês na aprendizagem de idiomas.  Eles esperam que os resultados dessa pesquisa venham a impulsionar o bilinguismo entre  adultos.  Estudos prévios de Kuhl mostraram que entre o oitavo e o décimo mês de idade, os bebês monolingues são cada vez mais capazes de distinguir os sons da fala de sua língua materna, enquanto sua capacidade para distinguir sons de uma língua estrangeira diminui.

Por exemplo, entre os oito e dez meses de idade, os bebês expostos ao inglês detectam melhor a diferença entre os sons “r” e “l” que os bebês japoneses, que não estão tão expostos a ouvir esses sons em seu idioma. “O cérebro infantil se sintoniza com os sons da língua durante este período sensível no desenvolvimento, e estamos tentando pesquisar exatamente como isso acontece. Saber como a experiência molda o cérebro nos diz algo que vai muito além da linguagem“, destacou Kuhl.

Esta diferença no desenvolvimento sugere que os bebês bilíngues “podem ter um calendário diferente para se comprometer neurologicamente com uma linguagem”  se comparados com os bebês monolingues, ressaltou Adrián García-Sierra, autor do estudo.

Quando o cérebro está exposto a dois idiomas, e não só um, responde adaptando-se a permanecer aberto durante mais tempo antes de mostrar o estreitamento da percepção que as crianças monolingues costumam mostrar no final do primeiro ano de vida“, explicou García-Sierra.

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Fontes: Terra, Science Daily





A troca entre as línguas: do português para o japonês e vice-versa

18 02 2010

Gueixa

Andō Hiroshige (Japão, 1797-1858)

Xilogravura policromada

O contato que durante 96 anos uniu portugueses e japoneses a partir de meados do século XVI ainda hoje se faz sentir, no campo das palavras.  Segundo o filólogo japonês Tsujiro Koga, a língua portuguesa penetrou largamente em Nagasaki onde os vocábulos lusos chegavam a contar quatro mil.  Armando Martins Janeira fez o apanhado das palavras portuguesas introduzidas no vocabulário nipônico.  São aproximadamente 400. 

No campo dos doces e das comidas estão as palavras:

Pão — “pan”

Amêndoa — “amendô”

Marmelo — “marumero”

Vaca — “waka”

Pão de ló — “pandoro”

Biscoito — “bisukouto”

Na indumentária:

Botão — “botan”

Capa — “kappa”

Saia — “saya”

Termos religiosos — introduzidos pelos missionários jesuítas:

Cristo — “Kirishito”

Diabo — ” jiabo”

Evangelho — “ewanzeryo”

Jesus — “Zesus”

Missa — “misa”

Padre — “bateren”

Outras:

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Álcool — “arukoru”

Sabão — “shabon”

Varanda — “beranda”

Mas a língua portuguesa também sofreu influência nipônica:

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“biobo” — biombo

“bozu” — bonzo

“kaki” — caqui

“katana” — catana

“chawan”  — chávena

“chá”  — chá 

“haikai” — haikai

“kamikaze” — camicase

“karate” — caratê

“kara-okê” — caraoquê

“ninja” — ninja

“tatami”  — tatame

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Há entre elas também as palavras de origem japonesa, nomeando hábitos, costumes, esportes, aspectos da vida japonesa,  que entraram para o português, mas que ainda se reportam quase que exclusivamente a hábitos e costumes japoneses: 

Gueixa, Judo, Quimono, Origami, Bonsai, Samurai, Saquê, Iquebana, Mangá, Sushi, Sashimi, Yakisoba

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Você conhece mais alguma palavra?   que tenha origem no Japão e seja usada em português?

 

Sobre o artista da xilogravura:

Hiroshige (1797-1858), também conhecido como: Andō Hiroshige (安藤広重) (uma forma irregular de combinar o nome da família com o nome artístico ou como  Ichiyūsai Hiroshige (一幽斎廣重) seu nome artístico.  Pintor e gravador japonês, conhecido sobretudo por suas xilogravuras de paisagens.   Foi o último grande professor de Ukiyo-e, ou escola de gravura popular, e converteu as paisagens cotidianas em cenas líricas de grande intimismo que lhe proporcionaram um êxito comercial ainda maior que o de seu contemporâneo Hokusai.    Sua obra-prima é a série de gravuras Tokaido gojusan-tsugi (As Cinqüenta e Três Estações do Tokaido).

Artigo sobre a língua portuguesa, parciamelmente baseado no artigo do jornal português, Correio da Manhã de 26/01/ 1988.





Em tempos de crise… Entrevista para emprego

13 08 2009

 

 

entrevista_emprego

 

Algumas dicas que ajudam alunos entrando no mercado de trabalho.  Essas dicas foram sugestões de G. Krishnamukar, publicadas no jornal The Hindu, da Índia, no dia 11 de agosto.  Elas também são válidas para o lado de cá do mundo.  A tradução, adaptação são minhas.

Companhias têm exigido bastante no momento de recrutamento nessa hora de crise mundial, com o objetivo de escolher só os melhores profissionais.  

Com o número de vagas reduzido, candidatos, principalmente os recém formados,  precisam apurar suas aptidões para corresponder à crescente concorrência. Aqui estão algumas dicas que podem ajudar a que estiver à procura de um novo emprego.

• As grandes companhias  estão à cata de pessoas independentes. Empresas querem pessoas dispostas a assumir novas responsabilidades.

• Os candidatos a emprego terão necessariamente que aprender novas ferramntas de trabalho. Para aqueles que resistem à uma nova aprendizagem, a um novo treino em diferentes áreas,  o trajeto para emprego relevante será mais difícil.

• As empresas também querem maior empenho de seus empregados, na garantia do sucesso que a empresa terá no futuro.  A dedicação do empregado não pode ser comprometida.  Se você fizer alguma coisa, será melhor fazê-lo com todo o seu empenho, se o fizer só para terminar a tarefa, pensando que você afinal não foi contratado para aquilo, o investimento da companhia em você não valerá a pena. É um desperdício de tempo para você e para eles.

• É preciso que o candidato tenha bom desempenho para  trabalhar em equipe.  Em geral novos empregados precisam se encaixar  numa equipe já existente para atuarem numa empresa.

• Os jovens precisam aumentar suas habilidades em comunicação.

• Os requisitos para um candidato a emprego estão mais exigentes. Uma das principais razões para a rejeição de um candidato nas entrevistas é a falta de habilidade, de comunicação oral e escrita. Você pode melhorar sua comunicação só mesmo com a prática.  Não há alternativa.

• As empresas preferem pessoas que tenham capacidade de fazer várias tarefas diferentes, sem se limitarem ao nicho específico para o qual foram contratadas.