Muhammad Yunus — quem é segundo mais votado intelectual?

12 08 2008

Este é o segundo da série de perfis das pessoas votadas como os maiores pensadores do mundo de hoje em pesquisa feita pelas revistas Prospect da Inglaterra e Foreign Policy dos EUA no primeiro semestre deste ano.

 

Veja:

Fethullah Gülen – quem é o intelectual n° 1 do mundo?

Você conhece os 10 mais importantes intelectuais de 2008?

 

 

 

 

  Muhammad Yunus, (Chittagong, 28 de junho de 1940) é um economista e banqueiro de Bangladesh.

 Em 2006 foi laureado com o Prémio Nobel da Paz. É autor do livro Banker to the poor (em Portugal, O banqueiro dos pobres, sem edição no Brasil). Pretende acabar com a pobreza através do banco que fundou, do qual é presidente.  O governo de Bangladesh é o principal acionista deste banco [Grameen Bank], que oferece ativamente microcrédito para milhões de famílias. Yunus afirma que é impossível ter paz com pobreza.

 

Muhammad Yunus formou-se em Economia em Bangladesh, doutorou-se nos EUA e foi professor na Universidade de Dhaka. Em 1976, constatou as dificuldades de pessoas carentes em obter empréstimos na aldeia de Jobra, em um Bangladesh empobrecido e recém-separado do Paquistão. Por não poderem dar garantias, os bancos recusavam-lhes as pequenas quantias que permitiriam comprar materiais para trabalhar e vender, e os usurários taxavam os empréstimos com juros altos.

 

Muhammad Yunus criou então o Banco Grameen, que empresta sem garantias nem papéis.O banco tem 7.500.000 (sete milhões e meio de clientes) em mais de 70 mil aldeias em Bangladesh.  Mulheres são a maioria de sua clientela: elas são 97% dos beneficiários. A taxa de crédito paga de volta, sem danos, sem insolvência é de 98,5%.

 

O seu lema é: Dê poder aos pobres.  [ Empower the poor ].  Ele acredita, por exemplo, que as mudanças na vida cotidiana mundial conseqüentes dos avanços em tecnologia, estão trazendo mais modificações na vida de todos do planeta que não se pode comparar com qualquer tipo de desenvolvimento do passado.  Por isso é imprescindível que a tecnologia mais avançada esteja ao alcance de todos inclusive dos mais pobres entre os pobres.  Um exemplo do avanço da tecnologia que ele dá, é uso dos telefones celulares que trouxeram grande revolução no modo de vida de milhões e milhões de pobres no mundo.

Mohammad Yunus

Mohammad Yunus

 

 

 

 

 

 

Yunus criou uma variedade enorme de negócios todos sob o domínio das Companhias Grameen. A maioria destas companhias  tem a ver com tecnologia: a maior companhia de telefones celulares de Bengladesh, que também é a maior companhia privada do país, um provedor de internet, uma companhia de produtos eletrônicos, uma companhia de consultoria de negócios na internet, e uma construtora de edifícios com escritórios de alta tecnologia.   Yunus ajudou também a criar aproximadamente 25 companhias e instituições tanto em Bengladesh, como em outros países, cujo intento é ensinar aos pobres como saírem da pobreza, como melhorarem seu modo de vida.  Entre os muitos negócios que construiu com esta finalidade estão companhias de criação de peixes em tanques, companhias de tecelagem em malha e planos de saúde.   Sua maior preocupação no mundo da tecnologia é a invenção de ferramentas tecnológicas que possam vir a ajudar os pobres diretamente, principalmente ajudar às mulheres pobres de países do terceiro mundo.  

 

Quando perguntado por que esta preocupação de colocar alta tecnologia a serviço dos pobres ele responde que não é um seguidor de C.K. Prahalad, autor do livro: The Fortune at the Bottom of the Pyramid. [ traduzido para o português como: A Riqueza na base da pirâmide, publicado pela Editora Bookman: 2005, 391 páginas, acompanhadas por CD].   Porque “os pobres não são os meios de se fazer dinheiro; eles são um mercado que necessita de ajuda.  Os ricos não devem enriquecer a custa dos pobres”.

 

Por outro lado ele nega veementemente que queira acabar com as companhias que trazem lucro.  “Elas precisam existir”, ele diz “mas um outro tipo de comércio precisa existir”. E então ele menciona o projeto que Bill Gates lançou no último Encontro de Davos, chamado “capitalismo criativo”.

 

Ele acredita que empreender é parte da natureza humana. E que sua maior contribuição seria em mostrar que “as empresas sociais podem e devem fazer negócios com objetivos sociais”. Essa é a grande lição a que se dedica.

 





Japão quer atrair 300 mil estudantes estrangeiros

31 07 2008
Crianças orientais, ilustração de DEMI.

Crianças orientais, ilustração de DEMI.

 

No dia 25/7 postei aqui no blogue algumas notas sobre imigração e emigração:

 

Hoje recebo notícias de que o Japão num esforço de melhorar a sua situação quanto ao crescimento negativo do país aprovou terça-feira um plano do governo para estudantes irem se especializar em aproximadamente 30 universidades.  A intenção final de tanta generosidade não será só a educação destes alunos, mas também facilitar a permanência deles no Japão após a graduação.  

 

São seis ministérios que juntam esforços: Justiça, Relações Exteriores, Cultura, Esporte, Educação e Ciência.  O objetivo é sair do patamar de 120.000 alunos estrangeiros que o país tem, adicionando a estes 300.000 mais. A idéia é que já em 2020 o Japão tenha 420.000 alunos estrangeiros.

 

Este me parece um passo muito inteligente para enfrentar o esvaziamento populacional.

 

1)      Podem atrair alunos de outras nacionalidades mas de origem nipônica.  Filhos, dos emigrantes que fugiram de um Japão com excesso populacional de cem anos atrás.  Estes descendentes de japoneses, [no Brasil, Peru e em outros países] acredita-se que teriam talvez uma maior chance de se adaptarem aos costumes orientais.

2)       Dando oportunidade a estudantes há a possibilidade, discreta, de atrair para o país os melhores qualificados, os melhores alunos, aqueles que provavelmente brilhariam em qualquer lugar do mundo e garantir sua permanência no país.  Isto tudo além da esperança de resolver o problema particular do povoamento da terra. Em outras palavras, é uma seleção inicial dos “cerébros”, uma pré-aprovação para a imigração definitiva. 

3)      Trazendo jovens na faixa etária de 18 a 30 anos, eles estarão garantindo que seus futuros imigrantes se estabeleçam no país numa faixa etária compatível com a reprodução.  Numa faixa etária em que podem contribuir ainda por muitos anos para o sistema de aposentadoria e assim manter aquela população de mais de 65 anos prevista para 40% em 2050.

4)      Garantindo a permanência destes estrangeiros já devidamente educados como qualquer japonês o seria, devidamente selecionados, o Japão também garante a viabilidade de muitas das empresas que se encontram em território nipônico e que já podem sentir que o gargalo populacional vai deixá-las sem mão de obra especializada.

 

Que o plano é elitista, não se pode negar.  Mas é muito inteligente.  Não muito diferente do que foi feito pelos Estado Unidos, Grã-Bretanha, França e demais países ocidentais que ao oferecerem por décadas e décadas boas condições de estudos para estudantes do mundo inteiro, puderam contar com uma renovação acadêmica constante assim como o “discreto” furto da inteligência alheia.  

 

Essa mesmo que VOS FALA.  Estudou fora,  formou-se numa carreira que não é regulamentada no Brasil, porque lá fora não existe isto de regulamentação.  Se existe a necessidade, existe a carreira.  E passou boa parte de sua vida produtiva produzindo para os outros, porque não havia quem quisesse esta produção no Brasil.  

 

Se continuarmos no caminho que temos trilhado até agora, sem dar prioridade à educação e ocasionalmente até mesmo nos vangloriando de termos chegado aonde chegamos sem grande necessidade de estudos, veremos muitos brasileiros indo em busca de novos caminhos lá fora, no Oriente.  Perpetuaremos a nossa condição de exportadores ora de “cérebros”, ora de mão de obra desqualificada.  Será este o nosso futuro?  Inevitavelmente?





Pensando sobre imigração e emigração *

25 07 2008

 

 

Neste ano em que comemoramos o centenário da chegada dos imigrantes japoneses no Brasil é interessante ver o que está acontecendo no Japão de hoje, em termos de crescimento populacional.  Para que isto não pareça só um caso do Japão vou primeiro mencionar cinco tendências demográficas mundiais, que não podemos deixar de reconhecer.  Elas certamente afetarão as nossas vidas, mesmo aqui no Brasil, nem que indiretamente.  Vale lembrar: estima-se que atualmente a população do nosso planeta esteja por volta de 6.200.000.000 (seis bilhões e duzentos milhões).

Monobloco em Copacabana, 2007.

Monobloco em Copacabana, 2007.

 

 

 

 

Cinco tendências demográficas mundiais.

 

A migração de povos de um continente para o outro só deve aumentar nos próximos 50 anos.   Há 5 tendências demográficas mundiais que colocarão em cheque todas as medidas contra e a favor da migração de certos povos para longe de suas terras natais, assim como, colocarão maior pressão numa educação de qualidade para qualquer família, estado ou país  que queira que seus cidadãos tenham a chance, a possibilidade de melhorarem relativamente de status social.  As pressões se farão sentir também no meio ambiente, na medicina mundial, na produção de alimentos. 

 

Vejamos estas tendências:

 

1 – Europa e Ásia envelhecem: Itália, Espanha e Japão, por exemplo, têm taxas de natalidade baixas.  Itália e Espanha: 1,3 crianças por mulher;  o Japão, 1,2 .   Isto é muito abaixo dos 2,1 filhos por mulher considerados necessários para a manutenção de qualquer população, sem crescimento.  Em 2050, ou seja, em 40 anos, a população destes países acima dos 60 anos representará 39% na Itália e na Espanha e 44 % no Japão.    Estas mudanças são muito sérias e afetarão tanto o sistema de saúde como o de aposentadoria nestes países.

 

2 – A África continua com crescimento populacional sem limites.  Mulheres que vivem em países pobres e mulheres que não receberam muita educação têm a tendência de ter maior número de filhos.   De acordo com projeções das Nações Unidas, a Etiópia por exemplo, crescerá muito até 2030 e a Uganda terá mais habitantes em 2040 do que toda a população da Alemanhade hoje.  A fome deve aparecer ainda mais violenta nestes países e no continente africano em geral.  O crescimento populacional desordenado está concentrado principalmente na Nigéria, Congo e Eritréia.  Além destes países, Burkina-Faso, Angola, Uganda, Somália, Libéria terão suas populações triplicadas até meados deste século, ou seja nos próximos 40 anos.  

 

3 – A AIDS acabará com 9% da população em idade de trabalho na região do Sub-Saara.  São 23 países africanos que devem perder entre 9 e 10% de suas populações em idade produtiva.  Infelizmente esta tragédia, é o único freio populacional efetivo nas populações africanas. [ World Population Prospects – The 2002 Revision, 2/ 2003]

 

4 – Faltam mulheres na Ásia.  Por uma preferência cultural por filhos homens, a China e a Índia, sofrerão ainda mais do que sofrem hoje com um desequilíbrio populacional extremamente preocupante: China: 18 homens para cada mulher.  Índia: 12 homens para cada mulher.   Em 2020, ou seja, daqui a 12 anos, haverá 30 milhões de homens em idade produtiva sem poderem se casar.  Na Ásia, os países cujas populações mais crescem são:  Índia, Paquistão, China, Indonésia.

 

5 – O sul emigra para o norte.  As populações mais pobres do norte e do sul da África migrarão para os países mais ricos, ao norte do Equador:  Estados Unidos e países da Europa serão seus alvos.   Note-se que a população hispânica nos EUA, se continuar a crescer nos níveis em que cresce hoje, deve representar 24% da população em 2050.

 

As conseqüências óbvias destes problemas são: maior pobreza – nível de vida baixando nestes países de grande crescimento populacional, maior índice de analfabetismo.  Faltará alimentos e faltará água.  Não haverá como manter um nível mínimo de saúde publica sem intervenção de fora.  Problemas ambientais, já em níveis perigosos só aumentarão. 

 

Veneza, Itália.  Praça deserta.  Foto Marilynn.

Veneza, Itália. Praça deserta. Foto Marilynn.

 

O curioso caso do Japão mostra o que os países com decréscimo populacional enfrentarão.   O declínio demográfico do Japão já estava previsto há tempos.   A curiosidade é que ele já é o país com a maior população acima de 65 anos: 20%.   Simultaneamente, tem a menor população jovem do mundo, só 14% de japoneses estão com idade abaixo de 15 anos.  Seu índice de reprodução é um dos mais baixos do  mundo: 1,3 por mulher em idade fértil.  Hoje com 127.700.000 de habitantes, espera-se que tenha 121.100.100 em 2025, ou seja uma diminuição de 8.000.000 em 17 anos.   Desde 2005 que o Japão tem mais mortes do que nascimentos.

 

O ministério da Saúde do Japão desde 2005 não deixa de alertar aos japoneses as drásticas conseqüências econômicas para o país destes números:  o crescimento econômico ficará parado; o peso das aposentadorias apoiado na população ativa causará uma baixa nos salários para poder financiar as aposentadorias.  

 

As causas destes números de esvaziamento populacional são muitas, mas entre elas estão as mulheres se casando cada vez mais tarde, as mulheres se recusando ao antigo modelo familiar de permanecer em casa sem o privilégio de uma carreira e o custo de uma família numerosa ser muito elevado alem de precários meios de apoio à guarda das crianças quando as mães trabalham fora de casa.  Outra curiosa conseqüência do esvaziamento populacional é o aumento de emprego para pessoas acima de 60 anos.  Há empresas como, por exemplo, a Mystar 60, que não emprega ninguém com menos de 60 anos de idade.

 

Há dois caminhos para o Japão e outros países com a Itália e a Espanha que provavelmente serão usados simultaneamente:  1) criarem uma melhor condição de apoio às mulheres que trabalham fora, para assim poderem aumentar de novo a população nativa. Esta é uma solução  2) abrir as portas para a imigração: esta solução seria a maneira mais rápida de contornar os problemas imediatos.  Esta solução, no entanto, nem sempre é bem-vinda.  Não necessariamente por preconceito.  Mas porque para que a Europa possa manter o nível de crescimento populacional em simples reposição, ou seja, 2,1 filhos por mulher, seria necessário que sua população fosse aumentada de pelo menos 500.000.000 de pessoas.  Ou seja, os nativos, os espanhóis, italianos, irlandeses e outros seriam minorias em seus próprios rincões.

 

Financial Times

Milhões de chineses parados na volta das férias. Foto: Financial Times

 

Será que ainda mais brasileiros estarão migrando para o Japão?  A emigração brasileira continuará e provavelmente aumentará.  Principalmente se não educarmos melhor os nossos cidadãos, se não providenciarmos meios de boa sustentabilidade de empregos.  Infelizmente, o que espera a maioria dos brasileiros lá fora, não só hoje, mas no futuro, são de fato os pequenos trabalhos, os trabalhos manuais, serviçais, de baixo conhecimento, de baixo nível intelectual.  Estaremos exportando, como muitos países da África e do Oriente mão de obra não qualificada.  Esta realidade não é muito atraente, ainda mais quando levamos em consideração que para mão de obra não qualificada, competimos com orientais, africanos e outros latino-americanos que trabalham e trabalharão felizes por muito menos dinheiro que nós.   Este é um problema sério a ser enfrentado hoje.  Não amanhã, ou no futuro.  Suas conseqüências são muito mais imediatas do que imaginamos.

 

* os dados mencionados aqui vieram das ONU, da pesquisa feita pela revista americana, Foreign Policy, em setembro de 2007 e  pelo IBGE.   Todos dados de livre acesso online.





O canto do peixe-balão: sedução a meia voz

22 07 2008

Recentemente a Associated Press, noticiou que uma pesquisa financiada pelas National Science Foundation e pelos National  Institutes of Health nos EUA,  descobriu que “cantar ao pé do ouvido” é um comportamento de conquista sexual usado não só por seres humanos, batráquios e mamíferos. Surpreendentemente, os peixes podem, agora, ser incluídos nesta lista.  Tudo indica que os sons que os peixes produzem não cheguem a ser um canto tal como associamos aos dos pássaros, ou até mesmo aos assobios das baleias ou  ao coaxar dos sapos.   Parece mais um murmúrio musical, um “cantar de boca fechada” registrado entre os peixes-balão na hora de atrair o sexo oposto.

 

A equipe do neurobiólogo Andrew H. Bass, da Universidade de Cornell, se concentrou no estudo dos peixes-balão.  Observaram o animal desde larva por já se saberem de antemão que eles produziam mais de um som.  Mas o Professor Bass, rapidamente explica que não se trata de um uso mais sofisticado, refinado de um cérebro de peixe.  A melodia, ou melhor, o murmúrio emitido pelos peixes-balão está longe das melodias dos pássaros ou dos sons produzidos por mamíferos.  Mesmo assim, trata-se de um sistema complexo de neurônios engajado na produção destes sons, um sistema antigo, que remonta às centenas de milhões de anos em que a evolução da vida no planeta, como a conhecemos, se formou.

 

São dois os sons produzidos pelo peixe-balão:

 

1) um murmúrio, como se fosse o zumbir de uma abelha.  Este é o canto Donjuanesco que atrai a fêmea para o macho. 

 

2) o outro é um som ameaçador, usado quando o peixe sente a necessidade de proteger seu território de reprodução.  

 

A localização dos nervos vocais descritos na pesquisa corresponde a sistemas semelhantes encontrados nos sapos, pássaros e mamíferos.   Mas muito mais pesquisas como esta ainda serão necessárias para podermos ter uma melhor idéia da evolução da comunicação entre os animais.





Fethullah Gülen – quem é o intelectual n° 1 do mundo?

16 07 2008
Fethulah Gülen

Fethulah Gülen

Este é o primeiro da série de perfis das pessoas votadas como os maiores pensadores do mundo de hoje em pesquisa feita pelas revistas Prospect da Inglaterra e Foreign Policy dos EUA no primeiro semestre deste ano. 

O primeiro colocado foi o filósofo e líder religioso Fethullah Gülen. 

 Fethullah Gülen nasceu na Turquia. É um líder islamita que desde 1999 mora no estado da Pensilvânia, nos EUA, onde sua permanência até meados deste ano poderia ter sido considerada como um asilo político, já que, até então, encontrava-se acusado pelo Tribunal de Segurança da Turquia, por supostamente estabelecer uma organização cujo objetivo seria corromper a estrutura secular do governo e estabelecer uma sólida base corânica no país.  Mas, no dia 24 de junho de 2008, a Suprema Corte de Apelações rejeitou a objeção da Procuradoria Geral da Turquia à absolvição do intelectual.  Assim, absolvido, Fetullah Gülen poderá voltar à Turquia e ser recepcionado por seus muitos seguidores não só para comemorar a decisão da Suprema Corte, mas também a votação na pesquisa mencionada acima.

Não é de hoje que Gülen se tornou uma das mais influentes mentes muçulmanas no mundo, com milhões de seguidores, não só na sua terra natal, como em todos os países muçulmanos da Ásia Central à Indochina; da Indonésia à África.   Suas posições que levaram ao chamado Movimento Gülen, são baseadas em três dogmas: a advocacia da tolerância; a crença no diálogo e a procura sistemática da reconciliação entre os povos.  Sua incessante requisição para diálogo, tem-se tornado ainda mais urgente à medida que as comunicações internacionais se ampliam e o mundo torna-se a grande aldeia prevista pelo filósofo canadense Marshall McLuhan.   De acordo com Gülen os muçulmanos não podem, nem devem, construir uma identidade baseada em qualquer valor destrutivo, como o conflito e a confrontação.  Estes não estariam de acordo com os valores humanos e universais do Islã.

  

 
 

 

Freqüentemente mal compreendido, este movimento não se considera um movimento político ou ideológico.  Trabalha principalmente na ação social, próxima da filosofia sufi, e, como tal, é bastante diferente de todos os outros movimentos islâmicos.  Muito moderno, não faz parte de nenhuma ordem religiosa — numa definição, mais restrita, mais histórica da palavra — não é uma fraternidade e nem mesmo uma ordem sufi (uma tarica).  É um movimento que demonstra uma capacidade imensa de organização e um dinamismo em geral não associados ao Islã.  Estas características já germinaram respostas entusiasmadas no campo cultural e social.  Tolerância e relações amistosas entre diferentes comunidades são a demonstração, para muitos, de que o movimento Gülen pode ter sucesso.   Pregando a abnegação e o altruísmo, que na visão sufi de Gülen, fazem a essência da religião muçulmana, sua filosofia prega idéias bastante democráticas, considerando que os povos devem escolher seus governantes, ao invés de serem governados por uma autoridade superior.  Para Gülen, o indivíduo tem prioridade sobre a comunidade e cada ser humano deve ser livre para escolher seu próprio estilo de vida.

 

 

 

Mas este individualismo não é para ser levado a extremos.  O ser humano tem melhor qualidade de vida no seio de uma sociedade e para isto precisa adaptar seus desejos e sua liberdade aos critérios da vida social do grupo a que pertence.  Então aquele que quiser reformar o mundo deve primeiramente olhar para si próprio e se reformar, se remodelar.  É seu dever mostrar aos outros o caminho para um mundo melhor.

Rodopio Dervixe, de Maria Taurus, Unesco

Rodopio Dervixe, de Maria Taurus, Unesco

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gülen diz que um dos problemas de se falar, hoje em dia, em cultura islâmica, vem da associação que muitos fazem do Islã a um sistema político. Quem vê o Islã como um sistema político, é quem precisa admitir que o que o leva a agir é uma raiva pessoal, até social, uma hostilidade, incompatível com o verdadeiro Islã.  Porque esta é uma religião que tem o ardor da verdadeira crença, uma forte essência espiritual e valores morais profundamente enraizados.  Estas qualidades que dão aos muçulmanos grande retidão de caráter permitem que eles possam absorver a supremacia científica, tecnológica, econômica e militar do ocidente, sem que estas os corrompam. O Islã, ele defende, trata da alma das pessoas, do que é sentida por dentro, como conseqüência, as vantagens materiais desenvolvidas pelo ocidente não poderiam corromper a verdadeira alma muçulmana.   Mas, alguns muçulmanos e políticos ao invés de verem o Islã como uma religião, fazem dele uma ideologia política, sociológica e econômica.  Esquecendo-se de que o muçulmano é aquele protege os outros contra o mal; de que é o verdadeiro representante da paz e da segurança. 

Por mais de 1400 anos o ocidente e os muçulmanos se combatem.  Agora, nesta aldeia global, é necessário que estes dois lados se entendam.  E que aceitem que o ocidente não conseguirá eliminar o Islã, assim como o Islã não conseguirá dominar o ocidente.   Ambos terão que fazer concessões.

 

 

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NOTA: O nome de Fethullah Gülen, também pode aparecer com dois “ll” como em Güllen.

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Um aceno amistoso à França no dia de hoje!

14 07 2008

 

La Rue Montorgueil, 1878,  Claude Monet (França 1849-1926), O/T,  Musée D'Orsay, Paris

La Rue Montorgueil, 1878, Claude Monet (França 1849-1926), O/T, Musée D'Orsay, Paris

 

Você hoje:

 

1        compra um metro de fita para embrulhar um belo presente?

2        corre oitocentos metros para perder alguns quilos?

3        compra uma caixa de leite LONGA VIDA de um litro?

 

Usar estas medidas baseadas no sistema métrico é uma conseqüência, na sua vida diária, da Revolução Francesa de 1789.

 

 

Você acredita que:

 

1        deve haver separação entre religião e governo?

2        que o ensino básico deva ser gratuito e obrigatório para todos?

3        que todos os homens são iguais?

 

Então você pratica diariamente alguns dos direitos conquistados pelos revolucionários franceses em 1789.

 

 

Você pretende:

 

1        fazer um concurso para trabalhar num emprego público?

2        pensa em comprar um sítio, um pedaço de terra para os fins de semana?

3        votar num candidato do seu gosto para vereador ou governador?

 

Então você presta os seus respeitos diariamente aos princípios adquiridos pelos cidadãos depois da revolução francesa de 1789.

 

 

Estas são algumas das razões por que o dia de hoje, 14 de julho, é comemorado por mais pessoas no mundo do que somente os franceses.   

 

Hoje fazem 219 anos da Queda da Bastilha.

 





Diário de meu avô, Itapetininga, 10/7/1932

10 07 2008

 

Uma historiadora da arte, como eu, é como diz o nome, primeiro uma historiadora.  Assim, depois que minha mãe faleceu, fui eu quem ficou com o diário de meu avô materno, com algumas entradas interessantes sobre a revolução de 1932.

 

Naquela época,  meu avô morava em Itapetininga, no estado de São Paulo.  Era diretor  dos Correios e Telégrafos da cidade e de acordo com minha mãe, que morou lá até os onze anos de idade, moravam na própria casa dos Correios: um sobrado em que embaixo ficava a agência e a casa deles em cima.  Vovô era um advogado formado pela Universidade do Brasil e em 1932 já trabalhava há alguns anos nos Correios e Telégrafos.  Tanto que suas três filhas, cujas idades se ajuntam no período de 4 anos, de 1925 a 1928, nasceram em cidades e estados diferentes do Brasil.  A primeira, minha mãe, Yonne, nasceu no Rio de Janeiro, sua irmã do meio, Yedda, nasceu em Itararé em São Paulo e a caçula, Neyde, nasceu em Araxá, MG.  E em 1932, meus avós se encontravam em Itapetininga. 

 

Não é surpresa meu avô ter feito um diário.  Era um homem de letras.  Mais tarde, nos anos 50 já estabelecido há anos no Rio de Janeiro, foi colunista semanal de um vespertino carioca.

 

Como sempre tive interesse na história do Brasil, fiquei muito emocionada ao encontrar passagens no seu diário que refletem a revolução de 1932.   No dia 9 de julho, propriamente dito, não há nenhuma anotação.   Mas no dia seguinte:

 

10 de julho 932

 

Rebentou ontem em São Paulo uma revolução com caráter constitucionalista.  Este movimento já hoje se alastrou por todo o Estado de São Paulo… Fala-se que São Paulo pegou em armas para restaurar o império da Lei no país.  Analisando-se este acontecimento sem paixão nem parti pris parece ser pequeno o móvel da revolução, porque já o governo federal havia marcado o prazo para a constituinte. 

 

Meu avô chamava-se Gessner Pompílio Pompêo de Barros (MT – 1896 – RJ 1960)

 

 

Esta é a minha pequena homenagem aqueles que lutaram na Revolução de 32.

10 de julho de 1932, página do diário de Gessner Pomp�lio Pompêo de Barros, Itapetininga, SP

10 de julho de 1932, página do diário de Gessner Pompílio Pompêo de Barros, Itapetininga, SP





Você conhece os 10 mais importantes intelectuais de 2008?

2 07 2008

 

A revista inglesa Prospect, fundada em 1995, tem feito jus ao seu slogan: “a conversa inteligente da Grã-Bretanha”.  Sempre apresenta uma faceta diferente da visão mundial e gosto de seguir suas reportagens.  Junto com a revista Foreign Policy, a Prospect  faz de tempos em tempos uma enquête para descobrir quem seus leitores consideram ser os 100 maiores pensadores da atualidade.  A última tomada de pulso foi em 2005 quando Noam Chomsky, professor de Linguística  no MIT, foi o primeiro colocado.  Seguido de Umberto Eco, escritor, crítico e professor de semiótica em segundo lugar e por Richard Dawkins, eminente zoólogo, professor da Universidade de Oxford.  Seguiram-se Vaclav Havel, escritor e dramaturgo, Christopher Hitchens,  jornalista e crítico literário, Paul Krugman, economista e jornalista,  Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo,  Amartya Sen, economista laureado com o Nobel, Jared Diamond,  biólogo evolucionário, fisiologista, biogeógrafo e Salman Rushdie, escritor.  Estes foram os dez primeiros colocados há três anos. 

 

Quando a revista fez a mesma enquête este ano, ficou surpresa ao receber mais de meio milhão de votos, e mais ainda com o resultado da pesquisa.  A lista publicada agora, no mês de julho, mostra que os nomes dos 10 mais votados são todos de intelectuais muçulmanos.   Os organizadores logo procuraram saber se havia um hacker atrás da votação, e que tipo de campanhas haviam sido montadas e para que nomes.   E é claro que o vencedor deste ano, Fethullah Güllen, escritor, pensador e filósofo Suni, teve uma grande campanha por votos dentro da Turquia, a partir de maio quando Zaman o jornal de maior circulação no país e associado ao movimento de Güllen, publicou que havia esta competição para pensadores influentes.   Como explica Tom Nuttal em uns dos artigos deste mês na revista, antes de publicarem a lista, Prospect e Foreign Policy se certificaram da validade dos votos e das campanhas existentes.

 

 

  

 

 

 

 

 

 

Fethullah Güllen

Veja: 

https://peregrinacultural.wordpress.com/2008/07/16/fethullah-gulen-%E2%80%93-quem-e-o-intelectual-n%C2%B0-1-do-mundo/

 

https://peregrinacultural.wordpress.com/2008/08/12/muhammad-yunus-quem-e-segundo-mais-votado-intelectual/

 

  

 

Houve campanhas a favor de Mario Vargas Llosa, de Al Gore, Gary Gasparov, para dar alguns nomes, mas nenhuma delas vingou.  Provavelmente porque nenhuma destas campanhas teve a disciplina entre seus seguidores de manter o interesse pela votação vivo e a disciplina de arrecadar votos, que os seguidores de Güllen tiveram.  Cada eleitor poderia sugerir 5 nomes.  Mesmo assim, como é amplamente explicado em considerações sobre a lista, nenhuma campanha, poderia justificar o posicionamento de 10 muçulmanos entre os maiores e mais influentes pensadores do momento. 

 

O que estamos testemunhando, como diz Tom Nuttal, é a emergência de um novo tipo de intelectual, aquele que tem uma grande corrente de amigos e seguidores, que podem ser facilmente mobilizados.  Entre os nomes que apareceram entre os 10 mais votados estão também Yusuf al-Qaradawi, Amr Khaled .  Yusuf al-Qaradawi que já tinha aparecido na lista em 2005, subindo da posição 56 para a 3ª colocação e  Amr Khaled religioso muçulmano e produtor de programas televisos, que entrou na lista este ano, obtendo a 6ª posição.  Ambos seguidores próximos de Güllen com campanhas angariando votos, bem organizadas no Facebook.  Muhammad Yunus, economista e banqueiro em Bangladesh e Shirin Ebadi, advogada e ativista sobre direitos humanos no Iran, foram ambos agraciados com o Nobel da Paz e também tiveram bastante sucesso.

 

Os outros nomes entre os 10 mais votados em 2008 são: o escritor Orhan Pamuk;  Aitzaz Ahsan, advogado, membro da Suprema Corte do Paquistão e ativista em direitos humanos;  Abdolkarim Soroush o filósofo,  Rumi estudioso; Tariq Ramadan professor universitário e pensador muçulmano e Mahmood Mamdani, antropólogo e sociólogo,

 

A lista completa dos 100 mais votados se encontra aqui.  Em parênteses a colocação de cada um na enquête de 2005.  Asterisco significa que esta é a primeira vez que esta pessoa está sendo citada. 

 

 

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