Cristóvão Colombo, não era de Gênova!

19 10 2024

Cristovão Colombo, 1619

Sebastiano del Piombo (Itália, 1495-1547)

óleo sobre tela, 107 x 88 cm

Metropolitan, NY

 

 

 

Em 2003 novos pesquisas sobre as origens de Cristóvão Colombo foram iniciadas pela Universidade de Granada na Espanha, quando os restos mortais do descobridor das Américas foram exumados das catacumbas da Catedral de Sevilha. Antes mesmo que novos caminhos fossem procurados na busca de suas origens, DNA dos familiares de Colombo foram comparados com o DNA encontrado nos restos mortais de Colombo para que se estabelecesse uma linha base de conhecimento. Um dos DNAs comparados foi o de seu filho Fernando Colon, para ter certeza de se tratava realmente dos ossos de Cristóvão Colombo que haviam sido exumados.

O que a equipe do professor de medicina forense José Antonio Lorente descobriu rejeita todas as teorias sobre as origens de Colombo propagadas até hoje. O resultado será apresentado em um documentário espanhol, mas o que se descobriu é que as origens do navegador que deu seu nome a dois continente e alguns países, têm raízes na comunidade judia sefardita.  E sabendo-se que não se tem documentação sobre judeus no século XVI em Gênova, a probabilidade dele ser italiano é mínima.  É mais provável que ele realmente seja judeu sefardita espanhol, que abraçou o catolicismo para esconder suas origens dados os extremos da perseguição aos judeus e muçulmanos, durante a Inquisição no reinado de Fernando de Aragão e Isabel de Castela. 

 

 

Fonte: Material distribuído pela Universidade de Granada, para promoção do documentário a ser lançado em breve sobre esta pesquisa.





Famílias reais medievais…

26 08 2024

Coroação de Ricardo III da Inglaterra

Iluminura anônima,  manuscrito do século XIII

Governou o país de 1216 a 1272

 

 

Uma de minhas distrações é ler sobre a Idade Média. Hábito reforçado, quando meu marido e eu tivemos a oportunidade de passar uma temporada na França, na Gasconha. Naquela estadia, sem televisão, a leitura foi nossa principal diversão nas noites de final de verão-outono-inicio de inverno. Nesta época li duas biografias de Leonor de Aquitânia.  Além de cair de amores por ela, minha curiosidade sobre a intrincada história das relações França-Inglaterra-França, da história do Rei Artur à Invasão Normanda em 1066 até o século XVIII, todo esse puxa-empurra entre Inglaterra e França, aos poucos trouxeram nomes que foram se tornando personagens familiares e por causa disso, esses reis, ingleses e franceses são parte do meu descanso. 

Com a queda da temperatura ontem, aqui no Rio de Janeiro, a leitura foi a distração óbvia. Voltei minha atenção para o livro The Two Eleanors of Henry III: The Lives of Eleanor of Provence and Eleanor de Montfort, [As Duas Leonors de Henrique III: A vida de Leonor da Provença e Leonor de Montfort] do historiador Darren Baker, [Pen & Sword History: 2019] que conta a vida dessas duas cunhadas,  a primeira, casada com Henrique III e a segunda,  irmã dele, casada com Simon de Montford, duas figuras importantíssimas nos acontecimentos do século XIII na Inglaterra.

Já estou chegando à metade do livro.  Mas o início, os primeiros parágrafos, é o que coloco aqui em tradução livre, que me levaram a pensar: “vale uma nota no blog”.  Muitas vezes quando dou minhas aulas de história da arte, quando sempre falo dos reis e rainhas (eram eles que mantinham os artistas trabalhando, comendo e vivendo), meus alunos se surpreendem com o número de herdeiros das cortes que morriam antes mesmo de chegarem à idade madura.  Aqui, a descrição que abre esse livro, surpreende. Hoje, muitos séculos mais tarde, às vezes esquecemos de como era difícil a vida mesmo daquelas senhoras ricas, membros das famílias mais nobres europeias do século XIII.

 

 

 

“Três rainhas na Inglaterra foram chamadas Leonor.  A primeira e mais famosa foi Leonor de Aquitânia. Ela teve dois maridos, ambos reis, dez filhos e participou de uma cruzada. A terceira foi Leonor de Castela, que teve só um marido, mas dezesseis filhos e também foi a uma cruzada. Depois de sua morte foi imortalizada com cruzes erguidas em sua memória.  Entre as duas estava Leonor da Provença.  Ela teve só cinco filhos, não participou de cruzadas e seu marido não podia se comparar aos maridos das outras duas Leonors. Pior ainda, foi considerada culpada por parecer ser uma monarca fraca e incompetente.”

 

(tradução Ladyce West)

 

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There have been three queens of England named Eleanor. The first and most famous of them was Eleanor of Aquitaine. She had two husbands, both of them kings, ten children, and went on crusade. The third was Eleanor of Castile. She had only one husband, but sixteen children and she too went on crusade. After her death, she was immortalised with memorial crosses erected in her memory. In between them was Eleanor of Provence. She had only five children, no crusade to her credit, and her husband could not compare to the husbands of the other two Eleanors. Worse, she was blamed for him being a seemingly weak and incompetent monarch.

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Essas jovens, e eram muito jovens, se casavam assim que chegavam à puberdade, com homens que não conheciam, prometidas por seus familiares, para garantir terras, tratados de paz e de não invasão e ainda tinham que ficar de sobreaviso, porque havia intriga, perigo de envenenamento, traição e muita gente querendo suas terras, seus domínios, o dote que permitira o casamento. Eram levadas para longe da casa natal, em geral para nunca mais voltarem, nem mesmo a ver seus familiares mais próximos, longe de todos com quem cresceram, frequentemente colocadas em lados opostos a irmãos, a parentes que consideravam família. A responsabilidade dessas meninas era grande. Com elas estavam as regras de muitos tratados de paz, as pequenas decisões que mostram poder. Jogavam, junto com seus maridos, e às vezes até mesmo contra eles, mas sempre pela sobrevivência, um grande jogo de xadrez político. E mais frequente do que imaginamos, essas rainhas consortes não foram destacadas por sua coragem. Suas biografias esquecidas, não registradas, porque afinal eram apenas mulheres. Até dias recentes só as conhecemos por anotações superficiais, marginália ou notas de rodapé, uma ou outra carta, uma ou outra nota em um diário, observações de seus padres confessores ou textos em geral repletos de inverdades. Por isso tem sido tão interessante ver no final do século passado e no primeiro quarto do século XXI, o esforço de muitos historiadores para refazerem as vidas dessas mulheres importantes na própria geografia econômica europeia.

Este livro abre com o casamento de Henrique III, rei da Inglaterra, também conhecido como Henrique de Winchester, (1207-1272) que subiu ao trono, aos nove anos de idade, após o falecimento de seu pai. Aos vinte e sete anos, ele se casa com Leonor da Provença, de doze anos de idade, em 20 de janeiro de 1236, na Catedral de Canterbury. Foi um casamento feliz. Diferente de muitos nessas circunstâncias. Trouxe cinco filhos e garantiu a subida de seu filho Eduardo I, também chamado de Eduardo Pernas Longas, ao trono quando Henrique morreu. Os Plantagenets garantiam assim, ainda por mais dois séculos, sua permanência o poder.

Árvore genealógica do século XIII na Inglaterra.  Estão representados Henrique II e seu filhos, da esquerda para a direita: Guilherme, Henrique, Ricardo, Matilde, Godofredo, Leonor, Joana e João.





Descoberto mosaico Grego em Eretria

12 08 2024
Mosaico descoberto em Eretria de dois sátiros, provavelmente do século IV A.C.

 

 

 

Nova construção em Eretria, cidade grega ao norte de Atenas, acaba surpreendendo a todos por revelar um pavimento de mosaico do século IV A.C. que parou temporariamente a instalação de canalização de água no subsolo.

O mosaico feito de pedrinhas das cores branca, negra,amarela e vermelha, forma um grupo de dois sátiros com cabelos e barbas amarelos.  Eles são os espíritos meio homem e meio cabra associados a Dionísio, o deus grego da produção de vinho, deus da fertilidade e da folia.  Típicos de suas conhecidas representações em outras formas artísticas, um dos sátiros toca flauta dupla enquanto o outro dança.

Eretria, de acordo com alguns indícios encontrados de artesania, parece ter sido fundada no final do período Neolítico entre 3.000 e 3,500 anos passados.  Homero, autor da Ilíada e da Odisseia, menciona que Eretria foi  uma das cidades-estado que participou da Guerra de Troia, no século VIII A.C.

 

 

Mosaico encontrado em contexto com o piso.

Este não é o primeiro mosaico descoberto em Eretria.  A data associada a este mosaico dos sátiros está também em acordo com outros objetos remanescentes das construções locais todos datando de 360 a 350 A.C. O século IV foi um de grande expansão econômica local e a construção de casas luxuosas como esta estava em ascensão.

Desde o século VIII A.C. Eretria e sua irmã e rival também Chalcis se tornaram locais de grande e rico poder comercial.  Essas cidades-estado foram capazes de estabelecer colônias na costa italiana e também tiveram controle de Andros, Ceos e diversas outras ilhas do mar Egeu.

 

Essa postagem está levemente baseada no artigo do mesmo nome da revista Artnet.

 





O que uma lista de compras de mais de 3.500 anos teria?

31 07 2024
Tablete encontrado com uma lista de compras com escrita cuneiforme. Cortesia do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia.

 

 

 

A equipe de limpeza de um terremoto no Monte Aççana, perto da antiga cidade de Alalah, no distrito de  Reyhanlı de Hatay, na Turquia, descobriu um tablete com escrita cuneiforme, pequenino, de mais ou menos 4 x 3 cm, datando do século XV A.C. Pesa só 28 gramas.  Mas a grande curiosidade é podermos ler uma lista de compras daquela época.  

 

 

Monte Aççana, na velha cidade de Alalah. Cortesia do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia.

 

O tablete está coberto de inscrições na escrita cuneiforme, na língua acadiana, da antiguidade.  Hoje essa língua é considerada extinta. O acadiano, no entanto, é a mais antiga das línguas semíticas conhecidas, intimamente relacionada tanto ao árabe quanto ao hebraico, assim como aos dialetos da Suméria, da Babilônia e Assíria. A língua foi usada por toda a região da Mesopotâmia durante o reinado da dinastia acadiana, por volta dos anos 2334-2154 A.C.  Essa língua foi decifrada no século XIX,  e seu primeiro dicionário publicado em 1921 por pesquisadores da Universidade de Chicago.

 

 

Foto cortesia do Ministério da Cultura e Turismo da Turquia.

 

A leitura inicial desse tablete mostra uma lista de compras de mobiliário.  Ela inclui diversas mesas de madeira, cadeiras e bancos e também um local para se marcar o que foi comprado e o que foi recebido.  Os pesquisadores ainda estão trabalhando nisso, mas acreditam já acreditam que têm em mãos uma brecha para entender mais sobre a economia do dia a dia da vida na antiguidade, sua estrutura e sistema. Esse é só o início do entendimento da economia de uma sociedade da Idade do Bronze. Esse tablete é um dos mais de quinhentos mil tabletes que foram recuperados de escavações do Iraque ao Egito, à Anatolia [Turquia].  O que existe, recuperado e sem estudo ainda, vai além de todos os documentos que conhecemos do mundo clássico em latim.  O que temos da cultura Acadiana cobre tratados e rica literatura contendo hinos, estudos acadêmicos, documentos legais, letreiros e dedicatórias, além de correspondência comum.  As obras literárias abarcam narrativas tais como o dilúvio bíblico e a obra Épica de Gilgamesh.

 

Artigo baseado na Artnet Newsletter.





Descoberta curiosa na Alemanha: peças de xadrez de mais de 1.000 anos!

13 06 2024
Detalhe de uma das peças de xadrez: Cavalo (4cm de altura) encontradas na Alemanha. Foto: Victor Brigola / Universität Tübingen

 

 

O jogo de xadrez data aproximadamente dos séculos VI ou VII DC, vindo do desenvolvimento de um jogo chamado chaturanga, jogado em algumas partes da Índia.   Depois da invasão árabe da Pérsia, o jogo de xadrez foi adotado pelo mundo muçulmano e eventualmente introduzido na Europa por portos na Espanha e na Itália, por volta do ano 1.000 DC.

O xadrez foi logo visto como excelente treino para estratégia e, portanto, tornou-se parte obrigatória da preparação dos cavaleiros feudais.  Talvez seja interessante lembrar quem eram os cavaleiros feudais.  Eram guerreiros montados. Lutavam em batalhas e guerras, ou porque estavam submissos a  um senhor feudal ou eram guerreiros de aluguel, como mercenários nos dias de hoje, para o senhorio que lhes pagasse melhor.  Há na história da Europa medieval diversos nomes de cavaleiros de aluguel que se tornaram famosos e ricos.  Muitos deles imortalizados em pinturas e esculturas como é o caso de Sir John Hawkwood, um mercenário inglês (1320-1394) cujas batalhas aconteceram, na maioria, entre diversas cidades-estado da Itália.  Uma curiosidade a respeito de mercenários é a própria guarda suíça papal, que originalmente foi formada por mercenários.

 

 

 

 

Pintura da estátua equestre de Sir John Hawkwood, 1436

(moldura pintada mais tarde, em 1524)

Paolo Uccello, (Florença, 1397-1475)

Afresco, 820 x 515 cm

Santa Maria del Fiore, Florença

 

 

 

Apesar do jogo de xadrez ser considerado uma das sete habilidades que um bom cavaleiro deveria desenvolver, é raro encontrar peças deste jogo ou de qualquer outro jogo da época, em bom estado, principalmente peças que tenham sido usadas antes do século XIII.  Mas faz sentido que estas peças tenham sido encontradas nas ruínas de um castelo no sul da Alemanha, no distrito de Reutlingen, em um castelo até então desconhecido. As peças foram encontradas sob os destroços de um muro onde poderiam ter sido perdidos ou escondidos. 

 

 

 

 

Cavalo, peão e um dado encontrados nos destroços de um muro em um castelo no sul da Alemanha.

 

 

 

As peças estão em excelente condição e quando examinadas sob microscópio pode ser visto o brilho, causado pela oleosidade, consequência de terem sido manuseadas durante partidas.  Quatro peças em formato de flor, a que se atribui o papel de peões, foram encontradas, algumas com traços de coloração vermelha, que pode indicar que um dos grupos do jogo de xadrez tenha sido originalmente feito de peças vermelhas.  Um dado com números nos seis lados, exatamente igual aos dados de hoje, também foi encontrado no grupo de peças.  Todas ela foram esculpidas em chifres. 





Mais livros da biblioteca dos Irmão Grimm

10 06 2024
Primeira edição do romance Simplicissimus de Montpelagard, c. 1669, Universidade Adam Mickiewicz  em Posnan, Polônia.

 

 

Depois da Segunda Guerra Mundial a conhecida biblioteca dos Irmãos Grimm  se subdividiu, perdendo sua identidade como um todo.  Os livros colecionados pelos autores, que naquela época se encontravam em Berlim se dispersaram, com a divisão da cidade, e acabaram em diversos lugares no mundo.  Os Irmãos Grimm haviam trabalhado anteriormente em Kassel, Göttingen e Savigny, mas dedicaram a maior parte do tempo nas pesquisas antropológicas em Berlim. Recentemente duas pesquisadoras da Universidade Adam Mickiewicz, em Poznań na Polônia encontraram vinte e sete obras que haviam pertencido aos autores.  Essas obras são de importância para aqueles que se dedicam à pesquisa das obras de Grimm que contribuíram com histórias que encantaram leitores de todas as idades desde de sua primeira publicação em 1812.

Eles se mudaram para Berlim por volta de 1840 quando Frederico Guilherme IV, rei da Prússia, os convidou para dar aulas no Academia Real de Ciências.  Tudo indica que os livros da coleção deles foram deixados, após sua morte, para a Biblioteca da Universidade de Berlim, por Wilhelm Grimm, filho de Hermann Grimm.

 

 

Os irmãos Jacob (em pé) e Wilhelm Grimm em um daguerreótipo, c. 1850.

 

Boa parte daquela biblioteca ainda se encontra em Berlim e está à mostra em uma reconstrução do escritório dos irmãos.  Mas nem todos os livros estão lá.  Em 1898, os bibliotecários responsáveis por esse grupo de livros doaram alguns volumes para a Kaiser-Wilhelm-Bibliothek em Poznań, e em 1919 esta biblioteca se tornou parte da nova Universidade Adam Mickiewicz de Poznań.  Em 1945, os bibliotecários começaram a dispersar os volumes restantes da original biblioteca dos Irmãos Grimm mandando-os para fora da cidade com a intenção de salvá-los dos últimos bombardeios que eventualmente levaram à derrocada final do regime nazista. Foi retraçando esses passos que as pesquisadoras Eliza Pieciul-Karmińska e Renata Wilgosiewicz-Skutecka foram capazes de encontrar os vinte e sete volumes.

Mas o que foi encontrado?  Obras que datam desde o século XV ao século XIX.

Alguns incunábulos.  O que é um incunábulo? É um livro impresso nos primeiros tempos da imprensa com tipos móveis.

Algumas gravuras

Alguns livros mais recentes do século XIX.

Há uma Bíblia de 1491, e um livro sobre Carlos Magno, impresso em Lyon do século XVI.  Há obras mais recentes de história da Alemanha, livros de músicas e de geografia datando de 1861.  Conhecidos por fazerem todo tipo de anotação nos seus materiais de trabalho essa descoberta certamente ajudará àqueles que se dedicam ao estudo dos Irmãos Grimm, às suas pesquisas e ao que pensavam a respeito das obras adquiridas.

 

Este artigo está baseado na publicação: “Polish University Discovers 27 Books Belonging to the Brothers Grimm” de Vittoria Benzine,para a Newsletter da ArtNet, em 24 de maio de 2024.

 





IA decifra texto da biblioteca da família do Imperador Romano Júlio César

9 06 2024
Os pergaminhos estão tão queimados que é impossível abri-los sem despedaçá-los.

 

Textos em papiro da biblioteca da família de Júlio Cesar, completamente queimados como este da fotografia acima podem agora começar a ter seu conteúdo revelado graças ao trabalho de três estudantes trabalhando com inteligência artificial.  Os papiros de aproximadamente 2000 mil anos se encontram ilegíveis desde a erupção do Vesúvio no ano 79 DC que os atingiu na cidade de Herculano. Esta é uma verdadeira descoberta, um incontestável passo no estudo da história antiga e da cultura ocidental.

 

O manuscrito decifrado, provavelmente, pertenceu à biblioteca do sogro de Júlio César. Trata-se de um texto sobre música, cuja maneira de escrita parece típica do filósofo Filodemo de Gádara (110 AC-35 AC) que seguiu os ensinamentos de Epicuro (341AC – 270 AC), ambos gregos.  Filodemo pode ter sido o filósofo em residência em Herculano.   Especialistas dizem que esta descoberta é uma pequena revolução no estudo da filosofia grega.

 

 

 

Os papiros foram descobertos por um fazendeiro em uma das casas de Herculano.

 

 

Dr. Brent Seales, da Universidade de Kentucky, nos EUA reconheceu o trabalho de um time de três estudantes de diferentes locais, todos na área de inteligência artificial e não, como se poderia supor, na área da filosofia, que desenvolveram a técnica de ler os papiros sem os abrir.  Eles foram recipientes do prêmio de um milhão de dólares, que Dr. Seales havia conseguido levantar junto a investidores para descobrir o que estes documentos do passado guardavam.  A este projeto foi dado o nome de Desafio do Vesúvio.   Os estudantes foram: Youssef Nader, estudante de doutoramento em Berlim, Luke Farritor, estudante e estagiário na SpaceX e Julian Schillinger, estudante de robótica na Suíça.  Juntos  eles construíram um robô que é capaz de reconhecer letras através de matrizes.

Até o momento eles decifraram dois mil caracteres gregos escritos em um dos quatro documentos escaneados pelo time do Dr. Seales, o que é só 5% dos textos.  O que foi traduzido refere-se a fontes de prazer na vida, tais como música e alimentos.  

Em uma passagem Filodemo se pergunta se coisas em pequenas quantidades dão maior prazer.  O time do Desafio do Vesúvio espera que a tecnologia desenvolvida por eles possa ler pelo menos 90% de todos os papiros escaneados neste ano e possivelmente todos os 800 rolos encontrados nas mesmas circunstâncias.

 

 

NB: este artigo é baseado em publicação da BBC News, de fevereiro de 2024:  AI unlocks ancient text owned by Caesar’s family;

 





Esses belos frascos têm 2.000 anos de idade!

8 05 2024
Frascos e garrafas encontrados na França, em Nîmes, do primeiro século da nossa era.

 

 

Uma escavação para a construção de um bairro residencial em um subúrbio da cidade de Nîmes na França descobriu esses belíssimos exemplos de frascos e garrafas de vidro romano datando do século I, DC.  Eles estavam no local das piras funerárias para cremação de corpos em um cemitério romano da antiga capital regional, Nemausus, que deu o nome a Nîmes atual.  Com população estimada em 60.000 pessoas essa cidade antes de ser dominada pelos romanos no século I AC, era habitada pela tribo Gaulesa Volcar Arecomici, desde a Idade do Ferro. 

Nîmes tem uma longa história romana e por isso é conhecida como a mais romana cidade fora da Itália ou a Roma Francesa.  Os romanos dominaram  a região desde o século I AC ao século V DC. Na época em que esses artefatos foram criados a vida na cidade girava em torno da praça principal e do templo chamado Maison Carrée.

 

 

 

 

Maison Carrée, Nîmes, antigo templo, construído entre 16 e 19 AC, durante o reino do imperados romano Augusto. 

 

 





Um quadro, curiosidade, notas da história e pensamentos circulares…

18 04 2024

Elizabeth, Sarah and Edward, the Children of Edward Holden Cruttenden, 1763

Sir Joshua Reynolds (Inglaterra, 1723–1792)

óleo sobre tela, 179 × 168 cm

Museu de Arte de São Paulo

 

 

 

Hoje estava considerando a possibilidade de oferecer um curso sobre colecionadores de arte.  Frequentemente eles são esquecidos e no entanto eles modelam e modelaram o futuro, com a aquisição, manutenção, tutela e preservação das obras de arte de sua escolha.  O que nos chega do passado já teve a seleção feita pela destruição corrosiva do tempo e pela manutenção de um colecionador interessado. Então seu gosto e sua guarda é o que sabemos do passado.  O colecionador dirige do tempo depois de sua morte o que veremos hoje ou no futuro.  Por ele, hoje entendemos o que era valioso, merecendo atenção. Meus alunos conhecem bem essa ladainha a que os submeto em todos os cursos.  

Um dos grandes colecionadores de arte do seu tempo, foi o pintor inglês Joshua Reynolds (1723–1792). Por isso mesmo estava passando os olhos sobre suas obras e me deparei com esse belo retrato de família, parte do acervo do MASP, onde vemos Elizabeth, Sarah and Edward Cruttenden e a aia deles, cujo nome desconheço. 

A internet é como viver dentro de uma enciclopédia.  Para pessoas curiosas é simultaneamente uma bênção e um castigo. Porque somos capazes de satisfazer a ânsia do conhecimento e ao mesmo tempo atrasar com a hora, um encontro, a entrega de um texto, pagando pela perda de tempo a que os caminhos do acaso nos levam.  A minha pergunta era:  Essa aia, essa dama de companhia das crianças, com que frequência vemos esse personagem pintado na arte posterior ao Renascimento?

 

 

 

DETALHE, Elizabeth, Sarah and Edward Cruttenden, 1763, Joshua Reynolds  (1723–1792)

 

 

 

Há um viés é claro: uma doméstica não tem o mesmo lugar de importância naquela cena e por isso mesmo não é mencionada.  Mas há um fato contraditório.  A maioria dos pintores, no passado, cobrava pela complexidade de um quadro encomendado.  Retratos em geral são obras encomendadas e a adição aqui de mais uma fisionomia, certamente elevou o preço cobrado por Reynolds.  Não duvido que esta preceptora das crianças era importante para a família ou não estaria retratada, mesmo que seu nome não seja mencionado.

Outra curiosidade: por que seria que Reynolds tem mais de um retrato familiar em que uma dama de companhia das crianças aparece? Era moda? São raros os retratos de empregados de uma família.  Queriam mostrar status?  Para quem?  Ou será que Reynolds sabia levar seus clientes na conversa?  Tinha ele arte da sugestão?  Estas são perguntas relevantes…  Para respondê-las eu teria que me aprofundar em uma centena de publicações sobre Reynolds, teses de doutoramento, e francamente para meu propósito isso seria demais.

 

 

 

Geoge Clive e sua família com a doméstica indiana Clarissa, 1765

Sir Joshua Reynolds (Inglaterra, 1723–1792)

óleo sobre tela, 140 x 171 cm

Gemäldegalerie, Berlim

 

 

 

Até recentemente este quadro era conhecido como George Clive e sua família com uma doméstica indiana — mas recentemente a Gemäldegalerie de Berlim, mudou o nome para incluir o nome da aia, depois de pesquisa extensa para responder a questões como as que me interessaram.

 

 

 

DETALHE, Sir Joshua Reynolds; Clarissa, em Geoge Clive e família, 1765

 

 

 

Coronel com sua família e uma aia indiana, 1786

Johann Zoffany (Alemanha,1733–1810)

óleo sobre tela, 135 x 97 cm

Tate Gallery, Londres

 

 

 

Os pintores e retratistas (fotografias) ingleses ou que trabalhavam na Inglaterra mostram essas preceptoras como indianas.  Não são africanas e em nenhum momento aparecem como escravas.  A Companhia das Índias Orientais formada no século XVII (1600) por holandeses, ingleses e franceses, era uma companhia privada formada por um conglomerado de investidores particulares interessados em competir diretamente com Portugal no comércio de produtos orientais. No final do século XVI, Portugal já havia perdido bastante de seu monopólio nas rotas desse comércio. Portanto justamente na virada do século XVII essas empresas, consórcio podemos dizer, internacional, se voltou para a Índia como fonte de produtos para os quais havia um mercado crescente na Europa do Norte.  A primeira coisa que fizeram foi estabelecer locais de produção, plantas, digamos assim, com trabalhadores locais.  Data deste período os trabalhadores indianos entrarem também no dia a dia dos lares ingleses na Índia.

A maioria das famílias desses administradores tinha aias indianas que cuidavam das crianças da casa.  O retrato desses trabalhadores (que podem ter sido parte do sistema de trabalhos forçados) aparece com maior frequência só no século XVIII, como vemos nos exemplos dos quadros de Reynolds e Zoffany.

No século XIX, em 1858, a Inglaterra chega a conclusão que não poderia mais deixar o comércio tão importante para a estabilidade inglesa nas mãos de companhias particulares e toma das mãos desses investidores suas companhias e declara a Índia parte do Império Britânico.  Levou quase um século para a Índia conseguir sair do domínio britânico.  Mas isso não faz parte desta postagem. 

 

 

 

Foto de 1922, mostrando a aia indiana com a família para quem trabalhava em Derbyshire.

 

 

 

 Quando olhamos para a Inglaterra de hoje, não deveríamos ver com espanto o governo repleto de pessoas de origem indiana nas prefeituras, pessoas eleitas pelo povo no parlamento inglês.  A imigração indiana e paquistanesa para a Inglaterra tem séculos. A estimativa é de que em 1850 havia na Inglaterra 40.000 indianos.   Nesta época estima-se que a população da Inglaterra fosse de 16.600.000 pessoas.  Já no ano 2000, a Inglaterra tinha um pouco mais de 49.200.000 habitantes dos quais um pouco mais de 1.053.000 eram de origem indiana.  Ou seja em 150 anos a população indiana da Inglaterra cresceu de 0,2% para 2, 1%.  Não é tanto assim. Mas não deixa de me surpreender que tenha havido tão poucas representações de indianos nas pintura inglesa.





Novos murais descobertos em Pompeia

15 04 2024
Mural de sala de jantar escavado em Pompeia. Foto: Parque Arqueológico de Pompeia.

Nova escavação revela um salão de banquetes com murais inspirados na Guerra de Troia.  A casa encontra-se na quadra 10 do Regio IX no sítio arqueológico de Pompeia.  Essas pinturas murais vieram a público no último dia 11 de abril.

 

 

 

Leda e o cisne. Mural de sala de jantar escavado em Pompeia. Foto: Parque Arqueológico de Pompeia.

 

 

Os murais são do Terceiro Estilo, cuja característica é o uso de fundos de uma só cor, pinturas populares durante o primeiro século AD.  Tudo indica que o tema dominante nestes pinturas murais é o heroísmo, conclusão que justifica os pares de heróis e deuses representados.

A pintura mural nos salões de banquetes em geral era programada com temas que viessem a dar aos convidados assuntos de interesse para a troca de ideias conversas, e com isso já estabelecer a priori as preferências dos donos da casa. Acredita-se também que a luz trazida para as salas de banquete era inconsistente e com isso havia o efeito das imagens nas paredes parecerem ter movimento, principalmente depois de algumas taças de vinho campaniano, como mencionado em Virgílio.

 

 

 
Foto: Parque Arqueológico de Pompeia.

 

 

A Guerra de Troia é um daqueles eventos que levam ao debate por aqueles que estudam o passado, porque não há provas concretas de que o conflito aconteceu verdadeiramente.  A Ilíada de Homero  menciona que o conflito começou com Paris, o filho do Rei de Troia em uma decisão sobre a beleza entre as deusas Hera, Atena e Afrodite. Paris escolheu Afrodite como a mais bela.  Como prêmio por sua decisão, a ele foi dado o amor de Helena, que já estava casada com o rei de Esparta.  A guerra portanto começou quando o rei Menelau quis sua esposa de volta.