Caras de Palhaços, 1999
Jasper Joffe ( EUA/Inglaterra, 1975)
óleo sobre tela, 30 x 30 cm
Nesta semana, serão leiloados todos os pertences do conhecido artista plástico inglês Jasper Joffe. Ele nasceu nos EUA, mas foi com 8 anos para a Inglaterra, de onde nunca saiu, teve sua formação artística e sua carreira profissional na Ilha. Sua arte, assim como sua visão do mundo, tem uma forte identidade britânica. Uma identidade talvez mais ainda acentuada, quando considerarmos que um dos fortes traços da cultura inglesa é a aceitação e cultivo de excentricidades entre seus habitantes. Eles são os primeiros a reconhecer que têm uma tendência a pensar e agir “outside the box” ou melhor, fora dos padrões da normalidade. Essa liberalidade para com o comportamento próprio e para com o do vizinho sempre permitiu que personalidades extravagantes fizessem parte da textura social. Esta característica é tão marcante que em 2003 fez parte de uma campanha para incentivo do turismo interno da ilha. Campanha que apregoava entre outros eventos: encantadores de minhocas, corridas de caracóis, brigas de dedões do pé, competição de rolar queijos morro abaixo, festival do alho e trekking com lhamas.
Seguindo os passos de seus conterrâneos, Jasper Joffe tem explorado o caminho da excentricidade. Já famoso, tornou seu nome mais corriqueiro ainda quando organizou a Free Art Fair, chamada de “Feira para as vacas magras” [The art fair for the credit crunch] uma paródia da Frieze Art Fair, onde trabalhos de arte renderam alguns milhões de libras, a Free Art Fair reuniu 50 artistas – conhecidos e não tão conhecidos — que apresentaram seus trabalhos para venda por frações mínimas de seus preços no mercado.
O artista plástico Jasper Joffe.
Agora, Jasper Joffe está colocando sua vida inteira num leilão. Isso mesmo, todos as suas possessões. Para dar uma idéia aqui está uma amostra:
• 100 quadros incluindo retrato de Himmler do The Beauty Show, uma versão do mesmo quadro comprado por Charles Saatchi.
• Centenas de pincéis que foram lavados freqüentemente e com carinho
• Camisas da marca Lacoste em dezenas de cores
• 10 ternos, incluindo um Richard James de linho branco usado por Joffe em sua formatura no Royal College
• Um casacão de couro negro, longo, Armani, comprado em Roma quando o artista vendeu um quadro a um dentista
• Um par de sapatos feitos a mão por Ducker and Son comprado pelo artista no seu primeiro ano na universidade de Oxford.
• Uma gravura de Tracey Emin que Joffe comprou depois de passar a noite em claro numa fila na liquidação Absolut, na escola de arte do Royal College.
• Mais de 800 livros, incluindo a coleção do artista de primeiras edições de escritores contemporâneos, livros de arte e outras edições raras.
• Um Mixer da Kitchenaid em aço inoxidável.
Queen II
Jasper Joffe ( UK 1975)
óleo sobre tela
Com o nome de The Sale of a Lifetime (A Liquidação de uma Vida), a venda abre nesta terça-feira na Generation Gallery, ao leste de Londres. O fator precipitador deste rompante foi uma desilusão amorosa: Joffe, de 33 anos, foi abandonado pela namorada no último Natal. A idade, aqui, é um fator importante. Pois o artista aproveitou a simbologia da idade com que Cristo morreu para “colocar tudo o que possuo em uma exposição e à venda, posso perceber exatamente onde estou já que terei 34 anos de idade na semana que vem“, disse Joffe. A venda inclui só 33 lotes, custando 3.333 libras cada (cerca de R$ 10.300). “Estou vendendo minha vida toda por 109 mil libras (cerca de R$ 336 mil). Para os pertences de toda uma vida não é muito“, diz ele.
Jasper Joffe não é o primeiro a dar uma guinada em sua própria vida e tentar recomeçar do zero. Nem é ele o primeiro artista a vender todos os seus pertences com o fim de mudar radicalmente. Mas graças à sua personalidade esfuziante, e à tendência de conseguir transformar projetos em grandes eventos, neste momento, com a venda de seus objetos pessoais, com a mudança radical e a certeza de uma trajetória de vida interrompida para ser recomeçada logo adiante, fazem do artista alguém que parece exprimir melhor que qualquer outro artista plástico da hora, o espírito de seu tempo. Tudo é um evento. Tudo é para ser testemunhado em público. A vida, o dia a dia, o momento corriqueiro como parte do reality-show do dia, da cena.
Jasper Joffe
Não é importante se gostamos ou não dos trabalhos de Joffe. Se teríamos ou não uma de suas telas em nossas paredes. Não acredito que se eu pudesse, eu comprasse qualquer um de seus quadros. Acho a maioria do que já vi de uma brutalidade muito grande, com uma temática que prefiro passar ao largo, freqüentemente unindo sexo e violência. No entanto, há uma parte de mim, talvez o meu lado mais rebelde, ou até mais teatral, que aprecia este comportamento, essa irreverência para com o que outros e até mesmo seus colecionadores dão valor. É justamente este espírito de rebeldia, de ir um ou dois passos além da norma, que o mostra colorindo do lado de fora do desenho, que o faz um verdadeiro excêntrico, e que o distingue dos demais. Talvez eu gostasse de ter esta coragem, de estar um pouco menos enquadrada no mundo comme il fault – no que é esperado — e por isso aprecie tanto suas atitudes. Tenho certeza que depois de todo o circo, depois de toda a venda, Jasper Joffe, saberá se renovar, se encontrar de novo. Acho que eu e algumas outras pessoas que conheço poderíamos usar de vez em quando desta re-colocação, de um virar proposital de ponta-cabeça de tudo que nos cerca e nos faz quem imaginamos ser. Stunt de publicidade ou não, deve ser gostoso