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A carta, s/d
Frans Wesselman (Holanda, contemporâneo)
gravura em metal e xilogravura, 30 x 30cm
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Para fazer um soneto
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Carlos Pena Filho
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Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
E espere pelo instante ocasional.
Nesse curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial.
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Aí, adote uma atitude avara:
se você preferir a cor local,
não use mais que o sol de sua cara
e um pedaço de fundo de quintal.
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Se não, procure a cinza e essa vagueza
das lembranças da infância , e não se apresse,
antes, deixe levá-lo a correnteza.
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Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza,
ponha tudo de lado e então comece.
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Em: Melhores poemas, Carlos Pena Filho, Sel. Edilberto Coutinho, Editora Global:2000, 4ª edição.
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Carlos Pena Filho nasceu no Recife, em 1929. Formado em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, foi poeta, letrista, jornalista, ensaísta para o Jornal do Comércio. Morreu num acidente automobilístico em 1960.
Obras:
O tempo da busca, 1952
Memórias do boi Serapião, 1955
A vertigem lúcida, 1958
Livro geral (obra reunida), 1959
Melhores poemas (póstuma) seleção de Edilberto Coutinho, 1983