Imagem de leitura — James Kurihara

9 09 2011

Leitora, s/d

James Kurihara ( EUA, contemporânea)

www.jameskurihara.com

James Kurihara mora e trabalha na área da cidade de Seattle nos Estados Unidos a maior parte da vida.  Fez seus estudos na Universidade de Washington em Engenharia, mas depois já fez diversos cursos e workshop nos últimos 20 anos em pintura a óleo.   www.jameskurihara.com





Primavera, poema de Olegário Mariano

9 09 2011

Ilustração assinada como MEE.

Primavera

                                               Olegário Mariano

Terra florida.  Estação nova.  Tanta

Vida em redor!  Ser folha quem dera!

Cada arbusto que vejo é uma garganta,

Um grito de entusiasmo à Primavera!

Bendito o sol que no alto céu flameja

E desce em fogo pelas serranias…

O sol é um velho sátiro que beija

Sofregamente as árvores esguias.

Anda, toto pelo ar, espanejante,

Um enxame fantástico de abelhas

Que estonteadoramente paira diante

De corolas e pétalas vermelhas.

Vida para o trabalho!  Ouve-se o coro

Dos lavradores e das raparigas…

Ondula ao sol, como um penacho de ouro,

A cabeleira fulva das espigas.

Primavera! No teu aspecto antigo,

Alucinante e triste muitas vezes,

Quando chegas pelo ar trazes contigo

Calma e fartura para os camponeses.

Dá arrepios fortes e desejos…

Teu nome é seiva, é força, é mocidade…

A terra anda a clamar pelos teus beijos

Que são sementes da fecundidade.

Em: Toda uma vida de poesia: poesias completas, Olegário Mariano, vol 1 ( 1911-1931), Rio de Janeiro, José Olympio:1957

Olegário Mariano Carneiro da Cunha (Brasil, 1889 — 1958) Usou também o pseudônimo João da Avenida, poeta, político e diplomata brasileiro. Em 1938, foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, substituindo Alberto de Oliveira que morrera e que, por sua vez, havia substituído Olavo Bilac. Membro da Academia Brasileira de Letras.

Obras:

Angelus , 1911

Sonetos, 1921

Evangelho da sombra e do silêncio, 1913

Água corrente, com uma carta prefácio de Olavo Bilac, 1917

Últimas Cigarras, 1920

Castelos na areia, 1922

Cidade maravilhosa, 1923

Bataclan, crônicas em verso, 1927

Canto da minha terra, 1931

Destino, 1931

Poemas de amor e de saudade, 1932

Teatro, 1932

Antologia de tradutores, 1932

Poesias escolhidas, 1932

O amor na poesia brasileira, 1933

Vida Caixa de brinquedos, crônicas em verso, 1933

O enamorado da vida, com prefácio de Júlio Dantas, 1937

Abolição da escravatura e os homens do norte, conferência, 1939

Em louvor da língua portuguesa, 1940

A vida que já vivi, memórias, 1945

Quando vem baixando o crepúsculo, 1945

Cantigas de encurtar caminho, 1949

Tangará conta histórias, poesia infantil, 1953

Toda uma vida de poesia, 2 vols., 1957





Minuto de silêncio, uma meditação sobre o primeiro amor

9 09 2011

Pescadores puxando um barco, 1885

Peder Severin Kroyer ( Noruega,  1851-1909)

Óleo sobre tela

Oglethorpe University Museum of Art

Atlanta, Ga,  EUA

Hoje até parece luxo a gente dizer que tem um livreiro em quem confia.  Alguém que é dono ou gerente de uma livraria, que conhece os seus gostos tão bem que chega a separar alguns livros para sua escolha.  Coisa pessoal, não tão esquematizada como as sugestões da Amazon.com, que ainda assim conseguem ser bem acertadas, apesar de sugeridas por um programa de computação.  Mas desde que voltei ao Rio de Janeiro desenvolvi um relacionamento com dois livreiros “à antiga”, que me conhecem, sugerem títulos e até me emprestam um ou outro volume.  Este foi o caso da simpática gerente de uma pequena livraria no meu bairro.   Minuto de Silêncio, um conto publicado como livro do escritor polonês  Siegfried Lenz [Rocco: 2010] chegou às minhas mãos dessa maneira.  Não só eu desconhecia o livro como o autor.  Foi uma “educação” dupla.  Uma educação que valeu a pena.  Levei mais tempo procurando por um belo marcador de livros para dar à minha gerente como agradecimento, do que para ler as 126 páginas dessa história de amor entre um jovem, e sua professora de inglês.

Preciso confessar que ando um pouco cansada de livros de “passagem”, livros que retratam o momento em que um adolescente passa a ser adulto.   Precisei dizer isso porque encarei com certa apreensão essa leitura que mostra as descobertas do amor e da paixão por um jovem.  No entanto, a narrativa é magistral.  Econômica e evocativa.  Delicada e branda encanta e passa rapidamente como um véu transparente soprado pela brisa do mar.  Minuto de silêncio é uma meditação sobre a primeira descoberta do amor e sua subseqüente perda.  Há desde o início a certeza de que o trágico ronda o leitor, o gancho é descobrir como e por quê?   Esse é um livro de grande sutileza, bordejando o poético.

Siegfried Lenz

Situada numa cidade pesqueira no Mar Báltico, a história desse primeiro amor é embalada pela localização idílica de um balneário repleto de veranistas, atraídos pela magia do mar.  As marés, o ir e vir das ondas, o trabalho perigoso dos pescadores de pedras, familiarizados com o imprevisto, servem como pano de fundo significante para as lições de vida, e amor, de perda e morte aprendidas pelo jovem Christian. Um belo romance.