Boas idéias, boas soluções — feiras de livros

26 10 2008
Liquidação de Livros, L C Neil, (Mooresville, North Carolina, EUA)

Liquidação de Livros, L C Neill, (Mooresville, North Carolina, EUA)

 

Desde o século XVI que feiras de livros são uma das melhores maneiras que editoras encontraram para promover e vender os textos que imprimiram.  Recentemente, lendo o livro: O  Mendigo e o Professor: a saga da família Platter no século XVI, volume I,  pelo historiador francês Emmanuel Le Roy Ladurie, (Rocco: 1999) encontrei a seguinte passagem baseada no diários de  Thomas Platter, referente aos anos de 1536-1539:

 

Uma inteira vocação de impressor, e de editor, nascerá em meio a suor e preocupação; afinal estamos na Basiléia, cidade angular da tipografia sul-alemã, papel que na França cabe a Lyon, considerável cidade centro-meridional, sede da tipografia do grande reino no século XVI.  Rapidamente Platter substitui o patrão Herwagen, quando este viaja para Frankfurt.  Quando o mestre se ausenta para freqüentar a feira do livro dessa cidade, encarrega Thomas de supervisionar os trabalhos.  (página 79)

 

 

Foi só aí que voltei a me lembrar que realmente as feiras de livros têm uma longa tradição na cultura ocidental praticamente tão antiga quanto a própria história da imprensa.  A feira do livro de Frankfurt na Alemanha tem uma tradição de mais de 500 anos.  Logo após Johannes Gutenberg inventar a imprensa com letras móveis, a cidade de Frankfurt, na região de Mainz, organizou a primeira feira do livro de que se tem notícia.    Às vezes perdemos a noção de quão antigos certos hábitos são.  Isto me levou a pensar nas feiras de livros brasileiras e numa notícia recente que li sobre uma solução maravilhosa para feira de livros menores.

 

Ao que tudo indica, as feiras de livros de Ouro Preto (MG), de Porto das Galinhas (PE) e de Porto Alegre (RS), conseguiram se unir este ano e planejar seus respectivos calendários de tal maneira que juntando forças serão capazes de trazer escritores de fama internacional para eventos que sozinhas teriam tido problemas de preencher.  Assim a feira de Ouro Preto que acontece entre 5 a 9 de novembro; a de Porto das Galinhas – de 6 a 9 de novembro e a Porto Alegre – de 31 de outubro a 16 de novembro, puderam trazer alguns nomes internacionais de maior porte, que farão a peregrinação entre as três feiras do livro.   Ente eles estão:

 

William Gordon (EUA)e Peter Robinson (RU) – representantes da literatura policial estarão presentes nas feiras de Ouro Preto e Porto Alegre.

 

Roger Chartier (França)  também estará em Ouro Preto e Porto Alegre.

 

Pepetela (Angola) estará em Porto Alegre e em Porto das Galinhas.

 

A idéia pela qual parabenizamos os organizadores é a otimização das visitas deste estrangeiros, que podem num pequeno número de dias, cobrir três importantes centros de cultura no Brasil.  Quem sabe se esta solução não permitirá que no futuro escritores ainda mais conhecidos venham a desfrutar da hospitalidade brasileira de diversas regiões distintas?  Parabéns aos organizadores.  Boas idéias também são para serem reconhecidas.  Boa sorte!

 

Fórum de Letras de Ouro Preto – 5-9 de novembro   FLOP

Festa Literária Internacional de Porto das Galinhas – 6 a 9 de novembro  FLIPORTO

 

Feira do Livro de Porto Alegre – 31 de outubro a 16 de novembro —   FLIPOA

Ilustração Mauricio de Sousa

Ilustração Mauricio de Sousa





Salman Rushdie continua seduzindo…

5 10 2008
Escritor Salman Rushdie

Escritor Salman Rushdie

 

No próximo dia 14 de outubro teremos a divulgação do Man Booker Prize, o maior prêmio literário da Inglaterra e na opinião de muitos o maior prêmio literário do mundo ocidental.  No início de setembro deste ano, no dia 9, a lista dos que estavam concorrendo ao prêmio foi divulgada pela maioria dos jornais de língua inglesa.  Este ano, para o prêmio de romance, a lista ficou reduzida a estes seis títulos e autores, surpreendendo os amantes de Salman Rushdie, que tenho certeza contavam que o The Enchantress of Florence, estivesse entre os seis livros finalistas. 

 

Em 2008 os 6 finalistas para o Man Booker Prize são:

 

Aravind Adiga, The White Tiger, Editora: Atlantic – O TIGRE BRANCO – ainda sem trad.                           

 

Sebastian Barry,  The Secret Scripture, Editora: Faber & Faber – TESTAMENTO SECRETO – ainda sem trad.

                        

Amitav Ghosh, Sea of Poppies, Editor: John Murray – MAR DE PAPOULAS – ainda sem trad.                                 

 

Linda Grant,  The Clothes on Their Backs, Editora:Virago – AS ROUPAS COM QUE SE VESTEM– ainda sem trad.

 

Philip Hensher, The Northern Clemency, Editora: Fourth Estate – A CLEMÊNCIA VEM DO NORTE – ainda sem trad.

           

Steve Toltz, A Fraction of the Whole, Editora: Hamish Hamilton – UM PEDACINHO DO TODO – ainda sem trad.

 

Midnight's Children, de Salman Rushdie, o melhor de todos

 

 

 

A razão da surpresa é simples: em julho deste ano, o Man Booker Prize, como parte das comemorações de seus 40 anos de existência, anunciou uma competição extra.  Pediam que se votasse no melhor livro de todos os que já haviam ganho o Man Booker Prize no passado.  Só uma outra vez havia a mesma entidade feito uma seleção semelhante.  Fora em 1993.  Supreendemente, Salman Rushdie e seu Midnight’s Children –[ Os Filhos da Meia-noite,  Cia das Letras], ganhou o voto de O MELHOR MAN BOOKER PRIZE, as duas vezes, em 1993 e em 2008. 

 

Originalmente Os Filhos da Meia-noite tinha sido escolhido como melhor livro do ano de 1981.  E em 1993, ganhou por voto popular a posição de Melhor Man Booker Prize até então.  Quando a competição foi repetida em 2008, o livro voltou a ganhar a honra, ainda por voto popular.  Ao término da competição, no dia 8 de julho, com os 7800 votos  tabulados, o livro de Salman Rushdie ganhou com 36% dos votos.  Os eleitores foram em sua maioria da Grã-Bretanha (37%) e dos EUA (27%).

 

Os finalistas, que concorreram com Os Filhos da Meia-noite foram:

 

Pat Barker, The Ghost RoadA estrada fantasma, 1995, sem tradução

Peter Carey —  Oscar e Lucinda ( Record) — 1988

JM Coetzee —  Desonra (Cia das Letras) — 1999

JG Farrell — The Siege of KrishnapurA tomada de Krishnapur, 1973, sem tradução

Nadine Gordimer — The Conservationist – 1974 , O conservacionista, sem tradução

 

Dada a grande popularidade de Salman Rushdie foi recebida com grande surpresa a noticia de que seu livro The Enchantress of Florence, que estava entre os 12 da lista longa do Booker, não tivesse ficado entre os 6 finalistas.  Este seria mais um Man Booker Prize para o escritor indiano que tem um constante namoro com este prêmio literário.  Vejamos:

 

The Enchantress of Florence, 2008, entre os 12 finalistas.

Man Booker International Prize 2007, concorrente – prêmio dado de 2 em 2 anos

Shalimar The Clown, 2005, entre os 12 finalilstas

The Moor’s Last Sigh, 1995, entre os 6 finalistas

The Satanic Verses, 1988, entre os 6 finalistas

Shame, 1983, entre os 6 finalistas

Midnight’s Children, 1981, vencedor

 

 

É então com grande antecipação que esperamos os resultados do Man Booker Prize,  deste ano.  Meu voto vai para Amitav Ghosh.  Mas veremos!





“Se não há água, requisite-se!” Revolução de 1932

22 09 2008
General Isidoro Lopes

General Isidoro Lopes

 

21 de setembro de 1932

 

É censurável em toda esta luta o azedume dos militares.  É um assunto que precisa ser atacado para combatê-lo.  Há entre todos os militares, exército ou milícia, um perene azedume, quando em campanha, uma constante indisposição e mau humor para com os civis e entre si mesmos, entre graduados e inferiores.  Eu tenho notado com mágoa esse azedume.  Parece que cada soldado é também um espião do outro.  Vivem todos em  mútua espionagem.  Desconfiam de tudo, de todos e se desconfiam entre si!

 

Militares inteligentes e cultos, militares ignorantes e estúpidos, todos são iguais na espionagem e no azedume!

 

Nos seus momentos de grande ira, de azedume agudo, para o militar, não existe nenhuma desculpa, nenhuma justificação de coisa alguma.

 

Quando um oficial de gros bonnet quer qualquer coisa, há de ser prontamente atendido, e, ai! Daqueles que opuserem qualquer objeção!  Os militares, em campanha, estão sempre azedos!

 

Hoje, um sargento, pouco azedo, talvez por ser um simples sargento (porque o azedume vai crescendo com os galões) contava a outro esta pilhéria que denota azedume e estupidez:

 

No Quartel General, às 18 horas, já escura a tarde, não havia, ainda, luz.  Um major grita a um subordinado que acenda as lâmpadas.  O subordinado faz-lhe ver, que não havia, ainda, luz por falta de água na represa da usina elétrica.  E o major, azedo e estúpido, retruca enraivecido: — Pois eu quero a lâmpada já acesa!  Se não há água, requisite-se!

 

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Plano de viação de rodagem, estado de São Paulo

Plano de viação de rodagem, estado de São Paulo

 

Transcrição do Diário de Gessner Pompílio Pompêo de Barros (MT 1896 – RJ 1960), Itapetininga, SP, página 144-145 em referência à Revolução Constitucionalista de 1932.

 

 

Armando Erbiste marcado no centro, Santos, 1932

Grupo no fronte: Armando Erbiste marcado no centro, Santos, 1932





Plante uma árvore! Faça o seu bairro, um bairro verde!

21 09 2008

 

 

 

 

A Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro conscientiza sobre importância de plantar árvores nas ruas:

 

A Fundação Parques e Jardins vai lançar uma campanha para conscientizar a população sobre a importância da arborização urbana. O objetivo é oferecer informações sobre os benefícios produzidos pelas árvores para a qualidade de vida, como embelezamento paisagístico, diminuição da temperatura em áreas mais quentes e redução da poluição ambiental.

 

A iniciativa surgiu após a constatação do alto índice de rejeição ao plantio de árvores nas ruas, principalmente nas regiões Norte e Oeste. Por isso, o início da campanha será pelo bairro de Piedade, onde 15 agentes ambientais capacitados darão informações sobre as vantagens de ter as ruas arborizadas e vão incentivar os moradores a adotar a muda plantada na sua rua, se comprometendo a cuidar do seu desenvolvimento.

 

Está na hora de tomarmos todas estas iniciativas sob nossa próprias rédeas.  Afinal, somos nós, cidadãos, que nos beneficiamos com o plantio de árvores em todos os bairros.  A hora é agora!  Mova-se!

TORNE A SUA CIDADE MAIS VERDE!





Elogia-se o Batalhão 14 de Julho — Revolução de 1932

20 09 2008
Alegoria para a Revolução de 1932

Alegoria para a Revolução de 1932

20 de setembro de 1932

 

Monotonia completa.  Cidade cheia de soldados que passeiam e boateiam.  Reina algum desânimo.  Há boatos terroristas. 

 

Elogia-se o batalhão “14 de Julho” composto de homens formados e acadêmicos.

 

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Campanha em Santos durante a Revolução de 1932

Campanha em Santos durante a Revolução de 1932

Transcrição do Diário de Gessner Pompílio Pompêo de Barros (MT 1896 – RJ 1960), Itapetininga, SP, página 143-144 em referência à Revolução Constitucionalista de 1932.

 

NOTA DA PEREGRINA:  Não houve nenhuma anotação entre os dias 12 e 19 de setembro de 1932.

Os federalistas

Os federalistas *

 

  • Nota do leitor Celso Pinho em 14-4-2019
  • Apenas uma correção. Na ultima foto deste Post, não se tratam de Federalistas conforme diz a legenda, e sim do Coronel Herculano de Carvalho, durante visita à Itapira, pouco depois de assumir o comando da Força Pública de São Paulo, tendo em vista o falecimento do Coronel Júlio Marcondes Salgado.




Mangueiras de Belém, poema para o dia da árvore de Sílvia Helena Tocantins

19 09 2008

 

Aléa das velhas mangueiras, Jardim Botânico, RJ.

Aléa das velhas mangueiras, Jardim Botânico, RJ.

 

 MANGUEIRAS DE BELÉM

 

 

Sílvia Helena Tocantins

 

 

Gentil mangueira que me dá abrigo

no aconchego morno do teu braço,

na tua ramagem encontro o ninho amigo

que há de embalar sempre o meu cansaço.

 

És tu mangueira de real grandeza,

só espalhando o Bem em tua missão,

além de embelezares a natureza,

és teto, és fruto, és sombra, és proteção.

 

E nunca negas à mão que te apedreja.

terno repouso contra a chuva e o mormaço,

em troca dá-lhes fruto, seja a quem seja

e ainda embalas, maternal num abraço.

 

Bendita seja a mão que te plantou

o sol que fecundou a terra, o orvalho,

onde tua semente fértil germinou,

para me dares sombra doce e agasalho.

 

E no teu colo verde de folhagem,

quero sonhar meus ideais acalentados,

esconder meus segredos em tua ramagem

como se eu fosse altivo pássaro encantado.

 

 

Em: A lira na minha terra: poetas antigos e contemporâneos no Pará, Ed. Clóvis Meira, Belém, PA, 1993.

 

 

Sílvia Helena Tocantins Mello Elder, (PA 1933) escritora e poeta.

 

Obras:~

 

As Ruínas de Suruanã (folclore)

Respingos da Maresia, 1982 (poesias)

 





Cai o número de pássaros marinhos migratórios

18 09 2008
Escher, anel de moebius com pássaros

Escher, anel de moebius com pássaros

 

No 4° Encontro da AEWA Wetlands International for the African-Eurasian Migratory Waterbird Agreement [ Acordo sobre os Pássaros Migratórios de Pântanos da África-Eurásia] que acontece esta semana (15-19 setembro) em Madagascar houve uma queda de 41% no número na população destes pássaros.  Para os pássaros usando as rotas que passam pela Ásia Central e Ocidental a situação é ainda de maior perigo, com um declínio na população dos pássaros de 55%.   O anúncio para a imprensa destes dados foi acompanhado da explicação de que isto está acontecendo principalmente pela destruição do meio ambiente nestes locais de pouso/ parada dos pássaros migratórios, pela falta de planejamento econômico e na execução da exploração destas terras na Eurásia e na África.  Lugares tradicionalmente retidos como parada/pouso destes pássaros para a jornada de inverno estão desaparecendo pela ação do homem.  

80 países tem representantes neste encontro na cidade de Antananarivo, mas mesmo assim, é essencial que haja cooperação internacional para que programas de conservação das rotas sejam mantidos e ampliados.  Pássaros que precisam de longos vôos, indo de um lado da Terra para o outro, com rotas estabelecidas através de séculos são os que mais sofrem com as mudanças climáticas, com o aquecimento da Terra e com a destruição dos lagos e pântanos onde estão acostumados a parar para recomeçar vôo depois do descanso. Um apelo a que se preste atenção a este problema e que se fomente maior cooperação internacional é até agora o resultado deste encontro.

 

Para mais informações, clique aqui.





Projeto Estrutura Elementar da Matéria: Um Cartaz em Cada Escola

15 09 2008

 

Nesta semana histórica em que houve a ativação do Large Hadron, vale a pena lembrar um projeto muito especial:

Um cartaz em cada escola

A proposta com este projeto é levar a cada escola do Ensino Médio conhecimentos básicos sobre os constituintes elementares da matéria e as interações que regem o mundo subatômico.  A distribuição de um cartaz contendo, de forma sucinta e coerente, um apanhado do conhecimento adquirido após a proposta de Mendeleiev amplia o horizonte de conhecimento dos estudantes, aguçando sua curiosidade científica e, possivelmente, despertando vocações para o estudo das ciências. 

CARTAZ
CARTAZ

 

O cartaz é acompanhado de um panfleto explicativo que permite aos professores ter acesso às informações necessárias para responder às questões levantadas pelos alunos.

Para maior informação clique aqui.

Este projeto está sob a organização do  Centro Regional de Análise de São Paulo (SPRACE) que tem como principal área de interesse a Física Experimental de Altas Energias.  Com esse interesse participa de dois experimentos nessa área: o DZero, no Tevatron, do Fermilab, Estados Unidos, e o Compact Muon Solenoid (CMS), no Large Hadron Collider, do CERN, Suíça.   Também dá grande importância às atividades de ensino e de divulgação científica.

PARTICIPE!





Uma exposição da China camponesa no Rio de Janeiro

11 09 2008

 

Abriu ontem dia 10 de setembro a exposição A CHINA DOS CAMPONESES na galeria de arte F Mourão no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.  Esta exposição reúne 70 aquarelas e guaches feitos por pintores camponeses da China contemporânea.    Estes artistas plásticos das regiões de Huxian, Hunan e Yunnan são a segunda geração de um plano de educação nas artes plásticas do governo chinês.

Apesar da arte da aquarela ter nascido na China e de ter sido até o início do século XX a forma favorita de expressão na pintura, com a chegada da revolução comunista a arte da aquarela foi completamente abandonada, vista como um passatempo dos nobres, dos ricos e um símbolo da decadência burguesa.  Obsoleta.  Toda a tradição milenar da aquarela na China nas suas formas mais tradicionais só sobreviveu pelos esforços da Ilha de Formosa.

Ateliê FMourão, na noite de abertura da exposição.

Ateliê FMourão, na noite de abertura da exposição.

Mas, a partir de um evento insiginficante, quando uma represa em construção foi desenhada por seus peões para que pudessem diariamente ver o progresso da construção surgiu entre os diversos comitês burocráticos chineses dos anos 50 a idéia de se treinar estes camponeses para que fizessem cartazes de propaganda do governo de Mao.  Assim professores foram levados até estas regiões exclusivamente agrárias no sul da China para ensinar a estes campesinos a desenhar.  Foi uma maneira interessante de ocupar  os camponeses chineses e de melhorara suas condições financeiras já que poderiam usar suas horas livres principalmente no inverno, aquela estação monótona e caseira quando a colheita  já acabara e ainda não se iniciara o plantio, para produzirem mais para o país.

 Surgiram então os grandes cartazes chineses, uma arte à parte, que mesmo existindo até hoje aos milhões são itens de bastante  procura no mercado de colecionadores de efêmera. 

Cartaz de propaganda do governo chines.

Cartaz de propaganda do governo chinês.

Com a queda de Mao e com o afrouxamento das regras políticas na cultura, não só estes camponeses deixaram de ter trabalho como artistas gráficos para os cartazes de propaganda governamental, como também tiveram uma abertura na função de suas artes.  Novos professores dos grandes centros culturais foram escolhidos para dar aulas a estes camponeses e com isto surgiu a pintura camponesa, que é na verdade, semelhante a uma pintura naïf ou folclórica, nos anos 60 e 70. 

Estas pinturas começaram por mostrar o mundo ideal em que os camponeses viviam, com colheitas abundantes, pesca generosa e vida diária organizada.  Foram e são aquarelas marcadas pelas cores vibrantes pelas perspectivas inusitadas e pela felicidade.  Estas aquarelas foram uma das primeiras maneiras de se trazer a cultura chinesa para fora da China depois da abertura comercial do país. 

A colheita dos caquis, aquarela de Feng Tao Liu, na exposição.

A colheita dos caquis, aquarela de Feng Tao Liu, na exposição.

 Hoje, nesta exposição principalmente, estão representados artistas na sua maioria participantes da segunda geração de artistas campesinos.  Estes, na sua maioria ainda dividem seu tempo entre o campo e a arte, mas os mais populares já conseguem se dedicar exclusivamente à arte das aquarelas.

Mulher com gato no colo, da pintora Feng Ying, na exposição.

Mulher com gato no colo, da pintora Feng Ying, na exposição.

Talvez porque tenham começado a serem treinados para as artes gráficas os trabalhos destes artistas têm até hoje uma forte afinidade com as artes gráficas.  Objetos, pessoas, plantas, animais são claramente delieneados.  Todos os trabalhos são também bastante coloridos.

Na CHINA DOS CAMPONESES há três estilos diferentes de trabalhos todos produzidos nas mesmas circunstâncias e resultado dos mesmos esforços governamentais.  São as cenas agrárias e bucólicas,  o retrato de pessoas, principalmete o de mulheres que mostra algumas afinidades com a tradição da vida dos nobres chineses e também a arte de uma minoria da região de Yunnan, próxima ao Tibete, cujo princiapl meio de comunicação visual é e era o batik.  Com técnicas desenvolvidas para reproduzir no papel os efeitos conseguidos no batik eles chegam a formas femininas sobre um fundo complexo de desenhos abstratos.   

Pintando a porcelana, de Li Zhimimng, na exposição.

Pintando a porcelana, de Li Zhimimng, na exposição.

Enquanto as formas de mulheres que lembram as nobres chinesas de antanho também parecem lembrar o trabalho do pintor italiano Amedeo Modigliani, as obras sensuais das mulheres representadas pela arte de Yunan, trazem à mente as obras de Gustav Klimt. 
Vale a pena a visita para conhecer de perto este festival de cores e formas.  A exposição ficará no ateliê FMourão até p dia 27 deste mês.  As obras estão à venda.  Visitas de 10 às 19 horas durante a semana e de 10 às 17 horas aos sábados.  Não percam.




Cidadania de aluguel — cidadania de conveniência

11 08 2008

 

Sábados tivemos o Brasil contra o Brasil no vôlei de praia nas Olimpíadas.  Não que os nossos dois times estivessem lutando pelo 1° e 2° lugares no pódio.  Uma equipe de brasileiras, jogava pelo Brasil enquanto que outra equipe de brasileiras jogava pela Geórgia.  O desejo de participar nas Olimpíadas e a certeza de não serem as melhores para representar um país de estrelas no vôlei de praia fez com que Cristine Santanna e Andrezza Martins convenientemente se tornassem cidadãs da Geórgia para terem direito aos seus 15 minutos de fama olímpica.  Será que vale?  Elas perderam.  Como era previsível já que não poderiam se igualar ao time de brasileiras com nacionalidade brasileira.  

 

As meninas, que se tornaram cidadãs da Geórgia — logo a Geórgia que entrou em guerra no dia da comemoração de abertura das Olimpíadas, não são aqui objeto do meu julgamento.  Cada um sabe o que faz e porque o faz.  Mas reconheço que em questão de cidadania acho estranho que alguém possa jurar fidelidade a uma cultura, a um país, a uma bandeira desconhecida.  Espero que tenha valido a pena para elas, esta cidadania de encomenda.   Elas não são as únicas nesta situação.  Há dois outros jogadores brasileiros, no vôlei de praia, que também envergam as cores vermelho e branco da Geórgia: Renato Gomes e Jorge Terceiro.  Há também dois outros brasileiros, irmãos, defendendo o time de hóquei espanhol: Kiko e Felipe Perrone.  Pode até ser que estes irmãos tenham algum sentimento pela Espanha, já que seus sobrenomes parecem ser de origem espanhola. Mas reconheço que fico pensando sobre as reais  vantagens destes arranjos.

 

Muitos países que não tem atletas em campos específicos, mas que gostariam de mostrar sua “força” perante o mundo, “alugam” suas cidadanias aos que podem em tese lhes trazer maior “reconhecimento mundial”.   Atletas por sua vez, atraídos pela fama, pela possibilidade de financiamento, dinheiro vivo, durante anos de treino, não vêem nada de mais em se deixarem alugar como cidadãos de uma outra terra, de outra cultura, mesmo que esta cultura não tenha nada a ver com eles.  Todos, atletas e países encontram assim uma maneira de “burlar” a mediocridade, é a solução Dorian Gray: só a imagem no espelho é real; a imagem na TV, nos jogos olímpicos, na verdadeira luta diária do esporte, esta continua lustrosa, sem danos, sem impurezas, sem perdas, e mais ainda coma a possibilidade de medalhas que as tornem ainda mais ilusórias.  [Retrato de Dorian Gray, livro do escritor inglês Oscar Wilde, publicado pela primeira vez em 1891].  Na busca de imagem de contos de fadas, países de contos de fadas como alguns do oriente médio usam seus petrodólares para atrair uma elite de desportistas de países pobres, tais como corredores africanos.  Os chineses, que vendem barato suas horas de trabalho também estão defendendo bandeiras de diversos outros países principalmente em tênis de mesa.  Mas isso não é efeito da globalização.  Isto é simplesmente o efeito do olho grande.  

 

Gol!  Ilustração Mauricio de Sousa.

Gol! Ilustração Maurício de Sousa.

 

 

No final de junho, Anne Applebaum,  no artigo [How did a guy who can’t speak Polish end up scoring Poland’s only goal of Euro 2008? 30/6/2008] abordou este assunto enquanto considerava a Euro Copa de futebol.  Na televisão ela viu Lukas Podolski (polonês) jogando pela Alemanha, fazer o único gol que fez a Alemanha vencer sobre a Polônia.  A imprensa o rodeava e perguntava: “Como você se sente tendo marcado o gol contra o seu próprio país”?  É claro que o  jovem jogador não teve nada especial para responder.  Este foi um exemplo.  Esta é uma situação típica, na Europa: muitos times de futebol têm entre seus jogadores pessoas que não tem nada a ver com os países cujas camisas eles usam e cuja pátria eles defendem.

 

Ela nos lembra, muito apropriadamente, que a maioria dos europeus, em geral, não usa o seu nacionalismo na lapela.  Diferente dos Estados Unidos, europeus não hasteiam bandeiras na frente de casa, nem comemoram dias de independência com o ardor nacionalista, com que os americanos o fazem.  Ao invés disso, as batalhas patrióticas acontecem nos campos de futebol, onde pessoas enrolam-se nas bandeiras de seus países e em grupos saem com as caras pintadas, quando não insistem em usarem as mais repulsivas perucas de fios de náilon com as cores das bandeiras de suas pátrias.  Mas com a União Européia há preocupação dos governos de diluírem ao máximo  sentimentos de nacionalismo, eles preferem se mesclar numa única nacionalidade que seja representativa da Comunidade Européia.  Há, então, cada vez mais incentivo à troca de jogadores e à defesa de uma bandeira nacional como se fosse uma bandeira do seu time favorito.  Talvez, realmente, haja esta necessidade dentro da Europa. Mas é difícil imaginar que o mesmo seja aceitável quando um time chinês de tênis de mesa defende a Argentina ou um time brasileiro de vôlei de praia defende a Geórgia.