Dia a dia…

23 06 2025
GRUPO DE LEITURA PAPALIVROS
Junho 2025
Livro: LIÇÕES de Domenico Starnone
Há 22 anos, 1 livro por mês
2003-2025
 

Há dias assim, mesmo na ausência de alguns membros importantes, a reunião foi muito boa, cheia de energia e alegre.  É isso o que dá um encontro por mês, com pessoas que se tornaram amigas pessoais através dos anos, e um livro que marca a pauta de cada encontro.   





Carlos III, rei da Inglaterra: a coroação

1 06 2023

Retrato de Charles III por Alastair Barford.

No dia 6 de maio, Charles III da Inglaterra foi coroado.  Diferente da coroação de sua mãe, desta vez o mundo inteiro participou da cerimônia em tempo real.  Pela televisão observamos pessoas na abadia, seus gestos e roupas, sorrisos e reações.  Vimos participantes devidamente agalanados, emotivos, discretos em ricas roupagens. Uma pletora de detalhes registrada para sempre nos anais da história mundial. Detalhes dessa ocasião poderão  ser trazidos ao público, a qualquer momento, quando futuras gerações poderão também observar toda a cerimônia.

Charles III é o primeiro rei a ter toda sua vida exposta ao mundo; não só a seus súditos. Nunca tanta informação sobre um futuro monarca foi divulgada, por tanto tempo, a conta gotas, com fotos, através dos anos, através de mais de sete décadas.  Nunca tanta especulação sobre quem ele iria escolher para esposa foi assunto de multidões, súditos ou não.  Mesmo que, ao contrário de eras passadas, qualquer casamento que fizesse não fosse adicionar terras, condados, ducados, uma união de nobres que não iria levar a guerras.

Feita a escolha, com a curiosidade mundial dobrada, não faltaram fotografias na imprensa mundial sobre detalhes do relacionamento.  Nunca antes se observou os hábitos da monarquia com tanto interesse.  A cerimônia de seu primeiro casamento tomou conta do mundo atingindo a uma população muito maior do que a própria Commonwealth.  Calcula-se em setecentos e cinquenta milhões de pessoas acompanhando o casamento em tempo real. Isso antes da cobertura de eventos pela internet e redes sociais, só por transmissão televisiva. 

Da vida pessoal de Charles III soube-se de tudo:  amores, infidelidades, conversas telefônicas.  Conhecemos filhos e netos. E também seus defeitos, manias, impaciência. Percebemos que Charles, apesar de nobre, representa sua geração: baby-boomer.  Mal ou bem ele reflete os valores da geração pós-guerra.  Amou, casou e como grande parte de seus contemporâneos, também se divorciou.  Tratou os filhos com menos restrições do que foi tratado.  Interessou-se por urbanismo, quem não se lembra de seus planos para Londres?  Defensor do  meio  ambiente é  proprietário de uma fazenda de produção orgânica. na Inglaterra.  Suas preferências musicais e passatempos como a pintura de aquarelas estão acessíveis em jornais e sítios da  internet a qualquer pessoa com telefone celular.  

Tamanha exposição levou milhares de pessoas a especular sobre o futuro da monarquia inglesa.  A família real, que dizem ser tão conservadora, tão fora de seu tempo, foi, na verdade, se transformando, deixando o mundo exterior invadir sua privacidade,  mas não tão rápido quanto as redes sociais o desejavam.  A família real se rendeu ao momento na velocidade que considerou própria para sua sobrevivência. A modernização expôs a casa de Windsor ao público mundial.  Com isso, muitos se acharam no direito de opinar sobre Charles III: deveria ou não ser coroado?  Deveria ou não abdicar?  Foi a familiaridade  com essa nobreza que deu a todos a errônea percepção de que poderíamos afetar o desenrolar da sucessão real.  E a família real faria isso por que?   A família real vive de ser família real, não vai se auto consumir.

Fotografia oficial de Charles III, anterior ao dia da coroação.

Mas foi esta mesma exposição ao mundo, que nos presenteou no início do mês com a cerimônia da coroação de Charles III.  Presenteados.  Porque tivemos a oportunidade de observar em tempo real, sem edição e sem cortes, um momento histórico monumental.  Pudemos até refletir sobre história, sistemas políticos, liturgia e simbologia do poder, enquanto examinávamos o processo da coroação. 

Testemunhar o momento, observar o ritual que eu desconhecia, me emocionou. Não esperava.  Naquele sábado, acordei cedo.  Tomei café com torradas assistindo desde o início a cobertura. Pulei canais, dos brasileiros aos americanos, mas preferi no  final a transmissão da BBC e,  boquiaberta, vi se desenrolarem aos meus olhos algumas cenas que só conhecia de descrições históricas, de pinturas; dos manuscritos iluminados às grandes telas celebratórias dessas ocasiões.  Para mim, a mais rica em detalhes que certamente não são realistas é a tela da coroação de Maria de Médici de Pieter Paul Rubens, que pertence à série de pinturas monumentais em sala própria do Museu do Louvre.

Coroação de Maria de Médici, 1622-25

[Ciclo da vida de  Maria de Médici]

Peter Paul Rubens (Antuérpia 1577-1640)

óleo sobre tela, 20 das 24 telas medem 394 x 295 cm

Museu do Louvre

 

Pinturas de coroações tinham a intenção  de mostrar a autoridade do novo rei, sua proteção pelo poder divino e o direito de ser rei que lhe era confiado nesta ocasião.  Não  temos pinturas de coroações até o século XV.  E assim mesmo, o que nos resta, é uma cena fabricada pela imaginação fértil de um retratista –pintor contratado para oferecer uma obra que engrandeça o monarca ou a corte que o contratou.  Então, tudo é especulativo e a grandeza do evento provavelmente bastante aumentada.  Quase o mesmo acontece com o que sabemos por texto, ainda que neste caso haja sempre um ou outro escritor que não tenha sido pago para descrever a ocasião.

O que me emocionou ao ver a coroação de Charles III foi a conexão com o passado; o cuidado de manterem tradições centenárias, milenares, como a esfera na mão dele, culminada pela cruz, que dividida em três representa os três continentes conhecidos na Idade Média, quando este símbolo foi introduzido: Europa, África e Ásia. O robe de cor púrpura, usado por baixo do manto dourado: púrpura, a cor da monarquia desde os tempos romanos, favorecido principalmente no império bizantino.  A leitura de textos específicos do Velho Testamento, que através dos séculos foram lidos nessas ocasiões.  Essa continuidade da forma, essa linha imaginária do tempo se desenrolando aos nossos olhos, como se pudéssemos voltar atrás por segundos;  esse resgate é emocionante.  O elo com o passado, ainda vivo, que une toda cultura ocidental, foi quase palpável e para muitos que, como eu, se perdem no estudo da história comovente.  Graças ao desenvolvimento das comunicações tivemos um privilégio: o levantar de um véu que encobre o passado, nos deram as ferramentas para imaginar como teriam sido as coroações do reis, nas grandes cortes, não só a inglesa, em diversas épocas da história ocidental.

Não importa se somos ou não a favor da monarquia, na Inglaterra, no Japão, ou em qualquer outro lugar.  A decisão do tipo de governo que os países têm pertence unicamente aos cidadãos daquele lugar.  Não é para nós decidirmos.  Mas que nos foi oferecida a visão, mesmo que apenas uma nesga do passado, isso foi.  E por isso fiquei agradecida.





Curiosidade literária

3 04 2023

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O britânico George Gordon Byron (1788-1824), 6.º Barão Byron, ou Lord Byron, foi um dos mais influentes poetas ingleses.  Além de sua associação ao romantismo, ganhou fama no folclores literário por suas múltiplas aventuras amorosas: aparentemente ninguém conseguia escapar de seus encantos. A primeira obra que o fez centro de atenções e ilibações literárias foi publicada em 1812, com o título  Childe Harrod’s Pilgrimage [Peregrinação de  Childe Harrod].  Nela Byron descreve, em poesia, a longa viagem que fez por países europeus e do Oriente Médio. A fama veio súbita, logo após a publicação só dos dois primeiros cantos.  O sucesso foi tão rápido e completo que há registro de Byron ter exclamado  “I awoke one morning and found myself famous” [Acordei uma manhã e me encontrei famoso] acentuando sua conhecida imodéstia.  No entanto, além das escapadas amorosas e das publicações que agradaram ao público e à crítica, Byron cultivou a peculiaridade de viajar sempre, e viajou muito, com algumas dezenas de animais.  Um exemplo, foi a viagem que fez a Veneza, quando levou dez cavalos, três macacos, três pavões, oito cachorros, cinco gatos, uma cegonha, um falcão, uma águia e um corvo. 





Flores para um sábado perfeito!

5 05 2018

 

 

 

DOMINGOS GEMELLI (1903 - 1985) - Natureza Morta com Vaso de Flores, OST, 45 x 55cm.Natureza Morta com Vaso de Flores

Domingos Gemelli (Brasil, 1903 – 1985)

óleo sobre tela, 45 x 55cm.





Curso de História da Arte Brasileira — amigos paulistas, não percam!

16 01 2014

arte, exposição, donald, margarida, galeria, crítico, museu,Margarida e Pato Donald vão à galeria de arte, ilustração de Walt Disney.

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Estão abertas as inscrições para o curso de história da arte da Pinacoteca. Aulas de 15 de março a 14 de junho com Giancarlo Hannud, curador da Pinacoteca.

Inscrições abertas: http://pinacoteca.org.br/

Se a Peregrina morasse em São Paulo, não pensaria duas vezes, se inscreveria.  Ótima oportunidade a um preço MUITO BOM!




O carnaval carioca, texto de Gastão Cruls

18 02 2012

Carruagens perfiladas na Batalha de Confete do Carnaval de 1907,  organizada pelo jornal Gazeta de Notícias, na  Avenida Beira-Mar, Rio de Janeiro.  Foto sem indicação de autor, Revista Kósmos, fevereiro de 1907.

Carnaval

Gastão Cruls

Embora o entrudo seja da mais remota tradição portuguesa, o carnaval com mascarada de rosto encoberto ou fantasias grotescas ou vistosas, só o tivemos aqui em meados do século passado. [século XIX] O entrudo teria sido trazido dos Açores e outras ilhas, onde essa brincadeira era de hábito, e certamente fora presenciada pelos navegantes que demandavam às Índias.  Apesar de tudo, ainda que tolerado, não era abertamente permitido, e uma vez ou outra lá apareciam alvarás e avisos, condenando-o. Não obstante, praticou-se sempre, a baldes d’água e esguichos, com limões de cera e bisnagas de estanho, e até os nossos imperadores dele gostavam muito.  D. Pedro II, na meninice, jogou-o bastante na Quinta, entre as irmãs e pessoas amigas.

Contra o carnaval, porém, com máscaras e disfarces, muito mais rigorosas eram as autoridades. Ordenações frequentes culminavam castigos severos e multas pesadas aos infratores das suas disposições. Em 1685, o governador Duarte Teixeira Chaves publicava um bando contra os que fossem encontrados emascarados e pela qual se ameaçavam os brancos de degredo na nova colônia do Sacramento e os pretos e mulatos de surra pública de chicote.

Carnaval na Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco no centro da cidade do Rio de Janeiro, 1907.  Sem autoria, em: Kósmos, revista artística, científica e literária, Ano IV, número 2, Fevereiro de 1907, Rio de Janeiro.

Mas o desenvolvimento da metrópole e os hábitos europeus para aqui transplantados no Oitocentos, foram amainando, pouco a pouco, os dispositivos draconianos a esse respeito.   Assim, em 1846, por iniciativa da atriz Clara del Mastro, pode realizar-se, no Teatro S. Januário,  o primeiro baile à fantasia. Sucederam-se outros, como aqueles promovidos pela colônia francesa e por algumas sociedades privadas. Houve também um que inaugurou o Teatro Provisório, em 1852.  Incitando essas festas, alguns anos depois o Alcazar Lyric instituía um valioso prêmio para a modista que fizesse a fantasia mais bonita e original.  E nesse gênero de confecções muito se distinguiu a francesa a Mme Nioby, estabelecida à rua do Ouvidor.

Mais ou menos pelo mesmo tempo, apareceram os primeiros préstitos carnavalescos. Sociedades já existentes, mas que até ali se divertiam de portas pra dentro, resolveram, nos dias consagrados a Momo, trazer para a rua a sua alegria, organizando passeatas com guarda de honra e carros enfeitados. Iniciou-as a que se chamava Sumidades Carnavalescas, que, aliás, reunia a melhor gente. Em 1855, a convite de José de Alencar, Pinheiro Guimarães, Manuel Antônio de Almeida, e outros que dela participavam, D. Pedro II desceu especialmente de S. Cristóvão para assistir-lhe a passagem, das janelas do paço da cidade.  O triunfo alcançado pelas sumidades fomentou novas ambições e sucessivamente foram surgindo e também morrendo, a União Veneziana, os Zuavos, o Congresso das Damas e a Boêmia, precursores das nossas Democráticos, Fenianos e Tenentes do Diabo.

Ilustração, Revista Kosmos, 1907, sem indicação de autor.

Edouard Manet, o grande pintor francês, mas então um modesto rapazinho que em curso de marinhagem em 1849, a bordo do navio escola Hâvre e Guadaloupe, passou algumas semanas entre nós, em carta à mãe, transmite as suas impressões do carnaval no Rio.  Fala nas brasileiras que se postavam à porta ou à janela de suas casas para atirarem nos transeuntes “bombas de cera de todas cores, cheias d’água, e que aqui chamam limons”.  Ele mesmo tomou parte na brincadeira.  Vítima de vários ataques, viu-se na obrigação de revidá-los e, ao fim da tarde, também distribuía limões para um lado e outro. Participou ainda de um baile à fantasia, que lhe lembrou os da Ópera, de Paris.

O carnaval, festa tão de gosto do carioca e durante a qual tanto se expandia a alma coletiva da cidade – falo no passado porque, de uns anos para cá, por uma série de motivos, é patente o seu declínio, pelo menos como manifestação popular –, o carnaval dizemos nós, também sofre os caprichos da moda.  Das fantasia que fizeram época e que pululavam nas nossas ruas durante os três dias de folia, hoje ninguém mais fala.  É verdade que algumas foram condenadas pela polícia.  Outras, porém, morreram de morte natural.  Se temos os diabinhos, os burros-doutores, o Pai-João, o Velho, o Morcego, a Morte, o Princês, o Mandarim e o Rajá.  Os dominós, já não tinham razão de ser, depois que foi vedado o uso das máscaras.  Índios também rarearam, pelo menos aqueles de apito à boca e penas de espanador à cintura, que faziam letras na frente dos cordões. Em compensação a cidade encheu-se de apaches e gigoletes, pierrôs e colombinas, de malandros e de baianas, e muito homem se meteu em saias e muita mulher enfiou calça.

Foto: www.muraldenoticias.com.br

Desapareceram os cri-cris e as línguas-de-sogra substituídos pelo reco-reco e a cuíca. O jorro frouxo da bisnaga de cheiro recuou diante do jato fino do lança-perfume, — aquele lança-perfume que no dizer rebuscado de Alberto Faria, o das Aérides, é “etérea língua de Áspide Aromal, a por subtâneos arrepios no colo de sedutoras Cleópatras ou de castas Lindóias”.

O Zé-Pereira já não azucrina mais ou ouvidos de ninguém.  Abafaram-no as marchinhas e os sambas.  Segundo Vieira Fazenda, que ainda o conheceu, quem primeiro trouxe para a rua, em grande algazarra, o zabumba dos bombos e o rufo dos tambores, foi um sapateiro português, que tinha oficina na rua S. José e era um folião de marca.

O nome Zé-Pereira explicar-se-ia de dois modos: ou porque o bombo assim designassem em Portugal; ou porque houvessem alterado de Nogueira para Pereira um dos nomes do inventor.  O homem chamava-se José Nogueira de Azevedo.

Ângelo Agostini, O entrudo, rua do Ouvidor, 1884 [DETALHE]

Até os préstitos das sociedades carnavalescas também muito perderam do seu prestígio. Onde aquelas tardes triunfais de terça-feira gorda em que o sonido ainda apagado dos clarins ou um vago clarão de fogos de bengala ao longe anunciavam a entrada na rua do Ouvidor ou na rua Uruguaiana da fantasmagoria ofuscante que era a passagem dos Democráticos ou dos Tenentes? Sumiram-se, por completo, os carros de crítica.  Provavelmente porque governos perfeitos demais, já não dão motivo a censuras.  Até os carros alegóricos perderam aquele fascínio antigo, quando aos olhos do populacho eram como páramos encantados e jardins edênicos. Templos gregos e pagodes chineses. Divindades olímpicas e sereias do reino de Anfitrite.  Árvore vergando ao peso de mulheres quase nuas.  Rosas que se abriam para mostrar borboletas de peito farto e coxas roliças.  Ninfas bem afrescata que fugiam ao abraço de algum fauno. Bacantes de carnadura provocante equilibradas na borda de uma taça…  Para todas essas criaturas, tiradas quase sempre ao meretrício barato, esse dia do desfile era um dia de glória, o dia da consagração definitiva.  E havia razão para isto.  Ao Zé-povinho que se extasiava à beira das calçadas, dando-lhes palmas em troca dos beijos que elas distribuíam para um lado e outro, todas se afigurariam beldades alucinantes ou huris de um paraíso inaccessível.

Não suponha o leitor que, elogiando esses préstitos de antanho, lhes emprestemos qualquer qualidade artística ou mera manifestação de bom gosto. Longe disso.  Oxalá pudéssemos ter tido aqui alguns carnavais da Florença dos Médicis, quando o próprio Lourenço o Magnífico trabalhava o verso das canções populares e artistas como Andrea del Sarto e Cronaca se encarregavam de planejar os arcos triunfais e modelar a máscara dos foliões. A passeata das nossas Sociedades perdeu muito do seu esplendor fictício – mas ainda assim esplendor – porque outra é a cidade de ruas largas e claras, à noite sob a fulguração dos anúncios a gás neon, e outra é a mentalidade de sua população, agora de olhos permanentemente abertos para o grande mundo, através das visões cinematográficas.

Em: A aparência do Rio de Janeiro, Gastão Cruls, Rio de Janeiro, José Olympio: 1949 [Coleção Documentos Brasileiros], volume 2.pp. 405-410.





Um show de equilíbrio para um domingo de descanso.

9 10 2011







A música dos anjos na Candelária

7 08 2011

Orquestra para Violoncelos e Contrabaixos de Volta Redonda, concerto na Igreja da Candelária no Rio de Janeiro.

Hoje, arcanjos cantaram na Candelária e foram acompanhados por uma notável orquestra de violoncelos e contrabaixos.  Experiência única: ouvirmos o contraste de vozes  humanas acariciadas pelos sons de uma orquestra tão singular.   Não sou novata.  Este não é entusiasmo de quem ouve um concerto pela primeira vez.  Mas música dos anjos foi a maneira encontrei para descrever a emoção suscitada em mim e na platéia à minha volta quando da apresentação da Orquestra para Violoncelos e Contrabaixos de Volta Redonda sob a direção da maestrina Sarah Higino.   Não foram poucos os olhos marejados ao final do programa, cuja apresentação fez parte da 17ª edição do Rio International Cello Encounter, um evento que reúne alguns dos maiores violoncelistas do mundo.

A Orquestra para Violoncelos e Contrabaixos de Volta Redonda faz parte do projeto “Volta Redonda Cidade da Música”, criado pelo maestro Nicolau Martins de Oliveira  e mantido pela prefeitura.  Ele envolve cerca de 4.000 alunos das escolas municipais da cidade.   Se você ainda não conhece esta orquestra, precisa fazê-lo.  Aproveite as diversas apresentações desses músicos no estado.  Oportunidades existem aqui no Rio de Janeiro, assim como em outras localidades.  Decida ir.  Você não se arrependerá.

Deixo aqui abaixo o único vídeo da Orquestra de Cordas de Volta Redonda que inclui os 50 membros da orquestra de violoncelos e contrabaixos.  Foi o único vídeo que encontrei na rede.  Não apresenta os números do concerto da tarde de hoje, mas mostra a excelência de execução desses jovens integrantes.






Uma lembrança do “Turismo no Rio de Janeiro”

6 07 2011



A exposição Turismo no Rio de Janeiro, que está no Espaço Cultural Fundação Getúlio Vargas, no centro da cidade, oferece uma vista d’olhos interessante sobre pontos turistícos da cidade vistos através de fotos antigas de cartões postais;  além de mostrar também o que os brasileiros, os cariocas em particular, ofereceram através do século XX como lembranças de viagem aos turistas que aqui chegaram.

As fotos de hoteis que já não existem, de pontos turísticos como a antiga praia de  Santa Luzia, são parte da interessante documentação reunida ali.   Mapas, fotos mostram como o Rio de Janeiro mudou a visão de si mesmo com a chegada da primeira excursão turística à cidade, em 1907. Os empresários cariocas com um olho nos eventos esportivos da cidade que estão dando um novo ímpeto ao Rio de Janeiro não deveriam deixar de ver a mostra dos objetos considerados lembranças da cidade.  Não só para terem uma noção do que já foi feito, como para verem o que não fazer, e também para melhorar as nossas lembranças, que comparadas com outras de outros locais do mundo da mesma época, deixam a desejar.

Mementos do Rio de Janeiro antigo: Bandeja com paisagem de asas de borboletas, prato com araras, piranha.

Lembranças turísticas: caneca e prato com imagem do Pão de Açucar, luva de cozinha, miniatura do Corcovado e do Maracanã.

Há algumas perguntas que não calam quando vemos a exposição, aqui ficam:

1 – É assim que gostaríamos de sermos lembrados lá fora?  Como queremos ser lembrados?

2 – Estamos perpetuando para o exterior a imagem que o exterior tem de nós?   Exoticismo tropical?

3 – Não haveria algum outro “Recuerdo de Rio de Janeiro” mais sofisticado mais condinzente com a nossa criatividade?

É hora de nos concientizarmos que turismo é uma indústria que traz grande benefício socio econômico, e que os turistas que aqui chegam devem estar interessados em mais do que lembranças artesanais, de pessoas bem intencionadas mas que não conseguem imaginar que pode-se sim, ter lembranças turísticas de alto valor monetário e muito mais sofisticadas.  Até mesmo as reproduções de alguns de nossos monumentos poderiam ser feitas em materiais de melhor qualidade.  Há também que nos lembrar que temos esculturas, pinturas nos nossos museus que não deixam nada a desejar quando comparados com trabalhos feitos fora do Brasil.  Por que eu posso ir à França e trazer uma bela cópia da Vênus de Samotracia, que está no Louvre e não consigo levar para um amigo no exterior uma bela cópia de um trabalho de arte brasileiro do século XIX, por exemplo?  Por que posso mandar um postal da Monalisa para o Brasil quando visito Paris e não posso mandar um postal da Fuga para o Egito de José Ferraz de Almeida Júnior que está no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro?   É assim que se faria a divulgação da cultura brasileira, no “boca a boca”…, no cartão postal de alguém que se apaixona por uma obra que viu no Brasil, de artista brasileiro.  Uma propaganda sobre o Rio de Janeiro e sobre o Brasil, quase gratuita.

Será que só queremos mesmo ser lembrados pelo Carnaval?

Boa documentação sobre um assunto que está em pauta.   Interessantíssimo!

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SERVIÇO

Centro Cultural da Fundação Getúlio Vargas

Rua da Candelária 6, Centro

Rio de Janeiro

Até 23 de julho de 2011

Entrada Gratuita

Horário:  de 2ª a 6ª feira  8 – 22 horas

Sábados: 9 – 18 horas





Impressões sobre a festa, na Bahia, no aniversário do Imperador D. Pedro II, 1855

4 01 2011

Mural no Teatro João Caetano, 1931

[restaurado e modificado pelo próprio autor em 1964]

Emiliano Di Cavalcanti ( Brasil, 1897-1976)

óleo, 4,5m x 5,5m

Praça Tiradentes,  Rio de Janeiro

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Hoje, perambulando pelos meus livros voltei a ler algumas passagens de viajantes pelo Brasil ( uma das minhas leituras prediletas, assim como biografias) e me deparei com essa interessante descrição da festa de aniversário do Imperador D. Pedro II, celebrada na Bahia.  O texto é do Dr. Daniel P.  Kidder, que estava na Bahia na ocasião.  Ele e seu amigo James C. Fletcher escreveram O Brasil e os Brasileiros: esboço histórico e descritivo, que foi pubicado no Brasil em São Paulo, em 1941, pela Cia Editora Nacional com tradução de Elias Dolianiti.  A minha fonte, no entanto, é o livro  Coqueiros e Chapadões: Sergipe e Bahia, uma coletânea de textos  feita por Ernani Silva Bruno, com organização de Diaulas Riedel, publicado em 1959 peloa Editora Cultrix de São Paulo, capítulo de narrativa do Reverendo  norte-americano James C. Fletcher, que esteve percorrendo o Brasil como missionário,  entre os anos de 1851 e 1865.  O título dado a este texto é Ladeiras e Igrejas ( Na Bahia de Todos os Santos, 1855).  Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.  A meu ver já se esboçavam muito bem algumas características bem brasileiras.  Numa época em que as mulheres ainda se vestiam com pesadas mantilhas, a festa de aniversário do imperador parece uma ocasião sem igual para abrir uma brecha nas pesadas regras sociais da época.  Note-se a mistura de raças e de classes sociais assim como a música como traço de união entre os brasileiros. 

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“A calma das noites de verão produz sempre um encantamento sobre os nossos sentidos, mas havia uma expressão especial naquele espetáculo.  Não somente o observar se podia deleitar com as variadas e engenhosas exibições de luz artificial em torno dele, como também, erguendo seus olhos para o empírio, podia aí contemplar a obra do Todo Poderoso, tão gloriosamente desdobrado nas brilhantes constelações do céu austral.

A riqueza, o luxo e a beleza das baianas nunca se ostentaram com tanta felicidade como no seio da multidão que formada de milhares de pessoas assistia e tomava parte no espetáculo.  Que melhor ocasião se ofereceria do que aquela para um espírito disposto a filosofar sobre as coisas humanas!  Da velhice até a alegre juventude, nenhuma idade ou situação da vida deixava de estar ali representada.

O militar e o civil, o titular, o milionário e o escravo, todos se misturavam em um prazer comum.  Nunca tão numerosa freqüência de elementos femininos havia sido observada, emprestando sua graça a uma festividade pública.  Mães, filhas, esposas, irmãs, que raramente tinham permissão para deixar o ambiente doméstico, exceto para comparecer à missa da manhã, penduravam-se aos braços de seus cavalheiros e olhavam com indisfarçável espanto para os encantos que mais pareciam mágica, de tudo o que viam diante de seus olhos e em volta de si.  As cabeleiras negras e ondeantes, os olhos mais negros ainda e faiscantes, de uma beldade brasileira, juntamente com sua face às vezes também levemente sombreada, mostravam-se com grande encanto, tanto maior porque não as escondiam as abas do chapéu da moda.  As dobras graciosas de suas mantilhas, ou do rico e finíssimo véu que algumas vezes as substitui, usado de maneira indescritível, por cima do largo, alto e artístico chapéu que lhe adorna a cabeça, dificilmente pode ser imitado por uma moda estrangeira.  Todavia, o forte de uma dama brasileira está no seu violão, e nas doces modinhas que ela canta acompanhando-lhe as notas.”

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