Moça de amarelo, 1936
Hilda Campofiorito (Brasil, 1901-1997)
óleo sobre tela
Museu Nacional de Belas Artes, RJ
Foi com grande choque que li esta semana a sinopse do livro Nana, de Émile Zola, publicado pela Editora Civilização Brasileira, nos dias de hoje parte do grupo Grupo Editorial Record, publicado em 2013, com tradução de Marcela Vieira. ISBN: 978-85-200-1121-8
Nana é um clássico da literatura francesa, uma das grandes obras do escritor Émile Zola. Esta obra não merece a sinopse escrita e publicada no site da editora, que reproduzo aqui, abaixo. É um desserviço aos leitores brasileiros e foge à minha capacidade de compreensão como uma editora de peso no Brasil deixa passar essa descrição. Os grifos são meus.
“Sinopse
Naná é um dos romances mais conhecidos de Émile Zola. A personagem-título é a primeira periguete dos palcos, a grande vagabunda que alcança o maior sucesso na ribalta social, apesar de – ou talvez justamente por – ser desprovida de qualquer talento artístico. Filha de pai alcoólatra e de uma lavadeira, Naná é uma atriz de teatro medíocre, mas com um corpo de Vênus e uma sexualidade à flor da pele. É o tipo perfeito da prostituta de luxo, uma cortesã da alta sociedade francesa dos tempos do Segundo Império que enriquece à custa do comércio carnal.”
A intenção dessa descrição é uma das coisas que não consigo entender. Quem aprovou isso? Era empregado pago pela editora? Porque evidentemente não sabia o que estava fazendo. Teve a aprovação de quem? E por quê? Coloco abaixo duas outras sinopses do mesmo livro que, estando em domínio público, tem um maior número de edições.
Sinopse da Editora Nova Cultural, livro publicado em 2011:
“Integrante de um ciclo de vinte romances, Naná descreve a trajetória da filha de uma lavadeira que, corrompida na adolescência, transforma-se na mais poderosa cortesã do Segundo Império francês. Escrito em 1880, provavelmente este seja o romance mais popular de Émile Zola, e um dos perfis de mulher mais explorados pelo cinema e pela literatura.”
Sinopse da editora LEBOOKS, aqui abaixo:
“Naná é um romance escrito pelo autor naturalista francês, Émile Zola. Finalizado em 1880, Naná é o nono volume da série: “Os Rougon-Macquart” (Les Rougon-Macquart), cujo objetivo era descrever a “História Natural e Social de uma Família sob o Segundo Império”. Naná, a protagonista título, pode ser considerada uma das primeiras vilãs da literatura, bem como a primeira “Femme Fatale”. Medíocre artista de teatro, mas com um corpo de Vênus e uma sexualidade desequilibrada e vulcânica, ela torna-se o tipo perfeito da prostituta de luxo, uma cortesã da sociedade francesa. Naná é um clássico da literatura e presença constante nas listas das melhores obras literárias, como é caso da famosa coletânea: “1001 Livros para ler antes de morrer”
E para contrastar, a sinopse da Editora Bertrand de Portugal, selo Relógio d’Água, edição de 2019
“Nana é um dos principais romances de Émile Zola. Nascida no meio operário, filha de um pai alcoólico e de uma lavadeira, Nana precisa de dinheiro para criar o filho que teve aos dezasseis anos de um pai desconhecido. Medíocre artista de teatro, prostitui-se para compor o ordenado ao fim do mês. A sua ascensão social começa com o papel de Vénus, que vai interpretar num teatro parisiense. Não sabe cantar, mas as suas roupas impudicas e a sexualidade intensa atraem os homens e permitem-lhe viver num apartamento luxuoso, onde foi instalada por um rico comerciante de Moscovo.
Nana vai tornar-se um exemplo de prostituta de luxo, da cortesã francesa do Segundo Império. Alcança a riqueza, afirma-se nos meios da aristocracia e da finança, reinando no seu palacete da avenida de Villiers, assumindo a mais completa liberdade entre móveis de laca branca e perfumes perturbadores. É assim que Nana dissipa heranças e mergulha famílias no desespero, exercendo o seu poder sobre os homens, desferindo golpes devastadores numa sociedade corrupta que despreza e de que acabará por ser vítima.”
Definitivamente estão trabalhando contra a cultura no Brasil. Quando comparo as sinopse, sinto vergonha do descaso do Grupo Editorial Record para com leitores brasileiros. Que vergonha”
© Ladyce West, Rio de Janeiro, 2023