O Brasil, poema de Renato Sêneca Fleury, para o dia da Pátria

2 09 2009

José Pancetti, Igreja de Santo Antonio da Barra, 1951, ost, 60 x 73 cm MNBAIgreja de Santo Antônio da Barra, 1951

José Pancetti ( Brasil, 1902-1958)

Óleo sobre tela,  60 x 73 cm

Museu Nacional de Belas Artes,  Rio de Janeiro

 

 

O BRASIL

 

                                  Renato Sêneca Fleury

 

 

Perguntei ao céu tão lindo,

— Por que é todo cor de anil?

Ele me disse, sorrindo:

— Eu sou o céu do Brasil!

 

Perguntei ao Sol, então,

A causa de tanta luz.

— Sou a glorificação

Da Terra de Santa Cruz!

 

Depois perguntei à Lua:

— Por que noites de luar?

— É para enfeitar a tua

Grande Pátria à beira-mar.

 

Perguntei às claras fontes:

— Por que correis sem cessar?

— Nós brotamos destes montes

Para a terra fecundar!

 

Então eu disse à floresta:

— És tão bela, verde inteira!

Ela respondeu em festa:

— Sou a mata brasileira!

 

Perguntei depois às aves:

— Por que estais a cantar?

— Cantamos canções suaves

Para tua Pátria saudar.

 

Céu e sol, luar e cantos,

Florestas e fontes mil

Enchem de eternos encantos

És minha Pátria, — o Brasil!

 

 

 

 

Renato Sêneca de Sá Fleury ( SP 1895- SP 1980) Pseudônimo: R. S. Fleury, ensaísta, pedagogo, escritor de Literatura Infantil, professor, professor catedrático de Pedagogia e Psicologia, jornalista, membro da Academia de Ciências e Letras de São Paulo, membro fundador do Centro Sorocabano de Letras.

 

 

Obras:

 

Anchieta    

Ao Passo das Caravanas    

Barão do Rio Branco,  1947  

Contos e Lendas Orientais  1941  

Francisco Adolfo de Varnhagen  1952  

História do Pai João  1939  

José Bonifácio    

Osvaldo Cruz    

Rui Barbosa

Almirante Tamandaré

Santos Dumont

A Vingança do João de Barro/ A Jóia Encantada/ Quem faz o Bem

Ao Passo das Caravanas

As Amoras de Ouro

Breves Histórias Orientais

Cálculo Escolar, 1945

Como é bom trabalhar!

Consultor Popular da Língua Portuguesa

Contos e lendas do deserto

Contos e lendas orientais

Correspondência para todos, 1944

D. Pedro II, 1967

Duque de Caxias,

Emendas à gramática

Gusmão, o padre voador, 1957

Heroínas e mártires brasileiras

História do Corcundinha

Histórias de Bichos, 1940

No reino dos bichos, 1940

O caminho de ouro, 1957

O esposo, a esposa, os filhos

O Padre Feijó

O Padre Gusmão

O Pássaro de ouro

O Pequeno polegar

Os vasos de ouro e as rosas do dragão

Proezas na roça

Prudente de Morais

Visconde de Mauá

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Giuseppe Gianinni Pancetti (Campinas SP 1902 – Rio de Janeiro RJ 1958). Pintor. Muda-se para a Itália em 1913. Em 1919, ingressa na Marinha Mercante italiana e viaja por três meses pelo Mediterrâneo. Em 1920, de volta para o Brasil, executa diversos ofícios; trabalhando em fábrica de tecidos, como ourives e garçom, entre outros. Conhece o pintor Adolfo Fonzari (1880-1959) e auxilia-o na pintura decorativa de uma residência. Em 1922, alista-se na Marinha de Guerra brasileira, onde trabalha por mais de vinte anos. Em 1933 ingressa no Núcleo Bernardelli e recebe orientação de Manoel Santiago (1897-1987), Edson Motta (1910-1981), Rescála (1910-1986) e principalmente do pintor polonês Bruno Lechowski (1887-1941). Participa das exposições do Salão Nacional de Belas Artes, sendo premiado em várias edições. É considerado um dos principais pintores de marinhas do país.
Fonte: Itaú Cultural





Cartas de viagens: Espanha II

2 09 2009

ampurias 6Ampúrias, Costa Brava, Catalunha, Espanha.

 

Barcelona, outubro de 19…

 Meus queridos:

 Nosso amigo Juan vivia me dizendo que eu não poderia dizer que conhecia a Espanha se não conhecesse bem Barcelona.  É claro, eu pensava, ele é catalão!  Mas estava certo!

A nossa entrada na Espanha dessa vez foi tão grandiosa quanto o país merecia, porque viemos da França, seguindo o mar, passando através das montanhas mais baixas dos Pireneus (ainda assim altíssimas).  A costa por lá é muito alta, montanhosa, mas há pequenas praias, lá embaixo, escondidas atrás das rochas escarpadas.

A nossa primeira parada foi em Ampúrias. Essa é uma cidade com ruínas gregas e romanas e um magnífico panorama do Mediterrâneo.  Há chãos de mosaicos muito bonitos além de um pequeno museu com tesouros encontrados durante as escavações. Ampúrias mostra como os antigos, tanto gregos quanto romanos, sabiam escolher a localização de suas cidades.  Sempre que possível eram localizadas nas baías mais bonitas, nas pequenas enseadas.   Em Ampúrias, os romanos se estabeleceram num lugar um pouco mais acima [em altura] do que os gregos, desta maneira tinham uma vista magnífica da praia, do mar: estabeleceram-se num anfiteatro natural.   As localizações das cidades romanas, seus delineados, suas ruas e avenidas, seus edifícios de concreto [afinal foram eles que inventaram o concreto] seu uso de águas e seu tratamento de esgotos, suas fontes e também seus banhos, fazem sempre com que suas ruínas atinjam, mais do que quaisquer outras, o homem moderno.  A gente entende a cidade.  Entende o modo de pensar.  Porque seu traçado e suas prioridades ainda são as mesmas que temos hoje.  Ampúrias é assim.  Lembrou-me Tipaza, as ruínas de Tipaza, na Argélia, que visitei há alguns anos, que ainda considero superiores. Aquelas me levaram às lágrimas, muitas delas, por sua beleza.   Mas isso é outra história…

 tossa del mar, costa-brava

Tossa del Mar,  Costa Brava, Catalunha, Espanha.

 

Mais adiante, paramos aqui e ali nas praias de pescadores, nas baías turísticas, indo do extremo dos miradores das montanhas sobre o mar, ao nível baixíssimo de praias pequeninas, de menos de um quilômetro de extensão, cercadas de penhascos ou, às vezes, como em Tossa del Mar, protegidas por castelo e muralha.  

Se a gente não conhecesse nada da história da Espanha até chegar a Barcelona, teríamos já aprendido pelo menos as grandes lições dos gregos aos dias de hoje, tão grande é o número de pequeninos vilarejos, aldeias ou cidades mesmo, que têm isso ou aquilo:  uma igreja, um palácio, ruínas romanas, ruínas gregas, visigóticas e daí por diante.  Pode-se sem exagero passar três a quatro semanas nesta área chamada Costa Brava e não se lamentar.  Há sempre o que ver, o que descobrir, além da excelente comida…  Aos poucos, também, vamos nos acostumando ao catalão.  Para brasileiros é fácil, principalmente para o brasileiro que lê e entende o francês.  Pelo menos dá para adivinhar corretamente a língua escrita.  Mas a falada, é outra história.

Beijinhos a todos e saudades,  L.