Não sou dada a filmes violentos. Em geral nem me atrevo a ir ver algum filme que tenha fama de violento. Gesto Obsceno, que trata da violência, é um filme que assisti com muito prazer, sem ficar arrepiada. É um filme muito, muito bom, em que a violência mostrada, não é nem maior nem menor do que a que sofremos no dia a dia de qualquer grande cidade, considerando as diferenças culturais de cada país.
Esta é uma história sobre a violência, sobre o ser humano. É um thriller, que me deixou na beira da poltrona, tensa, e desejosa de vingança. Talvez, este filme tenha sido até mais potente na sua mensagem sobre a violência a que nós todos nos acostumamos, porque retrata pessoas como a audiência, pessoas comuns. Se não é um retrato de nossa família, são certamente pessoas parecidíssimas com as que conhecemos. Gente que trabalha, frustrada com o trabalho, com a vida, limitada por dinheiro e por espaço para viver, com seus pequenos rituais de prazer e grandes frustrações familiares e burocráticas.
O enredo é extremamente simples: um casal arrumando algumas compras no carro, congestiona o trânsito. Atrás, um outro carro espera. Impaciente, o motorista reclama e buzina muito. A mulher perde a paciência com o motorista reclamão e faz um gesto obsceno. Furioso ele avança, quase a atropela e arranca a porta do carro, que estava aberta, para o meio da rua. Daí por diante começa o pesadelo de Michael Klienhouse (Gal Zaid), o marido. Ele, que havia deixado de trabalhar para escrever um livro, que vivia uma pacata, desesperada, frustrante vida, tem então que procurar o dono do carro infrator para que seu seguro pague pelo estrago.
Inesperadamente, Michael se vê num emaranhado burocrático da polícia. Que por seu turno é semelhante ao emaranhado burocrático em que sua mãe se encontra sobre o espólio do marido. O mundo não faz o menor sentido para ele, nem para sua esposa. Esse homem comum, que até então só armazenava frustrações, começa a tomar decisões que o levam a solucionar problemas por suas próprias mãos.
Há diversos níveis de violência na vida desses cidadãos. Desde a briga entre meninos na escola, até as notícias de ataques suicidas pela televisão, passando é claro – tratando-se de Israel – pelos alarmes de defesa civil, que pontuam a semana em que o Holocausto é lembrado.
A identificação da platéia com Michael cresce à medida que se entende que, por trás dessa aparência de bobão, há um homem muito esperto e capaz. Há também um homem correto, honesto. Um homem que ama seu filho. E também, um homem que, apesar das tentações, mantém-se fiel ao casamento. Enfim, um homem de família, que obedece aos costumes, as tradições. Um tipo que, por aqui, conhecemos bem: o cara que para no sinal vermelho, que paga suas contas, que vive dentro de suas possibilidades e por isso mesmo precisa ser respeitado.
É bom frisar que em nenhum momento há uma apologia da violência, nem um comentário contra a violência. Este é um filme de constatação. E mostra como alguns podem vir a reagir quando submetidos ao seu terror.
E como um bom thriller, o final é catártico. Vale a pena! Não é à toa que este filme ganhou alguns prêmios. Gesto Obsceno levou a Menção Especial e Prêmio da Crítica Festival de Miami 2008, ganhou o prêmio de Melhor Filme Israelense Festival de Haifa 2006 e foi indicado a 5 Prêmios pela Academia de Cinema de Israel, incluindo: Melhor Direção, Ator (Gal Zaid), Atriz (Keren Mor) e Ator Coadjuvante (Asher Tzarfati).
Recomendadíssimo!
FICHA TÉCNICA
Diretor: Tzahi Grad
Elenco: Ya’ackov Ayali, Ania Bukstein, Tal Grushka, Rivka Michaeli, Keren Mor, Asher Tzarfati, Gal Zaid.
Produção: David Cohen, Tzahi Grad, Ijo Shani, Isaac Shani, Gal Zaid
Roteiro: Gal Zaid, Ya’ackov Ayali
Fotografia: Shai Goldman
Duração: 95 min.
Ano: 2006
País: Israel
Gênero: Comédia
Cor: Colorido
Distribuidora: Moviemobz
Classificação: 14 anos