Construção e Destruição de Troia, c. 1406
Mestre Orosius, iluminura para o livro de Santo Agostinho, Cidade de Deus [em francês]; Original em latim; tradução de Raoul de Presles.
The Philip S. Collins Collection
Museu de Arte da Filadélfia, Pensilvânia, Ms. 1945.65.1, fol. 66v.
Há resenhas de livros tão bem feitas e eloquentes que me levam a querer ler imediatamente os volumes comentados. Isso aconteceu quando li o artigo de Eric Cristiansen, Two Cheers for the Middle Ages, desta semana no New York Review of Books. É uma resenha de três novas publicações sobre a Idade Média: The Middle Ages, de Johannes Fried (2015), originalmente publicado em alemão e agora traduzido para o inglês; 1381, The Year of the Peasant’s Revolt de Juliet Barker (2014) e Dark Mirror: The Medieval Origins of Anti-Jewish Iconography, de Sarah Lipton (2014). Os três livros se encontram em edição eletrônica para o Kindle, e os comprei imediatamente para degustação lenta e metódica até o final do ano.
Uso essa postagem nem tanto para falar desses livros, nem tampouco do meu amor pela Idade Média. Muitos de vocês sabem que a minha especialidade em história da arte é Arte Moderna Europeia — da Guerra Austro-Húngara à Segunda Guerra Mundial. Mas se eu fosse voltar aos bancos universitários, hoje, acho que escolheria a Idade Média. Nas últimas décadas me tornei uma amante desse período.
Mas voltando à compra desses livros. Mereceu uma reflexão sobre o livro eletrônico. Há menos de dez anos eu teria lido a resenha acima e, ao final, suspirado de desejo por adquirir os três volumes. Poderia até mesmo escolher um deles para comprar. Mas o meu custo inicial seria tão maior que inviabilizaria a compra dos três títulos. Em papel paga-se mais e o transporte internacional quase dobraria o custo. Em livros ilustrados ou de arte o peso é um grande vilão. E ainda teria que esperar umas seis semanas para sua chegada. Hoje gasto menos, começo a ler imediatamente e não me sinto roubada.
Além disso, depois que voltei a dar aulas, sou capaz de trazer aos meus alunos o que há de mais atual das novas descobertas, das novas teorias. Os alunos também podem começar uma boa biblioteca que levam consigo onde forem, até mesmo para as bibliotecas que frequentam. Fazer pesquisa, comparar notas, achar um texto sublinhado é tão mais fácil que corre-se o risco de não se saber mais fazer pesquisas à moda antiga. É tão mais fácil recolher notas e passagens para comparar uma teoria com a outra, que a imagem daquele pesquisador perdido no tempo, escondido em uma biblioteca, rodeado de fichas organizadas em caixas de papelão, parece, isso sim, coisa da Idade Média. Não há mais como se levar meses e meses à procura de um dado. Além do que, livros especializados, publicados por editoras universitárias, que teriam um público muito pequeno e consequentemente seriam exorbitantes para o consumo privado, fora as bibliotecas universitárias, hoje podem ser adquiridos e mantidos por todos os interessados. Isso sim, é democratização do conhecimento.
Adoro os livros eletrônicos. Tenho um Kindle. Mas leio os textos também no computador, sem qualquer problema. Sim, gosto de sentir o peso de um livro de papel em minhas mãos… mas deixaria de lado essa opção, de bom grado, se tivesse que fazer a escolha entre uma forma e outra. Para mim, o livro eletrônico é um passo muito importante para a difusão de ideias e fatos daquilo que há de mais novo na pesquisa, e isso, por si só, é o bastante para me deixar muito feliz.