O simbolismo dos três presentes — Malba Tahan

6 01 2012

Cartão de Natal, EUA, sem data.

O simbolismo dos três presentes

Eis como o escritor católico, Sr. Ângelo Antônio Dallegrave, descreve a cena memorável:

“Melchior, venerável por sua velhice, ofereceu o ouro, reconhecendo Jesus como seu único Soberano e Senhor; Gaspar que segundo a tradição era o mais jovem, apresentou ao Menino incenso, porque viu na criança o Verbo Eterno que se fez homem e habitou entre nós; Baltasar ofertou-lhe mirra, porque, reconhecendo no Divino Infante, o Eterno, sabia igualmente, que Jesus viera ao Mundo, se fizera homem, nosso irmão pela carne, menos no pecado, para por nós morrer.”

Em torno da figuras tradicionais dos Reis Magos e dos presentes por eles oferecidos ao Menino, tecem os escritores cristãos as mais incríveis fantasias.  Vamos transcrever pequeno trecho do historiador, Sr. Hermes Vieira:

“Representando a cultura máxima do tempo dos Reis Magos, ao presentearem Jesus, deram uma grande lição à Humanidade.  Baltasar, que era preto, e viera da África, ofereceu-lhe a mirra que simbolizava a Mortificação; Gaspar, que tinha os olhos longos e a barba fina como um cavalheiro da Arábia, doou-lhe o incenso, que significava a Oração; e Melchior, que era velho e já possuía uma longa barba cor de neve, deu-lhe o Ouro, traduzindo com este gesto o desprendimento das coisas da Terra.”

Outra referência ao simbolismo das três dádivas encontramos no livro  Os Quatro Evangelhos, do eminente pregador Padre Lincoln Ramos.  Eis o que nos ensina esse sacerdote:

“Entregaram os Magus a Jesus o que mais precioso haviam trazido de sua pátria sem se impressionarem com a pobreza do lugar e das pessoas.  Atribui-se belo simbolismo às três dádivas: pelo ouro homenagearam Jesus como Rei; pelo incenso e pela mirra, reconheceram-no como deus e como homem.  O incenso se oferece a Deus nos altares; com a  mirra — resina aromática — eram embalsamados os cadáveres e purificadas as mortalhas que os envolviam.”

Em: A Estrela dos Reis Magos, Malba Tahan, São Paulo, Saraiva: s/d





As estrelas no céu, versos de Jorge de Lima

24 12 2010

Visita dos Reis Magos ao Menino Jesus, 1965

Djanira da Motta e Silva ( Brasil, 1914-1979)

Guache sobre cartão, 14 x 39 cm

Coleção Particular

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As noites!  Que noites de imenso luar!

Podeis contemplar a Ursa Maior,

A Lira, a Órion, a luz de Altair,

Estrelas cadentes correndo no espaço,

A Estrela dos Magos parada no ar.

Que noites, meninas, de imenso luar!

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Jorge de Lima

Em: Obra completa, Rio de Janeiro, Aguillar: 1958

A liberdade poética é necessária e seu uso torna muitos textos inesquecíveis!   Este é o caso dos versos acima, que acredito muitos de nós, educados no tempo em que se decorava versos na escola, podemos relembrar com carinho.   A imaginação do poeta só aumenta o encanto de uma noite já encantada, como é a noite de Natal.  Ela nos ajuda a imaginar o inimaginável, a admitir o milagroso, o inexplicável.  Apesar de cientificamente esta visão de Jorge de Lima não ser precisa, a sedução de seus versos reflete o nosso encantamento interior com a Noite de Natal.  

Como bem ressaltou Malba Tahan [ A Estrela dos Reis Magos, São Paulo, Saraiva: 1964] ” O saudoso e genial poeta Jorge de Lima, levado pelos arroubos da imaginação colocou a Estrela dos Magos, em certa época do ano, a cintilar imóvel no céu. Parece inútil acrescentar que os versos de Jorge de Lima vão ao arrepio de todos os preceitos ditados pela Astronomia e contrariam aa sábias conclusões dos Evangelhos.”  E complementa numa nota de rodápé:  ” Coloca Jorge de Lima no céu três constelações: A Ursa Maior, a Lira, Órion e a estrela Altair, de primeira grandeza, Alfa da Águia.  O céu luminoso, pontilhado de nebulosas, é cortado e recortado pelos traços luminosos das estrelas cadentes.  E, no meio disso tudo, parada a cintilar, a Estrela dos Reis Magos. O quadro descrito pelo poeta é maravilhoso”.

 

Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares, AL, 23 de abril de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953) foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro.

Obras:

Poesia:

XIV Alexandrinos (1914)

O Mundo do Menino Impossível (1925)

Poemas (1927)

Novos Poemas (1929)

O acendedor de lampiões (1932)

Tempo e Eternidade (1935)

A Túnica Inconsútil (1938)

Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)

Poemas Negros (1947)

Livro de Sonetos (1949)

Obra Poética (1950)

Invenção de Orfeu (1952)

Romance:

O anjo (1934)

Calunga (1935)

A mulher obscura (1939)

Guerra dentro do beco (1950)





Na Inglaterra, livros favoritos dos adolescentes em 2 décadas

18 06 2008

 John Gannam,(EUA 1907-1965) -- aquarela e gouache, anúncio para lençóis.

Recentemente uma amiga me passou uma lista dos livros mais vendidos na Inglaterra nos anos 70 e os mais vendidos — lá também — nos anos 90. Todos só para o público adolescente, ou seja aquele público entre os 12 e 15 anos. Falávamos de um assunto pelo qual batalhamos que é uma maior e melhor formação de leitores no Brasil. E conversávamos sobre as diferenças entre os adolescentes brasileiros e os de outros países.

A lista era a seguinte: [Os títulos estão em português quando houve tradução.]

10 livros mais lidos por leitores de 12 anos de idade em 1971.

Mulherezinhas de Louisa May Alcott
Beleza Negra: autobiografia de um cavalo de Anna Sewell
A ilha do tesouro de Robert Louis Stevenson
O leão, a feiticeira e oguarda-roupa, de CS Lewis ( 1° volume das Crônicas de Nárnia)
Jane Eyre de Charlotte Bronte
Heidi de Johanna Spyri
Oliver Twist de Charles Dickens
The Secret Seven de Ian Serraillier – não achamos a tradução para o português
Tom Sawyer de Mark Twain

10 livros mais lidos por meninas de 12 anos nos anos 90:

Point Horror coleção de vário autores — não achamos a tradução para o português
Sweet Valley de Francine Pascal (série) — não achamos a tradução para o português
Babysitters Club de Ann M Martin — não achamos a tradução para o português
Matilda de Roald Dahl
As bruxas de Roald Dahl
Os pestes de Roald Dahl
A fantástica fábrica de chocolates de Roald Dahl
Adrian Mole na crise da adolescência de Sue Townsend
What Katy Did series de Susan Coolidge — não achamos a tradução para o português

10 livros mais lidos por meninos de 12 anos nos anos 90:
O BFA de Roald Dahl
As bruxas de Roald Dahl
A fantástica fábrica de chocolates de Roald Dahl
Point Horror coleção de vário autores — não achamos a tradução para o português
Adrian Mole ( a série) de Sue Townsend
Astérix ( série) de Rene Goscinny
O parque dos dinossauros de Michael Crichton
Os pestes de Roald Dahl
O Hobbit de JRR Tolkien

Como vemos há pouca diferença entre meninos e meninas nos anos 90. Há uma ligeira prefência pelos livros de ficcção científica e quadrinhos pelos meninos, mas quase insignificante considerando-se que os primerios colocados em ambas as listas são praticamente os mesmos.

Recentemente recebi por email uma lista das séries de livros mais populares na Grã Bretanha no último 10 anos. Elas incluem:

JK Rowling – Harry Potter
Philip Pullman – His Dark Materials
Eoin Colfer – Artemis Fowl
Philip Ardagh – Awful End
JR Tolkein – Lord of the Rings series
Terry Pratchett – Discworld series, e outros
Jacqueline Wilson – Tracy Beaker
GP Taylor – Shadowmancer
Anthony Horrowitz – Alex Rider (não encontrei tradução para o português)
Lemony Snicket – A Series of Unfortunate Events

Fora a série de JK Rowling e seu Harry Potter os outros não me parecem tão populares no Brasil, apesar da maioria dos escritores terem pelo menos alguns de seus livros traduzidos no Brasil.

Uma breve pesquisa no portal da livraria virtual Submarino hoje inclui entre seus livros mais vendidos nesta faixa etária o seguintes títulos:

JK Rowling — Harry Potter e as relíquias da morte
JK Rowling — Harry Potter e o enigma do príncipe
A. Saint-Exupéry — O Pequeno Príncipe
Meg Cabot — Princesa Mia: o diário da princesa
Conn e Hal Iggulden — O livro perigoso para garotos
L. F. Veríssimo — Mais comédias para ler na escola
Malba Tahan — O homem que calculava
Bill Watterson — Calvin & Haroldo: e Foi Assim que Tudo Começou
C. von Ziegesar — Gossip Girl: você sabe que me ama (vol. 2)
C. von Ziegesar — Gossip Girl: Eu mereço (vol. 4)

Correndo o perigo de fazer conclusões com poucos dados, uma vista d’ollhos sobre a lista brasileira mostra uma leitura provavelmente feita por meninas [veja Meg Cabot e von Ziegesar] e bem leve.

PS: aliás eu me pergunto por quê? Por quê? A expressão Gossip Girl não foi traduzida? A mais óbvia tradução é: A fofoqueira, ou menina fofoqueira, Menina mexeriqueira, fuxiqueira, intrometida, alcoviteira, etc Tenho certeza de que se eu for ao dicionário ainda arranjo pelo menos mais dez sinônimos. Então por quê? Deixo aqui a dúvida, a pergunta as observações para quem queira ruminar.