Três Reis Magos, século VI
Mosaico
Basílica de Santo Apolinário Novo, Ravena
Três Reis Magos, século VI
Mosaico
Basílica de Santo Apolinário Novo, Ravena
Mosaico na parede da basílica (parcial)
Auto-retrato
Adoração dos Reis Magos, 1488
Domenico Ghirlandaio (Itália, 1449-1490)
têmpera e óleo sobre painel de madeira
Ospedali degli Innocenti, Florença
Obra completa
Cartão postal francês com os três reis magos, provavelmente virada do século XIX-XX.
Cassiano Ricardo
E para ouvir a sua história
vieram três reis encantados:
um vermelho, o que lhe trouxe
a manhã como presente;
outro branco, o que lhe havia
feito presente do dia;
outro preto, finalmente,
rosto cortado de açoite.
O que lhe trouxera a Noite…
Em: Martim Cererê, Cassiano Ricardo, Rio de Janeiro, José Olympio: 1974, 13ª edição, p. 67.
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Os Reis Magos foram e são um dos mais belos temas encontrados nas artes plásticas. Na época da Renascença italiana foi frequentemente pintado como uma grande procissão em que os mecenas das artes eram representados como membros das caravanas acompanhando os magos. Já conversamos sobre os Reis Magos e os doze dias do Natal, aqui mesmo no blog, em 2009, na postagem titulada Hoje, Dia de Reis, o 12º dia de Natal.
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Foi na Espanha moderna que encontrei o maior número de representações dos Reis Magos na escultura artesanal, nas artes folclóricas, digamos assim. Cheguei a ter uma pequena coleção de Reis Magos, trazidos a cada vez que volto à Espanha.
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Cartão c. 1900.Muito associado, como deveria ser mesmo, às cenas da Natividade, a visita dos Reis toma características próprias de acordo com a região do mundo que a representa. Vejam abaixo que em alguns países europeus eles são frequentemente representados, nos cartões de Natal, como crianças. Não sei a razão, talvez peças de teatro religiosas, como autos?.
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Cartão de Natal, EUA, sem data.Hoje, pelo menos aqui no Brasil, perdemos muito da importância do Dia de Reis, pelo menos no nosso folclore. Está havendo há décadas uma mistura total das festividades que já não têm mais requisitos específicos para a data. O nosso nordeste, onde grande parte da tradição dos reisados [a palavra vem do Dia de Reis] ainda existe, já não limita suas cantigas e suas danças a essa data ou à essa época. Semelhantemente as festas juninas já não acontecem mais em junho, e sua celebrações podem ocorrer até agosto, enquanto as características roupas caipiras adquiriram, hoje, um ar carnavalesco, com muitas lantejoulas e paetês.
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Este é o único cartão de Natal que tenho em que todos os personagens são representados por negros. É um cartão de Natal africano. Não acredito que seja raro, mas nas minhas imagens é fora do comum.
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Algumas vezes a Estrela de Natal toma a forma de uma cruz, como se fosse uma prefiguração do sacrifício do Recem-nascido.
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Na Europa do Norte há muitas representações dos Reis Magos como crianças, como neste cartão da Finlândia.
Cartão Checo, 1955.–
Só pelas linhas alongadas já dá para saber que estamos olhando para um cartão de Natal dos anos 60 do século XX.
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-Se
Seis de Janeiro, Dia de Reis foi sempre bastante comemorado na minha infância. Havia duas razões: o dia santo — acreditam que já foi feriado nacional? Pois, também era data de aniversário de um de meus tios. Enquanto minha avó morou conosco era celebrado com um grande almoço em família. E depois do almoço, passadas algumas horas comíamos então o Bolo de Reis. Já escrevi aqui no blog sobre esse bolo [Bolo de Reis ] que tinhas prendas dentro que previam o futuro.
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Cartão de Natal alemão.–
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Cartão de Max Nauta (Alemanha, 1896-1957)–
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Cartão de Natal, EUA, sem data.–
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Eis como o escritor católico, Sr. Ângelo Antônio Dallegrave, descreve a cena memorável:
“Melchior, venerável por sua velhice, ofereceu o ouro, reconhecendo Jesus como seu único Soberano e Senhor; Gaspar que segundo a tradição era o mais jovem, apresentou ao Menino incenso, porque viu na criança o Verbo Eterno que se fez homem e habitou entre nós; Baltasar ofertou-lhe mirra, porque, reconhecendo no Divino Infante, o Eterno, sabia igualmente, que Jesus viera ao Mundo, se fizera homem, nosso irmão pela carne, menos no pecado, para por nós morrer.”
Em torno da figuras tradicionais dos Reis Magos e dos presentes por eles oferecidos ao Menino, tecem os escritores cristãos as mais incríveis fantasias. Vamos transcrever pequeno trecho do historiador, Sr. Hermes Vieira:
“Representando a cultura máxima do tempo dos Reis Magos, ao presentearem Jesus, deram uma grande lição à Humanidade. Baltasar, que era preto, e viera da África, ofereceu-lhe a mirra que simbolizava a Mortificação; Gaspar, que tinha os olhos longos e a barba fina como um cavalheiro da Arábia, doou-lhe o incenso, que significava a Oração; e Melchior, que era velho e já possuía uma longa barba cor de neve, deu-lhe o Ouro, traduzindo com este gesto o desprendimento das coisas da Terra.”
Outra referência ao simbolismo das três dádivas encontramos no livro Os Quatro Evangelhos, do eminente pregador Padre Lincoln Ramos. Eis o que nos ensina esse sacerdote:
“Entregaram os Magus a Jesus o que mais precioso haviam trazido de sua pátria sem se impressionarem com a pobreza do lugar e das pessoas. Atribui-se belo simbolismo às três dádivas: pelo ouro homenagearam Jesus como Rei; pelo incenso e pela mirra, reconheceram-no como deus e como homem. O incenso se oferece a Deus nos altares; com a mirra — resina aromática — eram embalsamados os cadáveres e purificadas as mortalhas que os envolviam.”
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Em: A Estrela dos Reis Magos, Malba Tahan, São Paulo, Saraiva: s/d
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A jornada dos Reis Magos,1886-1894.
James Joseph Jacques Tissot (França,1836-1902)
guache e lápis sobre papel, 20 x 29 cm
Museu do Brooklyn, Nova York
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Olavo Bilac
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Diz a Sagrada Escritura
Que, quando Jesus nasceu,
No céu, fulgurante e pura,
Uma estrela apareceu.
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Estrela nova … Brilhava
Mais do que as outras; porém
Caminhava, caminhava
Para os lados de Belém.
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Avistando-a, os três Reis Magos
Disseram: “Nasceu Jesus!”
Olharam-na com afagos,
Seguiram a sua luz.
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E foram andando, andando,
Dia e noite a caminhar;
Viam a estrela brilhando,
sempre o caminho a indicar.
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Ora, dos três caminhantes,
Dois eram brancos: o sol
Não lhes tisnara os semblantes
Tão claros como o arrebol
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Era o terceiro somente
Escuro de fazer dó …
Os outros iam na frente;
Ele ia afastado e só.
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Nascera assim negro, e tinha
A cor da noite na tez :
Por isso tão triste vinha …
Era o mais feio dos três !
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Andaram. E, um belo dia,
Da jornada o fim chegou;
E, sobre uma estrebaria,
A estrela errante parou.
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E os Magos viram que, ao fundo
Do presépio, vendo-os vir,
O Salvador deste mundo
Estava, lindo, a sorrir
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Ajoelharam-se, rezaram
Humildes, postos no chão;
E ao Deus-Menino beijaram
A alava e pequenina mão.
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E Jesus os contemplava
A todos com o mesmo amor,
Porque, olhando-os, não olhava
A diferença da cor …
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Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves: 1949, 17ª edição, pp. 26-28
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Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (RJ 1865 — RJ 1918 ) Príncipe dos Poetas Brasileiros – Jornalista, cronista, poeta parnasiano, contista, conferencista, autor de livros didáticos. Escreveu também tanto na época do império como nos primeiros anos da República, textos humorísticos, satíricos que em muito já representavam a visão irreverente, carioca, do mundo. Sua colaboração foi assinada sob diversos pseudônimos, entre eles: Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur, Otávio Vilar, etc., e muitas vezes sob seu próprio nome. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias. Sem sombra de duvidas, o maior poeta parnasiano brasileiro.
Obras:
Poesias (1888 )
Crônicas e novelas (1894)
Crítica e fantasia (1904)
Conferências literárias (1906)
Dicionário de rimas (1913)
Tratado de versificação (1910)
Ironia e piedade, crônicas (1916)
Tarde (1919); poesia, org. de Alceu Amoroso Lima (1957) e obras didáticas
Visita dos Reis Magos ao Menino Jesus, 1965
Djanira da Motta e Silva ( Brasil, 1914-1979)
Guache sobre cartão, 14 x 39 cm
Coleção Particular
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As noites! Que noites de imenso luar!
Podeis contemplar a Ursa Maior,
A Lira, a Órion, a luz de Altair,
Estrelas cadentes correndo no espaço,
A Estrela dos Magos parada no ar.
Que noites, meninas, de imenso luar!
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Jorge de Lima
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Em: Obra completa, Rio de Janeiro, Aguillar: 1958
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A liberdade poética é necessária e seu uso torna muitos textos inesquecíveis! Este é o caso dos versos acima, que acredito muitos de nós, educados no tempo em que se decorava versos na escola, podemos relembrar com carinho. A imaginação do poeta só aumenta o encanto de uma noite já encantada, como é a noite de Natal. Ela nos ajuda a imaginar o inimaginável, a admitir o milagroso, o inexplicável. Apesar de cientificamente esta visão de Jorge de Lima não ser precisa, a sedução de seus versos reflete o nosso encantamento interior com a Noite de Natal.
Como bem ressaltou Malba Tahan [ A Estrela dos Reis Magos, São Paulo, Saraiva: 1964] ” O saudoso e genial poeta Jorge de Lima, levado pelos arroubos da imaginação colocou a Estrela dos Magos, em certa época do ano, a cintilar imóvel no céu. Parece inútil acrescentar que os versos de Jorge de Lima vão ao arrepio de todos os preceitos ditados pela Astronomia e contrariam aa sábias conclusões dos Evangelhos.” E complementa numa nota de rodápé: ” Coloca Jorge de Lima no céu três constelações: A Ursa Maior, a Lira, Órion e a estrela Altair, de primeira grandeza, Alfa da Águia. O céu luminoso, pontilhado de nebulosas, é cortado e recortado pelos traços luminosos das estrelas cadentes. E, no meio disso tudo, parada a cintilar, a Estrela dos Reis Magos. O quadro descrito pelo poeta é maravilhoso”.
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Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares, AL, 23 de abril de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953) foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro.
Obras:
Poesia:
XIV Alexandrinos (1914)
O Mundo do Menino Impossível (1925)
Poemas (1927)
Novos Poemas (1929)
O acendedor de lampiões (1932)
Tempo e Eternidade (1935)
A Túnica Inconsútil (1938)
Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
Poemas Negros (1947)
Livro de Sonetos (1949)
Obra Poética (1950)
Invenção de Orfeu (1952)
Romance:
O anjo (1934)
Calunga (1935)
A mulher obscura (1939)
Guerra dentro do beco (1950)