Peixes, sd
Henri Carrières [Henri Laurent Yves Carrières]
(França, 1947—radicado no Brasil desde 1952)
Óleo sobre tela
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Num artigo da revista NATURE, cientistas alertam para o aumento dos níveis de mercúrio no Oceano Pacífico. Isso pode significar que mais metilmercúrio, uma neurotoxina humana formada quando o mercúrio é metilado por micróbios, se acumule em peixes marinhos como o atum.
Tradicionalmente a preocupação com a concentração de mercúrio na atmosfera era o centro das preocupações entre cientistas. Mas agora estes números estão começando a se ampliar e busca-se, num quadro mais amplo, o ciclo do mercúrio. As diretrizes do governo norte-americano quanto ao teor aceitável de metilmercúrio em peixes está agora sob revisão.
Elsie Sunderland, bióloga da Universidade Harvard, e seus colegas procuram por um possível mecanismo para a metilação de mercúrio no oceano. Não se sabe exatamente de que maneira o mercúrio atmosférico – quer lançado diretamente no oceano, quer transportado pelos rios ou depósitos costeiros – é metilado e por fim absorvido pelos peixes. Desta maneira representa uma das fontes primárias de exposição humana ao metilmercúrcio.
Os pesquisadores recolheram amostras na parte leste do Pacífico Norte, uma área que também havia sido monitorada em cruzeiros de pesquisa conduzidos por cientistas norte-americanos em 1987 e 2002. Eles estimam que o mercúrio metilado seja responsável por altas taxas de até 29% de todo o mercúrio contido nas águas do oceano. Menores concentrações estão presentes em massas de água mais profundas. A análise dos dados desenvolvidos pelo grupo indica que a deposição atmosférica de mercúrio pode duplicar até 2050. Se considerarmos os níveis existentes em 1999.
A equipe de Sunderland também encontrou uma relação entre os níveis de mercúrio metilado e carbono orgânico. Partículas de carbono orgânico, originado de fitoplâncton ou outras fontes, podem oferecer superfícies sobre as quais os micróbios seriam capazes de metilar mercúrio no oceano, sugerem os pesquisadores. O mercúrio metilado seria posteriormente liberado na água.
“Não temos ainda um mecanismo causal para o fenômeno, mas ele parece estar vinculado ao bombeamento biológico do oceano“, diz Sunderland. Resultados anteriores de observações conduzidas no Pacífico Sul e na região equatorial do mesmo oceano, ela acrescenta, localizaram concentrações semelhantemente altas de metilmercúrio nos locais onde a atividade biológica era mais elevada. A conexão tem implicações para a mudança do clima e para o ciclo do mercúrio. Oceanos mais quentes e mais produtivos, com mais fito plâncton e mais peixes, poderiam elevar o volume de mercúrio metilado que termina nos pratos humanos.
Pescadores em Copacabana, RJ. Foto: Ladyce West
Os pesquisadores acham provável que as águas no oeste do Pacífico devem estar recebendo mercúrio por causa da elevação das emissões atmosféricas da Ásia. De lá este mercúrio estaria se deslocando para a região o nordeste do Pacífico. No momento, o oceano está refletindo as cargas de mercúrio geradas por deposição atmosférica no passado, diz Sunderland.
Daniel Cossa, do Instituto Francês de Exploração e Pesquisa Marítima (Ifremer), em La Seyne-sur-Mer, e seus colegas que também trabalham com o nível de mercúrio no mar, recolheram dados sobre mercúrio no Mar Mediterrâneo, para artigo a ser publicado em maio pela revista Limnology and Oceanography.
Os dois estudos indicam que nem todo o mercúrio metilado vem diretamente de fontes costeiras ou fluviais. Eles conseguiram confirmar que ocorre metilação em profundidades moderadas nas águas oceânicas, como diz nicola Pirrone, co-autor do estudo dirigido por Cossa e diretor do Instituto de Poluição Atmosférica do Conselho Nacional de Pesquisa italiano, em Rende.
“O oceano é um grande espaço em branco” no ciclo do mercúrio, diz Pirrone, que também comandou a avaliação científica sobre o mercúrio conduzida no ano passado pelo Programa Ambiental das Nações Unidas.
Robie Macdonald, cuja especiadade tem se concentrado nos estudos do nível de mercúrio nas águas do Oceano Ártico. Diz que embora o mercúrio na atmosfera tenha se elevado em cerca de 400% nos últimos 100 a 150 anos, as concentrações parecem ter aumentado em apenas 30% nos oceanos. “Nós estivemos tão ocupados observando a atmosfera que não nos preocupamos com o oceano. Ambos os estudos são realmente importantes. É preciso chamar a atenção da comunidade científica quanto aos efeitos e riscos do mercúrio em geral“.
Quaisquer medidas de controle do metilmercúrio, porém, precisam levar em conta que volume vem de fontes naturais inevitáveis e que volume é gerado por fontes antropogênicas como a combustão de combustíveis fósseis, aponta Pirrone.
Há pressão pelas companhias de alimentos que produzem peixes enlatados para que não se faça necessário colocar nos rótulos de latas como as de atum, o nível de metilmercúrio nos peixes para consumo alimentar. No início deste ano, um tribunal da Califórnia decidiu que as empresas que produzem atum em lata não precisarim informar em suas embalagens sobre o teor de metilmercúrio em seus produtos. A FDA [Food and Drug Administration] está avaliando suas normas quanto ao risco de consumo de metilmercúrio em peixes.
Peixes, Mercado dos Pescadores, Posto 6, Copacabana, RJ. Foto: Ladyce West
Como é que o metilmercúrio se acumula no peixe? Apesar de o mercúrio surgir naturalmente no meio ambiente, a fonte primária do metilmercúrio, encontrado no peixe, é a poluição industrial. Através da chuva o mercúrio pode se acumular em riachos, rios, lagos e oceanos onde, através da ação de organismos anaeróbicos, é transformado quimicamente em metilmercúrio. Os peixes absorvem o metilmercúrio ao alimentarem-se de organismos aquáticos. Peixes maiores e com uma vida mais longa alimentam-se de outros peixes, ao longo da sua vida, acumulando assim níveis maiores de metilmercúrio. O cozimento do peixe ou sua exposição ao calor, infelizmente, não reduz os níveis de mercúrio.
Lembramos que no Brasil o metilmercurio é bastante encontrado em rios. O mercúrio como se sabe, é usado em jazidas de ouro, com a finalidade de separar o metal precioso do minério bruto. Aqui já se tornou um problema ambiental de alcance global. De fato, o mercúrio descartado no processo contamina as águas de rios, usadas para a lavagem dos minérios. Esse metal, pesado e extremamente tóxico, é acumulado nos organismos de espécimes da fauna e da flora. Se peixes contaminados por mercúrio forem consumidos na alimentação humana, há sérios riscos de desenvolvimento de uma doença que ataca o sistema nervoso, chegando, em casos extremos, a ser fatal.
A enfermidade decorrente da intoxicação por mercúrio foi descoberta por ocasião do pior caso de contaminação humana já causada pelo metal, na baía japonesa de Minamata, na década de 50. A “doença de Minamata” afeta o sistema nervoso e o cérebro, causando dormência nos membros, fraquezas musculares, deficiências visuais, dificuldades de fala, paralisia, deformidades e morte. O metilmercúrio também ataca os fetos durante a gestação, sendo que até mesmo fetos de mães aparentemente saudáveis podem ser gravemente afetados. Os fetos e recém-nascidos são muito sensíveis aos efeitos do metilmercúrio que provoca dano ao sistema nervoso central (SNC: cérebro e medula espinal). A gravidade do dano está diretamente relacionada à dosagem recebida. Muitos dos efeitos no SNC são parecidos àqueles observados na paralisia cerebral, e acredita-se que o metilmercúrio seja a causa de uma forma de paralisia cerebral.
O metilmercúrio — que é uma substância orgânica derivada do mercúrio – também vem sendo usado para preservar sementes de grãos. Surtos de envenenamento por este metal também têm ocorrido pela ingestão de sementes de grãos ou carnes de animais que se alimentaram desses grãos
Fontes: Portal Terra, Canal Ciência, Enciclopédia Ilustrada da Saúde, Produtos Naturais