Matisse no Boulevard, 2006
Alexei Lantsev (Rússia, 1970)
técnica mista sobre papel, 61 x 85 cm
Este livro está à venda nos seguinte locais:
Amazon do Brasil
Livraria da Travessa no Rio de Janeiro
e direto na própria editora no seguinte link:
https://www.autografia.com.br/produto/a-meia-voz-2/
Haverá edição em e-book em breve. Agradeço todos os contatos.
Livro lançado durante a pandemia do CORONA VIRUS no Rio de Janeiro. Não há como ter um volume autografado no momento. Não houve noite de autógrafos por causa das circunstâncias de saúde da cidade.
Caso precisem me contatar: ladyce@terra.com.br
GRATA!
Jovem lendo
Vishalandra Dakur (India, contemporâneo)
óleo sobre madeira, 24 x20 cm
Na geometria projetiva duas linhas paralelas se encontram no infinito. No livro A distância entre nós de Thrity Umrigar elas não só se encontram como colidem por volta da página trezentos. Trata-se da história de duas famílias lideradas por mulheres viúvas, na maior e mais importante cidade indiana, Bombaim. Sera Dubash é uma mulher de classe média alta, parsi, que vive confortavelmente num apartamento na zona residencial da metrópole. Tem uma filha, casada, passando pela primeira gravidez e cuida da sogra idosa e acamada. Sera tem uma empregada doméstica há mais de vinte anos, Bhima, com mais de sessenta anos, cujas dores do corpo maltratado precisa ignorar para trabalhar e manter a neta estudando. Bhima é extremamente pobre. Vive numa favela na cidade, numa casa sem banheiro próprio. Necessita usar o sanitário comum do local e, sem móveis, dorme no chão.
Ainda que Sera e Bhima vivam em mundos distantes, cada qual, à sua maneira, trata da outra, conhecendo os segredos que cada uma esconde, a vergonha social que as domina. Sera foi protagonista de casamento violento e foi constantemente maltratada pela sogra que hoje depende de sua assistência. Bhima foi abandonada pelo marido, que ao sair de casa levou com ele o filho, deixando para trás a pequena irmã do menino. Ao longo das décadas de serviço as duas mulheres vieram a se solidarizar com os sacrifícios que sabiam a outra fazia. Bhima perde a filha e o genro para a AIDS e cria, agora, nos últimos anos de vida a neta, que, recipiente da generosidade de Sera, estuda na universidade, o que seria impossível de outra forma. No entanto, quando o livro inicia, sabemos que uma grande desgraça acontece com Maya, neta de Bhima. Ela engravida ainda solteira, enquanto cursa a faculdade e Bhima se vê sem meios de resolver o problema a não ser com a ajuda de Sera e sua família. A solução e as razões evocadas para tal são fonte de grande conflito interior para Bhima e Maya e só no final, entendemos perfeitamente os motivos de tanto sofrimento.
Temos, portanto, uma prato cheio de emoções conflitantes. agravadas por preconceitos sociais, pobreza, intolerância e separação de castas sociais culturalmente mantidas, a despeito da constituição indiana de 1947, que as abole.
Thrity Umrigar é excelente escritora. Mantém bom ritmo na narrativa, descreve, através dos pensamentos dos personagens, ambientes à sua volta. Diálogos e linhas de pensamento, reflexões sobre eventos passados abrem a porta para vislumbramos conflitos presentes. O texto corre solto, sem soluços, visita cada família esboçada, e reflete das dúvidas às ações nem sempre dignas dos personagens. Em menos tempo do que se imagina, é possível ver que as duas famílias se espelham e o paralelismo entre as realidades é conduzido com maestria.
Há leitores e leitores. Nos meus grupos de leitura A distância entre nós teve aprovação quase unânime. O livro foi considerado repleto de questões relevantes, uma entrada para a cultura milenar da Índia, reflexivo sobre as emoções humanas mais conhecidas, arrebatadoras. Amor, traição, decepção, esperança, sacrifício, felicidade são todas emoções fortes, tratadas no desenvolver da história. Sinto revelar que fui a voz da discórdia. Justamente porque há leitores e leitores. A mim, agradam textos mais sutis. A meia palavra fere mais do que a altercação. Querelas sentimentais me cansam. Não sou adepta da novela, muito menos das explosões emotivas tradicionalmente retratadas nos seriados mexicanos, por exemplo. Arroubos de emoção (seja ela a que for) me distanciam. Acho-os de difícil empatia. E a escrita de Thrity Umrigar, neste livro, detalha as fortes emoções que levam a decisões extremas. Um pouco fora da minha preferência.
Mas, se você acredita nas emoções violentas, nas emoções mais básicas do ser humano, do amor à traição e não se incomoda com os dramalhões. Se você é noveleiro, se entende e simpatiza com o sofrimento escancarado dos personagens, este livro é para você. Boa história, resolução final esperançosa. Vá em frente. Você vai gostar.
NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.
Natureza morta, um manuscrito iluminado, século XVII
Escola holandesa
óleo sobre madeira, 70x 65cm
Capa de livro, c. ano 810
Autor desconhecido
Alemanha, marfim
Victoria and Albert Museum, Londres
Essa capa de livro já enfeitou o Evangelho de Lorsch.
No centro a Virgem Maria é retratada sentada no trono celestial segurando Jesus Cristo, ela está acompanhada de Zacarias, ao seu lado direito, que aparece com o hábito religioso e, à esquerda, de São João Batista que segura um pergaminho em branco.
Abaixo cenas: Natividade, Presépio e Anúncio dos Anjos aos Pastores no campo.
Capa detrás do Evangelho de Lorsch.
As molduras de metal torneado, que embelezam cada um dos cinco painéis decorativos produzidos no século IX, foram adicionadas mais tarde para que servissem de par com a capa da frente, que está em Roma.
No painel central vemos Cristo Salvador, com dois anjos a seu lado. Abaixo, cena da corte de Herodes, e Adoração dos Reis Magos.
Menino lendo
Alexandros Christofis (Grécia, 1882-1953)
óleo sobre tela, 36 x 27 cm
Entre capítulos, 1890
Ramon Casas (Espanha, 1866-1932)
óleo sobre tela, 41 x 32 cm
Museu Nacional de Catalunha
“… A pena treme entre meus dedos a cada vez que o aríete investe contra a porta. Um sólido portão de metal e madeira que não tardará a despedaçar-se. Pesados e suados homens de ferro se amontoam na entrada. Vêm à nossa procura. As Boas Mulheres rezam. Eu escrevo. É a minha maior vitória, minha conquista, o dom do qual me sinto mais orgulhosa; e as palavras, embora estejam sendo devoradas pelo grande silêncio, hoje constituem minha única arma.”
Em: História do rei transparente, Rosa Montero, Rio de Janeiro, Ediouro:2005, página 9