Cartão de Natal, década de 1950.
As moedas caídas do céu
Conceição era uma pobre mas interessante menina, cujos pais haviam morrido. Era tão pobre, que não tinha nem um quarto, nem cama para se deitar; não possuía senão os vestidos que tinha sobre o corpo e um pequeno pedaço de pão que uma alma caridosa lhe havia dado; era, porém, boa e piedosa.
Como se achava abandonada de todo o mundo, pôs-se em viagem, confiando-se à guarda do bom Deus.
No caminho encontrou um pobre homem, que lhe disse:
— Ai de mim! Tenho muita fome! Dai-me um pouco de comer.
A menina deu-lhe o pai, dizendo:
— Deus te auxilie. — e continuou a caminhar.
Depois encontrou um menino que chorava, dizendo:
— Tenho frio, dai-me alguma coisa para cobrir-me.
Ela tirou o gorro e deu-lho.
Mais tarde ainda viu outro que estava trânsido de frio por falta de uma camisola, e deu-lhe a sua. Finalmente, um último pediu-lhe a saia, que ela deu também.
Caindo a noite, chegou a um bosque pedindo-lhe a camisa outro menino. A piedosa menina pensou:
— É noite escura, ninguém me verá. Posso bem dar-lhe a minha camisa. E deu-lha.
Assim nada mais possuía no mundo. Mas no mesmo instante as estrelas do céu puseram-se a cair e no chão elas se transformaram em belas moedas reluzentes. E embora ela tivesse tirado a camisa, tinha uma completamente nova, do mais fino tecido. Ela apanhou o dinheiro e ficou rica para o resto de sua vida.
Em: Histórias do Arco da Velha — Livro para crianças, de Viriato Padilha, Rio de Janeiro, Quaresma: 1947,pp: 91-92.