A partida, um filme para não perder!

28 08 2009

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Hoje dando uma vista d’olhos no jornal para programar o fim de semana vi que, pelo menos aqui no Rio de Janeiro, ainda estão levando o filme A Partida.  Recomendo com todas as possíveis estrelas a quem queira ver um fime sério, belíssimo, e  que deixa espaço para o espectador refletir.  Está em cartaz há algum tempo e não é tão surpreendente assim que ainda esteja sendo projetado nas salas menores, que em geral se dedicam aos filmes menos comerciais, pois é fora de série.

Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009, o filme conta a história de um violoncelista que volta à cidade natal com a esposa depois que a orquestra onde toca é dissolvida. Lá, começa a trabalhar como funcionário funerário e, para sua própria surpresa, torna-se orgulhoso de sua nova profissão, ignorando as críticas daqueles que o rodeiam.  Contado assim, o enredo parece sem interesse.  Mas a virtude dessa película está justamente no espaço que nos deixa, como observadores, de perceber as mudanças sutis no comportamento e na aceitação pelas quais o personagem principal passa.

 

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As culturas orientais, digo do extremo oriente, desenvolveram através dos séculos muitos rituais que para nós ocidentais podem parecer exdrúxulos, mas que quando são apresentados com respeito, e explicados  na medida certa, nos parecem tão próprios que nos perguntamos:  por quê não fazemos assim também?  Este é o resultado dessa imersão nos rituais do luto e da morte no Japão, por onde navegamos sob a direção de Yojiro Takita.  As imagens escolhidas por ele nos deixam testemunhas da delicadeza nipônica, do respeito a seus antepassados,  com a beleza e a sucintês de um ideograma.

Poucas vezes um filme tem uma combinação tão perfeita de fundo musical e imagem.  Música que acentua quando deve emoções reinvindicadas pelas imagens e que as faz   tênues quando isso é pedido.  O casamento da trilha sonora do compositor  japonês Hisaishi – já famoso por outras trilhas sonoras — com as imagens do filme A Partida, tem essa riqueza. 

Não deixe de ver.  Vale a pena.  

 

FICHA TÉCNICA

Diretor:

Yojiro Takita

 Atores:

Kazuko Yoshiyuki

Ryoko Hirosue

Masahiro Motoki

Tsutomu Yamazaki

Kimiko Yo

Takashi Sasano

Local: Japão

Nome Original:  Departures / Okuribito

Ano de Lançamento: 2009

Disponível em DVD em:  8/14/2009

Duração: 130 min





A Banda, revelando no deserto, a solidão de cada um.

30 11 2008

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Quando chove vejo mais filmes do que o normal.  Finalmente ontem consegui ver A Banda, uma produção israelense/francesa/EUA, dirigida por Eran Kolirin (2007) e me deliciei.  A ação se passa em menos que 24 horas.  Músicos egípcios não encontram a cidade para a qual foram convidados para tocar em Israel.  Vão parar por engano num vilarejo onde nada acontece.  Para pegarem o ônibus correto precisam passar a noite.  São acolhidos por famílias locais, até o dia seguinte, quando finalmente chegam onde deveriam ter chegado antes para um concerto.  

 

O filme é delicioso. Engraçado. Humano.  Apolítico.  Uma preciosa contribuição à arte cinematográfica.  Com um maravilhoso elenco:  Sasson Gabai, Ronit Elkabetz, Saleh Bakri.  E, no entanto, mesmo tendo sido premiado na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes em 2007, A Banda foi banido de ser mostrado no Egito.  Por que?  Porque há uma cena, na escuridão, em que apesar de nada aparecer entende-se um ato sexual entre uma judia e um egípcio.  Valha-me!  Parece inacreditável, que um filme tão poético, tão quieto, tão distinto,  possa ter causado este tipo de reação.

 

Mas a loucura em volta deste filme não acaba aí.  Este primeiro filme do Diretor Eran Kolirim foi o escolhido para representar Israel para o prêmio Oscar de 2007.  Mas, uma outra reviravolta o aguardava, a Academia recusou a participação do filme com a desculpa de que havia diálogos demais em inglês!

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Ora vejamos a situação: oito músicos egípcios, são convidados para visitar Israel.  Acabam num vilarejo no meio do deserto.  Não há nada à volta a não ser areia e israelenses falando hebraico.  Qual seria a solução em qualquer lugar do mundo?  Uma língua em comum.  Qual seria a língua mais ensinada no mundo como segunda língua?  O inglês.  E o inglês falado no filme é tão macarrônico quanto seria falado por pessoas que conhecem só as regras básicas da língua.  É inacreditável!

 

Mas deve ter servido para aumentar a procura.  O filme que já está em cartaz no Rio de Janeiro há tempos passou para um cinema lotado.  Mais do que um filme sobre os problemas de egípcios e israelenses, este filme fala da miserável solidão que todos os seres humanos têm dentre de si.  Vá!  Não hesite.

 

 





Duas considerações sobre Philip Roth

2 11 2008

 

 

I — Philip Roth, o Prêmio Nobel e O animal agonizante.

 

Recentemente, quando o Prêmio Nobel de Literatura em 2008 foi anunciado, a imprensa americana em peso reclamou do viés da comissão julgadora contra os escritores do país.  A imprensa especializada começou a espezinhar a comissão julgadora do prêmio, inconsolável diante do resultado: mais uma vez a distinção não fora parar nas mãos de um escritor americano.  Entre os injustiçados, e talvez o mais citado nos meios intelectuais dos Estados Unidos, estava o escritor americano Philip Roth.  

O escritor americano Philip Roth

O escritor americano Philip Roth

Depois da revolta intelectual americana contra o Prêmio Nobel e inspirada pela abertura do filme Fatal, da diretora espanhola Isabel Coixet, baseado na obra O animal agonizante, de Philip Roth, (Cia das Letras: 2001) decidi revisitar o escritor que havia sido um dos meus favoritos escritores americanos e cujas obras por muitos anos me acompanharam cheias de notas e observações, ao longo do tempo em que residi naquele país.    

 

Havia algum tempo que eu não lia nenhum de seus trabalhos.  Não que eu tivesse deixado de gostar da maneira como Philip Roth escreve, nem de seu senso de humor característico, muito menos de suas mais cortantes observações sobre o comportamento humano.  Mas depois de pelo menos oito de seus livros lidos e relidos, os novos romances de Roth me pareciam um pouco repetitivos nas suas obsessões e para não me desapontar com um autor de que gostava preferi dar uma pausa na leitura de sua obra.  A pausa durou anos. 

 

Agora, depois de ter devorado com gosto o esbelto volume O animal agonizante, volto a perceber, que apesar de retratar e representar as preocupações de muitos de sua geração, Philip Roth não é tão universal quanto se poderia ou deveria esperar de um autor a ser premiado com um Nobel.  Isto de jeito nenhum quer dizer que ele não seja um excelente escritor, acima da grande maioria de seus colegas de trabalho, principalmente por causa de seu cortante bisturi, usado com destreza, quando disseca as emoções mais recônditas, as necessidades psicológicas mais complexas do homem urbano do final do século XX nos EUA.  A clareza com que revela cada pequena emoção ou racionalização do homem anti-herói de fim de século é pungente.  A obsessão com diminutas variações de comportamento e suas origens é saturna.  Uma obsessão autofágica disfarçada pelo humor ou ironia. Aqui está Saturno devorando seus filhos: aqui Roth digerindo — para entendê-lo e absorvê-lo —  um de seus alteregos, o Professor David Kepesh, nosso conhecido de outros tempos, de outras aventuras. 

 

II – Philip Roth e Woody Allen e a experiência da cultura separatista nos EUA

 

 

Durante a leitura de Philip Roth em O animal agonizante – um ensaio sobre o desespero de se conhecer a própria decadência e o próprio fim não pude deixar de a todo e qualquer momento lembrar-me dos filmes de Woody Allen.  Estes dois americanos sozinhos poderiam juntos descrever as preocupações de sua geração, seu fascínio consigo mesmos, suas auto-críticas.  Ambos falam de um mundo que conhecem bem: a cultura urbana e intelectual.  E a descrevem em detalhe.  Ambos preenchem a maioria de suas obras com referências ao círculo em que vivem, a seus escritores, a seus artistas, a seus compositores, enfim a todo o contexto cultural que os rodeia, como se necessitassem colocar-se, inserirem-se no tecido cultural de que são frutos.  Sente-se uma quase compensação, como se percebessem a si mesmos como seres à margem da cultura americana de seu tempo.

 

Diferente da cultura que se desenha no século XXI, uma cultura de inclusão – veja a provável eleição de Barack Obama — a cultura americana de fim do século XX ainda estava baseada em características de exclusão.  Enquanto para Barack Obama e seus seguidores fala-se “não há America branca, não há America negra, só há americanos”, no final do século XX, o que víamos era: “os americanos são: afro-americano, ítalo-americano, judeu-americano, americano-irlandês” e assim por diante, rotulados de acordo com suas características mais pronunciadas sem suas imersões num todo nacional.  A América estava em processo de se juntar, de se misturar, mas em fase processo, e como tal, seus membros ainda se sentiam como partes de um todo, mas partes, separadas por um hífen, por assim dizer.  

 

Assim ambos estes expoentes da cultura judia-americana, Woody Allen e Philip Roth,  têm em comum a necessidade, de através das várias referências culturais que fazem em suas obras —  quer literária, quer cinemática — tecerem não só o contexto em que viviam como a própria justificativa de suas existências como intelectuais. Em O animal agonizante encontrei, num texto de menos de 127 páginas na edição brasileira, ou seja um pequeno romance, uma quase novela, mais de 35 referências a quadros, esculturas, livros, autores famosos de Mark Twain a Simão Bolívar,  de Kafka a Velásquez, Brancusi, Little Richard e demais marcadores de engajamento cultural.    O texto é verdadeiramente enriquecido pelas comparações, alusões, contrastes, re-definições de obras e da importância de cada um dos mencionados, não há dúvida.  Mas torna-se vítima disso mesmo que parece um tipo de brincadeira conhecido como “jogos de estudantes de pós-graduação” em que profissionais em especialização sentem a necessidade de: em provar conhecimento sobre certas áreas, estabelecer sua própria importância e conseqüentemente a validade de suas opiniões.

O cineasta Woody Allen

O cineasta Woody Allen

   

No caso de Philip Roth, cujo hábito não é novo, este cacoete literário nos anos 60-70 poderia parecer intrigante, vindo de um escritor relativamente jovem, novo.  E ajudava  a definir uma época, além do conhecimento pessoal do autor.  Mas continuar a vê-lo hoje, quase meio século mais tarde, depois que a comunicação fez de fácil acesso qualquer informação que antes era considerada uma moeda de entrada no mundo sofisticado das letras e das artes é sofrível.  E mais ainda, ver tal insistência, quase pernóstica, num escritor que já estabeleceu suas credenciais há décadas é limitante e vazio.  

 

Concordo que muitas vezes o Prêmio Nobel de Literatura pareça se cristalizar do nada.  Principalmente quando, por motivos de localização geográfica ou da dependência de traduções, mesmo as pessoas mais intensamente ligadas às artes literárias não estejam familiarizadas com os autores premiados.  Há, no entanto, uma consistência clara entre as obras dos premiados: elas extrapolam a experiência comum e se universalizam.  Até mesmo naqueles escritores que mais tarde – décadas depois — não têm suas obras lembradas — e isso comumente é resultado de fatores estranhos aos seus méritos literários — pode-se notar o intemporal nas suas obras e a universalidade da experiência humana retratada.   Infelizmente, por melhor que Philip Roth seja, estas qualidades não são as que definem o seu trabalho.





Vingança, o filme de Paulo Pons no Festival do Rio

7 10 2008

 

Não tenho podido assistir aos filmes do Festival do Rio de Janeiro com a freqüência costumeira. Mas na quinta-feira passada, para minha satisfação, pude ver o filme Vingança cujas críticas desde o Festival de Gramado haviam despertado a minha curiosidade: era uma filme de qualidade, feito com um orçamento casto;  era um filme com um roteiro que escapava aos clichês brasileiros de favelas e pobreza;  tinha uma excelente fotografia e fundo musical. 

                     Paulo Pons, diretor de Vingança, na apresentação.

De fato o filme é tudo aquilo de que se falava.  A história é intrigante, bem desenvolvida.  Paulo Pons assina o roteiro assim como a direção.   A trilha sonora para qual dou todas as cinco estrelas possíveis do julgamento é de Dado Villa-Lobos.  Excelente fotografia de Thiago Lima e Silva e um desempenho dramático surpreendente de Erom Cordeiro, que consegue dizer muito com um simples olhar.

Erom Cordeiro

O enredo do filme centralizado no estupro de uma jovem, filha de um fazendeiro gaúcho, é sedutor e envolvente.  À procura do malfeitor, o noivo da moça chega ao Rio de Janeiro onde faz contato com a irmã do estrupador.  Há um final surpreendente. 

Não conheço o primeiro filme do gaúcho Paulo Pons, O Dono do Jogo.  Sei simplesmente que este é seu segundo longa, com o qual fiquei encantada.  Acredito que os outros quatro projetos do diretor, alguns em estado avançado de desenvolvimento, já mostrem maturação de idéias e projetos.

Não sou uma crítica de cinema.  Sou uma pessoa que vê filmes com gosto.  Com este ponto de  vista acredito que meus senões ao filme são poucos: 116 minutos hoje em dia fazem um filme parecer mais longo do que o normal, já que as platéias estão mais acostumadas aos 90 minutos (isto é valido para o cinema assim como para o teatro, no teatro até algumas companhias já eliminaram qualquer intervalo);  a beleza das cenas e dos ângulos das cenas filmadas não precisava ser feita na sua maioria de close-ups, a não ser que a intenção fosse sufocar o espectador.  Neste filme acredito que se a editoração pudesse ser um pouco mais concisa, a história ainda teria maior impacto.  A fotografia é extraoriordinarimente bela, e o Rio de Janeiro — onde o filme é passado — é uma cidade que se presta à exploração das belezas, mas me pareceu que a editoração poderia ter sido menos indulgente: se perdesse alguns belos enfoques, ganharia em mais poder na missão de transmitir emoções.  Mas estas são observações de uma mera espectadora.

De qualquer maneira, este filme deveria ter sua chance no circuito comercial.  Mostra uma outra estética, uma nova realidade brasileira que é muito bem-vinda para espectadores como eu que já estão cansados com a temática brasileira de sempre, favorita dos cursinhos de cinema, que com frequência se entregam mais aos estudos sociológicos do que ao entretenimento — mesmo que sério — de quem paga para ir ao cinema.

Paulo Pons e sua Pax Filmes estão de parabéns.  Espero com ansiedade suas próximas produções.





Preço da fama para os atores: O caçador de pipas

5 07 2008
Ilustração de Mariângela Haddad

Ilustração de Mariângela Haddad

Uma das grandes vantagens da internet é que hoje podemos ouvir os nossos programas de rádio favoritos, mesmo que estejamos a milhares de quilômetros da estação de rádio que nos acolhia quando morávamos aqui, ali ou acolá.  Acabou-se a dependência na HORA DO BRASIL, na VOA (Voice of America) ou na BBC (Bristish Broadcasting Company) para se saber o que os outros estão fazendo, dizendo ou armando.  Agora, é só ligarmos nossos computadores e nos conectarmos com nossa estação de rádio predileta e notícias, músicas e comentários vão saindo dos nossos alto-falantes como se estivéssemos em outro lugar.

 

Nem sempre consigo seguir um dos meus programas favoritos nos EUA:  All Things Considered, da NPR (National Public Radio) nos EUA.  Mas há dois dias ouvi uma reportagem interessante sobre o menino Zekeria Ebrahimi, que fez o Jovem Amir, no filme O caçador de pipas.  Mesmo depois de muito tempo, ele ainda não conseguiu ter uma vida normal desde que participou da produção do filme.

 

 

Amir e Hassam conversam, foto de divulgação do filme

Amir e Hassam conversam, foto de divulgação do filme

 

Desde o início, durante as filmagens algumas polêmicas surgiram.  O diretor, Marc Forster, tentando dar à tela a maior veracidade possível, contratou atores que se enquadrassem nas restritas descrições do livro sobre etnia, idade, dialeto, sotaque e até mesmo a paisagem montanhosa, que apesar de ter sido filmada na China, retrata uma realidade muito próxima daquela encontrada no país dos talebãs. 

 

No início do filme há a cena que transforma o personagem principal e que o leva, 30 anos mais tarde, a vir redimir seus pecados:  o estupro de Hassam por um grupo de meninos.  Esta cena — a violação de Hassam, o caçador de pipas do título — não é só o ponto de partida da culpa do narrador, Amir, testemunha do estupro que nada faz, mas também um eloqüente retrato da maneira como minorias étnicas —  como os Hazaras, minoria xiita– são tratadas.

 

Este espelho realista foi mais acertado do que o governo do Afeganistão e sua minoria religiosa poderiam aceitar.   Como a bruxa de Branca de Neve eles  não conseguiram se ver nem na descrição do livro, nem nas imagens do filme.  E logo veio a censura.  O filme não pode ser projetado no país. “Há cenas que exibem atos de violência sexual que são etnicamente orientadas“, explicou o vice-ministro da Cultura Najib Malalai.

 

Mas, estamos nos tempos da aldeia global, da comunicação eletrônica, cópias piratas foram feitas e circuladas pelo país, enfrentando a censura Talebã governamental religiosa.  Cópias pirateadas apareceram em todo canto. 

 

Andrew H.  Walker

Khaled Hosseini com Zekeria Ebrhimi. Foto: Andrew H. Walker

 

Com a censura no Afeganistão a Paramount tratou da segurança pessoal de seus pequenos atores: mudou as três crianças do território afegão para os Emirados Árabes.  Lá, desde novembro de 2007, elas encontraram refúgio e permaneceram acompanhadas de um guardião cada.  Paramount colocou os meninos em escolas particulares, alugou apartamentos para eles, pagou às famílias um salário mensal e arranjou emprego para os guardiões.   

 

Mas, passado algum tempo, Zekeria Ebrahimi voltou à terra natal, saudoso da família.  Infelizmente, ele agora se encontra incapaz de ir à escola ou deixar sua própria casa. Afegãos que viram o filme consideram a película como um insulto e acham que a cultura nacional foi preconceituosamente mal representada.  Além disso, eles atribuem ao filme o aumento das tensões entre minorias no país, que há décadas dividem os habitantes.  

 

O medo de que Zekeria possa cair nas mãos de revoltosos continua.  O menino teve que sair da escola em que se inscreveu em Cabul porque colegas de turma da minoria Hazara queriam matá-lo, linchá-lo, o quanto antes.  A família se mudou.  Mas a ida para um outro bairro de nada adiantou.  As perseguições continuaram.  Zekeria não vai mais à escola e não sai de casa.  Está sendo educado em casa por seu tio.  A família, representada pela tia Waheeda Ebrahimi, quer mais proteção.  Quer emigrar para os EUA, o único lugar em que acreditam poderão viver em paz.

 

Mas nestes tempos de vacas magras nos EUA e de medo de imigrantes de origem muçulmana, há limites sérios sobre o que a Paramount pode fazer.  A companhia preferiria que a família toda fosse para o Dubai.  Neste meio tempo, preso por uma situação em que não tem nenhum controle, Zekeria leva uma vida de prisioneiro em sua própria casa, em seu próprio país.  

 

Vale lembrar as palavras do vice-ministro da cultura sobre a proibição da projeção do filme no país e perguntar a ele se a visão de um lado, não se aplicaria também à uma visão do outro lado, já que tanto o personagem Amir quanto Zekeria são da minoria Pashtu.

 

Um membro de uma etnia que é agredido por pessoas de uma etnia diferente leva a crer que esta etnia está ligada a esse tipo de ato“, declarou Malalai. “É um ato cultural, isso não pode ser aceito“, acrescentou.

 

NOTA: O filme O caçador de pipas é baseado no romance de Khaled Hosseini do mesmo nome.

 

 

Ilustração de Mariângela Haddad

Ilustração de Mariângela Haddad