Menina lendo livro, 2015
Michael Pracht (EUA, contemporâneo)
óleo sobre tela, 61 x 91 cm
“Um clássico é um livro que todos gostariam de ter lido e que ninguém quer ler.”
Mark Twain
Menina lendo livro, 2015
Michael Pracht (EUA, contemporâneo)
óleo sobre tela, 61 x 91 cm
Mark Twain
Cartão postal, virada do século XX.
Bernardino Lopes
Andorinha que fizeste
Ninho em minh’alma, uma tarde,
E que andas no azul celeste
Cantando e fazendo alarde;
Que, em horas de forte calma,
Bebeste das crenças minhas,
Fazendo assim de minh’alma
Ribeirão das andorinhas;
Dize lá: por que não voltas
Ao teu recôndito abrigo,
Peregrina de asas soltas
Que pelas nuvens eu sigo?
Por que vives pelos ares,
Oh! alma de pirilampo!
Quando há frutos nos pomares
E tanta flor pelo campo?
Foge do pranto e do frio,
As leves penas abrindo…
Olha o teu ninho vazio,
Sonho emplumado, e vem vindo…
Vem, recortando os espaços,
Num saudoso devaneio,
Cair tremente em meus braços,
Dormir tranquila em meu seio!
Ah! já não vens, de asa espalma,
Saciar-te em mim, como vinhas…
Era então esta minh’alma
Ribeirão das andorinhas!
(Val de Lírios, Laemmert & Cia., Rio de Janeiro, 1900, pág. 119-121)
Em: Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana, ed. Manoel Bandeira, 3ª edição, Rio de Janeiro, Departamento da Imprensa Nacional: 1951. pp: 132-133.
Niels Frederik Schiottz Jensen,(Dinamarca 1855 –1941)
óleo sobre tela
Italo Calvino
O muro do jardim, 1910
John Singer Sargent (EUA, 1856-1925)
Aquarela e grafite sobre papel, 40 x 53 cm
Museu de Belas Artes, Boston
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—
B. Lopes
—
Velho muro da chácara! Parcela
Do que já foste: resto do passado,
Bolorento, musgoso, úmido, orlado
De uma coroa víride e singela.
—
Forte e novo eu te vi, na idade bela
Em que, falando para o namorado,
Tinhas no ombro de pedra debruçado
O corpo senhoril de uma donzela…
—
Linda epoméia te bordava a crista;
Eras, ao luar de leite, um linho albente,
Folha de prata, ao sol, ferindo a vista.
—
Em ti pousava a doce borboleta…
E quantas noites viste, ermo e silente,
Romeu beijando as mãos de Julieta!
—-
—
Em: Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana, ed. Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do livro: 1951.
—
Vocabulário:
Víride: verde, uso poético
Epoméia: ver ipoméia, trepadeira rústica comum em terrenos baldios, também conhecida como jitirana, jetirana, corriola, campainha, corda-de-viola.
Albente: que alveja, que embranquece
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—
Bernardino Lopes, pseudônimo B. Lopes (Rio Bonito, RJ, 1859 — RJ,1916) foi um poeta brasileiro de diferentes tendências literárias na passagem do século XIX ao XX. Foi funcionário do Correio Geral, Membro da boemia intelectual carioca foi um poeta de transição do fim do romantismo. Ficou muito conhecido pelos seus sonetos parnasianos. Tem grande afinidade com os simbolistas.
Obras:
Cromos (1881) – 2ª Edição 1896
Pizzicatos – “Comédia Elegante” (1886)
Brasões (1895)
Sinhá Flor (1899)
Val de Lírios (1900)
Helenos (1901)
Plumário (1905)
Poesias Completas (1945)
Hoje, selecionei uma fábula de Esopo, recontada por La Fontaine entre outros. Aqui, em versos magistrais de Olavo Bilac. Por ser uma fábula popular, tenho muitas ilustrações, através dos séculos, que se referem diretamente a ela. Coloquei algumas por entre o texto de Bilac. No entanto, tenho ainda algumas outras ilustrações. Para não corromper o texto completamente, [mais do que já o fiz] vou colocar outras ilustrações separadas, no final assim como repetir o texto original de Olavo Bilac.
Ilustração Harrison Weir (Inglaterra 1824-1906).
O lobo e o cão
Olavo Bilac
Encontraram-se na estrada
um cão e um lobo. E este disse:
— Que sorte amaldiçoada!
Feliz seria, se um dia
como te vejo me visse.
Ilustração Eleanor Grosch (EUA, contemporânea).
Andas gordo e bem tratado,
vendes saúde e alegria;
ando triste e arrepiado,
sem ter onde cair morto!
O cão e o lobo, ilustração em manuscrito francês, Idade Média.
Gozas de todo conforto,
e estás cada vez mais moço;
e eu, para matar fome,
nem acho às vezes um osso!
Ilustração Charles H Bennet (Inglaterra, 1829-1867).
Esta vida me consome…
Dize-me tu, companheiro:
onde achas tanto dinheiro?
Disse-lhe o cão: — Lobo amigo!
Serás feliz, se quiseres
Deixar tudo e vir comigo:
vives assim porque queres…
Ilustração, André Quellier (França, 1925)
Terás comida à vontade,
terás afeto e carinho,
mimos e felicidade,
na boa casa em que vivo!
Foram-se os dois. Em caminho,
disse o lobo, interessado:
— Que diabo é isto? Por que motivo
tens o pescoço esfolado?
Ilustração Georges Fraipont (França, 1873-1912).
— É que às vezes amarrado
Me deixam durante o dia…
— Amarrado? Adeus, amigo!
(disse o lobo) Não te sigo!
Muito bem me parecia
Que era demais a riqueza…
Ilustração Henry Morin (França, 1873-1961).
Adeus! Inveja não sinto:
quero viver como vivo!
Deixa-me com a pobreza!
Antes livre, mas faminto,
Do que gordo, mas cativo!
A borboleta
Olavo Bilac
Trazendo uma borboleta,
Volta Alfredo para casa.
Como é linda! É toda preta,
Com listas douradas na asa.
Tonta, nas mãos da criança,
Batendo as asas, num susto,
Quer fugir, porfia, cansa,
E treme, e respira a custo.
Contente, o menino grita:
“É a primeira que apanho,
“Mamãe vê como é bonita!
“Que cores e que tamanho!
“Como voava no mato!
“Vou sem demora pregá-la
“Por baixo do meu retrato,
“Numa parede da sala”.
Mas a mamãe, com carinho,
Lhe diz: “Que mal te fazia,
“Meu filho, esse animalzinho,
“Que livre e alegre vivia?
“Solta essa pobre coitada!
“Larga-lhe as asas, Alfredo!
“Vê como treme assustada…
“Vê como treme de medo…
“Para sem pena espetá-la
“Numa parede, menino,
“É necessário matá-la:
“Queres ser um assassino?”
Pensa Alfredo… E, de repente,
Solta a borboleta… E ela
Abre as asas livremente,
E foge pela janela.
“Assim, meu filho! Perdeste
“A borboleta dourada,
“Porém na estima cresceste
“De tua mãe adorada…
“Que cada um cumpra a sorte
“Das mãos de Deus recebida:
“Pois só pode dar a Morte
“Aquele que dá a Vida.”
Em: Poesias Infantis, Olavo Bilac, Livraria Francisco Alves: 1949, Rio de Janeiro, 17ª edição, pp. 21-23
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (RJ 1865 — RJ 1918 ) Príncipe dos Poetas Brasileiros – Jornalista, cronista, poeta parnasiano, contista, conferencista, autor de livros didáticos. Escreveu também tanto na época do império como nos primeiros anos da República, textos humorísticos, satíricos que em muito já representavam a visão irreverente, carioca, do mundo. Sua colaboração foi assinada sob diversos pseudônimos, entre eles: Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur, Otávio Vilar, etc., e muitas vezes sob seu próprio nome. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias. Sem sombra de duvidas, o maior poeta parnasiano brasileiro.
Obras:
Poesias (1888 )
Crônicas e novelas (1894)
Crítica e fantasia (1904)
Conferências literárias (1906)
Dicionário de rimas (1913)
Tratado de versificação (1910)
Ironia e piedade, crônicas (1916)
Tarde (1919); Poesia, org. de Alceu Amoroso Lima (1957), e obras didáticas.
A BONECA
Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira: “É minha!”
— “É minha!” a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca…
Olavo Bilac
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (RJ 1865 — RJ 1918 ) Príncipe dos Poetas Brasileiros – Jornalista, cronista, poeta parnasiano, contista, conferencista, autor de livros didáticos. Escreveu também tanto na época do império como nos primeiros anos da República, textos humorísticos, satíricos que em muito já representavam a visão irreverente, carioca, do mundo. Sua colaboração foi assinada sob diversos pseudônimos, entre eles: Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur, Otávio Vilar, etc., e muitas vezes sob seu próprio nome. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias. Sem sombra de duvidas, o maior poeta parnasiano brasileiro.
Muito antes de Fernando Pessoa dizer que sua pátria era sua língua, já Olavo Bilac havia proclamado: A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.
Obras:
Poesias (1888 )
Crônicas e novelas (1894)
Crítica e fantasia (1904)
Conferências literárias (1906)
Dicionário de rimas (1913)
Tratado de versificação (1910)
Ironia e piedade, crônicas (1916)
Tarde (1919); Poesia, org. de Alceu Amoroso Lima (1957), e obras didáticas.
Outras ilustrações de Christina Rossetti neste blog: