Curiosidade literária

27 02 2023

Menina lendo, 1907

Arie Boers (Holanda, 1867-1947)

 

 

Olavo Bilac (1867-1918) e José do Patrocínio (1853-1905) eram bons amigos.   Depois de adquirir um automóvel, assim que esses veículos apareceram no Brasil, Patrocínio convidou Bilac para um passeio.  Entusiasmado ofereceu o carro a Bilac para que este o dirigisse.  Bilac nunca havia feito isso e prontamente, no caminho, encarando um curva na estrada, perdeu o controle e bateu com o carro de encontro a uma árvore.  Perda total, apesar da pouca velocidade a que se movia: 4 km por hora.  Isso  mesmo, quatro quilômetros por hora.  Por sorte, os dois passageiros não sofreram nenhum arranhão.

 

 





Sublinhando…

25 05 2022

Jacqueline lendo

Albert André (França, 1869-1954)

óleo sobre tela

 

“… a paixão primeira não pela voz, mas pelos olhos fala.”

 

Olavo Bilac, Poema V, Via Láctea.

 

 





Ano-Bom, poesia de Olavo Bilac

11 11 2021

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Ano-Bom

Olavo Bilac

Ano-Bom. De madrugada,

Bebê desperta, e, assustada,

Avista um vulto na cama.

Que será? Que medo! E, tonta,

Eis que Bebê se amedronta,

Chora, grita, chama, chama…

Mas, quando se abre a cortina,

Quando o quarto se ilumina,

Bebê, de pasmo ferida

Vê que o medo não é justo:

Pois a causa de seu susto

É uma boneca vestida.

Que linda! é gorda e corada,

Tem cabeleira dourada

E olhos cor do firmamento…

Põe-na no colo a criança,

E de olhá-la não se cansa,

Beijando-a a todo o momento.

Nisto a mamãe aparece.

Como Bebê lhe agradece,

Com beijos, risos e abraços!

— Porém, logo, de repente,

Diz à mamãe, tristemente,

Prendendo-a muito nos braços:

“Mamãe! como sou ingrata!

“Com tantos mimos me trata,

“Tão boa, tão dedicada!

“Dá-me vestidos e fitas,

“Dá-me bonecas bonitas,

“E eu, mamãe, não lhe dou nada!…

“Tolinha! (a mãe diz, num beijo)

“As festas que eu mais desejo,

“Ó minha filha, são estas:

“A tua meiga bondade

“E a tua felicidade…

“Não quero melhores festas!”

Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, pp 98-100





Sublinhando…

17 05 2021

Leitora, 1905

Theodeor Axentowicz, (Polônia 1859- 1938)

pastel sobre papel

 

 

“E o sol do amor, que não entrava outrora,
Entra dourando a areia dos caminhos.”
 

Olavo Bilac (Brasil, 1865-1918), em Via Láctea, 1888, IV [“Como a floresta secular, sombria”]





O leão e o camundongo, Olavo Bilac

20 07 2020

 

 

Willy ARACTINGI (1930-)Ilustração de Willy Aractingi (1930-)

 

 

O leão e o camundongo
Fábula de Esopo

 

Olavo Bilac

 

Um camundongo humilde e pobre

Foi um dia cair nas garras de um leão.

E esse animal possante e nobre

Não o matou por compaixão.

 

Ora, tempos depois, passeando descuidoso,

Numa armadilha o leão caiu:

Urrou de raiva e dor, estorceu-se  furioso…

Com todo seu vigor as cordas não partiu.

 

Então, o mesmo fraco e pequenino rato

Chegou: viu a aflição do robusto animal,

E, não querendo ser ingrato,

Tanto as cordas roeu, que as partiu afinal…

 

Vede bem: um favor, feito aos que estão sofrendo,

Pode sempre trazer em paga outro favor.

E o mais forte de nós, do orgulho se esquecendo,

Deve os fracos tratar com caridade e amor.

 

Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, pp 132-3





A rã e o touro, Olavo Bilac

25 06 2020

 

 

illustrations_couleur_fables_de_la_Fontaine_par_Vimar_-_la_grenouille_qui_veut_se_faire_aussi_grosse_que_le_boeufIlustração de Auguste Vimar (1851-1916)

 

 

A rã e o touro
Fábula de Esopo

 

Olavo Bilac

 

Pastava um touro enorme e forte, à beira d’água.

Vendo-o tão grande, a rã, cheia de inveja e mágoa,

Disse: “Por que razão hei de ser tão pequena,

Que os outros animais só faça nojo e pena?

Vamos! quero ser grande! Incharei tanto, tanto,

Que imensa, causarei às outras rãs espanto!”

Pôs-se a comer e a inchar. E inchava, inchava, inchava!…

Mas em vão! Tanto inchou que num tremendo estouro

Rebentou e morreu, sem ficar  como um touro.

 

Essa tola ambição da rã que quer ser forte

Muitos homens conduz ao desespero e à morte.

Gente pobre, invejando a gente que é mais rica,

Quer como ela gastar, e inda mais pobre fica:

— Gasta tudo que tem, o que não tem consome,

E, por querer ter mais, vem a morrer de fome.

 

Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, pp 127-8

 





As velhas árvores, Olavo Bilac

16 06 2020

 

 

Edgar Walter - Quadro á óleo sobre tela representando Parque com figuras.54 x 72 cmParque com figuras

Edgar Walter (Brasil, 1917-1994)

óleo sobre tela, 54 x 72 cm

 

As velhas árvores

 

Olavo Bilac

 

Olhas estas velhas árvores,  — mais belas,

Do que as árvores moças, mais amigas,

Tanto mais belas quanto mais antigas,

Vencedoras da idade e das procelas…

 

O homem, a fera e o inseto à sombra delas

Vivem livres de fomes e fadigas;

E em seus galhos abrigam-se as cantigas

E alegria das aves tagarelas…

 

É preciso, desde a infância,

Ir preparando o futuro;

Para chegar à abundância,

É preciso semear…

 

Não nasce a planta perfeita,

Não nasce o fruto maduro;

E, para ter a colheita,

É preciso semear…

 

Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, pp 115-116





Minutos de sabedoria: Olavo Bilac

11 10 2018

bote-fe-no-brasil

 

 

“A pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.”

 

Olavo Bilac





Sublinhando…

18 05 2016

 

Remy boquirenMoça com livro

Remy Boquiren (Filipinas, 1940)

 

 

“Pois só quem ama pode ter ouvido
capaz de ouvir e entender estrelas.”

 

 

Olavo Bilac (Brasil, 1865-1918), em Via Láctea, 1888, XIII [Ouvir estrelas].





Domingo, poesia de Olavo Bilac

31 01 2016

 

 

BUSTAMANTE SÁ, Rubens Forte (1907 - 1988) - Figuras no cotidiano, o.s.t. - 46 x 56 cm.Figuras no cotidiano

Rubens Bustamante Sá (Brasil, 1907-1988)

óleo sobre tela, 46 x 56 cm

 

 

Domingo

 

Olavo Bilac

 

 

Domingo… Os sinos repicam

Na igreja, constantemente,

E todas as ruas ficam

Alegres, cheias de gente.

 

Todo um dia de ventura…

Como o domingo seduz!

O homem, cansado, procura

Ter paz, ter ar, e ter luz.

 

Paradas e sem trabalho,

Dormem na roça as enxadas;

Dormem a bigorna e o malho

Nas oficinas fechadas.

 

Também, meninos cansados,

Os vossos livro deixai!

Deixai lições e ditados!

Dormi! Sorride! Cantai!

 

Fechem-se as aulas! E o bando

Ruidoso das criancinhas

Livre se espalhe, voando,

Como um bando de andorinhas!

 

Deus, quando o mundo fazia,

Sete dias trabalhou,

E ao fim do sétimo dia

Do trabalho descansou…

 

 

Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, 17 ª edição, pp- 47-8.