Cartão postal, virada do século XX.
Andorinha
Bernardino Lopes
Estes versos já passaram pela boca estelífera da minha amada, aos acordes doces e trêmulos do violão chorando sob seus dedos…
Andorinha que fizeste
Ninho em minh’alma, uma tarde,
E que andas no azul celeste
Cantando e fazendo alarde;
Que, em horas de forte calma,
Bebeste das crenças minhas,
Fazendo assim de minh’alma
Ribeirão das andorinhas;
Dize lá: por que não voltas
Ao teu recôndito abrigo,
Peregrina de asas soltas
Que pelas nuvens eu sigo?
Por que vives pelos ares,
Oh! alma de pirilampo!
Quando há frutos nos pomares
E tanta flor pelo campo?
Foge do pranto e do frio,
As leves penas abrindo…
Olha o teu ninho vazio,
Sonho emplumado, e vem vindo…
Vem, recortando os espaços,
Num saudoso devaneio,
Cair tremente em meus braços,
Dormir tranquila em meu seio!
Ah! já não vens, de asa espalma,
Saciar-te em mim, como vinhas…
Era então esta minh’alma
Ribeirão das andorinhas!
(Val de Lírios, Laemmert & Cia., Rio de Janeiro, 1900, pág. 119-121)
Em: Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana, ed. Manoel Bandeira, 3ª edição, Rio de Janeiro, Departamento da Imprensa Nacional: 1951. pp: 132-133.